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5 A FORMAÇÃO DOCENTE NA INTERFACE COM AS DIMENSÕES

5.1 FORMAÇÃO E A INDISSOCIABILIDADE DAS DIMENSÕES PESSOAL E

5.1.1 Formação e o perfil docente

5.1.2.4 Formação x satisfação em relação ao salário

A despeito de a análise anterior ter revelado que os maiores percentuais de participação, em todas as formas de formação continuada analisadas, foram os dos profissionais pós-graduados, os salários ainda permaneceram insatisfatórios, como veremos na Tabela 44.

Nessa direção, os dados da pesquisa TDEBB no Espírito Santo, com relação aos profissionais da educação dos anos finais do Ensino Fundamental e do Médio da rede estadual registrados na Tabela 44, mostraram que a insatisfação salarial era um sentimento comungado pela maioria dos desses profissionais (64,74% insatisfeitos e muito insatisfeitos), visto que o salário bruto recebido por 72,22% desses sujeitos correspondia a mais de um e no máximo quatro salários mínimos, como mostrou a Tabela 39.

Esses resultados refletem o entendimento de Oliveira (2004, 2009, 2010, 2011, 2012) e de Oliveira e Vieira (2012b) de que a remuneração se constitui num aspecto das condições de trabalho docente e que os baixos salários sinalizam condições inadequadas e de precarização do trabalho docente considerando que “ s condições de trabalho docente se referem à forma como está organizado o processo de trabalho nas unidades educacionais [...]. Tais condições compreendem aspectos relativos [...] às condições de remuneração entre outras” ( VE ; VIEIRA, 2012b, p. 157).

inda segundo liveira (2004, p. 1140), “[...] o trabalho docente tem sofrido relativa precarização nos aspectos concernentes às relações de emprego. [...] o arrocho salarial [...], a inadequação ou mesmo a ausência, em alguns casos, de planos de cargos e salários [...]”.

Nessa direção, Oliveira e Vieira (2012b), ao discutirem as condições adequadas de trabalho, chamaram a atenção para fato de, nas últimas décadas, estarmos assistindo à degradação profissional do Magistério, citando o arrocho salarial imposto aos trabalhadores juntamente com a falta de condições de trabalho como aspectos dessa realidade, levando-os a inferir que tais problemas se relacionam “[...] com a valorização compreendida como salário, carreira e condições de trabalho e formação para quem já atua na educação básica” ( VE , 2010, apud OLIVEIRA; VIEIRA, 2012b, p.155).

TABELA 44 – Profissionais da educação segundo a satisfação em relação ao salário

Satisfação em relação ao salário Grau de satisfação em relação ao salário (%)

Satisfeito por se tratar de remuneração compatível com sua dedicação ao trabalho 22,17% (88) Insatisfeito por se tratar de remuneração incompatível com sua dedicação ao trabalho 50,88% (202) Conformado, por ser baixo, mas compatível com sua dedicação ao trabalho 5,54% (22) Muito insatisfeito, pois a remuneração que percebe é insuficiente para manter um

padrão de vida digno

13,85 (55)

Muito bem remunerado 0,51% (2)

Indiferente 2,52% (10)

Outro 4,53% (18)

TOTAL 100% (397)

Fonte: Banco de dados do ES/NEPE/UFES (2010). Nota: Dados adaptados pela autora.

esmo com a maioria absoluta dos profissionais da amostra investigada “insatisfeita e muito insatisfeita” com os salários recebidos (64,74%), como mostrou a Tabela 44, a insatisfação salarial não incidiu sobre a participação em formação continuada, uma vez os maiores índices de participação, à exceção dos relativos à da formação conjunta, foi dos “insatisfeitos e muito insatisfeitos” com a remuneração recebida (média participativa de 40,66% e de 36,82%, respectivamente, enquanto o índice dos “satisfeitos” foi de 32,13%), de acordo com a Tabela 45.

Tal constatação dialoga com a perspectiva de identidade social profissional em Dubar (2005), na medida em que a maioria dos profissionais dos anos iniciais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio da rede estadual mesmo tendo expressado insatisfação com os salários foi a que mais participou das atividades e programas de formação (77,48%), revelando que o papel lhe atribuído pelo utro foi interiorizado e incorporado à sua vivência profissional: “ construção das identidades profissionais é, portanto, inseparável da existência dos planos de emprego-formação e dos tipos de relação profissional que estruturaram as formas específicas de mercados de trabalho [...]” (D B , 2005, p. 327).

Nessa direção, Hypolito e Vieira (2012), com base em Dubar (2005), afirmaram que o papel atribuído pelo Outro – os discursos oficiais – ao profissional da educação incorre na identidade profissional, fundada na culpa e na responsabilização desses trabalhadores pelo fracasso ou sucesso da escola e do aluno, mediante a cultura da performatividade balizada pelo desempenho nas avaliações externas.

Por outro lado, a despeito de os profissionais da educação “muito bem remunerados” representarem apenas 0,51%106 dos participantes desta pesquisa, os índices de participação desses trabalhadores, nas formas de formação continuada analisadas (50%, 50%, 100% e 100%, respectivamente, e média de 75%), superaram os dos satisfeitos, insatisfeitos, muito insatisfeitos, conformados, indiferentes e outros. Isso sinaliza, sob o nosso ponto de vista, a implicação do aspecto “satisfação salarial” sobre a participação dos sujeitos desta pesquisa em formação continuada, como indica a Tabela 45.

Esse entendimento foi expresso pelos profissionais da educação, nos dados da Tabela 77, ao elencarem o aspecto “receber mais remuneração (salário)” pela atividade que exerce, como o segundo dentre os três mais importantes para melhorar a qualidade do trabalho realizado, corroborando dessa forma os argumentos de Oliveira et al. (2009) que afirmaram que a baixa remuneração é aspecto de precarização do trabalho docente:

[...] a precarização e a instabilidade do emprego no magistério público ocorrem sob a forma de contratos temporários de trabalho (que não asseguram os mesmos direitos e garantias dos trabalhadores efetivos; arrocho salarial; ausência de planos de cargos e salários; perdas de garantias trabalhistas e previdenciárias oriundas dos processos de reforma do Estado, principalmente as reformas administrativas e previdenciárias (OLIVEIRA, 2006, apud OLIVEIRA et al., 2009, p. 25).

TABELA 45 – Participação em formação continuada segundo a satisfação em relação ao salário

Satisfação em relação ao salário

Participação em formação continuada

Congressos, seminários e colóquios Ofertada por instituição universitária Prevista no calendário escolar Atividades de formação conjunta Média das participações segundo a satisfação com o salário

Satisfeito por se tratar de remuneração compatível com sua dedicação ao trabalho

32,95% 1,25% 43,18% 51,14% 32,13%

Insatisfeito por se tratar de remuneração incompatível com sua dedicação ao trabalho

47,30% 18,81% 47,03% 49,50% 40,66%

Conformado por ser baixo, mas compatível com sua dedicação ao trabalho

36,36% 18,18% 31,82% 27,27% 27,91%

Muito insatisfeito, pois a remuneração que recebe é insuficiente para manter um padrão de vida digno

45,45% 12.73% 43,64% 45,45% 36,82%

Muito bem remunerado 50, 00% 50,00% 100% 100% 75,00%

Indiferente 60,00% 30,00% 50,00% 20,00% 40,00%

Outro 50,00% 27,78% 27,78% 50,00% 38,89%

Fonte: Banco de dados do ES/NEPE/UFES (2010).

Nota: Dados adaptados pela autora.

106 Conforme Tabela 39, eram somente dois profissionais pós-graduados e os únicos que percebiam os maiores