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6.2 ANÁLISE VIA TEORIA DA OTIMALIDADE

6.2.3 As siglas de quatro letras

6.2.3.6 O formato CVVC

Nos testes realizados, os dados mostram que, para o formato CVVC, existem apenas acrônimos. Nesse caso, ocorre uma discordância em relação ao trabalho de Barbosa et alii (2003), visto que esses autores afirmam que siglas que seguem esse formato são alfabetismos, a menos que as vogais sejam idênticas (apenas nesse caso haveria a formação de acrônimos).

Para o molde CVVC, há três possibilidades de produção de acrônimos.

Na primeira delas, podem ocorrer trissílabos paroxítonos com epêntese de [ɪ] junto à consoante final. Como exemplo dessa possibilidade, podem-se citar os

152 acrônimos CAAC (Campus Avançado Arraial do Cabo, realizado foneticamente como [ka.ˈa.kɪ) e PEAD (Português – Ensino a Distância, realizado como [ ˈ dʒɪ]). Citamos esses dois acrônimos para mostrar que, sendo as vogais iguais ou diferentes, o que ocorre é a acronímia.

Como segunda possibilidade, podem ocorrer dissílabos oxítonos quando C2 for <L, M, N, R, S>49. Pode-se afirmar, então, que a terminação em letras que representam sons soânticos, no formato CVVC, favorece a formação de acrônimos nessa segunda possibilidade, pelo fato de as últimas sílabas se tornarem pesadas. Como exemplo, citam-se PEUL (Programa de Estudos sobre o Uso da Língua) e DEAM (Delegacia Especial de Atendimento à Mulher).

Na terceira possibilidade de formação de acrônimos segundo o molde CVVC, geram-se dissílabos paroxítonos quando se produz um ditongo decrescente entre V1 e V2 na primeira sílaba. Nesse caso, há a epêntese de [ɪ] junto à consoante final para que se forme a segunda sílaba. Como exemplo, pode-se citar CAIC (Centro de Aprendizagem e Integração de Cursos), que se realiza foneticamente como [ˈkaj.kɪ].

49 Defendemos, nesta tese, que o <S> só é uma unidade moraica em monossílabos. Os dados mostram que a terminação em <S>, no formato CVVC, só atrai o acento quando V2 for <E>, como ocorre em FIES (Financiamento Estudantil) e em DIES (Divisão de Apoio ao Estudante), que são acrônimos oxítonos. Já acrônimos como CEAS (Centro de Estudos e Ação Social) e CIAS (Central de Inteligência de Aves e Suínos) realizam-se como paroxítonos, evidenciando que, nesses casos, o <S> não é uma unidade moraica, uma vez que esses acrônimos são dissílabos. Trataremos dessa questão na seção 6.2.3.8.

153 6.2.3.7. O formato CVCC

As informações coletadas nos testes explicitam que as siglas que seguem o formato CVCC são sempre acrônimos. Barbosa et alii (2003), ao contrário, postulam que essas formações só serão acrônimos se <S> for o último grafema.

A análise dos dados evidencia que há apenas uma possibilidade de formação de acrônimos para o molde CVCC: nesse caso, formam-se sempre dissílabos paroxítonos com epêntese de [ɪ] junto à consoante final, sendo a sílaba tônica sempre pesada. MASP (Museu de Arte de São Paulo, que se realiza foneticamente como [ˈmaʃ.pɪ]) e NURC (Norma Urbana Culta, que se realiza como [ˈnux.kɪ]) são bons exemplos desse procedimento.

O fato de, nesse formato, a sílaba tônica ser sempre pesada ratifica a importância de STW. Além disso, a análise do molde CVCC explicita, também, a relevância de OTS, uma vez que as vogais médias acentuadas são sempre abertas, a exemplo do que ocorre em CERC (Centro Educacional Rosa Chamma, que se realiza foneticamente como [ˈsɛx.kɪ]) e em MOSP (Movimento de Solidariedade Permanente, que se realiza como [ˈmɔʃ.pɪ]).

154 6.2.3.8. O formato VCVC

Os dados observados nos testes mostram que as siglas que se estruturam sob o formato VCVC são sempre acrônimos. Barbosa et alii (2003) confirmam essa informação em seu trabalho.

Para esse formato, existem três possibilidades de realização dos acrônimos. Uma delas é a formação de trissílabos paroxítonos com epêntese de [ɪ] na borda direita da palavra, a exemplo do que ocorre em ABIC (Associação Brasileira da Indústria de Café, que, foneticamente, se realiza como [aˈbi.kɪ] e em ICAB (Igreja Católica Apostólica Brasileira, que se realiza como [i.ˈka.bɪ]).

Outra possibilidade é a produção de dissílabos oxítonos quando C2 for

<L, M, N, R>. Inserem-se nesse caso os acrônimos ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio: [ ˈn ]) e UFAL (Universidade Federal de Alagoas: [u.ˈfaw]).

Observa-se, mais uma vez, que a terminação em letras que representam soantes favorece a formação de acrônimos oxítonos, já que se formam sílabas finais pesadas.

A terceira possibilidade é a formação de dissílabos paroxítonos quando C2 for <S>. Exemplos dessa possibilidade são UFES (Universidade Federal do Espírito Santo: [ˈu.fɪʃ]) e INES (Instituto Nacional de Educação de Surdos:

[ˈĩ.nɪʃ]). Essa informação traz à tona uma questão fonológica polêmica: o <S> é uma unidade moraica, ou seja, conta peso?

155 Sobre essa questão, defendemos, nesta tese, que, em formações monossilábicas, o <S> é uma unidade moraica e, para isso, citamos exemplos de nomes do português como pus, tez, vez, mês, foz, giz, entre outros, que evidenciam que o /S/ final é uma unidade moraica em monossílabos, uma vez que os exemplos citados portam acento (ao contrário dos clíticos, entidades inertes prosodicamente). Neste trabalho, quando da análise dos acrônimos de três sílabas que seguem o formato CVC, já defendemos essa ideia quando mencionamos os acrônimos DAS (Divisão Antissequestro) e SUS (Sistema Único de Saúde), que também constituem monossílabos tônicos.

Em formações dissilábicas paroxítonas, entretanto, os dados mostram que o /S/ final não constitui uma unidade moraica. No português, nomes como pires, íris, lápis, tênis, bônus, ânus, grátis, entre outros, que são dissílabos paroxítonos terminados em <S>, ratificam essa ideia. Assim, os acrônimos UFES e INES, já citados, e UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) e IFES (Instituto Federal do Espírito Santo), que também são dissílabos paroxítonos com o formato VCVC, confirmam essa questão.

6.2.3.9. O formato CVCV

De acordo com Barbosa et alii (2003), o formato CVCV é constituído sempre por acrônimos. Os dados levantados nos testes corroboram essa informação.

Para o formato em estudo, duas são as possibilidades de produção de acrônimos: dissílabos paroxítonos ou dissílabos oxítonos, caso V2 seja <U>.

Dessa forma, pronunciam-se [ˈxi.kɐ] para o acrônimo RICA (Rito de Iniciação

156 Cristã de Adultos) e [sa.ˈmu] para SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).

A partir da consideração feita, vem à tona uma informação fonológica relevante na análise: o fenômeno da neutralização das postônicas (CÂMARA Jr., 1970), já comentado quando da análise dos acrônimos que seguem o formato VCV, na seção 6.2.2.6 desta tese. A neutralização é produto do desaparecimento de uma oposição, ou seja, um traço distintivo deixa de operar entre dois ou mais segmentos. No caso em questão, o fenômeno pode ser detectado entre os segmentos /o/ e /u/ na posição postônica final.

O que se nota é que o falante, por conta da neutralização, realiza a vogal <U> como tônica, pois, se fosse realizada como átona e postônica, o resultado seria idêntico a um acrônimo terminado com a vogal <O>, tal como FIMO (Faculdade Irineu Mendes de Oliveira), que se realiza como [ˈfĩ.mʊ]. O acrônimo SAMU, por exemplo, se a neutralização não fosse levada em consideração, seria realizado foneticamente como [ˈsɐ .mʊ]. Por conta da neutralização, portanto, o falante interpreta como acrônimo paroxítono a sigla CVCV em que V2 = O e compreende-a como acrônimo oxítono quando V2 = U.

Sendo assim, é necessário que se postule uma restrição que faça emergir SAMU, constituído por um pé iâmbico, como output ótimo, e essa restrição, evidentemente, deve estar mais bem hierarquizada que TROCHEE.

O restritor, como se pode perceber, deve obrigar que uma palavra morfológica terminada em <U> seja acentuada nessa vogal. Com base em *X]MWd (X não termina MWd), amplamente usada na literatura, como relatado em Gonçalves et alii (2009), formulamos ú]MWd, restrição segundo a qual uma palavra

157 morfológica, caso termine em <U>, deve apresentar acento na última sílaba.

Lima (2008), analisando hipocorísticos compostos, postulou *á]MWd, restrição que penaliza formações com a vogal [a] acentuada na borda direita de palavra morfológica. Nessa perspectiva, o possível hipocorístico [ʒɔ ˈk ], para o antropônimo composto ‘João Carlos’, infringe uma vez essa restrição.

Um fato a se ressaltar no que concerne a essa observação fonológica é que o mesmo não ocorre com os acrônimos terminados em <E> e em <I>, ou seja, nesses casos, parece não ser levada em conta a neutralização. Sendo assim, os acrônimos BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais) e MOPI (Moderna Organização Pedagógica Integrada) realizam-se como paroxítonos, o que parece evidenciar que o falante, nesses casos, ignora a neutralização. Uma hipótese fonológica provável para esses casos é a ideia de que o falante parece interpretar a vogal <I> como epentética, visto que, em acrônimos que seguem o formato CVC, tal como FAB (Força Aérea Brasileira), a inserção de [ɪ] sempre ocorre junto à consoante final, constituindo um dissílabo paroxítono: [ˈfa.bɪ]. Essa formação é idêntica à que ocorre em [ˈsɛ.zɪ], realização fonética do acrônimo SESI (Serviço Social da Indústria).

6.2.3.10. O formato VCCC

Os dados observados nos testes nos levam a afirmar que o formato VCCC é variável, pois pode gerar acrônimos e alfabetismos. Como exemplo de alfabetismo, pode-se citar a sigla UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro); como exemplo de formação acronímica, cita-se ANSG (Associação

158 Nossa Senhora de Guadalupe). Barbosa et alii (2003), contudo, afirmam que esse tipo de formato só gera um acrônimo se o último grafema for <S>; se isso não ocorrer, formam-se alfabetismos.

No que se refere aos acrônimos do molde em análise, só foram encontrados dois exemplos. Além do exemplo supracitado, encontrou-se também INSP (Instituto Nossa Senhora da Piedade). O que se constata, portanto, é que esses acrônimos são sempre formações dissilábicas paroxítonas, com ocorrência de epêntese de [ɪ] no final da palavra. Outro fato notável é que, nesse formato, só se formam acrônimos se C1 for <N>, C2 for

<S> e C3 for uma obstruinte. Essa é a única combinação possível, no molde VCCC, para que seja formada uma palavra possível na língua portuguesa.

6.2.3.11. O formato VVCC

As informações que se observam nos testes nos fazem asseverar que o molde VVCC de formação de siglas é variável, isto é, podem ser formados, por esse molde, acrônimos e alfabetismos. Barbosa et alii (2003) também defendem a variabilidade do formato, afirmando que siglas que se regem pelo molde VVCC são soletradas, a menos que C1 seja <R, L, S, M, N, V>. Nesse caso, segundo os autores, formam-se acrônimos.

Os acrônimos produzidos pelo formato em estudo são trissílabos paroxítonos, com ocorrência de epêntese de [ɪ] na margem direita da MWd resultante. Como exemplos, podem-se citar IURD (Igreja Universal do Reino de

159 Deus), que se realiza foneticamente como [ ˈ ɣ.dʒɪ], e UENF (Universidade Estadual do Norte Fluminense), que se realiza como [ ˈ .fɪ].

No que tange aos alfabetismos que se formam pelo molde VVCC, pode-se citar UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa). Nota-se, a partir da observação desse alfabetismo, que o tipo de C1 e de C2 (nesse caso, duas letras que remetem a sons obstruintes) pode desfavorecer a produção de acrônimos.

6.2.3.12. O formato CCVV

A observação aos dados mostrados pelos testes nos leva a afirmar que o formato CCVV de formação de siglas é variável. Barbosa et alii (2003) ratificam essa informação, afirmando que essas formações são soletradas, a menos que C2 seja <R, L> (nesse caso, ocorre acronímia).

Os acrônimos produzidos sob esse formato são dissílabos paroxítonos.

Na primeira sílaba, ocorre inserção de glide, gerando-se um ditongo fonético, o que torna essa sílaba pesada. Como exemplo, pode-se citar CREA (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia), que se realiza foneticamente como [ˈkrɛj.jɐ].

No formato CCVV, há a formação de siglas mistas50, isto é, siglas que apresentam segmentos soletrados e sequências que podem ser lidas como palavras. Exemplos desse procedimento são PNAE (Plano Nacional de Alimentação Escolar) e GDAE (Gestão Dinâmica de Administração Escolar),

50 As análises realizadas por Abreu (2004, 2006, 2009) não previram as siglas mistas.

160 siglas em que C1 é nomeada e a sequência CVV é lida como palavra. É importante salientar que siglas mistas não são propriamente acrônimos, por conseguinte não serão aqui analisadas pelo fato de o objetivo desta tese ser a realização de acrônimos.

6.2.3.13. O formato VCCV

Os dados observados nos testes revelam que as siglas que se organizam sob o formato VCCV podem ser acrônimos ou alfabetismos, ou seja, trata-se de um padrão variável. Barbosa et alii (2003) confirmam essa tendência, afirmando que, em geral, as siglas que seguem esse molde são soletradas, a menos que C1 seja <R, L, S, M, N, V>. Nesse caso, na ótica dos autores, ocorre a formação de acrônimos.

A análise dos dados dos testes explicita duas possibilidades de produção de acrônimos no formato VCCV. Em princípio, podem ocorrer dissílabos paroxítonos, como se dá em ALCA (Área de Livre Comércio das Américas), que se realiza como [ˈaw.kɐ], e UFLA (Universidade Federal de Lavras), que se realiza como [ˈu.flɐ].

A segunda possibilidade é a produção de trissílabos proparoxítonos, com ocorrência de epêntese de [ɪ] junto à C1. Exemplos desse procedimento são UFBA (Universidade Federal da Bahia) e OVNI (Objeto Voador Não Identificado), que se realizam, respectivamente, como [ˈu.fɪ.bɐ] e [ˈɔ.vɪ.nɪ].

Convém ressaltar a peculiaridade dessa segunda possibilidade de acrônimos

161 que apresentam o formato VCCV, uma vez que, em nenhum outro molde estudado nesta tese, formam-se acrônimos proparoxítonos.

6.2.3.14. O formato CCVC

As informações coletadas nos testes mostram que o formato CCVC apresenta alta variabilidade no que se refere à formação de siglas, já que se produzem acrônimos, alfabetismos e siglas mistas. Barbosa et alii (2003) comentam que siglas que seguem esse formato são silabadas caso <S> seja o último grafema; se isso não ocorrer, formam-se alfabetismos.

Os acrônimos que se organizam segundo esse molde apresentam-se sob duas possibilidades. A primeira é a formação de dissílabos paroxítonos, com ocorrência de epêntese de [ɪ] no final da palavra. Como exemplo, cita-se CLAC (Cursos de Línguas Abertos à Comunidade), cuja transcrição fonética é [ˈkla.kɪ]. Para que se produzam esses acrônimos, é necessário que C1 e C2 constituam um onset complexo e que C3 seja uma obstruinte, vindo, desse último fato, a motivação para a epêntese.

A segunda possibilidade é a produção de monossílabos pesados, tal como ocorre em DRES (Departamento de Resíduos Sólidos), que se realiza como [ˈdrɛjʃ] no dialeto carioca. Para que se formem esses acrônimos, é preciso que haja a criação de um onset complexo entre C1 e C2 e que C3 seja

<L, M, N, R, S>. Nesse caso, vemos, novamente, que a presença da sibilante é moraica nos monossílabos, pois, como enfatizamos nas seções anteriores, não há, em português, acrônimos constituídos de uma única sílaba leve, razão pela

162 qual o restritor *MWd= , primeiramente apresentado em 6.2.2.2, é de extrema relevância na análise dos acrônimos.

Embora ocorram dois modelos de acronímia no formato CCVC, o que se destaca nesse molde é a produção de siglas mistas. Essas siglas são produzidas da seguinte forma: C1 é nomeada e a sequência CVC é pronunciada como palavra, podendo ocorrer um dissílabo paroxítono, com epêntese de [ɪ] junto à C3, ou um monossílabo pesado, quando C3 for <L, M, N, R, S>. Como exemplo da primeira possibilidade, pode-se citar CNEC (Campanha Nacional de Escolas da Comunidade), sigla mista que gera o nome derivado por sufixação Cenecista, como se chama qualquer colégio da rede CNEC. No que toca à segunda possibilidade, pode-se mencionar PSOL (Partido Socialismo e Liberdade). É importante destacar, como já foi feito na seção 6.2.3.12., que as siglas mistas, a despeito de serem frequentes, não serão aqui analisadas, visto que o objetivo central desta tese é a realização fonética de acrônimos de fato, e em siglas mistas há segmentos soletrados.

6.2.3.15. Análise conjunta dos acrônimos de quatro letras

Nesta seção, cabe, após as descrições dos formatos de siglas de quatro letras, a análise dos acrônimos por meio dos mecanismos da TO. Para isso, é imprescindível que sejam formuladas e ranqueadas as restrições, muitas já citadas nas descrições dos formatos e já conhecidas quando da análise dos acrônimos de duas e três letras. Abaixo, em (36), enumeramos as restrições atuantes:

163 (36)

CODA-COND [+ soante / - soante, + contínuo, + coronal] (Condições sobre a coda): Apenas são permitidos, na posição de coda, segmentos soânticos (nasais, líquidas e vogais) e sibilantes (fricativas alveolares e álveo-palatais);

devem ser penalizadas, nessa posição, oclusivas e fricativas labiais (LEE, 1999).

Violação: quando oclusivas e fricativas labiais aparecerem na posição de coda.

ú]MWd: Palavras morfológicas que terminam em <U> devem ser acentuadas nessa vogal.

Violação: sempre que a palavra morfológica terminada em <U> não for oxítona.

TROCHEE (TROQUEU): Todo pé deve ter duas moras, estejam elas localizadas em uma mesma sílaba ou em sílabas distintas. No caso de sílabas distintas, a cabeça deve estar à esquerda (RONDININI, 2009: 104).

Violação: sempre que um pé dissilábico não apresentar cabeça na sílaba inicial ou houver formação de um pé constituído por uma sílaba leve.

*MID]MWd: Palavras morfológicas não devem terminar em vogal média.

Violação: quando vogais médias aparecerem na borda direita de palavras morfológicas.

* coronal coronal

+ aberto 3 - aberto 2 MWd

164 O ditongo aberto [ɛj] não deve figurar na margem direita de palavras morfológicas.

Violação: sempre que palavras morfológicas terminarem com o ditongo aberto [ɛj].

STRESS-TO-WEIGHT (STW): Toda sílaba portadora de acento primário deve ser pesada.

Violação: Toda sílaba leve portadora de acento deve receber infração.

OPEN-TO-STRESS (OTS): Abertura ao acento: as vogais médias acentuadas devem ser abertas.

Violação: quando as vogais médias acentuadas forem fechadas.

DEP-IO (Dependência do input no output): nenhum segmento deve ser inserido; não pode haver qualquer tipo de acréscimo no output.

Violação: quando houver epêntese.

Em (37), abaixo, nossa proposta de hierarquização:

(37)

CODA-COND >> ú]MWd >> TROCHEE >> *MID]MWd >> *

ɛj]

MWd >> STW >>

OTS>> DEP

165 Assim como ocorre com os acrônimos de duas e de três letras, CODA-COND deve ser a restrição mais bem cotada da hierarquia. De acordo com esse restritor, um candidato como [pe(ˈad)], possível realização fonética do acrônimo PEAD (Português – Ensino a Distância), por apresentar o segmento oclusivo [d] na posição de coda, é impossibilitado de emergir como vitorioso na competição.

Inoperante na análise dos acrônimos de duas e de três letras, a restrição ú]MWd é necessária na hierarquia para dar conta de um caso específico: o formato CVCV, quando V2 for <U>. Os dados evidenciaram que, nesse caso particular, os acrônimos constituirão pés iâmbicos, ou seja, a cabeça estará à direita. Dessa maneira, é necessário que ú]MWd esteja hierarquizada à frente de TROCHEE a fim de que um acrônimo como SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), realizado como oxítono pelos informantes e na fala cotidiana, possa vir à superfície.

A restrição TROCHEE, assim como CODA-COND, é essencial na análise. Sendo assim, um candidato como [(u.ˈfla)] para o acrônimo UFLA (Universidade Federal de Lavras) viola TROCHEE por constituir um pé dissilábico com cabeça à direita.

A próxima restrição do ranking é *MID]MWd. Essa restrição, como já se afirmou, é necessária para desfavorecer a inserção de uma vogal média junto ao segmento flutuante na posição de coda. Assim, um possível candidato como [(ˈkla.ke)], para CLAC (Cursos de Línguas Abertos à Comunidade), violaria

*MID]MWd e seria eliminado da competição.

Aparece ranqueado, após *MID]MWd, o restritor da família do OCP

*

ɛj]

MWd. Essa restrição, por exemplo, inibe a emersão do candidato [e(ˈbɛj)],

166 para EBEI (Empresa Brasileira de Engenharia de Infraestrutura). Como já se mostrou na análise dos acrônimos de três letras, esse restritor foi formulado para atender aos dados dos testes, visto que estes evidenciam uma questão fonológica do português brasileiro: não existe qualquer palavra na língua que termine com o ditongo aberto [

ɛj

], a menos que haja travamento por sibilante nas sílabas finais, como ocorre em ‘réis’, por exemplo.

Próxima na hierarquia, a restrição STRESS-TO-WEIGHT (STW) é necessária para que um candidato como [ˈkrɛ.ɐ], para CREA (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia), não venha à superfície como output ótimo em virtude de a sílaba acentuada ser leve. A restrição, como se vê, é essencial no ranking, uma vez que a inserção de um glide para a produção de um ditongo fonético é recorrente na fala carioca.

A seguir, vem hierarquizada OPEN-TO-STRESS (OTS). A atuação de OTS impede que um candidato como [i(ˈpej.ɐ)], para IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), por exemplo, venha à tona como output ótimo, já que esse acrônimo é pronunciado com a vogal média aberta.

A última restrição no ranking, tal como ocorre na análise dos acrônimos de duas e de três letras, é DEP-IO, por ser comum, na realização fonética de muitos acrônimos, a inserção da vogal [ɪ] em diversos contextos. A hierarquização desse restritor, ainda que no fim, explica-se para que se evite a inserção de outros possíveis segmentos no acrônimo.

Convém salientar, como fizemos na análise dos acrônimos de três letras, que algumas restrições mencionadas quando da descrição dos formatos

167 (ONSET, PEAK ou NUC e *MWd = ) não foram ranqueadas em virtude de serem inoperantes na análise.

Na sequência, serão iniciadas as análises nos tableaux. Foram selecionados, para isso, alguns acrônimos pelos formatos, a fim de que todas as diversidades possíveis de acrônimos de quatro letras fossem contempladas.

Dessa forma, escolheram-se os seguintes acrônimos: IEAD e OIEC (VVVC), CAEA (CVVV), IESA (VVCV), IPEA e EBEI (VCVV) e PEAD e CAIC (CVVC), CERC (CVCC), ABIC (VCVC), BOPE e SAMU (CVCV), INSP (VCCC), UESB (VVCC), CREA (CCVV), OVNI (VCCV), CLAC e DRES (CCVC). É importante ressaltar que os formatos CCCC, VVVV e CCCV não são abordados nas análises por serem realizados apenas como alfabetismos, e o foco desta tese,

Dessa forma, escolheram-se os seguintes acrônimos: IEAD e OIEC (VVVC), CAEA (CVVV), IESA (VVCV), IPEA e EBEI (VCVV) e PEAD e CAIC (CVVC), CERC (CVCC), ABIC (VCVC), BOPE e SAMU (CVCV), INSP (VCCC), UESB (VVCC), CREA (CCVV), OVNI (VCCV), CLAC e DRES (CCVC). É importante ressaltar que os formatos CCCC, VVVV e CCCV não são abordados nas análises por serem realizados apenas como alfabetismos, e o foco desta tese,

No documento Universidade Federal do Rio de Janeiro (páginas 151-0)