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Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho: mais gente nos campos menos nas bancadas

O mesmo tipo de tensão entre projecto doutrinário e prática social pode ser identificado na Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho, a organização do regime que tinha como objectivo central “o aproveitamento do tempo livre disponível dos trabalhadores portugueses, em ordem a assegurar-lhes, no limite do possível, o maior desenvolvimento físico e a elevação do seu nível intelectual e moral”.377 No âmbito da política de “desfascização” do regime, levada a cabo após o termo da II Guerra Mundial, a FNAT transformou-se, sobretudo a partir do final da década de cinquenta, numa “rede de infra-estruturas burocráticas, prestadora de serviços e distribuidora de orientações emanadas de órgãos colegiais (onde, aliás, geralmente se integra), criados no âmbito do Plano de Formação Social e Corporativa”, abandonando progressivamente o papel de inculcação da uniformidade político-ideológica pretendida pelo regime. No âmbito desta transfiguração, para José Carlos Valente, aquilo que a “FNAT ganha em massa associativa e estrutura orgânica...perde em conteúdo e actuação ideológica própria”.378

Ora, pelo contrário, parece ser justamente no âmbito da política social do Estado Novo que as funções de integração política da FNAT tiveram maior eficácia. A regulação dos tempos livres dos trabalhadores, orientada por um projecto de “desproletarização” das consciências, operou por via da popularização de um certo tipo de consumos culturais e práticas de lazer destinadas às classes trabalhadoras, como notou Nuno Domingos, no quadro de uma investigação em torno da história da Companhia Portuguesa de Ópera e das temporadas líricas do Teatro da Trindade. 379

A importância crescente deste modelo de regulação dos tempos livres, sob a égide centralizadora do Estado, parece, também aqui, ter-se relacionado com o permanente jogo de equilíbrios no interior das forças políticas nos quais o regime se sustentou, mas, sobretudo, com as tentativas de gerir política e ideologicamente

377 Estatutos da Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho, Decreto-Lei n.º 25.495 de 13 de

Julho de 1935.

378 José Carlos Valente, Para a História dos Tempos Livres em Portugal. Da FNAT à INATEL

(1935-2010) (Lisboa: Colibri, 2010), 166.

379 Nuno Domingos, O Papel da Companhia Portuguesa de Ópera na «Política Social» do Estado

as consequências sociais das transformações económicas que se adivinhavam mais expressivas a partir do I Plano de Fomento, de 1953. As intenções totalizantes da “primeira” FNAT, onde pontificavam homens provenientes do nacional-sindicalismo como Higino de Queiroz e Castro Fernandes, foram rapidamente diluídas no quadro corporativo do Estado Novo. A demagogia obreirista e fascizante de leves contornos anti-plutocráticos do 1º de Maio, título do jornal oficial da FNAT até 1941, deu lugar a um outro, mais conservador mas nem por isso menos sugestivo, Alegria no Trabalho. As tentativas de mobilização e enquadramento das comemorações do 1º de Maio foram abandonadas em 1940, quando o incremento dos protestos populares tornava complicado o processo da sua gestão administrativa e propagandística. O projecto de formação de um escol sindical, integrado na estrutura corporativa, também não terá avançado muito para além dos planos.

A FNAT viu também negada a “unidade de comando” que pretendia face a outras organizações do regime, como o SPN, os Sindicatos Nacionais, ou mesmo em relação à regulação dos lazeres rurais. Do controlo e coordenação das Casas do Povo ficou encarregue a Junta Central das Casas do Povo, criada em 1945. Permaneceram de fora da alçada da FNAT as colectividades de cultura e recreio, cerca de 3000 em 1939, contabilizando perto de 300.000 membros, bem como outras formas de associativismo popular, como as associações desportivas e de cultura física de base social operária. 380 No final da II Guerra Mundial, à FNAT cabia “apenas” a tutela dos Centros de Alegria no Trabalho (CAT), ou seja, “todo o agrupamento destinado a promover quaisquer iniciativas respeitantes à formação social e física e ao recreio dos trabalhadores, desde que seja constituído por trabalhadores de uma mesma empresa, por empregados de um mesmo organismo ou instituição, ou por funcionários de um ou mais serviços do Estado ou dos corpos administrativos» e dos Centros de Recreio Popular, isto é, qualquer agrupamento que promovesse as mesmas iniciativas dos CAT e fosse formado “por trabalhadores de um mesmo aglomerado populacional”.381

Apesar da dinâmica inicial orientada para o combate político e ideológico, verificou-se desde cedo que o centro da actividade da instituição se encontrava

380 Dados de O Século, citados por Valente, Para a História..., 93.

381 As Casas do Povo e as Casas dos Pescadores eram considerados Centros de Recreio Popular.

noutros terrenos. Alguns dados publicados no relatório e contas da FNAT de 1957 dão conta disso mesmo. Naquele ano, o sector económico-social representava já 76,37% das despesas, contra apenas 7,96% do sector cultural. No ponto 5, da mesma introdução, reconhecia-se que “a actividade económico-social constituída pelo funcionamento de cantinas, refeitórios, colónias de férias e albergarias, assim como o plano de obras, que vem sendo executado e continuará a sê-lo nestes anos mais próximos, dominaram a administração. O sector económico-social vai tomando uma extensão e uma complexidade tais que por si só justificaria uma organização própria”. A “alegria no trabalho” era tanto mais necessária, como era explicitado no ponto seguinte, quanto mais se fosse desenvolvendo a industrialização do país: “o progresso técnico requer progresso moral”, concluía- se. Na introdução ao relatório é sublinhado justamente o alargamento contínuo da instituição “sem que as suas finanças sejam perturbadas”.382

Esta era uma referência à situação que a FNAT vivia no final da década de quarenta. Durante aquele período a organização confrontou-se com lacunas de financiamento resultantes tanto do desinteresse do sector corporativo, apesar da obrigatoriedade de todos os organismos corporativos e de coordenação económica terem de contribuir financeiramente, como do patronato, que se manteve indiferente à “política de intensa espiritualização da vida com um forte apelo aos valores morais” pretendida pela instituição.383 O financiamento do Estado tornou- se, durante esta fase, fundamental para o funcionamento da instituição, já que, tal como refere Higino de Queiroz, ainda em 1938, em carta dirigida a Salazar, “todas as tentativas feitas para alargar o número de subscritores têm sido mal sucedidas, encontrando-se quase sempre como desculpa, a circunstância de já contribuírem para outras organizações com mais do que podem”.384

A resolução dos problemas financeiros do organismo, durante o mandato de Quirinho Mealha (1950-1958), contribuiu para ampliar a capacidade de intervenção da FNAT no plano dos lazeres e dos tempos livres. As actividades do foro intelectual e moral, de cariz pedagógico, que passavam pela disseminação de bibliotecas, pela promoção de cursos nocturnos, versando temas como a história da expansão portuguesa, e pelos cursos de educação de adultos, para além da

382 Fundação Nacional Para a Alegria no Trabalho, Relatório e Contas da Gerência de 1957

(Lisboa: Gabinete de Divulgação, 1958), 11-13.

383 Valente, Para a História..., 38. 384 Valente, Para a História..., 91.

organização de uma série de iniciativas que englobavam palestras, conferências ou exposições, viram-se rapidamente dissolvidas numa estrutura que, também em função da procura social, se especializou na oferta de actividades mais propriamente recreativas e de prestação de serviços de apoio social. Se naquele ano de 1957 os cursos de educação para adultos abrangeram 287 alunos, participaram nas excursões da FNAT 1.1191excursionistas. As 822 sessões de cinema impulsionadas pela FNAT, por exemplo, terão chegado a uma assistência de cerca de 371 mil espectadores.385 Para além das descrições e dos mapas do movimento financeiro da organização, os relatórios anuais daqueles anos focam, globalmente, a sua atenção nas actividades dos refeitórios económicos, das colónias de férias e das práticas desportivas, sendo as actividades educativas e culturais relegadas para um segundo plano, mesmo que, por exemplo, em Lisboa, em 1952, tenham sido distribuídos, a preços reduzidos 3.040 bilhetes de cinema, ou tenham assistido aos serões para trabalhadores 108.200 espectadores.386

Trata-se de uma tendência que não pode ser situada apenas na década de cinquenta. Na verdade, tais orientações, quer no que concerne ao peso das diferentes actividades de cariz recreativo e pedagógico quer no equilíbrio entre estas e os programas sociais, acompanharam a instituição praticamente desde a sua génese, ainda que a sua importância tenha variado em função dos recursos disponíveis. A actividade dos refeitórios económicos, por exemplo, cresceu continuamente entre 1937 e 1957, com desvios pontuais à regra, que não deixaram de suscitar protestos por parte dos utentes. Entre 1936 e 1944, o número total de refeições servidas no refeitório central de Lisboa praticamente triplicou, passando de 91.776 para 273.049, sendo o crescimento ainda mais significativo no Porto, onde cresceram de 25.105 para 125.545.387 Entre o final dos anos quarenta e o final da década de cinquenta a tendência acentuou-se, justificada pela criação de um maior número de refeitórios. Se em 1949 foram servidas 1.124.776 refeições económicas, em 1957 esse valor ascendeu a 1.623.123.388

Os dados relativos à colónia de férias “Um lugar ao sol”, localizada na Costa da Caparica, apontam no mesmo sentido. Partindo de uma base de 294

385 Fundação Nacional Para a Alegria no Trabalho, Relatório e contas..., 1958, 39.

386 Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho, Relatório da gerência de 1952 (s.l.: s.ed.,

1953), 37-38.

387 Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho, Dez anos de alegria no trabalho (Lisboa: Tip.

Ideal, 1945), 45.

utentes em 1938, cresceu rapidamente para os 1.220 utilizadores em 1942. Em 1945 frequentaram a colónia 3.245 indivíduos, tendo o valor praticamente duplicado até 1949, ano em que 6.348 pessoas passaram férias naquele local. A oferta de vagas estabilizou nos anos seguintes, havendo a colónia de férias acolhido 7.124 beneficiários em 1957.389 O aumento da procura daquelas instalações, “um complemento maravilhoso da nossa legislação sobre férias pagas”, esbarrava porém, nalgumas dificuldades, como era reconhecido desde meados dos anos cinquenta. Em 1954, por exemplo, registaram-se 8.365 inscrições, mas apenas foi possível admitir 6.202 pessoas.390 O problema mais significativo, e um impedimento ao aprofundamento do projecto da FNAT, encontrava-se relacionado com o perfil dos utentes daquele equipamento. A diária, de 20$00 em 1952, continuava a não ser “acessível à grande massa dos trabalhadores, e tanto assim, que o seu maior número de beneficiários é da classe média. Os de mais baixa condição que a frequentam são os que têm as suas despesas pagas no todo ou em parte pelas entidades patronais”. Recomendava-se, assim, que não só fossem multiplicadas as colónias, de modo a ampliar a oferta, dado que naquele ano apenas uma se encontrava em actividade, como se sugeria que fosse ampliado a outros sectores profissionais o princípio das férias pagas.391

Neste contexto, a FNAT dispensou “desde a sua primeira hora, uma atenção muito especial ao desenvolvimento físico dos trabalhadores portugueses através dos desportos e da ginástica”.392 Logo em 1936 eram clarificados os objectivos de uma programa de cultura física “tida para nós como imprescindível não só com o fim de melhorar a condição física dos trabalhadores portugueses, mas sobretudo para os disciplinar e poder ter sobre eles verdadeiro e efectivo controle”. A ginástica revelou-se um instrumento privilegiado para disseminar uma certa ideia de cultura física hegemónica no campo político, mas subordinada no campo desportivo. No balanço dos 10 anos de actividades da FNAT celebrava- se a divulgação da ginástica entre os trabalhadores portugueses, apesar das dificuldades, “muitas” e de “toda a ordem”, com que a expansão da prática se

389 Fundação Nacional Para a Alegria no Trabalho, Relatório e contas..., 1958, 49.

390 Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho, Relatório e Contas da Gerência de 1954 (s.l.:

s.ed., 1955), 22.

391 Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho, Relatório da Gerência.., 1953, 44.

392 Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho, I Relatório Anual do II Pelouro, 1947-1948

defrontou, desde a inexistência de locais apropriados para a sua prática à incompreensão quase geral dos trabalhadores em relação à sua utilidade.393

Entre 1941, ano em que se instituíram as primeiras classes de ginástica, e 1949 não se verificaram oscilações significativas no número de alunos. As 14 classes de 1941 integraram 322 sócios da FNAT. As 13 classes de 1949 foram compostas por 293 beneficiários. Em termos quantitativos este “triunfo” da política oficial correspondeu, ao longo da década de quarenta, a um máximo de 21 classes de ginástica a funcionar em simultâneo em diferentes CAT’s num mesmo ano, em 1945-46, tendo o máximo de alunos inscritos, 466, sido atingido logo no segundo ano de funcionamento das classes, 1942-1943.394 A organização de eventos espectaculares, como as exibições de ginástica realizadas em grandes recintos desportivos, como o Jamor, a Tapadinha, o estádio do Lumiar ou no Pavilhão do Parque Eduardo VII, para além do seu valor propagandístico, terá concorrido para um aumento no número de inscritos nas classes de ginástica. Em 1952 participaram nas aulas de ginástica 731 associados da FNAT.395 Cinco anos depois, em 1957, esse número subiu para 1.306, tornando-se a ginástica a segunda modalidade mais praticada na FNAT, logo a seguir ao futebol.396 Apesar de significativos, trata-se de números ainda muito aquém dos atingidos no mesmo período pelos clubes desportivos.

No âmbito de um projecto que procurava, ainda em meados da década de quarenta, “a fórmula que assegure uma estreita cooperação do núcleo central que é a FNAT e dos organismos periféricos do trabalho industrial, comercial e agrícola, dentro de um sistema com que fique garantido o auxílio solidário das empresas, através da participação das entidades corporativas ou pré-corporativas que as representam (...)»”,397 ensaiou-se também no terreno do desporto a fabricação de uma estrutura capaz de competir com a esfera associativa e a mercantil, cujo controlo escapava à FNAT.

O primeiro intuito da política desportiva da FNAT pode ser sintetizado através da fórmula “mais gente nos campos e menos nas bancadas”. Um objectivo que prosseguia a crítica do espectadorismo e procurava, de acordo com o

393 Valente, Para a História..., 66. 394 Valente, Para a História..., 266-267.

395 Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho, Relatório da Gerência..., 1953, 41. 396 Fundação Nacional Para a Alegria no Trabalho, Relatório e Contas..., 1958, 45. 397 Valente, Para a História..., 68.

princípio mens sana in corpore sano, alargar o acesso à prática desportiva. Em segundo lugar, esta prática desportiva, pensada no quadro do higienismo e devidamente reenquadrada por valores educativos e morais, “baseados na lealdade, na disciplina e no mais puro amadorismo”, que segundo os ideólogos da FNAT se iam impondo, havia de exercer “salutar influência, mesmo fora do seu campo de acção”. Era fundamental para Higino de Queirós, já no final da década de quarenta, “não transigir com usos e vícios que ameaçam transformar uma coisa bela e salutar como é o desporto, num espectáculo muitas vezes sem grandeza e por vezes até, condenável. É preciso convencer – sei que não é fácil – os que se propõem tomar parte nos mesmos campeonatos que a disputa das provas é uma competição e não uma luta, que a vitória que não é obtida dentro da estrita e leal aplicação das regras do jogo, pode conquistar uma taça, mas tem o travo amargo da pior das derrotas”.398

Tendo em consideração esta dupla finalidade, iniciaram-se, também em 1940, os campeonatos corporativos. Naquele ano apenas se realizou o torneio de futebol, no qual participaram 22 equipas e 438 trabalhadores, circunscritos à região de Lisboa. A polémica, porém, estalou imediatamente. Durante as duas épocas seguintes a prova não se realizou. A equipa do Grupo Desportivo dos Empregados da Federação Nacional dos Produtores de Trigo terminou o campeonato em 4º lugar e protestou o título conquistado pelo Grémio dos Armazenistas de Mercearia, anunciando o seu boicote à prova no ano seguinte. Na base da desistência encontrava-se a incapacidade da organização das provas em “evitar que em organismos corporativos alinhassem figuras de destaque no Futebol Português e contra tais adversários não nos era moralmente possível, alinhar empregados da Federação dos Trigos”. Apesar de a queixa ser desprovida de fundamento jurídico, já que, como se poderá verificar na terceira parte, o profissionalismo desportivo era estritamente proibido pela legislação portuguesa, nos dois anos seguintes o torneio não se disputou “por não estar concluído o estudo a que se procedeu sobre o critério a adoptar para os trabalhadores que disputavam na mesma época campeonatos oficiais em representação de clubes desportivos”. Depois de proibida a participação dos atletas que integrassem as competições oficiais no já redenominado campeonato corporativo, a prova voltou

a disputar-se na época de 1943-1944, integrando um total de 697 jogadores e 36 equipas.399

Haviam-se entretanto iniciado as provas de basquetebol, natação e pingue- pongue. Também nestas modalidades, o quadro desportivo parecia estar longe dos preceitos higiénicos e morais definidos na política oficial, como se pode verificar, por exemplo, pelo estudo de caso de Hugo Pereira sobre as políticas sociais, desportivas e culturais na Fábrica do Carvalhinho, no Porto. Para além da centralidade da competição no plano das práticas desportivas, e do concomitante incumprimento do plano ideológico da FNAT no plano desportivo, o autor realça, sobretudo, a importância do paternalismo empresarial no plano dos apoios sociais mais do que as actividades relacionadas com dispositivos de inculcação ideológica daquele centro local da FNAT.400 No ano em que se voltou a realizar o torneio de futebol, já com a participação de equipas do Porto e de Santarém, teve também lugar o primeiro campeonato de atletismo. Até 1948 iniciaram-se competições de modalidades como o tiro, o voleibol, o ciclismo ou a luta de tracção à corda, para além de torneios de chinquilho e do jogo da laranjinha, “com o objectivo de manter as tradições nacionais”.401 Na época de 1944/45, quatro anos após a primeira edição dos campeonatos nacionais da FNAT, participaram nos seus torneios desportivos um total de 2839 atletas, em representação de 234 equipas e distribuídos por seis modalidades. Mais de metade dos atletas, 1576, distribuídos por 86 equipas, jogaram no campeonato de futebol.402

A dimensão do universo federado oferece a estes números um termo de comparação. Na mesma época, 1944/45, a Federação Portuguesa de Futebol licenciou 9163 jogadores.403 Alguns anos depois, no início da década de cinquenta, a discrepância gradual entre o universo do desporto corporativo e o desporto competitivo tornou-se patente. Em 1952 participaram nos campeonatos da FNAT 3.747 atletas. O incremento no número de participantes resultou, sobretudo, do crescimento de outras modalidades, já que no caso do futebol se registou, em relação a 1945, um pequeno decréscimo no número de praticantes,

399 Valente, Para a História..., 73.

400 Hugo S. Pereira, «A acção social, desportiva e cultural da Fábrica do Carvalhinho», Boletim

Cultural da Associação dos Amigos de Gaia, n.º 69 (2009).

401 Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho, Dez anos..., 22. Para os dados sobre os torneios

de futebol vejam-se as páginas 29-30.

402 Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho, Dez anos..., 25.

403 Federação Portuguesa de Futebol, Relatório e contas da gerência de 1942/43 e da gerência das

que neste ano foi de 1.329, em representação de 77 grupos. O segundo campeonato mais participado, o de ténis de mesa, contou 488 atletas, seguido pelas provas de basquetebol, 479 praticantes, e voleibol, 457 jogadores.404 Nesse ano de 1952, marcado pela inauguração do Estádio das Antas, no Porto, a FPF licenciou 12.041 indivíduos para a prática do futebol em competições oficiais, um incremento de cerca de 25% em relação a 1945.405

Nos anos seguintes os campeonatos da FNAT cresceram de forma relevante, muito em função de outras modalidades, nas quais os processos de espectadorização e de profissionalização ainda não se haviam desenvolvido de forma significativa. Em 1957 participaram nos diferentes torneios daquela organização 6320 atletas, entre os quais 1758 nas provas de futebol.406 No caso da modalidade mais popular, a discrepância em relação ao universo federado continuou a ser significativa já que dos 13.138 atletas registados na FPF participaram em provas oficiais 11.379. No caso de outras modalidades o hiato, apesar de menos acentuado, apontava no mesmo sentido. A excepção era o ténis de mesa, a segunda modalidade da FNAT. As provas das federações atraíram pouco menos do dobro, 973, dos participantes nos campeonatos da FNAT, com 541 praticantes. Os 432 praticantes de voleibol encontravam correspondência em

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