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6.2 ANÁLISE VIA TEORIA DA OTIMALIDADE

6.2.2 As siglas de três letras

6.2.2.3 O formato CVC

Como já comentado, o padrão CVC sempre forma acrônimos. Estes podem ser dissilábicos (com duas sílabas leves) ou monossilábicos (com uma sílaba pesada). De acordo com Barbosa et alii (2003), esse padrão forma acrônimos, havendo exceção quando C1 for H, como ocorre em HAC, para

110 Hospital Ana Costa ou Hospital Alberto Cavalcanti. Como a exceção se trata de uma construção rara, preferimos manter a ideia de que o padrão CVC é invariável, constituindo formações acronímicas.

Quanto aos acrônimos de duas sílabas, no formato em questão, pode-se afirmar que são sempre paroxítonos e que ocorre epêntese junto ao segmento obstruinte. Dessa forma, o acrônimo FAB (Força Aérea Brasileira) é pronunciado como [ˈfa.bɪ], e CEF (Caixa Econômica Federal), como [ˈsɛ.fɪ].

No que concerne aos acrônimos monossilábicos, estes, como já se afirmou, são constituídos por uma sílaba pesada. Collischonn (2005) afirma que “rimas constituídas somente por uma vogal são leves e rimas constituídas por vogal + consoante ou por vogal + vogal (ditongo ou vogal longa) são pesadas” (COLLISCHONN, 2005: 105). Nessa ótica, pode-se definir a diferença entre sílabas leves e pesadas como uma diferença entre sílabas com rima não-ramificada e sílabas com rima ramificada. Dessa maneira, siglas como PAN (Partido dos Aposentados da Nação), SUS (Sistema Único de Saúde), DAS (Divisão Antissequestro) e COL (Comitê Organizador Local) constituem acrônimos que são monossílabos pesados, embora Bisol admita, em caso de flexão de número, que sibilantes finais não constituem unidades moraicas em português (BISOL, 1994).

Ratifica-se, assim, a grande importância da restrição *MWd = na análise otimalista do processo em questão. Como se viu, acrônimos só podem ser monossílabos se essa única sílaba for pesada e, como já se mostrou, esse restritor desfavorece monossílabos constituídos por sílaba leve.

111 Nesse caso, portanto, as regras de acento propostas por Bisol (1992) mostram-se satisfatórias. Bisol (1992), a fim de formular a regra do acento em português, utilizou as noções de peso silábico e de pé métrico. Os casos de exceção à regra, de acordo com a autora, devem ser resolvidos por meio do recurso da extrametricidade38.

No que se refere à noção de peso silábico, a regra de acento é sensível à sílaba pesada final. Sendo assim, atribui-se o acento à sílaba final às palavras terminadas em ditongo ou consoante, como lugar, herói e anel. No que toca à ideia de pé, a regra indica que o acento deverá cair sobre a segunda sílaba, contando da borda direita da palavra, desde que a primeira não seja pesada. Dessa maneira, atribui-se acento à penúltima sílaba a palavras como mala, tapete e motocicleta.

Dessa forma, como se nota, a proposta de Bisol (1992) para o acento é pertinente para esta análise, uma vez que acrônimos do formato CVC podem constituir pés binários com proeminência à esquerda (dissílabos paroxítonos), como [ˈsɛ.kɪ]: CEC (Centro de Educação e Cultura), ou monossílabos pesados, como [ˈsɛw]: CEL (Centro Educacional da Lagoa).

38 Como a regra geral do acento proposta por Bisol (1992) dá conta do que interessa para esta tese, não detalharemos o recurso da extrametricidade, visto que este, como já dito, é empregado apenas nos casos que constituem exceções.

112 6.2.2.4. O formato CVV

Os dados mostrados nos testes a respeito do formato CVV nos levam a afirmar, em linhas gerais, que a tendência geral, para esse caso, é a formação de acrônimos. A exceção se estabelece quando as vogais forem idênticas, ocorrendo, então, a formação de alfabetismos. Barbosa et alii (2003) não fazem essa exceção, ou seja, para os autores, o formato CVV é regular e forma apenas acrônimos.

Nos casos de formação de acrônimos, podem ocorrer:

(i) monossílabos pesados com formação de ditongo decrescente, como em COI (Comitê Olímpico Internacional): [ˈkɔj];

(ii) dissílabos em que ocorre, na primeira sílaba, a inserção de um glide ambissilábico para a formação de ditongos fonéticos, tal como acontece em CEA (Companhia de Eletricidade do Amapá): [ˈsɛj.jɐ].

Convém salientar que a inserção de glide no segundo tipo de acrônimo possível para o formato CVV ocorre para que se produza uma palavra nos padrões fonológicos do português brasileiro. Se V1, no formato em questão, for

<E>, <I>, <O> ou <U> e V2 for <A>, dar-se-á a inserção da semivogal e a constituição de um ditongo decrescente na primeira sílaba e de um ditongo crescente na segunda. Em português, palavras como “broa” ([ˈbrow.wɐ]) e

“doa” ([ˈdow.wɐ]) (do verbo “doar”) inserem-se nesse caso, pois, ortograficamente, não existe semivogal, porém sabe-se que o glide ambissilábico é realizado na fala carioca (RODRIGUES, 2007). Esse fenômeno

113 também ocorre, por exemplo, em “mia” (do verbo “miar”: [ˈmij.jɐ]) e em “rua”

([ˈxuw.wɐ]). Esse é mais um fato que evidencia que acrônimos são palavras da língua, uma vez que se ajustam aos padrões fonológicos de quaisquer outras palavras do português.

No caso da formação de ditongos no formato em estudo, a vogal <E>

pode ser realizada com o timbre aberto ou fechado. Sendo assim, em um acrônimo como FEA (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade)39, a vogal realiza-se com o timbre aberto; já em um acrônimo como CEI (Comunidade dos Estados Independentes), a vogal realiza-se com o timbre fechado. O fato de a vogal <E> poder ser realizada com o timbre fechado contraria a afirmação de Barbosa et alii (2003) de que essa vogal, caso não anteceda uma consoante nasal, é sempre aberta.

Dessa observação emerge um dado fonológico que se refere ao português brasileiro: não existem ditongos decrescentes que contenham a vogal [ɛ] e a semivogal [j] em monossílabos. Palavras como rei, lei, sei evidenciam que um acrônimo como CEI só poderia mesmo ser pronunciado com a vogal média fechada, fato que ajuda a ratificar a ideia de que acrônimos se submetem aos diversos padrões fonológicos pelos quais se submete qualquer outra palavra da língua. A partir da observação acima, tivemos de formular uma restrição que comporá a hierarquia para a análise dos acrônimos de três e quatro letras: *

ɛj]

MWd, que, como se nota, é uma restrição de

39 Em FEA dá-se a formação de um ditongo fonético nas duas sílabas – um decrescente seguido de um crescente: [ˈfɛj.jɐ].

114 marcação contextualizada, pelo fato de se limitar à margem direita da palavra.

Como não existem palavras em português que contenham o ditongo [ɛj] na borda direita, a formulação da restrição é necessária para bloquear candidatos como [ˈsɛj] para o acrônimo CEI (Comunidade dos Estados Independentes). A restrição será definida como sendo da família do Princípio do Contorno Obrigatório (doravante OCP, sigla em inglês para Obligatory Contour Principle), restrição “contrária à existência de segmentos idênticos – ou muito semelhantes – em sequência” (COLLISCHONN, 2007: 222). No caso em questão, o encontro vocálico é composto por duas vogais coronais40 que se distinguem no que se refere à abertura.

A partir da proposta de Clements & Hume (1995), que substitui os traços tradicionais de altura por abertura, depreende-se o quadro abaixo, em (19), com o sistema de quatro alturas vocálicas:

(19)

i/u e/o ɛ/ɔ A Aberto 1 - - - + Aberto 2 - + + + Aberto 3 - - + +

40 Compreendendo que vogais e consoantes apresentam estrutura paralela, Clements & Hume (1995) empregam, no que tange a ponto de articulação, “o mesmo conjunto de traços para caracterizar todos os segmentos, ou seja, atribuem às vogais os mesmos pontos de constrição atribuídos às consoantes” (MATZENAUER, 2005: 57). Como o traço coronal envolve a frente da língua como articulador ativo, as vogais frontais podem ser, nessa análise, classificadas como coronais.

115 Como mencionado acima, a restrição a ser postulada deve bloquear o encontro vocálico [ɛj] na borda direita da palavra morfológica. Sendo vogais coronais [i], [e] e [ɛ], é necessário, para que se destaque a vogal [ɛ], que o primeiro traço seja [+ aberto 3], pois é na camada 3 que as vogais médias-baixas se diferenciam das médias-altas. A única vogal coronal com o traço [+

aberto 3], como se vê no quadro em (19), é a vogal [ɛ]. A seguir, a fim de que se destaque a vogal [i], é necessário que se estabeleça o traço [- aberto 2], pelo fato de, na camada 2, as vogais altas se diferenciarem das médias. A única vogal coronal com o traço [- aberto 2], como se verifica em (19), é [i].

Dessa maneira, chega-se à restrição, da família do OCP em virtude de proibir segmentos muito semelhantes em sequência, formulada abaixo, em (20):

(20)41

*

coronal coronal

+ aberto 3 - aberto 2 MWd

Nos dados observados nos testes, o acrônimo COA (Centro de Oftalmologia Avançada) chamou a atenção porque foi pronunciado pelos informantes com a vogal média fechada ([ˈkow.wɐ]), fato que contraria uma generalização observada nos dados dos testes: nos acrônimos, vogais médias

41 Como a restrição, em termos visuais, é de grande extensão, no texto e nos tableaux disporemos a restrição como *ɛj]MWd, que, na prática, significa o mesmo: o encontro vocálico [ɛj] é proibido na borda direita de palavras morfológicas.

116 em posição tônica são sempre abertas, com exceção feita ao caso de CEI, já explicitado acima.

O fato de a pronúncia de COA se dar com a vogal média fechada revela outra questão fonológica presente na realização fonética de acrônimos: não existem, em português, palavras que contenham a sequência [ɔwɐ]. Na língua portuguesa, um encontro vocálico como o que está em questão se realiza sempre com a vogal média fechada: boa, coa, doa, moa, roa, soa, toa e voa. A realização do acrônimo COA, portanto, com a vogal média fechada, confirma a ideia central deste trabalho: acrônimos são palavras fonológicas e, portanto, submetem-se aos processos fonológicos a que qualquer palavra da língua se submete.

A partir disso, chegamos à conclusão de que acrônimos que remetem o falante a palavras preexistentes na língua, por terem a mesma grafia, não serão contemplados na análise por meio da Teoria da Otimalidade, visto que serão pronunciados sempre da mesma forma que a palavra preexistente, mesmo as que recebem acento gráfico. O acrônimo COA, que nos remete à terceira pessoa do singular do presente do indicativo do verbo coar, é um exemplo disso. Além desse aspecto, há também a questão da intencionalidade, claramente notada, por exemplo, na pronúncia do acrônimo CEU (Centro Educacional Unificado), realizada como [ˈsɛw] para que haja a associação com

“paraíso, vida boa, alegria”, como afirma Monteiro (2002: 194).

Para que se note como a questão ortográfica pode alterar uma tendência geral observada, citam-se os acrônimos de quatro letras CREA (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia) e CEIA (Centro Educacional Integrado

117 Arvoredo). O primeiro foi compreendido pelos informantes com a vogal média aberta, que é uma tendência geral na realização fonética de acrônimos, mas o segundo foi realizado pelos informantes com a vogal média fechada, exatamente porque, ortograficamente, o acrônimo CEIA remete o falante a uma palavra preexistente na língua, cuja vogal média é pronunciada com o timbre fechado. Por esses motivos, optamos por não analisarmos, via TO, acrônimos que sejam idênticos, do ponto de vista ortográfico, a palavras da língua, entendendo, conforme exposto nos capítulos 2 e 3, que a Siglagem é um processo que, por ser intencional, costuma recorrer à homonímia, como mostram, por exemplo, Villalva (2008) e Monteiro (2002).

A Siglagem, portanto, constitui processo que forma homônimos em português, e esse fato a diferencia de outros processos não-concatenativos, como o Truncamento (GONÇALVES, 2012) e a Hipocorização (LIMA, 2008;

THAMI DA SILVA, 2013), que tendem a não formar homônimos, respeitando, numa leitura otimalista, o restritor UNIQUENESS: “O produto de um processo morfológico é foneticamente distinto de uma forma preexistente na língua”

(PIÑEROS, 2000: 30).

Como o glide é realizado foneticamente nas duas sílabas dos acrônimos FEA (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade), CEA (Companhia de Eletricidade do Amapá) e FIA (Fundação para a Infância e a Adolescência), por exemplo, torna-se fundamental uma restrição que faça bloquear candidatos que sejam realizados sem glide, tal como [ˈfi.ɐ] em vez de [ˈfij.jɐ], para o acrônimo FIA. Sendo assim, o restritor STRESS-TO-WEIGHT

118 (STW)42 (HOLT, 1997: 81), que postula que toda sílaba portadora de acento primário é pesada, será necessário no ranking para cumprir a função de bloquear candidatos que apresentem sílabas acentuadas que não sejam pesadas, uma vez que a restrição assevera que deve ser atribuída uma infração a cada sílaba acentuada que não seja pesada. Dessa forma, o já citado candidato [ˈfi.ɐ] viola uma vez STW, já que a sílaba acentuada é leve.

Como já se explicitou acima, os dados dos testes evidenciaram uma tendência geral na realização fonética dos acrônimos: as vogais médias que se encontram na sílaba tônica são quase sempre abertas, a exemplo do que ocorre em FEA e CEA. Esse fato fez com que tivéssemos de formular outra restrição necessária na hierarquia, que será denominada OPEN-TO-STRESS (OTS): Abertura ao acento. Essa restrição, muito pertinente para a análise, foi elaborada com base nas já citadas STRESS-TO-WEIGHT (Acento leva peso) (HOLT, 1997) e WEIGHT-TO-STRESS (Peso ao acento) (PRINCE &

SMOLENSKY, 1993). De acordo com essa restrição, portanto, as vogais médias acentuadas devem ser abertas, o que constitui uma tendência em português, sobretudo em proparoxítonos (pérola, cócegas) e paroxítonos terminados em consoante (estéril, fóssil). A ação desse restritor impediria a emersão, por exemplo, do candidato [ˈfej.jɐ], realizado com a vogal média fechada.

No que tange aos alfabetismos, estes, como já explicitado, serão produzidos, no formato em análise, quando V1 = V2, como ocorre em ZEE, para Zona Econômica Exclusiva. O fato de o usuário da língua enxergar essas

42 Não se deve confundir STRESS-TO-WEIGHT com WEIGHT-TO-STRESS, restrição segundo a qual toda sílaba pesada porta acento primário (PRINCE & SMOLENSKY, 1993: 56)

119 formações como alfabetismos é pertinente, visto que, em português, construções com vogais idênticas adjacentes em um formato CVV são raras, restringindo-se ao substantivo “voo” e a alguns verbos conjugados na primeira pessoa do singular do presente do indicativo: “coo” (“coar”), “moo” (“moer”),

“roo” (“roer”), “doo” (“doer”), “zoo” (“zoar”). Como se viu, só existem, em português, palavras com o formato CVV com as vogais idênticas quando a vogal for <O>. Além disso, a sequência em tela é associada à flexão verbal (marcação de P1 no presente), e a Siglagem é um processo morfológico que, como a composição, sempre forma nomes. Nos nomes, uma sequência de vogais finais idênticas só aparece em ‘voo’.

6.2.2.5. O formato VVC

De acordo com Barbosa et alii (2003), o formato em análise é variável.

Conforme os autores, se C for <S, R, L, M, N>, as siglas serão acrônimos; nos demais casos, constituir-se-ão alfabetismos. Os dados que os testes aplicados revelaram para o formato em análise confirmam essa informação.

Dessa maneira, pode-se afirmar que a terminação em letra que representa um segmento soântico, no formato VVC, favorece a formação de acrônimos, como se vê em UEL (Universidade Estadual de Londrina), UEM (Universidade Estadual de Maringá) e IAR (Instituto Ambiental Ratones).

Assim, os acrônimos formados segundo o formato VVC são dissílabos, sendo a primeira sílaba leve, constituída apenas de núcleo, e a última sílaba pesada.

120 6.2.2.6. O formato VCV

Conforme Barbosa et alii (2003), o formato VCV é, em geral, constituído por acrônimos. Quando V2 for <I>, no entanto, ocorre, de acordo com os autores, a formação de alfabetismos. Os dados levantados nos testes corroboram essa informação. Dessa forma, UNE (União Nacional dos Estudantes), UPA (Unidade de Pronto Atendimento) e ONU (Organização das Nações Unidas) são acrônimos, e UTI (Unidade de Terapia Intensiva), IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e EPI (Equipamento de Proteção Individual) são alfabetismos.

A informação fonológica que emerge a partir da consideração feita acima diz respeito ao fenômeno conhecido como neutralização das postônicas (CAMARA JR, 1970). Esta é o resultado do desaparecimento de uma oposição, isto é, deixa de operar, entre dois ou mais segmentos, um traço distintivo relevante. A neutralização, no caso em questão, é detectável entre os segmentos /e/ e /i/, de um lado, e /o/ e /u/, de outro, nas posições átona e postônica. Sendo extinta a oposição /e/ e /i/ e /o/ e /u/ átonos em final de palavras, postulam-se os arquifonemas vocálicos /I/ e /U/, que representam a perda do contraste entre /e/ e /i/, no primeiro caso, e /o/ e /u/, no segundo (CALLOU & LEITE, 1994).

Sendo assim, o falante produz [ˈu.fɪ] para UFE (União Fabril Exportadora), ou seja, compreende uma sigla com o formato VCV terminada em <E> como acrônimo, mas interpreta como alfabetismo a sigla ABI (Associação Brasileira de Imprensa) pelo fato de esta terminar em <I>. Se essa

121 sigla fosse interpretada como acrônimo, seria produzida pelo falante a sequência [ˈa.bɪ], exatamente o que ocorre caso a sigla termine em <E>. Isso significa que, por conta do fenômeno fonológico conhecido como neutralização, o falante marca essa diferença e compreende como acrônimo a sigla VCV em que V2 = <E> e a interpreta como alfabetismo quando V2 = <I>.

6.2.2.7. O formato VCC

Barbosa et alii (2003) afirmam que siglas constituídas segundo o formato VCC são alfabetismos, com exceção feita quando C1 for <S, R, L>. Nesse caso, ocorre a formação de acrônimos. Os testes realizados para esta tese também confirmam essas realizações.

Dessa maneira, os acrônimos constituídos segundo esse formato caracterizam-se por serem dissílabos paroxítonos, ocorrendo epêntese de [ɪ] junto a C2, sendo esta uma obstruinte. Assim, realizam-se [ˈuʃ.pɪ], [ˈax.pɪ] e [ˈiw.pɪ] para, respectivamente, USP (Universidade de São Paulo), ARP (Associação Riograndense de Propaganda) e ILP (Instituto do Legislativo Paulista).

A formação de acrônimos, no formato em análise, constitui mais um caso em que se produzem dissílabos paroxítonos, ratificando a questão da palavra mínima e a tendência de que o pé básico do português é o troqueu moraico.

122 6.2.2.8. Análise conjunta dos acrônimos de três letras

Uma vez feitas as descrições dos formatos de siglas de três letras, cabe, nesta seção, a análise dos acrônimos através dos mecanismos da TO. Para isso, é necessário que sejam formuladas as restrições, muitas delas já explicitadas na descrição dos formatos, e que estas sejam ranqueadas. Abaixo, em (21), enumeramos as restrições relevantes:

(21)

CODA-COND [+ soante / - soante, + contínuo, + coronal] (Condições sobre a coda): Na posição de coda, só são permitidos segmentos soânticos (nasais, líquidas e vogais) e sibilantes (fricativas alveolares e álveo-palatais); oclusivas e fricativas labiais são penalizadas nessa posição (LEE, 1999).

Violação: quando oclusivas e fricativas labiais aparecerem na posição de coda.

TROCHEE (TROQUEU): Todo pé tem duas moras, estejam elas localizadas em uma mesma sílaba ou em sílabas distintas. Nesse último caso, a sílaba proeminente está à esquerda (RONDININI, 2009: 104).

Violação: sempre que um pé dissilábico não apresentar cabeça na sílaba inicial ou houver formação de um pé constituído apenas por uma sílaba leve.

*MID]MWd: Palavras morfológicas não podem terminar em vogal média.

Violação: quando palavras morfológicas terminarem em vogais médias.

123

* coronal coronal

+ aberto 3 - aberto 2 MWd

O ditongo aberto [ɛj] não deve figurar na borda direita de palavras morfológicas.

Violação: sempre que palavras morfológicas terminarem com o ditongo aberto [ɛj].

STRESS-TO-WEIGHT (STW): Toda sílaba acentuada deve ser pesada.

Violação: Toda sílaba leve acentuada deve receber infração.

OPEN-TO-STRESS (OTS): Abertura ao acento: as vogais médias acentuadas devem ser abertas.

Violação: quando as vogais médias acentuadas forem fechadas.

DEP-IO (Dependência do input no output): nenhum segmento deve ser inserido; não pode haver qualquer tipo de acréscimo no output.

Violação: quando houver epêntese.

A seguir, em (22), as restrições estão hierarquizadas:

(22)

CODA-COND >> TROCHEE >> *MID]MWd >> *

ɛj]

MWd >> STW >> OTS>> DEP

124 Da mesma forma como ocorre com os acrônimos de duas letras, a restrição CODA-COND [+ soante / - soante, + contínuo, + coronal], que impede que venham à superfície candidatos que apresentem segmentos oclusivos ou fricativos labiais na posição de coda, deve ser a mais alta da hierarquia. Sendo assim, um candidato como [ˈfab], para FAB (Força Aérea Brasileira), é impossibilitado de emergir como vencedor na disputa, uma vez que apresenta o segmento oclusivo [b] na posição de coda.

O restritor TROCHEE é o segundo no ranking de restrições. Segundo Hayes (1995), existem três tipos de pés: o troqueu moraico, o troqueu silábico e o iambo. Nesta análise, a restrição TROCHEE compreende o troqueu moraico e será violada “sempre que um pé dissilábico não apresentar cabeça na sílaba inicial ou houver formação de um pé constituído apenas de uma sílaba leve” (RONDININI, 2009: 105). Essa restrição é necessária, pois os dados mostram que os acrônimos de três letras, quando dissílabos, têm proeminência à esquerda e, quando monossílabos, são constituídos por sílaba pesada. Por dar conta de aspectos mais gerais, TROCHEE, na análise dos acrônimos de três letras, substitui HEAD-DEP-IO, que compôs a hierarquia da análise dos acrônimos de duas letras. Isso se deu, uma vez que os candidatos que seriam eliminados por HEAD-DEP-IO são excluídos por TROCHEE. Dessa forma, um candidato como [fi.ˈa], para FIA (Fundação para a Infância e a Adolescência), viola TROCHEE por se tratar de um pé dissilábico com cabeça à direita (um iambo) e, portanto, deve ser eliminado da disputa. Da mesma forma, o candidato [sƐ.ˈgi], para CEG (Companhia Estadual de Gás), que insere um [ɪ] junto ao segmento obstruinte e o acentua, infringe essa restrição

125 pela mesma razão. Como se nota, o restritor HEAD-DEP-IO, que desfavorece elementos inseridos portadores de acento, é dispensável na análise dos acrônimos de três letras (e consequentemente nos de duas), pois os candidatos que seriam bloqueados por ele já são desfavorecidos por TROCHEE.

A seguir na hierarquia, o restritor de marcação *MID]MWd, que também é ranqueado na análise dos acrônimos de duas letras, proíbe a realização de vogais médias no final de palavras prosódicas. Essa restrição é necessária para que uma vogal média não seja inserida junto ao segmento flutuante na posição de coda. Com isso, um possível candidato como [ˈku.te], para CUT (Central Única de Trabalhadores) violaria *MID]MWd e seria eliminado da disputa.

Após *MID]MWd, aparece hierarquizada a restrição *

ɛj]

MWd, que proíbe

que uma palavra morfológica termine com o ditongo aberto [

ɛj

]. Essa restrição impede, por exemplo, a emersão do candidato [ˈsɛj], para CEI (Comunidade

que uma palavra morfológica termine com o ditongo aberto [

ɛj

]. Essa restrição impede, por exemplo, a emersão do candidato [ˈsɛj], para CEI (Comunidade

No documento Universidade Federal do Rio de Janeiro (páginas 109-0)