• Nenhum resultado encontrado

1.4 A Organização das Nações Unidas

1.4.3 Conselho Econômico e Social

1.4.3.2 Fundo Monetário Internacional

Em 1944, na Cidade de Bretton Woods, em New Hampshire, Estados Unidos, 44 países se fizeram representar na Conferência Monetária e Financeira das Nações Unidas, a fim de criar regras para a economia internacional, permitindo o abandono da política excessivamente protecionista então praticada, que prejudicava o crescimento geral das Nações120. Essa reunião, além de estabelecer uma correlação de todas as moedas com o ouro – mais tarde substituída pela correlação das moedas com o dólar americano121 –, deu origem ao Fundo Monetário Internacional e ao Banco Mundial122.

O estatuto do Fundo Monetário Internacional foi adotado em 22 de julho de 1944, entrou em vigor em 27 de dezembro de 1945 – depois que 29 Estados, isto é, 80% de seus quotistas o assinaram123 – e tem sofrido modificações desde então124.

Logo no início do documento identificamos os seis propósitos que a instituição visa a atingir, verdadeiros guias para todas as políticas e decisões econômicas do Fundo: promover a cooperação monetária internacional; facilitar a expansão e o crescimento equilibrado do comércio internacional, contribuindo para a promoção e manutenção de níveis elevados de emprego e renda real; promover a estabilidade cambial; assistir na criação de um sistema multilateral de pagamentos, visando a eliminar restrições cambiais; dar confiança aos membros disponibilizando-lhes temporariamente os recursos gerais do Fundo, com condições de salvaguarda, a fim de que a prosperidade nacional e internacional não sejam prejudicadas; e diminuir o desequilíbrio da balança de pagamentos dos membros125.

120 BARRETO, Pedro Henrique. História - Bretton Woods. IPEA. Brasília. 2009. Ano 6. Edição 50 - 21/05/2010.

Disponível em:

<http://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=2247:catid=28&Itemid=23 >. Acesso em: 19 dez. 2014.

121 COMPARATO, Fábio Konder. A Civilização Capitalista: para compreender o mundo em que vivemos. São

Paulo: Saraiva, 2013, p. 236.

122 HUSEK, Carlos Roberto. Curso de direito internacional público. 11ª edição. São Paulo: LTr, 2012, p. 226.

123 International Monetary Fund. IMF Chronology. Disponível em:

<http://www.imf.org/external/np/exr/chron/chron.asp>. Acesso em: 21 dez. 2014.

124 International Monetary Fund. Articles of Agreement of the International Monetary Fund. Disponível em:

<http://www.imf.org/external/pubs/ft/aa/index.htm#art1>. Acesso em: 21 dez. 2014.

O Fundo, que tem caráter de verdadeira instituição financeira, admite os Estados em seus quadros através da aquisição de quotas e do compromisso de que todas as obrigações gerais de membro serão cumpridas. Atualmente, é composto de 188 países membros126 e o número de quotas distribuídas depende da posição que o país ocupa na economia mundial127.

A flutuação das moedas europeias e americana, em 1973, e a posição dos países membros do G10 – Alemanha, Bélgica, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão, Holanda, Reino Unido e Suécia –, de mínima intervenção no mercado, fizeram com que o maior dos objetivos que o FMI mantinha desde sua fundação, em Bretton Woods, desaparecesse: manter fixas as taxas de câmbio128. Realizados os devidos ajustes, a instituição passou a ter por missão a vigilância do sistema monetário internacional e dos próprios membros quanto ao cumprimento das obrigações ligadas à segurança do câmbio129, que se

traduz no diagnóstico de eventuais riscos para a estabilidade das moedas e em aconselhamentos sobre política econômica130.

Os países não pedem empréstimos ao Fundo Monetário Internacional para financiar projetos específicos, mas o fazem quando enfrentam ou preveem dificuldades na balança de pagamentos. O empréstimo concedido deve ser aplicado para reconstituir as reservas internacionais dos países, estabilizar o valor de sua moeda, dar continuidade aos seus pagamentos e restaurar suas condições de crescimento131. Os empréstimos costumam ser concedidos por meio de acordos, frutos de propostas realizadas pelos países membros da instituição, segundo uma carta de intenções que é analisada pelos dirigentes do Fundo132.

A instituição financeira de Bretton Woods tem um programa direcionado aos países pobres muito endividados. Denominado PPTE: “Pays Pauvres Très Endettés”133, o programa foi criado em 1996, em conjunto com o Banco Mundial, e se dedica ao alívio da dívida

126 Fonds Monétaire International. FICHE TECHNIQUE - Le FMI en un clin d’œil. Disponível em:

<http://www.imf.org/external/np/exr/facts/fre/glancef.htm>. Acesso em: 21 dez. 2014.

127 HENRY, Gérard Marie. Le FMI. Levallois-Perret: Groupe Studyrama, 2012, p. 96. 128 HENRY, G. M., 2012, p. 71. 129 Ibid., p. 72. 130 Ibid., p. 73. 131 Ibid., p. 117. 132 Ibid., p. 119/120. 133 Ibid., p. 151.

externa para os países pobres que não podem mais geri-la134. Para beneficiarem-se do programa, os países devem se engajar na redução da pobreza através de reformas e ter estabelecido bons antecedentes ao longo do tempo.

O Fundo divide em duas etapas as condições que o país beneficiário deve preencher para receber a ajuda. A primeira consiste em ser admissível pelo Bird (membro do Banco Mundial) para receber empréstimos, ter uma dívida tão insustentável que não possa ser manejada pelos procedimentos tradicionais, provar que fez as reformas em sua política econômica de acordo com as diretrizes do FMI e do Banco Mundial e ter elaborado um documento com a estratégia de redução da pobreza em seu território. Realizada essa etapa, o Conselho de Administração do FMI e o do Banco Mundial decidem oficialmente se admitirão o país no programa. Uma vez aceito, é realizado um esforço conjunto para que a dívida seja reduzida a um patamar considerado razoável. Portanto, o alívio da dívida não é um perdão geral, mas uma redução na carga do débito. A realização de todas essas condições culmina no que o Fundo chama de “ponto de decisão”135.

A segunda etapa, para que a redução da dívida seja irrevogável, é, na verdade, uma contínua demonstração de que o país está cumprindo o acordado. O fim desse percurso é denominado “ponto de acabamento”136.

Até janeiro de 2015, 35 países beneficiários do programa haviam cumprido completamente as duas etapas mencionadas, dois Estados ainda não haviam chegado ao ponto de acabamento, e outros quatro países eram candidatos a trilhar os caminhos do PPTE, estes, no entanto, ainda não haviam se adequado às determinações do Fundo. Um levantamento realizado em 2010 revela que mais de 76 bilhões de dólares americanos foram aplicados no PPTE137.

134 Fonds Monétaire International. Fiche Technique: Allégement de la dette au titre de l’iniciative en faveur des

pays pauvres très endettés. Disponível em: <http://www.imf.org/external/np/exr/facts/fre/hipcf.htm>. Acesso em: 29 jan. 2015.

135 Id. 136 Id.

137 Id.: Países que alcançaram o ponto de acabamento (35): Afeganistão, Bénim, Bolívia, Burkina Faso, Burundi,

Camarões, República Centroafricana, República do Congo, República Democrática do Congo, Comores, Costa do Marfim, Etiópia, Gambia, Ghana, Guiné, Guiné Bissau, Guiana, Haiti, Honduras, Libéria, Madagascar, Malawi, Mali, Mauritânia, Moçambique, Nicarágua, Níger, Uganda, Ruanda, São Tomé e Princípe, Senegal, Serra Leoa, Tanzânia, Togo e Zâmbia.

País em fase intermediária (entre os pontos de decisão e o de acabamento) (1): Tchad. Países que não alcançaram ponto de decisão (3): Eritrea, Somália e Sudão.

Em 1999, o FMI criou outro programa dedicado à superação da pobreza, o FRPC: “Facilité pour la Réduction de la Pauvreté et pour la Croissance”138. O programa ajudava os países de baixo rendimento a investir mais recursos em políticas públicas favoráveis aos mais pobres. O FRPC foi substituído pelo FEC: “La Facilité Élargie de Crédit”, que objetiva restabelecer a macroeconomia do país, a fim de alcançar um crescimento durável e a redução da pobreza. Esse programa também se destina a mobilizar ajuda internacional para o país beneficiário139.

Um fato curioso é que a presidência do FMI, desde o início de suas atividades, sempre foi ocupada por europeus140. O presidente norte-americano, Harry S. Truman, havia indicado o nome de Harry Dexter White para estar à frente da instituição, quando, após a aprovação do parlamento, através de investigações do FBI, soube-se que White era, na verdade, um espião soviético desde a década de 30. Diante da saia justa, Truman deixou que o FMI fosse presidido por um belga e indicou um norte-americano para a direção do Banco Mundial141. Com isso, verificamos que as instituições de Bretton Woods são dirigidas por representantes de países desenvolvidos.

O Fundo Monetário Internacional costuma ser alvo de críticas por impor políticas econômicas de austeridade aos países que lhe pedem socorro. O doutor em ciências econômicas e professor da “Reims Management School”, Gérard Marie Henry, que já trabalhou no Banco Mundial, defende o FMI, explicando que, quando os países procuram o Fundo, não estão em um momento de boa saúde financeira, e que a austeridade, isto é, o excesso de rigor e severidade com as contas públicas, nesses casos, vêm inevitavelmente, ainda que o país não siga nenhum programa do FMI. Referido autor diz ainda que “a medicina no campo de batalha nunca é perfeita”, por isso, em sua visão, o Fundo revê periodicamente os conselhos dados aos países em crise e procura levar em consideração as camadas sociais mais desfavorecidas, para que não sintam tão dolorosamente o grande impacto da turbulência econômica e financeira142. Na mesma linha argumenta Masood

138 Fonds Monétaire International. Fiche Technique: Facilité pour la réduction de la pauvreté et pour la

croissance (FRPC). Disponível em: <http://www.imf.org/external/np/exr/facts/fre/prgff.htm>. Acesso em: 29 jan. 2015.

139 Fonds Monétaire International. Fiche Technique: La facilité élargie de crédit du FMI (FEC). Disponível em:

<http://www.imf.org/external/np/exr/facts/fre/ecff.htm>. Acesso em: 29 jan. 2014.

140 HENRY, G. M., 2012, p. 36; 37. 141 Ibid., p. 38; 44.

142 HENRY, G. M., 2012, p. 165; 166: “Critiquer le FMI pour les difficultés que traversent les pays en crise

Ahmed, diretor do Fundo no departamento Oriente Médio e Ásia Central, fazendo a desastrosa comparação das críticas endereçadas ao FMI pelos ajustes que recomenda aos países socorridos com a imputação da culpa pelo incêndio ao bombeiro que tenta apagá-lo143.