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Formação e Trajetória Acadêmica

No documento PORTCOM (páginas 66-68)

A primeira parte do livro é dedicada à contextualização da formação do professor Marques de Melo. Nascido em Palmeira dos Índios, aos 15 anos ele já trabalhava como assessor cultural da Prefeitura Municipal de Santana do Ipa- nema. A dupla formação que possui, Jornalismo e Direito, foi feita concomi- tantemente. Conforme consta no livro, o professor cursava Direito de manhã e Jornalismo à noite, a primeira formação era desejo de seu pai e a segunda sua paixão, tanto que foi a que ele realmente se dedicou ao longo dos anos. Contu- do, a primeira opção de curso teve grande influência na formação de Marques de Melo, em especial pelas disciplinas humanísticas.

Desde quando cursava Jornalismo, Beltrão já exercia grande influência na vida de Marques de Melo. Seja no início do curso, quando ele era tímido demais para colocar suas opiniões e pensamentos em público e o fizera por estímulo de Beltrão – situação que quem o conhece hoje jamais imaginara que ele havia vivido – seja ao final do curso quando Melo foi monitor de Beltrão.

Na sequência são expostas praticamente todas as experiências que ele teve: o curso no CIESPAL, a conquista do prêmio Esso de Jornalismo, a atuação como coordenador do Departamento de Investigação Científica do ICINFORM (Ins- tituto de Ciências da Informação), da Universidade Católica de Pernambuco, o desempenho como servidor na Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste) entre outras atividades. A lista de vivências no Nordeste é inter- rompida quando aumenta a repressão política devido ao Golpe Militar, mesma época em que perde uma filha recém-nascida, ambas as frustrações o estimulam a buscar novos ares. Destino: São Paulo.

Marques de Melo acreditava que em São Paulo seria mais anônimo e sofre- ria menos repressão, bem como conseguiria mais opções de trabalho. Estava certo. Logo que chegou às terras paulistanas conseguiu uma vaga no Instituto de Estudos Sociais e Econômicos (INESE). Lá, conforme conta Marques de Melo (2001, p.27-28), “dirigi pesquisas que orientaram projetos editoriais da Editora Abril, Folha de S. Paulo, apoiando decisões estratégicas de anunciantes ou empresas publicitárias. Concomitantemente escrevia artigos para o jornal A

Gazeta [...]”.

A vida parecia que estava se ajeitando nas terras paulistas, sua esposa estava grávida novamente, não sofria mais com a repressão política e até o clima era mais ameno. Quando tudo parecia se ajeitar recebeu um convite de seu mestre Beltrão para ir trabalhar na Universidade de Brasília (UNB), a recusa rompeu o relacionamento de ambos, o qual só foi reestabelecido quando sua filha Silvana nasceu e amoleceu o coração de Beltrão, a qual ele veio a chamar de neta.

A intuição do professor estava certa, São Paulo virou sua nova terra. Vários foram os desafios profissionais que ele foi conquistando: professor da Cásper Líbero, ajuda a fundar a Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, ingressante nela como professor por meio de concurso público, o que o exige dedicação integral. Ou seja, nesse momento optou por trocar a prática profissional e arriscar-se por uma área acadêmica ainda instável, aliás, ele ainda não sabia, mas iria ajudá-la a criar raiz. “Eu passara a capitalizar a experiên- cia acumulada na práxis, transformando-a em teoria. Tornava-me produtor de matéria-prima para formar as novas gerações” (MARQUES DE MELO apud GOBBI, 2001, p. 33).

Daí em diante a dedicação à vida acadêmica só aumentava, publicou o pri- meiro livro da área no país, o qual, segundo Gobbi (2001) virou um “best seller acadêmico”. O sucesso o dá mais incentivo a publicar mais livros e a conti- nuar o doutoramento na USP. A tese “Fatores sócio-culturais que retardaram a implantação da imprensa no Brasil” garantiu-lhe não só o título de doutor, mas também o de primeiro doutor em Jornalismo no país. O título significou,

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portanto, não só uma conquista pessoal, mas também uma conquista para o pensar jornalístico do Brasil.

Com o auge da repressão do período ditatorial, Marques de Melo é afastado da USP e perseguido. Consegue, então, uma bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e vai cursar pós-doutorado na University of Wisconsin. Ao retornar ao Brasil ainda convive com a repressão, contudo, o mais importante desse período, é que, embora difícil, pode ver a quantidade de mãos amigas estendidas que recebeu. Em seu retorno o refúgio foi a Universidade Metodista, na época ainda Instituto. Como conta o professor no livro publicado pela pesquisadora e professora Roseméri Laurindo (2014, p. 19) “Ele [o reitor] mandou que se colocassem dali para fora, porque ali era uma casa de Deus, onde trabalhava quem ele queria”.

Após a repressão, Marques volta para USP, onde é eleito Diretor de Comu- nicação e, após se aposentar, volta para a Metodista, mas dessa vez para coorde- nador do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e funda o Doutorado, instituição na qual permanece até hoje como docente e catedrático da Cátedra UNESCO de Comunicação. Toda a experiência vivida no período de repressão pode ser vista em “AI-5 na academia: o manual do lead usado pelos golpistas de 1964 para punir o ensino de jornalismo” (LAURINDO, 2014).

O fato é que Melo nunca se deixou abalar, sua perspicácia e astúcia sempre falaram mais alto. Após os anos de chumbo, conseguiu, aos poucos, ir retoman- do a vida e colocando-a no eixo. Manteve sempre os estudos, defendeu a tese de livre docência “Gêneros Opinativos no Jornalismo Brasileiro” e anos depois foi convidado a encabeçar a instalação de uma Cátedra de Comunicação no país, a qual é implantada na Metodista em 21 de maio de 1996. “Essa Cátedra é mais um reconhecimento pelo trabalho, muitas vezes pioneiro que vem realizando o professor Marques de Melo. Sempre preocupado na transmissão de conheci- mentos, acreditando no talento e na força dos jovens, não para de investir seu saber midiático nas novas gerações” (GOBBI, 2001, p.64).

No documento PORTCOM (páginas 66-68)