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5.1 Ideias que mantêm a Reaf em funcionamento

5.1.5 Fortalecimento das organizações

Outra ideia recorrente nas entrevistas foi a de que a Reaf tem contribuído de forma positiva para o fortalecimento das organizações – sejam sindicais ou movimentos sociais – que dela participam. As trocas que ali se realizam e os debates travados contribuem para a formação de lideranças e para sua capacitação para debates regionais e internacionais. Durante as reuniões ou nas atividades como cursos e intercâmbios, os agricultores familiares e as lideranças têm contatos com informações e conceitos aos quais, de outro modo, não teriam acesso. Em consequência, os participantes percebem um amadurecimento dos debates sobre os temas regionais, da capacidade de negociar com os governos e avaliam haver amadurecimento das lideranças pelo convívio com atores de outros países. As experiências de formação são uma peculiaridade da Reaf perceptível desde a observação das Seções Nacionais brasileiras.

Para Edélcio Vigna, representante da Rebrip na Reaf, a participação na Reunião permite estabelecer alianças, fortalece politicamente as organizações e propicia convívio entre as lideranças camponesas, o que contribui para seu amadurecimento, gerando expectativas positivas, mesmo que não haja, ainda, muitos resultados concretos:

Para as lideranças, as mulheres, os jovens camponeses, estar dentro da Reaf, ter espaço, foi um amadurecimento muito grande. O diálogo com o governo, participar dos projetos sobre as cadeias produtivas, do seguro da agricultura familiar, de reconhecimento da agricultura familiar nos países (entrevista 22/04/2010).

A preocupação com a formação dos jovens foi tema citado por diversos entrevistados. O GT de Juventude vem conseguindo tornar a temática transversal à Reunião Especializada e realizou, entre 2009 e 2010, um curso de formação (apoiado pela FAO para a América Latina e Caribe) com quatro módulos que discutiram assuntos tais como políticas para a fixação da juventude no campo, políticas educacionais, integração regional, desenvolvimento rural, agrário e sustentável, identidade e cultura, gênero, história dos países, história da luta pela terra nos países do Mercosul, economia solidária, preparando-os para desafios regionais e para debates nacionais sobre políticas para a juventude. Com esse tipo de atividade, a Reaf possibilita, às organizações, construir oportunidades de formação da juventude rural. A ação transnacional, nesse ponto, ganha múltiplos sentidos: o de ação sobre os Estados, o de ação sobre o Mercosul e o de preparação dos militantes para atuar nos debates transnacionais, oferecendo instrumentos para atuar naquele ambiente. Pelas entrevistas, percebe-se também que os debates sobre juventude têm propiciado o aumento do espaço para o tema no interior dos movimentos, acompanhado do reconhecimento da necessidade de abrir espaços para a atuação dos jovens nas organizações. Nesse múltiplo aproveitamento do que se constrói na Reaf reside explicação interessante para a relevância que o espaço tem para as organizações da sociedade e, consequentemente, para sua permanência ali.

Outro tema citado pelos entrevistados como relevante para o fortalecimento das organizações foi o de políticas com recorte de gênero. Os intercâmbios são uma prática antiga entre movimentos do campo e foram citados, nas entrevistas e nas reuniões acompanhadas, como positivos: viagens de estudo e conhecimento ajudam produtores rurais e lideranças a rever suas formas de ação, suas práticas profissionais e experiências associativas.

A prática de intercâmbios vem se consolidando, até agora, como uma das formas de atuar do Grupo Temático de Gênero que, entre outras atividades, desenvolve um Programa Regional de Institucionalização de Políticas de Gênero na Agricultura Familiar do Mercosul, com apoio financeiro da Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (AECID). Uma das ações do programa é a realização de intercâmbios entre as mulheres – que vão aos países do bloco para conhecer experiências de políticas públicas sobre gênero voltadas a agricultoras familiares e a organização das mulheres, com vistas a intercambiar experiências refletir sobre as atuações local e regional dos movimentos.

Até o final de 2010, foram realizados intercâmbios no Brasil e na Argentina, estando planejados encontros no Paraguai e no Uruguai para o ano de 2011. Durante a reunião do comitê gestor do Programa Regional de Institucionalização de Políticas de Gênero, realizada na XIV reunião da Reaf, no Brasil, em novembro de 2010, as avaliações foram positivas, apontando também a necessidade de difundir as práticas e políticas conhecidas e de internalizar, nos movimentos, os debates realizados nesses encontros.

Evidentemente, a consolidação de temas como juventude e gênero nos debates da Reunião Especializada não tem conseqüência apenas para a formação das lideranças; a presença desses temas vem marcando todo o funcionamento da Reaf. É importante notar, também, que as atividades nos temas de juventude e gênero contribuíram para a associação da Reaf com instituições e organismos internacionais, tais como a FAO e a AECID, que vêm apoiando atividades nessas duas áreas. A criação de vínculos entre a Reaf e outros atores externos é, a partir da perspectiva da teoria do ator-rede, uma demonstração da vitalidade deste espaço institucional, pois ele consegue gerar novas conexões e, com isso, aproximar outros atores internacionais da rede que conforma.

Por fim, Marcos Rochinski, da Fetraf, avalia que ainda são necessários muitos esforços para garantir a formação das lideranças que estejam preparadas para as disputas no campo internacional e entende que a Reaf pode contribuir com essa tarefa. “Para a agricultura familiar cumprir de fato com o que ela precisa no contexto internacional, colocar em pauta aspectos do comércio internacional, da OMC, precisa ter mais capacitação. Precisa potencializar a intervenção, que ainda é muito tímida”, avalia o secretário-geral da Fetraf (entrevista em 16/11/2010).