• Nenhum resultado encontrado

O PROCESSO NA VISÃO DE ABREU (2004)

No documento Universidade Federal do Rio de Janeiro (páginas 47-0)

Em dissertação de mestrado intitulada Um caso de morfologia improdutiva no português do Brasil: a formação de siglas e de acrônimos, Abreu, na seção destinada à Introdução, distingue siglas de acrônimos. Para a autora, a sigla deve ser considerada “um caso especial de abreviatura em que intitulativos ou locuções substantivas são reduzidos às suas letras iniciais ou não, constituindo uma palavra” (p. 13). O acrônimo, por sua vez, deve ser considerado “um vocábulo formado pela reunião de letras, geralmente iniciais, de um intitulativo ou de uma expressão” (p. 13).

No que se refere à grafia das siglas, Abreu assevera que o emprego de pontos, modernamente, foi eliminado. Quanto ao emprego de maiúsculas e minúsculas, afirma que as siglas em cuja pronúncia ocorre a nomeação de letras são escritas apenas com maiúsculas: SMTU; UTI. Já os acrônimos, cuja pronúncia não nomeia letras, devem ser escritos apenas com a inicial

48 maiúscula se tiverem mais de três letras: Unesco; Inca. Apresentando três letras, o acrônimo será grafado com maiúsculas: CUT; ITA15.

Abreu afirma, além disso, que siglas e acrônimos apresentam flexão de número, que pode ser indicada pelo aspecto gráfico. Essa indicação de plural é feita pelo acréscimo do <S> minúsculo, como se vê em ONGs e CDs. Isso significa que siglas e acrônimos adquirem as mesmas características de um nome da língua, já que o acréscimo de <S> é o procedimento mais comum de flexão de número em português.

Outra peculiaridade explicitada pela autora é o acento gráfico, cujo emprego não é comum no que tange às siglas e aos acrônimos. Uma vez que siglas e acrônimos são formados por meio de um processo intencional, o emprego do acento poderia deixar o significado do termo mais opaco do que já seria originalmente. A sigla LBA (Legião Brasileira de Assistência), por se tratar de uma oxítona terminada em <A>, deveria receber acento gráfico. “A grafia da sigla com acento LBÁ dificultaria a retomada do significado por parte do usuário, já que, na palavra constituinte do intitulativo, não há acento nessa vogal” (p. 16).

No levantamento de problemas da pesquisa, a autora constata que não há possibilidade de se proceder à análise de siglas através de morfemas, uma vez que não existem critérios para decompor um acrônimo em unidades menores de som e significado, vindo daí o estatuto de processo não-morfêmico, como apontamos no Capítulo 2. Além disso, o acrônimo não possui base e afixos que permitam a comparação entre os elementos formadores.

15 Nesta tese, no que toca à grafia das siglas, adotamos a convenção exposta por Abreu (2004).

49 Cada formação de sigla é única dentro de um contexto determinado, já que seus constituintes – as letras – assumem um sentido em cada formação.

Outro problema levantado é que as unidades componentes da sigla não seguem ordenação específica, a não ser, na maior parte das vezes, aquela determinada pelos constituintes do sintagma original e a forma como estão alinhados:

“Em algumas formações, porém, ocorre na sigla o acréscimo ou a supressão de um constituinte do sintagma original, o que complica o quadro dessas formações, ao retirar o caráter de sequência que corresponde a uma formação sintagmática” (p. 39).

Para explicitar os problemas levantados, a autora cita, como exemplos, as formações MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra), FMI (Fundo Monetário Internacional) e CVM (Comissão de Valores Mobiliários), nas quais a letra <M> aparece como [ˈẽ.mɪ] em posição inicial, intermediária e final, respectivamente. No primeiro caso, significa “movimento”; no segundo,

“monetário”; no terceiro, “mobiliários”. Como se pode notar, o significante [ˈẽ.mɪ] é o mesmo, mas o significado é opaco.

Já que não se podem decompor as formações acronímicas em unidades mínimas de som e significado, nem estabelecer comparações entre suas partes, nem estabelecer uma ordem que os constituintes da sigla pudessem seguir, a solução encontrada por Abreu é a proposição de que sigla é, na verdade, lexema.

Segundo Aronoff (1994), o conceito de lexema é separacionista, ou seja, lida com som e significado como sistemas independentes, ao contrário do conceito

50 de morfema, que está baseado na unidade de som e significado. Um lexema é um signo com forma e sentido, integrante de uma das categorias lexicais maiores, a saber: nomes, verbos, adjetivos/advérbios.

Na verdade, o lexema não é a soma de unidades de som e significado indissociáveis como a forma livre para os estruturalistas, antes sim, é um signo no sentido saussureano (ABREU, 2004: 40).

Como observa Abreu, a morfologia, de acordo com Aronoff (1976) e Aronoff & Anshen (1998), ocupa-se das palavras potenciais, e o léxico, por sua vez, ocupa-se das palavras existentes. O léxico lista o que não pode ser descrito por uma regra, o que é, portanto, excepcional. As palavras primitivas, por não terem estrutura morfológica, constituem um exemplo, uma vez que não se pode predizer seu significado, pois “não são derivadas, não provêm de outra existente na mesma língua e representam a arbitrariedade do signo” (p. 41). É o caso, segundo Abreu, da palavra “bola”, que tem uma forma particular, constituída por uma sucessão de sons, e também um significado particular. A união de significante e significado constitui um signo em português. A ligação entre forma e sentido é arbitrária, visto que não existe razão para que essa forma linguística particular seja associada a esse significado particular. Sendo assim, as siglas também devem estar inseridas no léxico, já que elas não têm estrutura morfológica e seu significado não é previsível. Além disso, também não podem ser descritas pelas chamadas Regras de Formação de Palavras (RFPs), nos termos, por exemplo, de Aronoff (1976) e Basilio (1980).

Abreu também faz considerações a respeito da relação entre a formação de siglas e a produtividade. Define-se produtividade lexical como a medida em que um determinado afixo é empregado na criação de novas palavras na língua. Produtividade, então, é “a formação de palavras novas por determinada

51 regra, que é chamada Regra de Formação de Palavras” (ARONOFF &

ANSHEN, 1998: 242). Por meio dessa regra, uma dada base receberia um determinado afixo e não outro por conta de (i) a regra só se aplicar a um tipo específico de base; (ii) o resultado da nova formação ter o significado previsto pelo falante; e (iii) ocorrer o “bloqueio”, ou seja, “a não ocorrência de uma forma devido à simples existência de outra” (ARONOFF, 1976: 43; ARONOFF

& ANSHEN, 1998: 239).

Como se viu, a produtividade das formações morfológicas está representada pelas RFPs. Basilio (1980), porém, estabelece que as regras que analisam itens lexicais chamam-se Regras de Análise de Estrutura (RAEs).

Basilio importa-se não apenas com os processos produtivos de formação de palavras, mas também com a verificação da estrutura de formas que há na língua e que não resultam de processos produtivos. O estabelecimento de RAEs é necessário, nas palavras de Basilio, “para que possamos solucionar os casos em que os falantes podem analisar a estrutura interna de palavras formadas por elementos morfológicos improdutivos” (BASILIO, 1980: 59). No que concerne às siglas, Abreu afirma que não configuram um processo produtivo através do qual o usuário possa relacionar elementos conhecidos e decifrar o significado. São, entretanto, criadas propositalmente, “com uma composição que varia de acordo com a intenção do criador e que não toma por base os elementos morfológicos das construções produtivas ou mesmo daquelas cuja estrutura é reconhecível” (p. 44). Por isso, as siglas são opacas e intencionais, mesmo que sejam frequentes. “A sigla foge do cânone morfológico por não ter raiz/sufixo/prefixo e porque não pode se prever a sigla que surgirá de um certo intitulativo” (p. 44).

52 Abreu defende que o conceito de frequência também está relacionado à quantidade de uso. As siglas originam-se de processos não produtivos, todavia são frequentes. Assim, a autora assevera que o termo “frequência”, em sua análise, deve ser encarado como ambíguo, pois pode ser relacionado ao número de vezes em que uma dada sigla aparece e também à quantidade de siglas que podem ser vistas hoje.

Outro ponto abordado na análise de Abreu diz respeito à noção de palavra, termo de definição complexa. Na análise, a pesquisadora emprega a proposta de Matthews (1972; 1991) e, como já afirmado, considera as siglas lexemas, uma vez que têm classe (a de nomes) e, como tal, têm gênero e, caso não funcionem como nomes próprios, número singular e plural. Como lexemas, as siglas podem originar novas palavras. No entanto, constituem um caso especial de lexema, pois, em princípio, não apresentam raiz, sufixo ou prefixo e, mesmo assim, possuem informação gramatical e lexical.

Outra questão importante levantada pela autora é o fato de o processo de formação de siglas ser marcado pela intencionalidade do criador.

Diferentemente do que ocorre nos processos de morfologia produtiva, as siglas são geradas de forma não intuitiva. Além disso, ao contrário da maioria das formações morfologicamente complexas, as siglas apresentam significado opaco, porque este só pode ser determinado pelo conhecimento prévio do usuário.

A semelhança das siglas com palavras primitivas – aquelas que evidenciam a arbitrariedade do signo – se dá, segundo Abreu, pelo fato de as siglas apresentarem significado opaco. Não se pode prever, por exemplo, que a sigla ANP esteja relacionada à Agência Nacional do Petróleo, pois não há

53

“regra capaz de exprimir como associar essa sequência sonora a esse significado” (p. 48).

Nas siglas, o bloqueio, nos termos de Aronoff (1976), ocorre não pela existência de outra forma concorrente, como na morfologia produtiva, mas por conta de uma formação inaceitável para os usuários, embora possível na estrutura. Há a necessidade de que uma nova formação acronímica conjugue

“som e sentido que se harmonizem com as intenções dos interlocutores, sem criar situações cômicas, embaraçosas e ambíguas” (p. 50). Como se nota, o bloqueio improdutivo resulta da intencionalidade. Como exemplo, Abreu cita as siglas CRM (Conselho Regional de Medicina) e Coreme (Comissão de Residência Médica), “em que, para se evitar a ambiguidade, já que pertencem à mesma área, optou-se por estratégias diferentes de formação” (p. 51).

No que diz respeito à indicação de categorias gramaticais, as siglas podem flexionar-se em número, como já tivemos oportunidade de ressaltar.

Com relação ao gênero, as siglas, normalmente, seguem o primeiro nome do intitulativo a que se referem, como ocorre em “o BNDES” (Banco Nacional de Desenvolvimento Social). A sigla, no entanto, pode sofrer variação de gênero quando o leitor-falante-ouvinte perde a noção da origem do acrônimo e de seu significado, como ressalta Villalva (2008). A sigla Cefet, por exemplo, significa Centro Federal de Educação Tecnológica e não é incomum que se ouça alguém dizendo algo como “Ele estuda na Cefet”.

Como as siglas permitem que novas palavras sejam criadas a partir delas, passam a ter o comportamento de palavras primitivas, como vimos.

Dessa forma, existe um lugar na morfologia para os derivados de uma sigla. Já

54 lexicalizada, a sigla passa a servir de base ao vocabulário que vai sendo gerado.

Abreu indica que, para petista, por exemplo, seria possível a aplicação da RFP e da RAE, uma vez que “nomes terminados em –ista podem ser analisados como sendo formados pela adição do sufixo –ista a uma base nominal” (p. 55). Nesse caso, o leitor-falante-ouvinte, como conhece o sufixo -ista, é capaz de interpretar a estrutura, mesmo não conhecendo a palavra petista e não tendo noção do radical pet-.

Nas conclusões da dissertação, a autora ratifica a ideia de que as siglas, por serem formações imprevisíveis, devem ser armazenadas no léxico, pois a morfologia só dá conta das palavras potenciais complexas. As siglas apresentam estrutura interna não analisável em raízes e afixos, ou seja, não apresentam características da morfologia produtiva.

Abreu aponta, ainda, que há uma intencionalidade determinante no processo criador, e as siglas são formadas a fim de atender a uma vontade do usuário. A formação de siglas, portanto, não reflete padrão algum estabelecido, nem estabelece uma conexão entre forma e sentido. Essa arbitrariedade aproxima essas formações das palavras primitivas da língua.

O aspecto da intencionalidade poderá originar sempre combinações arbitrárias. Sendo assim, ratifica-se que “não há como estabelecer regras (RFPs e RAEs) capazes de prever a formação desses nomes, que funcionarão como nomes primitivos” (p. 59).

55 4.2. O PROCESSO NA VISÃO DE ABREU (2006)

Em artigo intitulado “Focalizando a Morfologia Improdutiva: um estudo sobre siglas”, Abreu (2006) discute, pela perspectiva da morfologia, o processo de formação de siglas no português brasileiro. Na análise, a autora emprega sigla e acrônimo como sinônimos. A questão teórica central no trabalho é a ideia de produtividade lexical, já definida em 4.1. Voltando à distinção entre RFP e RAE, de Basilio (1980), Abreu observa que, se não estiver relacionada a uma RFP, a RAE permite exprimir que um falante pode reconhecer resultados de formações improdutivas.

As siglas são frequentes no português atual; contudo, o conceito de produtividade focalizado anteriormente não se aplica à morfologia das siglas como se aplica ao restante das formações. [...] Pode-se observar a frequência de siglas e constatar que elas surgem nos mais variados contextos, mas também se pode atestar a improdutividade morfológica, retratada no seu processo de formação. Assim, o conceito de frequência pode ser relacionado à quantidade de uso, mas não a uma previsão quanto à formação de palavras (ABREU, 2006: 12).

Como já visto no capítulo anterior, em (03), Sandmann (1988), com base no tipo de formação morfológica e na pronúncia, dividiu os acrônimos em três grupos. Ao contrário do autor, Abreu (2006: 14) considera apenas a formação (não a pronúncia). Essa determinação possibilita gerar seis tipos de formação, como se vê abaixo, em (04):

56

Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística)

Embrafilme (Empresa Brasileira de Filmes S/A)

3 Letras iniciais ligadas por uma preposição por extenso.

PC do B (Partido Comunista do Brasil) 4 Letras iniciais + elemento que

Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica)

6 Sílabas ou segmentos de sílaba.

Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores)

Como se pode perceber na tabela exibida em (04), o primeiro tipo é constituído por siglas formadas pelas letras iniciais de cada palavra de um intitulativo, tal qual a tipologia proposta por Sandmann. De forma distinta de

16 O primeiro tipo, dividido em três partes, refere-se às letras iniciais.

17 Ipea significa, de acordo com o site oficial da instituição (http://www.ipea.gov.br/portal/), Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, ou seja, a letra <P> refere-se à palavra pesquisa.

Entretanto, ao fazermos pesquisas em um site de busca (https://www.google.com.br/), encontramos sites que se referem ao Ipea como Instituto de Economia Aplicada. Como o quadro é extraído de Abreu (2006), mantivemos o original da autora. Um bom exemplo para o caso em questão é o acrônimo MEC, que significa Ministério da Educação. Nesse caso, como se nota, a letra <C> não se refere a qualquer palavra do intitulativo. Há anos atrás, todavia, a letra <C> referia-se à palavra cultura, visto que MEC significava, antes da existência do Ministério da Cultura, Ministério da Educação e da Cultura.

57 Sandmann, Abreu agrega, neste primeiro grupo, “as siglas formadas por inicias que têm a pronúncia de uma palavra normal, como Ibope, e, ainda, as siglas cuja preposição que aparece no intitulativo conta ou não como letra inicial”

(ABREU, 2006: 15).

O segundo tipo de formação na tipologia de Abreu é constituído pela junção de letras ou sílabas inicias a um radical ou a uma palavra da língua.

Isso ocorre em Embrafilme, em que as sílabas iniciais das duas primeiras palavras do intitulativo aliam-se à palavra filme.

O terceiro tipo, não muito comum, relaciona as siglas formadas pelas letras iniciais ligadas por uma preposição, tal como ocorre em PC do B.

De acordo com a tabela em (04), constata-se que o quarto tipo de formação de siglas é aquele em que uma letra sem qualquer referência no intitulativo é inserida na sigla. Isso acontece em MEC, para Ministério da Educação, em que <C> não encontra correspondente ao nome da instituição.

O quinto tipo de formação é constituído pela reunião de letras iniciais das palavras do intitulativo, mas não de todas. Em Sobeet, por exemplo, as duas últimas palavras não participam da formação da sigla.

Por fim, o sexto tipo é formado pela junção de sílabas ou segmentos de sílabas de palavras que compõem o intitulativo. Em Anfavea, exemplo citado na tabela, tem-se a reunião de letras iniciais e sílabas iniciais.

Comparando-se as propostas de Sandmann (1988) e Abreu (2006), nota-se que a tipologia de formação de siglas foi bastante ampliada em Abreu, uma vez que em Sandmann, como já explicitado no capítulo anterior, há apenas três padrões para a formação de siglas.

58 Não há possibilidade de mencionar morfemas, pois não há como dividir uma formação acronímica em unidades mínimas de som e significado, já que elas só fazem sentido por seus constituintes sintetizarem um intitulativo. É difícil até mesmo definir qual seria sua unidade mínima; em última análise, são as letras do alfabeto. Essa afirmativa, no entanto, não coloca em evidência uma proposta plausível para o estudo. Em uma análise linguística, levar letras em consideração é, no mínimo, desconfortável, uma vez que nenhuma de letras envolvido e sua combinação (Barbosa, Rosa, Gonçalves e Resende Jr., 2003). Isto não implica Abreu afirma que essa alternativa apenas aprofundaria os problemas. Na sigla MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra), <M> é soletrado [ˈẽ.mɪ], significando movimento. Em Mast (Movimento dos Agricultores Sem-Terra), o mesmo <M> é pronunciado como nasal bilabial [m] e também significa movimento. Já em MAM (Museu de Arte Moderna), o último <M> apenas sejam sempre os mesmos (as letras do alfabeto), assumem em cada formação um sentido.

59 Essas unidades componentes seguem a ordenação ditada pelos constituintes do intitulativo. Em algumas formações, porém, ocorre na sigla o acréscimo ou a supressão de um constituinte do sintagma original, o que complica o quadro dessas formações, ao retirar delas o caráter de sequência que corresponde a uma formação sintagmática (ABREU, 2006: 20).

Ainda no que concerne às siglas, Abreu assevera que nem sempre a sequência de iniciais e a sequência do intitulativo podem ser relacionadas. Em Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), por exemplo, há supressão de uma letra referente a um elemento do sintagma original. Em Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento), ao contrário, ocorre o acréscimo de uma letra sem referência no intitulativo.

Na seção dedicada à conclusão do artigo, Abreu constata que “a maior parte do vocabulário da língua é constituída por palavras morfologicamente complexas” (p. 23). As palavras novas formadas por regras produtivas apresentam um significado que pode ser depreendido a partir de seus elementos formadores. No que toca às siglas, porém, o procedimento é outro, uma vez que há uma intenção que determina o processo, e as siglas são formadas, portanto, para atender a uma vontade do falante.

Sabe-se que as propostas para análise da estrutura das palavras partem de elementos constitutivos que são redundantes na língua. A dificuldade teórica na análise das siglas começa nesse ponto. Ser redundante significa ter som e significado associados que se repetem em mais de uma ocorrência, e isso, de fato, não acontece com a formação de siglas.

60 interna, não analisável em raízes e afixos. Constituem-se, então, em formações que resultam de processos frequentes, mas não produtivos, não permitindo sua análise pelo estabelecimento de mecanismos gerais, tais quais as Regras de Formação de Palavras, de Aronoff, ou pelas Regras de Análise de Estrutura, de Basilio. Ao entrar em contato com uma sigla, o usuário não tem como prever que tipo de estrutura aquela sigla apresenta [...]. Em caso de encontrar na sigla alguma redundância, ainda assim o reconhecimento da estrutura é parcial (ABREU, 2006: 24).

Assim, dentro do contexto da formação de palavras, Abreu afirma que as siglas são formações arbitrárias, pelo fato de não apresentarem características da morfologia produtiva. A autora enfatiza que não há como estabelecer regras capazes de prever a formação de siglas, mas padrões gerais que criarão formas que funcionarão como nomes primitivos.

4.3. O PROCESSO NA VISÃO DE ABREU & ROSA (2006)

O objetivo dos estudos morfológicos, certamente, é representar o conhecimento do falante no que diz respeito ao vocabulário, que lhe permite reconhecer determinadas formações como próprias de sua língua ou rejeitá-las, estabelecer relações vocabulares e gerar palavras novas (BASILIO, 1980;

ARONOFF & FUHRHOP, 2002).

Em artigo intitulado “Isso é uma palavra?”, Abreu & Rosa (2006) focalizam a reação de falantes, 29 alunos do primeiro período da Faculdade de

61 Letras da UFRJ no primeiro semestre de 2005, a um conjunto de siglas. Eles deveriam decidir, mediante testes, se estavam ou não diante de uma palavra.

As formações conhecidas como siglas ou acrônimos (as autoras empregam esses termos como sinônimos) são classificadas como morfologia improdutiva (ARONOFF & ANSHEN, 1998: 246), pois são formações intencionais, diferentemente da morfologia com base em radicais e afixos. Além disso, são também comparadas a palavras primitivas em razão de sua

As formações conhecidas como siglas ou acrônimos (as autoras empregam esses termos como sinônimos) são classificadas como morfologia improdutiva (ARONOFF & ANSHEN, 1998: 246), pois são formações intencionais, diferentemente da morfologia com base em radicais e afixos. Além disso, são também comparadas a palavras primitivas em razão de sua

No documento Universidade Federal do Rio de Janeiro (páginas 47-0)