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Número de imagens em AGR B

4.2.3 Natureza das imagens

O fato de que algumas relações apenas podem ser realizadas verbalmente e outras visualmente ou que algumas dessas são mais facilmente realizadas pela semiose verbal e outras pela visual (KRESS; van LEEUWEN, 2006) já tem sido bastante discutido e comprovado nas pesquisas prévias discutidas nessa dissertação (tais como MILLER, 1998; NASCIMENTO, 2002). Ademais, sabe-se que o contexto em que essas relações são realizadas definem suas possibilidades, potencialidades e limitações. Visualmente, no contexto acadêmico, essas relações são percebidas nas diferentes naturezas das imagens, já que um diagrama, por exemplo, realiza relações de mudança, de ações e eventos em desdobramento (KRESS; van LEEUWEN, 2006). Uma tabela, por outro lado, realiza relações de ‘parte-todo’, em outras palavras, de um participante ser constitutivo de outro.

Nesse sentido, o mapeamento das naturezas de imagem foi realizado a fim de verificar quais são mobilizadas nos AAE em cada área, bem como quais são mais comuns. É importante salientar que esse mapeamento foi conduzido a partir das nomeações que os próprios autores utilizaram para as imagens. Os resultados estão expostos na Tabela 5 e revelam distintas e importantes tendências em cada contexto disciplinar, principalmente em relação às designações de natureza de imagens e à recorrência dessas naturezas.

Tabela 5 – Mapeamento e quantificação da natureza das imagens nos periódicos em Linguística Aplicada e Agronomia

Natureza das imagens

Periódicos Total por

natureza

RBLA TLA Total Parcial AE&E AJ Total Parcial

Figura 18 26 44 (36,6%) 43 38 81 (49%) 125 Tabela 20 7 27 (22,5%) 40 44 84 (51%) 111 Quadro 16 4 20 (16,6%) - - - 20 Exemplo 9 - 9 (7,5%) - - - 9 Excerto 4 - 4 (3,3%) - - - 4 Gráfico 1 - 1 (0,83%) - - - 1 Não titulada 5 6 11 (9,1%) - - - 11 Não designada - 4 4 (3,3%) - - - 4 Total por periódico 73 47 120 83 82 165 285

Não titulada = imagem sem qualquer título, mas passível de ser considerada devido a elementos visuais, tais como bordas, flechas, células.

Não designada = imagem com um número ou palavras no título, mas não indicativa da natureza.

Fonte: A autora

Quanto às designações para imagem utilizadas na LA, os resultados mostraram que não há um padrão, já que variam em seis diferentes naturezas, inclusive, não designando ou titulando algumas, o que pode ser explicado pela vagueza dos documentos verificados na análise contextual. A ABNT NBR 14724, por exemplo, indica que a imagem seja identificada pela palavra designativa que pode ser “desenho, esquema, fluxograma, fotografia, gráfico, mapa, organograma, planta, quadro, retrato, figura, imagem, entre outros” (2011, p.11). Dessa forma, o documento permite que os autores dos AAE nomeiem as imagens a partir de uma gama de palavras designativas. No entanto, salvo a tabela, o documento não define e/ou conceitua cada uma das naturezas. Fica sob responsabilidade do autor o conhecimento e decisão sob qual e que palavras designativas ele deveria escolher.

O uso de imagens sem designação ou título, entretanto, não está previsto no documento. Ao contrário, é esperado que “qualquer que seja o tipo de ilustração, sua identificação aparece na parte superior, precedida da palavra designativa” (ABNT NBR 14724, 2011, p.11). Atrelado à vagueza desse documento, seria possível pressupor que ele é um indicativo de leitura e não o documento imediato de acesso dos autores - as Instruções aos Autores - e, portanto, possivelmente passível de não ser lido. No entanto, se considerarmos as Instruções aos Autores do periódico TLA, que apresenta o maior número de casos omissos de titulação e designação, a obrigatoriedade de nomeá-las é ainda mais expressa, no que se percebe no trecho “as ilustrações (tabelas, gráficos, desenhos, quadros, árvores, mapas e fotografias)

necessários à compreensão do texto, devem ser editados em preto e branco, com numeração e título [...]” (TLA, 2017, grifos nossos).

A pluralidade de palavras designativas, a omissão de uma identificação, documentos vagos e a aparente falta de rigor no uso e padronização das imagens por parte dos autores dos AAE e dos editores dos periódicos, indica, claramente, que imagens não configuram uma tradição disciplinar. Entretanto, é errôneo afirmar que o total de 120 imagens não é um número interessante e que, por conseguinte, configuraria uma parte do gênero que, facilmente, poderia ser negligenciada por produtores e divulgadores de conhecimento científico. Problematizo que, embora o conhecimento visualmente representado não seja uma convenção na área, não há uma justificativa forte o suficiente para, simplesmente, ignorar a média de seis imagens por AAE. Não há uma tradição, não há o predomínio da semiose visual, mas imagens estão sendo, aos poucos, utilizadas no gênero AAE em LA.

Uma particularidade interessante para dar destaque na Tabela 5 são as designações de natureza exemplo’ e/ou ‘excerto’, já que foram verificadas 13 referências, embora não previstas em nenhum dos documentos. Essas designações parecem estar relacionadas ao objeto de investigação da LA – a linguagem e as questões emergente de seu uso (MENEZES; SILVA; GOMES, 2009) – que, por vezes, precisam ser incorporadas na discussão e argumentação proposta nos AAE e, conforme verificado nesse mapeamento, também, em formato de imagem.

Na AGR, por outro lado, há um padrão bem estabelecido de uso das naturezas ‘figura’ e ‘tabela’. No entanto, não se pode compreender a AGR como uma área que utiliza menos possibilidades de imagens que a LA, pois, sob a natureza ‘figura’, de acordo com a análise contextual, encontram-se gráficos, quadros, fotografias, mapas, ilustração animada (retomar QUADRO). Ademais, todas as imagens são tituladas e designadas. Esse padrão parece estar interligado à verificação de que há um grande espaço do AAE visualmente ocupado, bem como há um número mínimo de quatro imagens por AAE e uma média de 8,25 por exemplar. Assim, o uso recorrente e impreterível de imagens parece ter influenciado a elaboração de documentos mais precisos e extensos quanto às imagens, bem como, à uma equipe editorial mais atenta ao seu uso. Em outras palavras, a tradição de reportar conhecimento a partir de imagens gerou a necessidade de se pensar em critérios para organizá-lo, já que a semiose visual, nesse contexto disciplinar, potencialmente, é configurada com função promocional - o acesso ao periódico é, em essência, pago, ou seja, presume-se que

informações padronizadas, bem organizadas, que mostram muitos dados aos mesmo tempo, que chamam a atenção do leitor são mais atrativas para a compra.

Os dados apresentados e discutidos indicam que cada área compreende a natureza das imagens de forma distinta e bem particular. Dessa forma, pergunta-se: que tipo de informação cada natureza de imagem veicula? teorias? dados numéricos? dados descritivos (em oposição à numérico)? Apenas os documentos da AGR respondem esses questionamentos. Portanto, a fim de compreender as naturezas na LA e averiguá-las na AGR, foi realizada uma análise textual a partir de elementos representacionais (participantes e, se disponíveis, vetores e circunstâncias) em cada imagem (KRESS; van LEEUWEN, 2006). Como resultado, definições foram propostas atentando aos critérios estrutura conceitual ou narrativa, representação da experiência/conteúdo a partir dos participantes e padronização formal da imagem. Considerando que o busco propor definições para as naturezas de imagens, aquelas ‘não designadas’ e ‘não-tituladas’ não serão incluídas na análise. Os resultados dessa investigação, na LA, estão expostos na Tabela 6 e, na AGR, na Tabela 7.

Na LA, além de uma ampla gama de naturezas de imagens, há também uma diversidade de definições dessas naturezas, conforme apresentado na Tabela 6. Vimos que, além da definição padrão de ‘tabela’ – expor informação numérica como central (IBGE) - essa natureza expõe, simultaneamente, informação numérica e descritiva ou, ainda, apenas informação descritiva, sendo que essa última foi também verificada para o ‘quadro’, bem como para a ‘figura’ (na sua 4ª definição). Dessa forma, a imprecisão verificada nos documentos, bem como a falta de convenções na área abriram a possibilidade do mesmo tipo de informação estar veiculada em três imagens com palavras designativas de natureza distintas. Em outras palavras, a análise textual revelou que se um linguista precisar expor, visualmente, relações entre informações descritivas (a partir de linhas e colunas), ele poderia escolher se quer nomear a imagem como ‘tabela’, ‘quadro’ ou ‘figura’, sem que haja interferência alguma na interpretação dessa imagem.

Ademais, a mesma situação foi percebida para as designações de natureza ‘exemplo’ e ‘excerto’, já que ambas veiculam o mesmo tipo de informação – expor exemplos provenientes de excertos do corpus em investigação – e para a ‘figura’ (na sua 3ª definição) e o ‘gráfico – expor informações numéricas indicativas de algum movimento, proporção, comparação.

Natureza Definição(ões)

Quantidade e

Frequência Exemplos

RBLA TLA Total

Figura

Realizada por uma estrutura conceitual ou narrativa, uma figura expõe...

1ª capturas (print) integrais do

corpus ou material de outras fontes

e veiculado em outros estudos e/ou mídia;

7 8 34,09 %

Fonte: rblan1#2

2ª diagramas que estabelecem relações entre termos, a partir de formas geométricas, tais como linha, quadro, círculo;

9 2 25 % Fonte: rblan2#8 3ª informações numéricas, indicativas de movimentos crescente ou decrescente, proporções, comparações temporais; 2 7 20,45 % Fonte: tlan2#7

4ª informações numéricas e/ou

descritivas; - 9* 20,45 % Fonte: tlan1#3 Tabela Realizada por participantes representados em células, uma tabela expõe...

1ª relações entre informações numéricas como informação central;

13 - 48,14 %

2ª relações entre informações

numéricas e descritivas; 7 4 40,74 %

Fonte: rblan1#5

3ª relações entre informações descritivas como informação única e central; - 3 11,11 % Fonte: tlan2#6 Quadro** Realizado por participantes representados em células, um quadro expõe...

1ª relações entre informações

descritivas; 16 3 95 % Fonte: rblan2#8 Exemplo e Excerto Realizado por participantes representados em células, um exemplo expõe... exemplos provenientes de excertos do corpus em investigação; 13 - 100 % Fonte: rblan2#8 Gráfico

Realizado por uma estrutura conceitual um gráfico expõe... informações numéricas, indicativas de movimentos crescente ou decrescente, proporções, comparações temporais; 1 - 100 %

*As nove figuras que compõem essa categoria foram encontradas no mesmo AAE;

**Apenas um quadro apresentou informações e estrutura diferentes dos demais padrões e, por isso, não foi incluído e apresentado nas definições;

Na AGR, por outro lado, os resultados apresentados na Tabela 7 revelam que, embora uma natureza de imagem possibilite reportar, visualmente, uma gama de informações – quatro definições para figura e três definições para tabela, essas informações só serão veiculadas naquela natureza. Em outras palavras, se um agrônomo precisar expor informações numéricas como dado central, ele apenas nomeará essa imagem a partir da designação ‘tabela’, mas se ele precisar focalizar esses números em termos de movimentos crescentes e/ou decrescentes, proporções, comparações temporais, ele terá que fazer uso da natureza ‘figura’. Assim, a tradição no uso de imagens permite que a disciplina delimite e/ou restrinja as escolhas da sua comunidade de prática.

Ademais, as definições propostas a partir da análise do texto (Tabela 7) se correlacionam com aquelas que os documentos trazem, o que indica um rigor, tanto por parte dos autores dos AAE quanto dos editores na produção de conhecimento visualmente reportado. Esses dados corroboram, ainda mais, a necessidade de, enquanto professores, formar alunos multiletrados, ou seja, que saibam reportar conhecimento científico a partir de ambas as semioses verbal e visual considerando como são organizadas em contextos disciplinares específicos.

Se as diferenças na forma de designar as naturezas de imagem já dão indícios de práticas discursivas e sociais em que diferentes contextos disciplinares estão engajadas, a verificação das recorrências de uso de uma ou outra natureza de imagem buscam expandir ainda mais o desvelamento dessas práticas em cada área. Nesse sentido, constatou-se que, na LA, há uma predominância expressiva da natureza ‘figura’ (36,6%; Tabela 5). Tal predominância pode ser explicada pela ampla gama de possibilidades de imagem que essa natureza integra, tais como capturas de tela, diagramas, gráficos (Tabela 5).

Uma das recorrências de natureza interessante de salientar é a superação da ‘tabela’ (22,5%) sobre o ‘quadro’ (16,6%), em ambos os periódicos e, ainda, sobre a ‘figura’ no periódico RBLA (20 tabelas e 18 figuras). Nas duas definições de ‘tabela mais proeminentes (Tabela 6), essa natureza expõe relações entre informações numéricas como dados centrais (48,14%) ou relações entre informações numéricas e descritivas (40,75%). Com base na natureza complexa do fenômeno estudado na área - a linguagem - que, por vezes, exige que o exame seja feito pela combinação das metodologias qualitativa e quantitativa (MOTTA-ROTH; HENDGES, 2010), a recorrência da natureza ‘tabela’ aparentemente é explicada. Nesse sentido, o dado

Natureza Definição(ões) Quantidade e Frequência Exemplos AE&E AJ Total Figura Realizada por uma estrutura conceitual ou narrativa, uma figura expõe...

1ª informações numéricas indicativas de tendências, tais como movimentos crescente ou decrescente, proporções, comparações temporais;

38 25 76,82 %

Fonte: ae&en215#1

2ª representação fotográfica do objeto

de estudo; - 11 13,41 %

Fonte: ajn4#1 3ª localização do objeto de estudo,

podendo incluir informações de vegetação, plantação e/ou rendimento, solo, ecossistemas, dados agronômicos;

4 3 8,53 %

4ª diagrama hierárquico a partir da relação de termos e números, a partir de formas geométricas, tais como linha, quadro, círculo;

1 - 1,21 %

Tabela Realizada por participantes representados em células, uma tabela expõe...

1ª relações entre informações

numéricas como informação central; 29 38 80,72 %

Fonte: ajn2#2

2ª relações entre informações

numéricas e descritivas 8 4 14,45 %

Fonte: ae&en215#1

3ª relações entre informações descritivas como informação única e central;

3 1 4,81 %

Fonte: ae&2n215#5

numérico, “cru” (MILLER, 1998), passível de verificação, vem se colocando, também, como uma tentativa de sobressaltar a cientificidade da área, bem como de se aproximar das outras ciências, tal como a AGR, que privilegiam esse dado. Dessa forma, a natureza ‘tabela’ se fez necessária ao gênero produzido na área.

O dado numérico, assim como na LA, se destaca e, inclusive, assume centralidade nas imagens veiculadas nos AAE em AGR em ambas as naturezas ‘tabela’ e ‘figura’. Magnet (2001), em sua pesquisa sobre naturezas de imagens utilizadas na áreas da Bioquímica Nutricional, demostrou que especialistas no tema indicam tabelas como referência para futuros pesquisadores. Assim, se os valores, testados sob as mesmas condições, diferirem demais, novos estudos precisariam ser conduzidos e poderiam, inclusive, implicar numa nova reivindicação científica. Esses resultados indicam um linha interessante de significar o uso expressivo de tabelas e figuras, também, para a AGR.

O uso e recorrência das naturezas de imagem verificadas em cada área podem ser melhor delineados se correlacionadas às funções que desempenham nas seções do AAE. Em outras palavras, a escolha de determinada natureza em detrimento de outra depende, majoritariamente, da função que busca realizar naquela seção (p. ex. se quero salientar, na seção de R/D do meu AAE em LA, dados proporcionais de falantes de língua inglesa, espanhola e francesa em uma comunidade, é preferível que eu escolha a natureza ‘figura’ ou ‘gráfico’; mas se eu quero apresentar, na seção de Métodos do meu AAE em AGR, características do solo sob investigação a partir de informações numéricas – latitude, longitude, hectares – e informações descritivas – tipo de solo, tipo de plantação recorrente – preciso fazê-la pela natureza ‘tabela’. Para tanto, a seção 4.2.4 investiga e define as funções retóricas que as imagens realizam no gênero AAE em cada contexto disciplinar, buscando argumentar para a potencialidade das imagens configurarem movimentos e passos dentro da organização retórica já descrita por pesquisas prévias.