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Rumo a uma nova classificação

No documento PORTCOM (páginas 193-196)

A segunda etapa das investidas de Marques de Melo na temática dos gêneros teve origem em sala de aula. Agora, no programa de pós-graduação da Metodista, no âmbito do qual ofereceu, até 2013, em semestres alternados, disciplinas vol- tadas para os gêneros da comunicação de massa ou, especificamente, para os gê- neros jornalísticos. É como docente dessa outra instituição que sugere uma nova classificação, indo, desta vez, além das fronteiras entre informação e opinião.

Sua segunda proposta foi desenvolvida com base em revisão de literatura e em análise de jornais e revistas que circularam em 1997. Buscando novas biblio- grafias acerca do assunto e vigilante às mudanças ocorridas no jornalismo brasi- leiro, na primeira década após a redemocratização do país, o autor reconheceu

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que outras categorias passaram a figurar na imprensa, adquirindo autonomia ou sendo mais bem exploradas.

O primeiro registro da nova classificação encontra-se documentado nos anais do 21º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, realizado pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), em setembro de 1998, no Recife. No paper que recebeu o título “Gêneros e formatos na comunicação massiva periodística: um estudo do jornal Folha de

S.Paulo e da revista Veja9”, estão projetadas novas reflexões, com a afirmação de que os veículos nacionais produzem cinco gêneros, os quais são desdobrados em formatos:

a) Gênero informativo (nota, notícia, reportagem, entrevista). b) Gênero interpretativo (análise, perfil, enquete, cronologia)10.

c) Gênero opinativo (editorial, comentário, artigo, resenha, coluna, crô- nica, caricatura, carta).

d) Gênero diversional (história de interesse humano, história colorida). e) Gênero utilitário (indicador, cotação, roteiro, chamada, obituário)11. Os critérios de classificação continuaram a ser, basicamente, os mesmos de outrora: a conjugação da intencionalidade com o aspecto estrutural. Entretanto, como já foi dito, nessa segunda fase há uma separação entre gênero (classe) e for- mato (forma), sendo o segundo um desdobramento do primeiro. A terminologia

– que remete aos contornos dos textos jornalísticos – foi emprestada dos estudos

9. O paper foi assinado pelos pesquisadores Paulo da Rocha Dias, Rosemary Bars Mendez,

Daniella Crespin Villalta e Gláubio Batista, sob coordenação do professor José Marques de Melo. Os autores eram, à ocasião, mestrandos e doutorandos da Universidade Me- todista de São Paulo, e realizaram o estudo exploratório em torno do jornal Folha de

S.Paulo e da revista Veja (MARQUES DE MELO, 1998).

10. Nos trabalhos mais recentes, o autor incluiu, na lista do gênero interpretativo, o forma- to “dossiê” (MARQUES DE MELO, 2009, p. 36).

11. É necessário explicar que, em 1998, a classificação sugeria que o gênero utilitário in- corporava os formatos “chamada” – o qual orienta os leitores sobre o conteúdo de uma edição – e “obituário” – dados sobre falecimentos. Todavia, em trabalhos elaborados posteriormente, Marques de Melo (2006a; 2006b; 2009) deixou de considerar tais con- teúdos como formatos, substituindo-os pela forma genérica denominada “serviço”.

midiáticos, que hegemonicamente o adotam em categorizações voltadas à produ- ção midiática, nas suas mais diversas manifestações (MCQUAIL, 2003, p. 339). No que concerne ao circuito teórico a que sua proposta se vincula, é impor- tante anotar outra tentativa de articulação entre mais de um elemento. No ma- terial didático que tem disponibilizado aos alunos, o professor Marques de Melo considera que sua categorização está alicerçada sobre duas correntes que, de modo aparente, se opõem: o funcionalismo e a teoria crítica. Como já apontamos em outra reflexão, além da finalidade dos textos – característica da primeira frente teórica a que nos referimos –, os gêneros também são definidos em consonância com “o estereótipo encravado nas normas que regem o trabalho dos jornalistas de redação” (ASSIS, 2011, p. 216), ou seja, também devem ser pensados a partir de hipóteses frankfurtianas, de acordo com o olhar do autor aqui estudado.

A nova “classificação Marques de Melo” ainda não está disponível, de modo aprofundado, em livro individual, muito embora tenha o autor demonstrado, em alguns de seus textos e em alocuções, interesse em fazê-lo. Ainda assim, algu- mas obras que publicou recentemente (MARQUES DE MELO, 2009; 2010b; 2012b) oferecem breves abordagens conceituais e esquemas a respeito de muitos dos aspectos discutidos nestas linhas. A elas, soma-se a coletânea que tivemos a oportunidade de organizar em conjunto – Gêneros jornalísticos no Brasil –, reunindo textos, seus e de seus alunos e/ou ex-alunos, que balizam a proposta classificatória e/ou ajudam a entender opções e direcionamentos que o levaram ao panorama exposto há pouco (MARQUES DE MELO & ASSIS, 2010).

Um aspecto singular a ser salientado diz respeito ao lugar que ocupam os gêneros jornalísticos. Na contramão do que pressupõem as Ciências da Lingua- gem, que entendem o jornalismo como gênero do discurso (BENETTI, 2007), Marques de Melo situa os gêneros dentro do universo processual da comunica- ção, relacionando-os diretamente à comunicação de massa. Critério apresenta- do inicialmente em forma de diagrama, no trabalho empírico desenvolvido com os alunos da Metodista, no final da década de 1990 (MARQUES DE MELO, 1998, p. 3), foi posteriormente organizado nesses termos:

O campo da comunicação é constituído por conjuntos processuais, entre eles a comunicação massiva, organizada em modalidades significativas, inclusive a comunicação periodística (jornal/revista). Esta é estruturada, por sua vez, em categorias funcionais, como é o caso do jornalismo, cujas unidades de mensagem se agrupam em classes, mais conhecidas como

gêneros, extensão que se divide em outras, denominadas formatos, os

quais, em relação à primeira, são desdobrados em espécies, chamadas

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Nessa perspectiva, gêneros jornalísticos são classes que agrupam formas de expressão jornalística, organizadas conforme determinado propósito (informar, interpretar, opinar, divertir, ser útil, segundo a classificação em relevo). Os for- matos, por conseguinte, são as mensagens jornalísticas estruturadas com certos caracteres, sendo estes os responsáveis por sua identidade (por exemplo, notícia, coluna, roteiro, etc.). Finalmente, os tipos são os desdobramentos dessas formas, cujas características são capazes de diferenciar unidades dentro de um conjunto (grande reportagem, coluna de miscelânea, etc.). Em linhas gerais, seria esta a hierarquia de organização dos trabalhos da imprensa, conforme os parâmetros estabelecidos pelo autor, os quais o auxiliamos a compartilhar com a comuni- dade acadêmica, mais recentemente (MARQUES DE MELO & ASSIS, 2013). Por fim, vale dizer que essa classificação é a que tem guiado boa parte das pesquisas sobre o assunto realizadas na Universidade Metodista de São Paulo, em níveis de mestrado e doutorado. À medida que os pesquisadores avançam em suas discussões setoriais, também oferecem contribuições ao orientador, que em alguns casos chega a acrescentar ou a excluir itens de sua taxionomia12.

No documento PORTCOM (páginas 193-196)