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pesquisador José Marques de Melo – homem de identidade nordestina e

No documento PORTCOM (páginas 155-160)

cidadania glocal

Ricardo José Oliveira Ferro

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O caminho percorrido pelo jornalista, professor universi- tário, pesquisador e consultor acadêmico José Marques de Melo2, ao longo dos últimos 50 anos, revela-nos a coragem e a pujança do homem nordestino. Ele é natural de Palmeira dos Índios, cidade conhecida como Princesa do Sertão, lo- calizada a cerca de 130 km de Maceió, capital do Estado de Alagoas.

Marques de Melo deu seu primeiro brado de liberdade ao iniciar sua vida estudantil no antigo primeiro grau do Grupo

1. Graduado em Jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas (2004), é especialista em Processos Midiáticos e Novas Formas de Sociabilidade pela Ufal (2008), pesquisador assistente da Cátedra/ UNESCO Metodista de Comunicação para o Desenvolvimento Regional desenvolvendo atividades no projeto PENSA-COM/ BRASIL (Pensamento Comunicacional Brasileiro), membro da Comissão Estadual de Jornalistas em Assessoria de Imprensa de Alagoas (Cejai/AL), repórter na Assessoria de Comunicação da Se- cretaria de Estado da Educação e do Esporte de Alagoas (SEE/AL). E-mails: ricardomoresi@gmail.com e ricardomoresi@hotmail.com. 2. MARQUES DE MELO, José. Cibermemorial Marques de

Melo: perfil. Disponível em: <http://www.marquesdemelo.pro. br/perfil.htm> Acesso em 16 de junho de 2014.

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Escolar Padre Francisco Correia e no Ginásio Santana, ambos localizados na cidade de Santana do Ipanema, situada no sertão alagoano. Em seguida, cursou o segundo grau – hoje Ensino Médio – nos Colégios Batista Alagoano, em Ma- ceió; e no Americano Batista, este último localizado na capital pernambucana. Melo graduou-se em Jornalismo na Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP) no início da década de 60 do século passado, mais precisamente em 1964; e, no ano seguinte, tornou-se bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Em seguida, partiu para uma pós-graduação em Quito, no Equador, no Centro Internacional de Estudos Su- periores de Comunicação para a América Latina, onde adquiriu o título em Ciências da Informação Coletiva. No ano de 1973 ele se tornou o primeiro Doutor em Jornalismo titulado por uma universidade brasileira.

O professor Marques exerceu a atividade de pesquisador/professor visitante em várias universidades estrangeiras; e já ministrou conferências em instituições educacionais da França, Espanha, Portugal, Estados Unidos, Austrália, Canadá, Hungria, Colômbia, México, Irlanda, Inglaterra, Argentina, Venezuela, Peru, Bolívia e Panamá, só para citar alguns países. Ao longo dessa longeva trajetória ele publicou, até agora, 128 artigos, 145 livros, 135 capítulos de livros e 211 textos em jornais de notícias e revistas.

Para os professores Luiz Custódio da Silva, Cidoval Morais de Sousa e An- tonio Roberto Faustino da Costa, do Departamento de Comunicação Social da Universidade Estadual da Paraíba (DECOM/UEPB), os estudos produzidos na área de comunicação no Brasil, nas últimas quatro décadas, confundem-se com o nome do professor José Marques de Melo. Segundo eles:

Poucos pesquisadores detêm uma produção acadêmico-científica tão fértil e comprometida com um campo do conhecimento em busca de identidade. A extensão de sua obra é reconhecida mundialmente, com ênfase para as contribuições relacionadas às sociedades latino-ameri- canas e, de modo especial, aos fenômenos comunicacionais brasileiros (2011, p.7).

O trabalho do pesquisador em evidência tem reverberado no Brasil, na América e na Europa; e essa pujante produção revela o quanto Marques de Melo tem contribuído para as direções do ensino, da pesquisa e da produção científica. Dentre essa vasta criação, uma obra chama atenção por abordar, es- pecificamente, os rumos da mídia brasileira. Trata-se de um trabalho coletivo, organizado pelo professor Melo, intitulado “Imprensa Brasileira: personagens que fizeram história”.

Marques de Melo (2005, online) explica, de forma precisa, os objetivos bá- sicos dos quatro livros que compõem esse esforço de resguardar a reminiscência da imprensa nacional. Para ele:

É importante ressalvar que esta série idealizada pela Rede Alfredo de Car- valho foi conscientemente prevista como ação de divulgação científica, destinada a difundir perfis biográficos e sumarizar ideias que marcaram a trajetória das indústrias midiáticas brasileiras, indicando fontes que podem servir de referência para os que desejam aprofundar conhecimentos. Nela está implícita também a ambição de motivar jovens pesquisadores para a retomada das hipóteses e roteiros aqui esboçados, dando continuidade ao plano fundamental. Ou seja, construir a História Midiática Brasileira, resgatando os dois séculos já palmilhados e ao mesmo tempo iluminando as ações a serem empreendidas nesta conjuntura em que alimentamos a utopia de fincar a bandeira nacional no novo mapa do mundo.

Os quatro volumes da obra em destaque evidenciam as biografias de 72 eminentes personalidades da imprensa brasileira; e, ao mesmo tempo, permi- tem-nos adentrar em um território ainda pouco estudado e disseminado. E é exatamente no trajeto dessa viagem que se percebe, mais uma vez, uma caracte- rística pulsante do professor Melo: ele mantém um forte laço com o seu lugar de origem. Ou seja, com Nordeste, com Alagoas, com suas raízes, com seu habitat. Essa particularidade do mestre Marques de Melo pode ser constatada, por exemplo, no primeiro volume dessa obra quando se fez a opção de biografar Adolpho Emile Bois Garin, vítima alagoana da perseguição à imprensa. No texto a respeito desse personagem a professora Rossana Gaia – também alagoana – apresenta-nos, dentre tantas outras informações, um relato sobre o primeiro jornal do qual se tem registro em Alagoas; e como Bois Garin chegou ao Estado junto com as primeiras máquinas tipográficas exatamente para um resolver um problema chamado falta de mão de obra especializada.

Outro alagoano notável, que ganhou destaque no volume dois da obra, foi Arnon de Mello, o repórter que se tornou empresário. O texto construído a quatro mãos pelos educadores Rossana Gaia e Boanerges Lopes revela-nos as- pectos da vida de um homem que se tornou precursor do livro reportagem e es- tabeleceu a profissionalização do jornalismo de empresas em Alagoas ao adquirir o jornal Gazeta de Alagoas. Com essa atitude, Arnon deu início ao que hoje se conhece como Organização Arnon de Mello (OAM) – maior conglomerado de comunicação de Alagoas – composto pelo jornal Gazeta de Alagoas, Rádio Ga-

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AM Pão de Açúcar, TV Gazeta de Alagoas, Instituto de Pesquisas Gape, Portal Gazetaweb.com, Instituto Arnon de Mello, portais G1/Alagoas e GE/Alagoas e a TV Mar, esta última transmite seu sinal em canal fechado.

Ao fazer uma imersão no universo do primeiro livro da coleção o leitor vai se deparar com traços da história de Hipólito José da Costa que, desde o ano 2000, é considerado o patrono da imprensa brasileira graças à honraria atribu- ída pelo Congresso Nacional por meio de uma lei ordinária; irá conhecer um pouco sobre o comerciante português Manoel Antonio da Silva Serva, primei- ro empresário da imprensa a instalar uma tipografia na cidade de Salvador; ter uma ideia a respeito de Cipriano José Barata de Almeida – homem que defen- dia a liberdade de imprensa, a ideia de revolução – uma figura exponencial na fundação do Brasil e que foi transformado numa espécie de “Zé Ninguém” pela história hegemônica; vai ser possível conhecer sobre Jerônimo Francisco Coe- lho – o desbravador da imprensa catarinense que criou o jornal O Catharinense.

Ainda no percurso da primeira obra é possível conhecer o polemista mara- nhense chamado João Francisco Lisboa, um homem que nutria uma verdadei- ra paixão pela imprensa, mas que, ao mesmo tempo, não tinha receio em tecer críticas a ela quando percebia que seus companheiros de profissão estavam rele- gando a ética ao segundo plano; ao adentrar ainda mais no caminho até então percorrido é possível se deparar com a história de Tavares Bastos – precursor do jornalismo independente, que é considerado, em tese iconoclasta, defendida pelo jornalista Costa Rego, como o primeiro jornalista brasileiro; ao se apertar um pouco o passo chega-se ao relato sobre José Carlos Rodriguesque, segundo a professora Marialva Barbosa,foi uma das mais importantes figuras do início do século XX e era capaz, graças à ingerência política da recém proclamada Re- pública, de nomear não só os ministros, mas o próprio presidente da República. Nesse mesmo trajeto também se conhece um pouco sobre Rui Barbosa – advogado, político e jornalista emblemático de tradição republicana – que foi deputado, vice-chefe do Governo Provisório, ministro da Fazenda e senador, além de defensor dos direitos dos indivíduos e da solidificação legal da jovem República; outro contemplado ainda na primeira obra é Gustavo de Lacerda – apresentado como um homem de imprensa, de opinião socialista, de perfil mul- tifacetado, que desapareceu na “vala dos anônimos”; a professora Sonia Virginia Moreira apresenta-nos a trajetória de Edgard Roquette Pinto – considerado o pai do rádio brasileiro, homem que defendeu ao longo de sua vida os temas Brasil e educação; já o mestre Marques de Melo descreve com maestria a con- tribuição de Assis Chateaubriand – o visionário que fundou a nossa televisão e marcou definitivamente a face da moderna sociedade brasileira; no relato sobre Barbosa Lima Sobrinho é possível entender detalhes da vida daquele que é

considerado como pioneiro da reflexão crítica sobre o jornalismo; já Cásper Líbero é apresentado como o empresário que criou a primeira escola de jorna-

lismo do Brasil; Carlos Drummond de Andrade – brilhante poeta brasileiro, mineiro de Itabira – é aduzido como aquele que promoveu a interação da poesia com o jornalismo e que produziu obras (tanto poéticas quanto jornalísticas) que zombavam da vida social dos poderosos; a paulista Jenny Pimentel de Borba aparece entre os biografados como a mulher que foi autora de uma façanha no mundo da imprensa ao lançar a revista Wakyrias e também protagonizar a saga das jornalistas empresárias; Tarso de Castro, gaúcho de Passo Fundo (RS), cronista, jornalista crítico, polemista e homem dos jornais alternativos, surge como “o pasquineiro vocacionado”; e, por fim, Gilberto Freyre – aquele que é considerado o modernizador precoce da imprensa brasileira – antes de se tornar pioneiro das Ciências Sociais brasileiras.

O segundo volume da série foi apresentado, à época, pelo então diretor/pre- sidente da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, Hubert Alquéres, e reuniu também a trajetória de 18 profissionais da imprensa, a saber: Líbero Badaró, Samuel Wainer, Trajano Coelho Neto, Edmar Morel, Carlos Lacerda, Odylo Costa Filho, Otto Lara Resende, João Calmon, Luiz Beltrão, Mário Erbo- lato, Juarez Bahia, Alberto André, Herbert Levy, Monteiro Lobato, Arnon de Mello, Vitorino Prata Castelo Branco, Amaral Raposo e Roberto Landell de Moura – nascido em Porto Alegre, formado em Teologia – considerado o brasileiro que inventou a radiodifusão.

O terceiro folhoso da coleção descreve o perfil de Frei Caneca, que é consi- derado por Marco Morel e Enio Moraes Junior como o lendário publicista per- nambucano que se fez mártir da cidadania brasileira; conta-nos sobre Xavier da Veiga, que foi o precursor dos estudos jornalísticos mineiros; relata-nos os ideais republicanos na imprensa piauiense por meio da história de David Moreira Caldas; menciona Costa Rego – o jornalista que fez escola, usando a pedagogia da austeridade; narra um pouco da vida de Auricélio de Oliveira Penteado – jornalista que fundou o Ibope; relaciona a contribuição de Jorge Antônio Salo- mão, enquanto precursor do rádio em Dourados (MS); arrola o pioneirismo da investigação jornalística brasileira por meio de Carlos Rizzini; expõe o legado de Alceu Amoroso Lima – homem que contribuiu decisivamente para o hu- manismo e a cultura no jornalismo nacional; faz um relatório da contribuição de Roberto Marinho, enquanto jornalista e empresário; alude à Danton Jobim a característica de homem que inovou na profissão de jornalista em virtude de ter percorrido caminhos multifacetados na imprensa, na academia e na políti- ca; conta minúcias sobre José Reis, jornalista que foi um dos precursores da divulgação da ciência e tecnologia no Brasil através dos meios de comunicação

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de massa como, por exemplo, revistas e jornais; detalha a história de Vera Gian- grande – a mulher ombudsman, que simbolizou a defesa do consumidor e graças a ela jornais diários como a Folha de S. Paulo criaram canais de diálogo entre a redação e os seus leitores; faz referência a Adalgisa Nery – jornalista que revolucionou o comentário político; delineia um pouco da contribuição do gaúcho Aparício Fernando de Brinkerhoff Torelly – popularmente conhecido Barão de Itararé – figura intricada na história da imprensa brasileira; esboça a contribuição de Josué de Castro como divulgador científico que agendou a fome no mapa mundial; também está em evidência, na parte final do terceiro livro, Pompeu de Sousa – tido como o jornalista que transformou o jornalismo brasileiro; o permanente jornalista militante Erico Veríssimo; e o defensor do jornalismo público Vladimir Herzog.

A quarta e última parte dessa obra, também sob o bastão do maestro e mes- tre Marques de Melo, apresenta-nos mais 18 expressões vitais para formar a música chamada “imprensa brasileira”. E nesse patamar da leitura é possível ter acesso a informações sobre Alfredo de Carvalho considerado pelo profes- sor Melo como precursor do pensamento jornalístico brasileiro; conhecer um pouco sobre Carlos Castelo Branco, o jornalista político mais respeitado do país; ter uma ideia a respeito de António Isidoro da Fonseca, avaliado como um precursor na história do livro brasileiro; mergulhar no universo de Antonio Callado, que trabalhou o jornalismo em favor da cidadania plena dos brasilei- ros; adentrar na história de Cosme de Farias – filantropo e militante de diversos movimentos sociais e políticos em Salvador (BA); embrenhar-se na vida de Joel Silveira – correspondente de guerra, que fez cobertura jornalística durante a Segunda Guerra Mundial para os Diários Associados.

Além destes já citados é possível conhecer ainda um pouco da história de Aluísio Azevedo, Roberto Mário Santini, Álvaro Moreira, Nabantino Ramos, Lauro Hagemann, Adoniran Barbosa, Nelson Rodrigues, Fortu- nato Losso Netto, Clóvis Noschang, Adelmo Genro Filho, João Saldanha e Daniel Herz.

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