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5 A FORMAÇÃO DOCENTE NA INTERFACE COM AS DIMENSÕES

5.1 FORMAÇÃO E A INDISSOCIABILIDADE DAS DIMENSÕES PESSOAL E

5.1.1 Formação e o perfil docente

5.1.1.4 Formação x idade

A falta de atratividade da carreira do Magistério talvez possa justificar o fato de que a maior parte dos profissionais dos anos finais do Ensino Médio da rede estadual do Espírito Santo, à época da pesquisa (2009), tinha entre 26 e 45 anos (59,50%) e somente 18% possuíam até 25 anos, como aponta a Tabela 22, a seguir.

A perspectiva da falta de atratividade da carreira para os mais jovens (até 25 anos), em nossa concepção, relaciona-se, sobretudo, com a falta de condições de trabalho, como observou Oliveira (2011, p. 26): “ o Brasil, a profissão docente apresenta baixa atratividade em razão dos níveis de remuneração, das condições de trabalho e das expectativas oferecidas pelas carreiras”.

TABELA 22 – Profissionais da educação, por etapas de ensino, segundo a idade

Etapas de ensino

Idades

Até- 25 26-35 36-45 46-55 Acima de 55 TOTAL

EF - anos finais

9 17 14 11 4 55

EM 63 121 86 56 19 345

TOTAL 72 (18%) 138 (34,50%) 100 (25,00%) 67 (16,75%) 23 (5,75%) 400 (100%)

Fonte: Banco de dados do ES/NEPE/UFES (2010). Nota: Dados adaptados pela autora.

No que tange à participação dos profissionais da educação que compuseram a amostra desta pesquisa, a Tabela 23, a seguir, sinaliza que foram os mais jovens (com até 25 anos de idade) seguidos dos mais velhos (com mais de 55 anos de idade) os que menos participaram das atividades e de programas de formação continuada.

Tal constatação pode ter relação com os ciclos da vida profissional em Huberman (2007), uma vez que, como observou Nóvoa (1999, p.10) há necessidade de se construir lógica de formação continuada que valorize a experiência do professor, levando em consideração as fases de desenvolvimento profissional dos professores: “Quero dizer sim, da necessidade de uma outra concepção, que situe o desenvolvimento pessoal e profissional dos professores ao longo dos diferentes ciclos da sua vida”.

Dessa forma, em Huberman (2007), os professores, ao longo das suas carreiras, passam por fases que não são nem lineares nem estáticas, como o início da carreira, a estabilização, a diversificação, a distância afetiva e o desinvestimento. Por isso as expectativas e necessidades não seriam as mesmas para o profissional no início da carreira, comparado com os mais experientes e com os que já estão no final da carreira.

Tal perspectiva alerta para a formação continuada nos moldes tradicionais padronizada e generalizada geralmente sob a forma de pacotes, a despeito das diferenças e interesses dos profissionais, a exemplo dos professores da Educação Infantil e daqueles que atuam nos anos

iniciais do Ensino Fundamental, em comparação com os que trabalham com os anos finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, como salientaram Souza e Gouveia (2012).

Nesse sentido, o fato de os menores índices de participação terem sido dos profissionais da educação mais idosos ou com idades acima de 55 anos (média 29,35%) pode ter relação com as concepções do ciclo da vida profissional em Huberman (2007), pois, se participação em formação continuada é investimento, para esse autor, esses sujeitos estariam em uma fase do desinvestimento, uma vez que poderiam estar numa etapa de suas carreiras em que teriam chegado ao limite da progressão. Daí um possível “desinvestimento” na formação.

Por outro lado, a baixa participação por parte dos mais jovens de até 25 anos nos surpreendeu, visto que, para nós, esse grupo tenderia a buscar mais formação dado a necessidade de formação (titulação e certificação) para progressão na carreira, para participação em processo seletivo de contratação temporária ou para concursos, como advertiram Oliveira e Maués e também Hypolito (2012).

Os resultados da Tabela 23 mostram que as participações dos profissionais da educação aumentavam na medida em que eles elevavam as idades (com exceção da última faixa etária que concentra os mais velhos). Foram os profissionais nas faixas etárias compreendidas entre 35 e 55 anos os que mais participaram de formação continuada, sobretudo aqueles com idades entre 46 e 55 anos.

Esses dados sinalizaram, ainda, que a participação dos profissionais da educação, nas faixas etárias até 25 anos e acima de 26 até 35 anos, foi mais efetiva nas atividades de formação conjunta, confirmando a compreensão, por parte da literatura acadêmico-educacional, das entidades e movimentos organizados de professores, de que a formação continuada deve, prioritariamente, se dar no âmbito da unidade educacional onde atua o professor, evidenciando o seu papel como profissional que, pela reflexão da sua própria prática, busca meios de aprimorar o seu trabalho (ANDRÉ, 1999; DUARTE, 2010; BRZEZINSKI; GARRIDO, 2006).

Essa concepção expressa a necessidade de se repensar a lógica do espaço de formação continuada, de forma que não desloque o professor do seu ambiente de atuação, a escola, assegurando-a como espaço central de promoção de experiências internas coletivas de formação baseada na experiência prática do professor, cabendo-lhe o papel de protagonistas nesse processo (NÓVOA, 1992).

Essa perspectiva, sob o nosso ponto de vista, foi assumida também por Tardif e Lessard (2005), em função de citarem a autoformação e o aprendizado com os colegas entre as várias formas de formação continuada vistas por eles como uma tendência de investimento nos últimos anos entre os professores e como uma atividade muito importante.

Como vimos, à exceção das atividades de formação conjunta, a idade foi o aspecto que repercutiu a participação dos profissionais da educação em atividades e programas de formação continuada, pois, apesar de a maioria simples dos profissionais da amostra possuir idades ente 26-35 anos (37,50%), foram os profissionais com idades entre 46 e 55 anos que concentraram os maiores índices de participação (entre 50% e 58%), bem inferior à dos mais jovens (até 25 anos) e daqueles com mais idades (acima de 55 anos).

TABELA 23 – Participação em formação continuada segundo a idade

Participação segundo as idades Formação continuada Até 25

anos De 26-35 anos De 36-45 anos De 46-55 anos Acima de 55 anos

Congressos, seminários e colóquios 29,17% 42,75% 46,00% 58,21% 26,09%

Ofertadas por instituição universitária 12,50% 16,67% 16,00% 26,86% 13,04%

Prevista no calendário escolar 30,56% 42,75% 50,00% 58,21% 30,44%

Atividades de formação conjunta 34,72% 41,30% 36,00% 55,22% 47,83%

Participação média segundo as idades 26,74% 35,87% 37,00% 49,62% 29,35%

Fonte: Banco de dados do ES/NEPE/UFES (2010). Nota: Dados adaptados pela autora.