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CAPÍTULO 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.2 ANÁLISE TEXTUAL

4.2.1 Frequência de uso de imagens

Imagens “têm assumido crescente notoriedade” no artigo acadêmico, bem como “têm progressivamente se integrado ao argumento” (SWALES, 2004, p. 216) reportado no gênero na última década. Tal notoriedade precisa ser considerada, também, em relação à área, já que seu uso, enquanto recurso semiótico, também, é situado e cultural (NASCIMENTO, 2002; HENDGES, 2006; HEMAIS, 2014; FLOREK, 2015).

Dessa forma, um total de 285 imagens foram encontradas nos AAE, sendo 120 utilizadas em LA e 165 em AGR. A análise comparativa, portanto, entre as duas áreas sob investigação revelou que as imagens assumem distintos graus de representatividade na LA e na AGR (Tabela 3) em termos de frequência em que elas são empregadas, já que AAE em AGR mobilizam um número maior de imagens por estudo na área (em média 8,25) e em menos páginas (em média 7,9), ou seja, quase uma imagem por página, que artigos na área da LA (em média 6 imagens em 22,65 páginas), ou seja, uma imagem a cada três páginas.

Além da diferença apontada pela média de imagens por área disciplinar como um todo (conforme quantificações supracitadas), os dados da Tabela 3 revelam que diferenças podem ser verificadas na comparação entre os dois periódicos selecionados em cada disciplina: na LA, o fato da RBLA empregar 73 imagens (60,8% e a TLA utilizar 47 (39,1%) corrobora indícios já verificados na análise contextual, que

não há um consentimento, uma tradição sobre a relevância do uso de imagens na disciplina. Dessa forma, disponibilizar instruções detalhadas e pedagógicas para os

Tabela 3 – Frequência de uso de imagens em artigos acadêmicos nas áreas de Linguística Aplicada e Agronomia

Área RBLA TLA AAE Nº I Nº P Nº C AA Nº I Nº P Nº C LINGUÍS TICA AP LICA DA rblan1#1 5 21 1 tlan1#1 2 21 1 rblan1#2 2 20 1 tlan1#2 2 21 1 rblan1#3 13 27 1 tlan1#3 14 22 1 rblan1#4 2 21 1 tlan1#4 8 28 1 rblan1#5 9 21 1 tlan2#5 1 18 1 rblan2#6 7 24 1 tlan2#6 5 21 1 rblan2#7 8 24 1 tlan2#7 3 21 1 rblan2#8 17 27 1 tlan2#8 6 30 1 rblan3#9 5 16 1 tlan2#9 2 22 1 rblan3#10 5 23 1 tlan2#10 4 25 1 Total 73 224 - Total 47 229 - MF (%) 7,3 22,4 1 MF (%) 4,7 22,9 1 AE&E AJ AGRONOM IA ae&en215#1 17 16 2 ajn4#1 10 10 2 ae&en215#2 5 8 2 ajn2#2 10 9 2 ae&en215#3 10 8 2 ajn6#3 11 6 2 ae&en215#4 10 6 2 ajn4#4 9 7 2 ae&en215#5 6 9 2 ajn5#5 6 5 2 ae&en215#6 5 10 2 ajn6#6 11 7 2 ae&en215#7 5 7 2 ajn4#7 9 8 2 ae&en215#8 9 8 2 ajn5#8 5 4 2 ae&en215#9 6 8 2 ajn6#9 7 8 2 ae&en215#10 10 9 2 ajn2#10 4 5 2 Total 83 89 - Total 82 69 - MF (%) 8,3 8,9 2 MF (%) 8,2 6,9 2

AAE – Artigo acadêmico experimental

Nº I – Número de imagens no artigo acadêmico experimental Nº P – Número de páginas no artigo acadêmico experimental Nº C – Número de colunas no artigo acadêmico experimental MF – Média Final

autores dos AAE, de fato, não pareceriam tão pertinentes (embora trariam valiosas contribuições para os linguistas aplicados que vêm incluindo a semiose visual em seus textos, conforme dados apresentados na seção 4.2.3 e, posteriormente, discutidos indicam). Na AGR, em contrapartida, o número de imagens por periódico é, praticamente, igual (50,3% de imagens empregadas no AE&E e 49,7% de imagens no AJ), o que vem mantendo uma tradição de uso da semiose verbal para reportar conhecimento científico, bem como vem criando a necessidade de expandir imagens estáticas para englobar imagens em movimento (relembro, aqui, os recursos multimídia apresentados na análise contextual, bem como a emergência de artigos acadêmicos em formato audiovisual (JoVE) e de resumos gráficos (FLOREK, 2015).

Ademais, na Tabela 3, temos acesso ao cruzamento de dados quantitativos em relação às imagens e páginas que já indicam distintos níveis de relevância de seu uso para cada área. A Figura 27 busca exemplificar a relação entre semiose verbal e visual ao trazer um exemplar de AAE representativo de cada área. Atrelando os dados quantitativos (Tabela 3) à visualização dos AAE (Figura 27), percebe-se, na AGR, certa equivalência entre as duas semioses (média disciplinar de 8,25 imagens em 7,9 páginas; Figura 27A). Em outras palavras, a AGR oferece um espaço significativo para que a pesquisa seja reportada visualmente.

Na LA, por outro lado, há um grande espaço para veicular as informações produzidas, estando a semiose verbal significativamente sobreposta à visual (média disciplinar de 6 imagens em 22,65 páginas; Figura 27B). O espaço, visual ou verbalmente, oferecido está, potencialmente, interligado ao fluxo de informações que cada área recebe e divulga. Na LA, a RBLA publicou 4 números em 2016 com um média de 7,25 artigos acadêmicos por número e a TLA publicou 3 com cerca de 10,33 artigos acadêmicos (ambos experimentais e teóricos), também, por número. Na AGR23, a AE&E publicou 20 números com uma média de 22,1 artigos acadêmicos

(identificados como experimentais e teóricos) em cada número. Nesse sentido, uma possível explicação seria que, a LA, ao circular um número menor de publicações acadêmicas por ano, possibilitaria um maior espaço para veicular embasamento teórico, resultados e discussão desses resultados, já que essa comunidade, presumidamente, não teria um volume tão alarmante de estudos altamente qualifica-

23 A média não foi realizada no periódico AJ, pois o acesso e coleta dos AAE que representam esse periódico aconteceu via um link específico ‘Open Access’, no qual apenas algumas publicações estão disponíveis.

A – Agronomia

B – Linguística Aplicada

Figura 27 – Espaço para reportar o conhecimento verbal e visualmente ocupado em Agronomia (A) e Linguística Aplicada (B)

dos para dar conta. A AGR, em contrapartida, com esse volume expressivo de informação que circula, talvez, precisaria condensar o conhecimento produzido em poucas páginas. Se para a área médica, o alto volume de publicações com que pesquisadores da área da saúde precisam lidar (SALAGER-MEYER, 1991) impulsionou a organização de abstracts estruturados, já que diminuem, significativamente, o tempo gasto em leitura (SALAGER-MEYER, 1991), o uso expressivo de imagens na AGR, potencialmente, poderiam ser forte aliadas na organização de uma grande quantidade de dados em poucos centímetros de página (MILLER, 1984).

Uma outra forma de verificar a frequência de imagens é através da oscilação do uso de imagens em cada disciplina. Na LA, a quantidade de imagens por artigo oscila severamente, assumindo um caráter não mandatório ao gênero (somado ao fato de que, no processo de seleção do corpus, foram encontrados AAE sem imagens) enquanto que, na AGR, a oscilação é, majoritariamente, menos abrupta (Figura 28), veiculando, no mínimo, quatro imagens por AAE (Tabela 3).

Embora os artigos acadêmicos coletados para as duas áreas se assemelhem na natureza da pesquisa quando considerados seu objetivo, ou seja, todos são experimentais, a frequência do uso de imagens é, expressamente, distinta. Assim, todos estudos apresentam um objeto de estudo, uma forma de olhar para esse objeto e, consequentemente, resultados desse olhar, em outras palavras, emergiram de uma pesquisa com base de experimentação de um ou mais aspectos. Uma forma de analisar mais a fundo os dados de frequência de uso de imagens, seria a verificação das naturezas de pesquisa englobadas sob a base experimental. No entanto, os dados já descritos nessa dissertação, bem como grande parte de estudos prévios que não entram nesse nível de detalhe (tais como SWALES, 2004; YANG; ALLISON, 2003, 2004; HENDGES, 2006; RUBIO, 2011) têm demostrado que, apenas a separação entre estudo experimental e estudo teórico, já é suficiente para desvelar padrões de uso de imagens no gênero AAE em diferentes contextos disciplinares.

Assim, embora todos os artigos acadêmicos sejam experimentais, os objetos de estudo que cada área focalizam são bastante particulares. Nas humanas, a LA estuda a linguagem e suas questões emergentes do cotidiano e de seus usuários (MENEZES; SILVA; GOMES, 2009). Aqui, o exame da linguagem pode ser realizado, apenas, a partir de uma perspectiva de pesquisa de base qualitativa ou ainda pela combinação das bases qualitativa e quantitativa.

Figura 28 - Oscilação no número de imagens por artigo acadêmico nas áreas de Linguística Aplicada (A) e Agronomia (B).

Fonte: A autora

Ademais, a oscilação no número dessas imagens, também, pode estar associada aos olhares multidisciplinares ao objeto de estudo que a LA possibilita (tais como, com base nos endereços eletrônicos dos periódicos, interculturalidade e identidades, educação linguística, tecnologias e redes sociais, tradução,

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AAE1 AAE2 AAE3 AAE4 AAE5 AAE6 AAE7 AAE8 AAE9 AAE10

Número de imagens em LA - A