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PARTE I: BASES TEÓRICAS

CAPÍTULO 2. QUADRO DE REFERÊNCIA DAS POLÍTICAS DE GOVERNAÇÃO DOS OCEANOS

2.3. Forças e fraquezas da governança do oceano

O âmbito internacional da política marinha não tem um carácter integrador, existem pequenos impulsos que promovem a dita abordagem embora a partir de componentes isoladas. Um exemplo, desta circunstância, refere que as actividades marítimas, como a navegação, são reguladas pela Organização Marítima Internacional (IMO), cuja missão se enquadra, cada vez mais, nos problemas ecológicos gerados pela navegação. As actividades de pescas são reguladas pela Food Agriculture Organization (FAO) e pelas organizações internacionais e regionais das pescas; os temas relacionados com a biodiversidade têm um amplo leque de convenções em função de temas muito específicos e são tratados a partir de diferentes instâncias CBI, CITES, UNESCO (MAB), Ramsar, entre outros.

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Artigo 89.O 7

O termo latino inter alia denota, não só os direitos, deveres e interesses referidos nas provisões da convenção, como também, as referentes aos dos estados costeiros em geral.

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Nos termos da parte VI da Convenção. 9

Nos termos da parte VI da Convenção. 10

Nas condições dos termos da Secção 2 da Convenção. 11

Os temas relativos à dimensão social e às condições de trabalho são competência da Organização de Trabalho Internacional (OTI). Esta fragmentação consubstancia-se na necessidade de uma reestruturação e dinamização da política internacional, que se pretende coerente e integre as várias dimensões do Oceano.

O regime internacional do Oceano apresenta limitações que são salientadas por vários autores. De uma maneira geral, algumas das discussões encontram-se centradas na abordagem zonal, nas fraquezas desse tipo de abordagem e, em especial, do ponto de vista geográfico (Vallega, 2001; Olsen, 2001).

Na actualidade várias são as propostas que visam uma maior abrangência da LOS ou mesmo a introdução de temas mais específicos e estratégicos. Alguns países, como a França, apelam no âmbito da sua estratégia nacional12, à cooperação entre a União Europeia e os países interessados na proposta de novos instrumentos jurídicos, como por exemplo, uma convenção sob o direito do mar relacionada com a protecção e conservação da biodiversidade em alto mar, preocupações e abordagens transfronteiriças, entre outros.

Um estudo realizado pelo Programa Internacional para a Governança Global (PIGG) realizou uma avaliação global da Governança do Oceano, resumindo as principais forças e fraquezas do quadro internacional. Assim, apesar de CNUDM ser um logro notável, como já foi referido a nível do direito internacional, o regime de governança do oceano apresenta certas limitações:

Por um lado, relativamente à necessidade da assinatura e ratificação da CNUDM por parte de todos os estados costeiros. O facto de uma das primeiras potências navais mundiais, os Estados Unidos de América (EUA), não ter ratificado, representa um grande desafio para efectividade da Convenção, e para ser posta em causa pelos restantes de países ratificantes, incluindo a própria soberania e interesses nacionais dos EUA.

A CNUDM com 30 anos de idade, apresenta lacunas na abordagem de certos temas internacionais, a falta de um processo mais dinâmico conforme os paradigmas de mudança que existem na actualidade e a necessidade de uma abordagem mais

estratégica. Alguns exemplos são a pesca em alto-mar, de uma perspectiva da clássica “tragédia dos comuns” (Hardy,1972), a poluição marinha em larga escala, e os crimes transnacionais cometidos no mar.

A CNUDM, e as subsequentes medidas multilaterais em matéria de vigilância, capacitação e medidas de implementação representam uma fraqueza. A ONU apoia-se nos instrumentos criados pela Convenção de Montego Bay, mas não tem nenhum papel directo na sua implementação. Os estados são os responsáveis por assegurar que as regras são aplicadas, pelo que representa um desafio óbvio para as partes do oceano que não pertencem à jurisdição de nenhum estado, as denominadas partes apátridas. A Assembleia-Geral da ONU (AGNU), desempenha um papel fundamental no avanço da agenda dos oceanos a nível internacional, mas apresenta limitações nas suas competências, podendo ser as suas recomendações uma fraqueza. As organizações internacionais que operam em conjunto com a CNUDM, como são a Organização Marítima Internacional (OMI), o Tribunal Internacional da Lei do Mar (TILM) e a Autoridade Internacional dos Fundo Marinhos (AIFM), desenvolvem uma função importante na protecção e no fortalecimento da governança do oceano. A OMI tem desenvolvido um importantíssimo trabalho na redução da poluição procedente da navegação, mas o avanço é lento relativamente à política de luta contra as espécies invasoras procedentes das águas de lastro.

A luta dos estados costeiros na criação de políticas internas, que incorporem muitos dos desafios transversais providentes do estabelecimento de medidas reguladoras para o narcotráfico, a pesca ilegal e exploração de recursos inertes offshore. A CNUDM representa, para a comunidade internacional, uma base sólida para a construção de uma arquitectura política adicional, mas requer que os estados costeiros desenvolvam, como prioridade, estratégias do oceano compreensivas.

O sistema encontra-se horizontalmente fragmentado, falhando a harmonização entre as políticas domésticas, regionais e internacionais. Domesticamente os actores marítimos locais, regionais e nacionais raramente se encontram coordenados (podem existir alguns núcleos ou clusters aos diferentes níveis, mas de maneira não integrada). Entre os países que têm desenvolvido políticas compressivas do oceano como, Austrália, Canadá, Nova Zelândia, Japão e Estados Membros da EU (onde alguns tem sincronizado esforços e seguido as orientações e recomendação conjunta de desenvolvimento da PMI). O Programa Regional para os Mares da PANU trabalha na

promoção da cooperação da gestão marinha e costeira com diversos graus de sucesso. A União Europeia, para além da sua Política Marítima Integrada (PMI), tem desenvolvido junto da sua política de vizinhança, projectos de cooperação e parcerias para a elaboração de estratégias regionais para o mar Báltico, Árctico e Mediterrâneo. Devido à necessidade de colmatar uma lacuna relativamente à elaboração de uma política para o Atlântico, só agora é que a EU se encontra a desenvolver projectos e acções neste sentido, dado que representava um grande desafio devido à sua extensão territorial e às implicações da cooperação internacional.

Em suma, a revisão da CNUMD deve segurar, entre outros aspectos:

A manutenção do princípio de património comum da humanidade;

O regime internacional desenhado para assegurar a exploração sustentável dos recursos, em especial, o benefício comum e dando especial atenção aos países em desenvolvimento;

A boa governança das áreas fora de jurisdição nacional e de alto mar a nível de conservação dos recursos.

Importa salientar que constitui uma condição primordial a coordenação de acções nas diferentes escalas, especialmente, através das regiões, sendo necessária uma governança global integrada do oceano dado que o estado de referência actual, apesar das numerosas contribuições, não está a resultar efectivo.