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Número de imagens em AGR B

4.2.4 Função Retórica das imagens

Pensar em função retórica implica considerar o gênero discursivo, ou seja, as atividades que determinada comunidade de prática se engajam, sendo essas mediadas pela linguagem: na comunidade acadêmica, o gênero resumo acadêmico tradicional é uma atividade mediada, majoritariamente, pela linguagem verbal, já o

gênero resumo acadêmico gráfico é mediado por ambas as linguagens verbal e visual (FLOREK, 2015). Nesse sentido, o exame focalizado na semiose verbal permite descrever, de forma mais completa, padrões no primeiro gênero. No entanto, a negligência da semiose visual, no segundo gênero, resultaria numa análise fracionada.

Cientes de que o gênero AAE tem sido extensivamente investigado na sua semiose verbal em termos de funções que realiza nos diferentes momentos de reportar um estudo (padrão IMRD) e sustentadas no reconhecimento de que imagens vêm ocupando cada vez mais espaço na comunicação de conhecimento científico (MILLER, 1998; SWALES, 2004), as funções desempenhadas pela semiose visual, em dois contextos disciplinares distintos – LA e AGR, foram analisadas e são apresentadas nessa seção. Se no parágrafo anterior apontei que a focalização de uma ou outra semiose resultaria no exame fracionado do gênero, aqui argumento que não preciso me deter na verbal, já que essa já foi descrita por pesquisas prévias nas áreas alvo e/ou afim. Por outro lado, são as imagens que vêm apontando a necessidade de serem examinadas e, posteriormente, ensinadas.

Dessa forma, a análise textual das funções retóricas iniciou pelo mapeamento das seções, com base no padrão IMR/D (conforme descrito no capítulo 3), que as imagens ocorrem em cada contexto disciplinar, bem como a quantificação por seção (Figura 35).

Figura 35 – Mapeamento das seções em que as imagens ocorrem e quantificação por seção nos AAE em Linguística Aplicada e Agronomia.

Fonte: A autora 10 12 7 7 2 0 17 18 51 33 66 63 0 10 20 30 40 50 60 70

RBLA TLA AE&E AJ

Na LA, a maioria das imagens (Figura 35) ocorre na seção de R/D, embora a sua presença não seja mandatória, já que não aparecem em cinco dos vinte AAE sob investigação. A segunda seção em que o uso de imagens prevalece é a de Métodos, mas ela não supera, significativamente, a Introdução, já que a primeira veicula um total de 19 e a segunda 17 imagens. Ademais, o uso de imagens nessas duas seções, também, não é mandatório.

Na AGR, por sua vez, a maioria significativa de imagens está na seção de R/D (Figura 35), mas, em contra partida aos dados da LA, o seu uso é mandatório, já que foram verificadas imagens em todos os exemplares do gênero. Esse dado oferece ainda mais suporte para o argumento defendido, nesta dissertação, sobre a emergência de um perfil de pesquisador agrônomo multiletrado, ou seja, que saiba congregar linguagens verbal e visual ao reportar conhecimento científico. Se, de um lado, verifica-se que o uso de imagens na seção de R/D é uma convenção disciplinar, apenas, na AGR, de outro, a presença da semiose visual na seção de Métodos não é convencional nas duas áreas - cinco exemplares da AGR não trazem imagens nessa seção.

Se relacionarmos essas imagens à função retórica da seção em que ocorrem, os dados reportados na Figura 35 indicariam que a maior parte das imagens (na seção de R/D), nas duas áreas, apresentam os fatos verificados na análise (conf. SWALES, 1990; 2004). A segunda maior parte das imagens (na seção de Métodos), por sua vez, apresentam os procedimentos de coleta e análise de dados e/ou os materiais/instrumentos/variáveis que levam à obtenção desses dados (conf. SWALES, 1990; 2004). Embora essas descrições de funções retóricas de imagens sejam possíveis, acabam dando conta, apenas, de um entendimento mais global da seção e da imagem, sem considerar necessidades e particulares disciplinares, conforme já vêm sendo apontadas a partir do exame da semiose verbal (tais como YANG; ALLISON, 2003; OZTURK, 2007; RUBIO, 2011). Dessa forma, o cruzamento das naturezas de imagens e suas definições (apresentadas nas Tabelas 6 e 7) às seções em que ocorrem nos distintos contextos disciplinares foi realizada, a fim de desvelar as funções retóricas realizadas pelas imagens com mais detalhes.

Para tanto, inicialmente, o mapeamento e quantificação das naturezas de imagem, já feitos na seção 4.2.3, foram correlacionados ao mapeamento das seções em que ocorrem, a fim de descrever que tipo de imagem (figura, tabela, quadro) se

destaca em cada seção de cada área. Os resultados dessa correlação estão apresentados na Figura 36.

Figura 36 – Mapeamento das naturezas de imagens por seção na Linguística Aplicada (A) e Agronomia (B).

Fonte: A autora

Os dados da Figura 36, para a LA, revelam que, além da maioria das imagens, a maior diversidade de naturezas estão alocadas na seção de R/D. Para a AGR, além da maior recorrência de imagens, por outro lado, a maior equivalência entre naturezas se encontra nessa seção (a parte da Introdução que veicula apenas duas imagens). Em outras palavras, a seção em comparação é a mesma, mas os usos verificados são extremamente distintos nas duas áreas, corroborando a necessidade de considerar o gênero AAE, sempre, em decorrência das práticas sociais disciplinares. Embora a LA utilize tantas naturezas distintas, há algum padrão nas funções dessas imagens na seção de R/D? E nas seções de Introdução e Métodos? Na AGR, apesar de haver um padrão de naturezas, funções distintas podem ser percebidas nas seções do AAE? Para responder aos questionamentos levantados, definições de função retórica foram propostas a partir de busca sistemática por pistas léxico- gramaticais na semiose verbal (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2014) e da análise representacional da semiose visual (KRESS; van LEEUWEN, 2006).

No primeiro critério, a função atribuída às imagens pelos próprios autores dos AAE foi investigada, a partir da verificação do processo que acompanhava a menção à imagem - fora e dentro de um componente circunstancial (ex. tlan2#8: O quadro 1, a seguir, apresenta uma reinterpretação [...]; rblan2#8: Conforme representado na Figura 01, o funcionamento da linguagem [...]). Nessa verificação, particularidades de cada área, na sua forma de trazer a imagem na semiose verbal, surgiram24. Na LA, as

imagens, se mencionadas, geralmente, aparecem como participantes ou circunstâncias e, muitas vezes, estabelecem uma relação interpessoal com os consumidores desse material, através de expressões tal como ‘conforme observamos no gráfico’. Considerando que o papel de ‘observar’ algo é do produtor e consumidor do texto e não da imagem em si, esses processos não foram considerados no mapeamento. Na AGR, por outro lado, as imagens são, majoritariamente, mencionadas dentro de parênteses. Assim, há uma ênfase na descrição e discussão de aspectos contemplados pela imagem e não na menção à essa imagem, que aparece informação secundária (p. ex. ae&en215#1 Seven influential parameters

(Table 5) were selected to parameterize BBGC MuSo, according to Hidy et al. (2012)).

Os dados do mapeamento dos processos referentes a cada natureza de imagem por seção dos AAE estão apresentados no Quadro 17, no qual o processo mais recorrente na seção foi escolhido para configurar o verbo determinante da função retórica da imagem. No segundo aspecto, função representacional, a experiência representada na imagem foi identificada, a fim de afirmar a função retórica da imagem em determinada seção. A apresentação dos funções retóricas das imagens por seção seguirá a ordem de organização de um AAE típico, ou seja, pelo padrão IMRD (conf. SWALES, 2004).

Imagens na seção de Introdução assumem distintos graus de relevância para as duas áreas, já que, na LA, foram mapeadas 17 ocorrências e, na AGR, apenas duas. Essa divergência parece estar atrelada, também, a minha decisão de congregar, a fim de manter um paralelismo em relação à nomeação IMRD, as seções de

24Na LA, percebe-se uma busca maior, na semiose verbal, pelo convite e persuasão dos leitores para olharem para a imagem, o que lembra uma tentativa de quebra de uma tradição de leitura, na qual leitores simplesmente ‘pulavam’ a informação visual, já que, em textos sobrecarregados pela semiose verbal, a imagem funcionava apenas como um ‘descanso aos olhos’. Na AGR, a menção da imagem entre parênteses, ou seja, como informação secundária, indica que a própria imagem é autossuficiente no convite à leitura, o que permite lembrar de uma tradição, na qual autores mais experientes começam sua leitura pela análise da semiose visual (MILLER, 1998). No entanto, como não entrevistei os autores dos AAE, posso apenas especular as práticas de leitura mais pertinente à cada área. Por conseguinte, minha pressuposição fica relegada à uma nota de rodapé e não no corpo do texto.

Introdução e Revisão da Literatura, comuns na LA, sob um único nome – Introdução. Pesquisas prévias (HENDGES, 2001; MOTTA-ROTH; HENDGES, 2010) indicam que a Revisão da Literatura está relacionada à uma tendência de textos mais avaliativos na linguística (HENDGES; 2001), que, por conseguinte, estendem o número de páginas que mobilizam para dar conta dessa avaliação - apresenta pesquisa prévia e, então, estende, contra argumenta, indica suas lacunas. Outras áreas, tais como a Economia, tendem a utilizar textos mais objetivos nessa seção, expressos pela simples citação de estudos prévios (HENDGES, 2001). A AGR, a partir de um olhar mais sistemático no corpus da minha pesquisa, parece se filiar à Economia.

Quadro 17 – Lista de processos que seguem as palavras designativas de naturezas de imagens na seção dos AAE em Linguística Aplicada e Agronomia

Seção

Linguística Aplicada Agronomia Figura Tabela Quadro Exemplo e

Excerto Gráfico Figura Tabela

I Representar Sintetizar Descrever Exemplificar Esboçar Apresentar -- -- -- -- M Detalhar Apresentar Sumarizar Exibir Destacar Aparecer -- -- -- Apresentar Apresentar Sumarizar Indicar Reportar Fornecer Listar R/D Apresentar Mostrar Representar Destacar Apresentar Reportar Sumarizar Expor Demostrar Exibir Destacar Apresentar Reportar Ilustrar Mostrar Reproduzir Indicar Apresentar Indicar Ilustrar Dar Destacar Fazer Apresentar Indicar Ilustrar Fornecer Construir Analisar Fonte: A autora

A particularidade de configurar a seção inicial do AAE a partir de um texto mais avaliativo, em linguística, parece estar interligada ao uso e à função retórica da imagem na seção (Tabela 8), já que 15 ocorrências verificadas (duas foram excluídas da análise representacional por serem ‘não designadas’) assumem a função comum de ‘apresentar referencial teórico de pesquisas prévias que dão embasamento ao estudo reportado no AAE’. Nesse sentido, as imagens apresentam a teoria e a semiose verbal, por sua vez, pode concordar, contra argumentar ou indicar lacunas nesse conhecimento científico prévio. Se, de um lado, é possível argumentar que há um padrão de função retórica da imagem na seção de Introdução de AAE em LA, de outro, é inviável propor que essa função seja, majoritariamente, realizada pela

semiose visual, já que foram encontradas imagens em apenas oito exemplares do

corpus sob investigação. Esse dado aponta, assim, que a apresentação de pesquisas

prévias é, ainda, predominantemente mediada pela semiose verbal.

Assim como na LA, um estudo realizado na área de Bioquímica Nutricional (2001) mostrou que não é padrão disciplinar o uso de imagens na seção de Introdução, mas quando que, quando presentes, os diagramas representam o conhecimento compartilhado e referido por especialistas naquela comunidade naquele momento, permitindo que os cientistas direcionem o leitor para um paradigma selecionado e, assim, barrando-os de interpretações alternativas sob o tema específico tratado no AAE.

Tabela 8 – Função retórica de imagens na seção de Introdução na área de Linguística Aplicada

Função Retórica Naturezas Nº def

(conf. Tabela 6) Qtd Evidência Visual

- apresentar referencial teórico de pesquisas prévias que dão embasamento ao estudo reportado no AAE; Quadro 1ª (informações descritivas) 6 Figura 2ª (diagrama) 6 4ª (informações descritivas) 2 Tabela 3ª (informações descritivas) 1 Fonte: A autora

Se as imagens, na seção de Introdução, apontaram um padrão na função retórica, a forma de designá-las, nem de longe, configura um padrão. Na Tabela 8, a natureza ‘figura’, na sua 2ª definição – diagrama, justificaria receber um nome específico, já que expõe relações teóricas a partir do uso de termos e formas geométricas que influenciam a interpretação dessa teoria (p. ex. a inter-relação da ‘ideologia’, ‘inconsciente’ e ‘linguagem’ constituem o ‘sujeito’). No entanto, nove imagens realizarem a mesma função, por meio de participantes organizados do mesmo modo – em células -, mas receberem três nomes diferentes é indicativo, claro, da falta de convenção disciplinar.

Ao colocar lado a lado, a padronização da função retórica realizada pela imagem e a falta de rigor na sua designação, abre-se a possibilidade de argumentar que são decorrentes de diferentes tradições de investigação na área. A primeira é decorrente da tradição de estudos de gênero que já descreveram as funções que a semiose verbal realiza em cada seção de contextos disciplinares específicos e, dessa forma, dão suporte para pensar essa mesma informação, mas em formato de imagem. A segunda, por outro lado, é resultado de documentos vagos e da não convencionalizado uso de imagens na área.

Em oposição ao uso retórico particular da semiose visual na seção de Introdução está uma gama maior de funções descritas para os Métodos (Tabela 9), mesmo que as duas seções tenham mobilizado quantidades similares de imagens (17 na primeira e 19 na segunda) nos AAE em LA. Possivelmente essa gama se deve à maior fluidez da seção em termos de movimentos e passos nas diferentes áreas disciplinares, sendo que em alguns campos das Ciências Humanas essa seção pode nem sequer existir (SWALES, 2004). Quando existente, o espaço da seção é ocupado por informações de materiais utilizados, procedimentos adotados, seguido, em algumas áreas, pela descrição de aparatos empregados e/ou análises estatísticas escolhidas (SWALES, 2004).

Na LA, os dados apresentados na Tabela 9 revelam o predomínio das funções retóricas de apresentar ‘informações contextuais do corpus / participantes da pesquisa’ (7 ocorrências), tais como idade, renda, escolaridade e de ‘categorias ou materiais / instrumentos para a coleta do corpus’ (quatro ocorrências), tais como número de downloads ou de tweets, itens de questionário na semiose visual.

Tabela 9 – Funções retóricas de imagens na seção de Metodologia na área de Linguística Aplicada

Função Natureza Nº def

(conf. Tabela 6) Qtd Exemplo Visual

1) apresentar informações contextuais do corpus / participantes da pesquisa; Tabela 2ª (informações numéricas e descritivas) + 3ª (informações descritivas) 3 Quadro 1ª (informações descritivas) 3 Figura 1ª (capturas /prints) 1 2) apresentar categorias ou materiais / instrumentos para a coleta do corpus da pesquisa; Tabela 2ª (informações numéricas e descritivas) 2 Quadro 1ª (informações descritivas) 1 Figura 4ª (informações descritivas) 1 3) apresentar convenções metodológicas para a análise do corpus de pesquisa; Quadro 1ª (informações descritivas) 1 Fonte: A autora

A tendência de uso de imagens que revelem informações sobre o corpus ou os participantes (Tabela 9) está interligada à práticas de examinar, na LA, a linguagem e

suas questões emergentes do contexto em que ocorrem (MENEZES; SILVA; GOMES, 2009). Desse modo, a apresentação visual de aspectos contextuais dos participantes e/ou objetos de pesquisa vêm se mostrando relevantes na seção. Se, de um lado, pode-se afirmar que informações contextuais vêm sendo apresentadas visualmente, por outro, não há indícios se essas informações geram um grande impacto nos resultados da pesquisa ou se serão retomadas na discussão desses resultados. Dessa forma, esse dado aliado à inexistência, visualmente representada, de categorias e critérios metodológicos para a análise do corpus apontam para a semiose verbal como responsável por dar conta de indicar o quão pertinente essas informações são para responder ao objetivo da pesquisa.

Considerando que, embora não seja mandatório reportar informações metodologicamente pertinentes através da semiose visual, dois padrões de função retórica vêm se delineando, essas realizadas, majoritariamente, pela organização visual nas naturezas ‘tabela’ e ‘quadro’. Vale ressaltar que, facilmente, essas duas naturezas poderiam ser mescladas em uma só, já que a exposição de informações descritivas como dado único, por exemplo, podem acontecer tanto na ‘tabela’ quanto no ‘quadro’, sem que haja nenhuma diferença de critério na escolha de uma ou outra. Ou seja, a falta de convenções abrem possibilidade para diferentes escolhas, muitas vezes, não informadas.

Na AGR, por sua vez, a análise das funções retóricas realizadas pelas imagens na seção de Métodos (Tabela 10) revelou que há dois enfoques principais a) caracterizar o local de estudo; e b) apresentar procedimentos empregados no design experimental da pesquisa. No primeiro, a caracterização do local de estudo ocorre a partir da apresentação numérica e/ou descritiva de suas propriedades e da apresentação de aspectos meteorológicos, espaciais e temporais. Quanto às naturezas, embora apenas as designações ‘tabela’ e ‘figura’ são empregadas, as possibilidades de representar a experiência são plurais: sob a natureza ‘figura’, por exemplo, a experiência pode estar visualmente materializada em mapas e fotografias e gráficos. Ademais, é interessante salientar que quase a totalidade de mapas (6 de 7) é utilizada nessa seção, o que indica que o seu uso tem função, essencialmente, metodológica para a área.

O segundo enfoque está vinculado à apresentação dos procedimentos considerados no design experimental do estudo, a partir da exposição, numérica e/ou descritiva, de variáveis e aplicações realizadas no estudo, o que apenas pode ser

Tabela 10 – Funções retóricas de imagens na seção de Métodos na área de Agronomia.

Função Natureza Nº def

(conf Tabela 7) Qtd Exemplo visual

1) apresentar características do local de estudo e de variáveis / parâmetros considerados no design experimental da pesquisa; Tabela 1ª (Informações numéricas) 6 2ª (informações numéricas e descritivas) 7 Figura 1ª (informações numéricas em tendências) 6 3ª (localização espacial) 6 2ª (representaçã o fotográfica) 1 2) apresentar aplicações ou a descrição de aplicações realizadas no design experimental da pesquisa; Tabela 1ª (informações numéricas) 5 3ª (informações descritivas) 2 3) apresentar descrição teórica de modelos de tratamento considerados para design experimental da pesquisa; Tabela 3ª (informações descritivas) 1 Fonte: A autora

realizado pela natureza ‘tabela’. É interessante salientar que quase a totalidade (3 de 4) das ‘tabelas’ que expõe informações descritivas como centrais (3ª definição) estão alocadas na seção de Métodos. Assim, a organização de termos em uma imagem é muito mais válida pra fins metodológicos – descrever as aplicações realizadas e o aporte teórico de modelos aplicados - que para os achados da pesquisa.

Embora as duas áreas sob investigação sejam bastante distintas no seu objeto de estudo, na gama e no rigor em designar naturezas de imagem, há similaridades nas funções retóricas dessas imagens na seção de Métodos nos dois contextos disciplinares. As principais funções 1) caracterizam o objeto sob investigação na pesquisa e que podem ser conferidas por outros pesquisadores, tais como, para a LA, gênero, nacionalidade, idade, mídia a que esse objeto está vinculado, e, para a AGR, propriedades do objeto, localização do estudo, condições meteorológicas. Ademais, 2) apresentam etapas procedimentais aplicada na pesquisa tais como, para a LA, passos e critérios para coleta de corpus, aplicação de questionários, e para a AGR, tratamentos, datas, variáveis consideradas. Outra similaridade é o caráter opcional do uso de imagens nessa seção nos dois contextos disciplinares, já que nem todos os exemplares do gênero veiculam conhecimento visualmente reportado nos Métodos.

Se linguistas aplicados e agrônomos podem decidir pelo uso ou não da semiose visual na seção de Métodos, é esperado que imagens sejam incluídas na apresentação dos resultados reportados na AGR, já que sua presença foi verificada em todos os exemplares da área. Assim, esse caráter convencionalizado surtiu num documento – Publications Handbook and Style Manual - que já descreve a função retórica desempenhada pelas diferentes naturezas de imagens, o que já contribui, significativamente, para o rigor com que informações distintas são organizadas e designadas nesse contexto disciplinar. Dessa forma, organizei uma coluna, na Tabela 11, com as funções retóricas descritas nesse documento propondo algumas poucas adições, quando necessárias. Ademais, correlacionei essa coluna aos dados quantitativos emergidos dos exemplares, bem como expus um exemplo visual de cada função. Saliento que adotei esse critério apenas para a AGR em decorrência da LA ser muito vaga e negligenciar as funções de imagens em seus documentos. Ademais, a focalização desse critério na seção de R/D teve por base o uso esperado de imagens nesse momento do gênero, já que é uma prática convencionalizada nesse contexto disciplinar.

Tabela 11 – Funções retóricas de imagens na seção de Resultados e Discussão na área de Agronomia.

Função Natureza Qtd Exemplos visuais

1) apresentar resultados numéricos extensos de forma organizada; Tabela 55 2) apresentar tendências a partir de resultados numéricos; Figura 52 Fonte: A autora

As funções retóricas das naturezas ‘tabela’ e ‘figura’ descritas no documento indicam a centralidade de informações numéricas para reportar o conhecimento produzido na área, mais enfaticamente, na seção de R/D. Tal centralidade pode ser verificada na quantidade de imagens que circula dados numéricos como informação única (a parte das linhas e colunas indicadoras de seu conteúdo): do total de 61 ‘tabelas’ que ocorrem na seção de R/D, 55 focalizam na apresentação de dados