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tecnologicamente mediada

G RUPOS / CÉLULAS

Os grupos são responsáveis por colocar em prática ações específicas com objectivos claramente delineados, mas com autonomia conceptual e metodológica para os cumprir. Os grupos têm carácter de oportunidade, e serão efémeros ou permanentes, mediante a natureza da ação. A forma de renovação ou extinção de cada célula deve ser prevista caso a caso. O grupo raiz, grupo de carácter permanente, responsável pela ges- tão e estratégia global e do projeto Noema respectiva articulação com os diversos atores. A raiz tem como função principal interagir com todas as células no contexto do pro- grama global. Tem a cargo a elaboração e implementação das regras de funcionamento do projeto Noema em dialogo com a célula consultiva (1C); célula consultiva. A célula consultiva é uma célula de carácter permanente, com uma orgânica a definir, que aconselha a estratégia da célula-base.

Integração e autonomia

Os mecanismos internos das células manifestam-se sob a forma do inter- relacionamento das células que se distinguem pela sua forma de expressão. Ao aceitar de- terminado projeto, a raiz do projeto Noema conceptualiza o programa traçando objecti-

“monitorização” permanente, através de reuniões periódicas onde o projeto é con- ceptualizado, analisado, e avaliado de uma forma iterativa, consoante a sua fase de desenvolvimento.

2.2. Síntese

Esta seleção de projetos representa uma síntese da minha experiência pessoal no DeCA. Globalmente essa experiência originou a necessidade de repensar a forma como nos podemos melhor organizar no sentido ensinar e investigar em Design no contexto do o DeCA.

Defendemos que o ensino e a investigação em Design tem, em Aveiro, condições, nomeadamente uma proxémia espacial ótima para se cumprir como metadisciplina trans- disciplinar. Contudo, verdadeiramente, esta abordagem ainda não foi tornada possível, ou dito de uma forma mais clara: não existe. A reflexão sobre porquê não existe, quando aparentemente estão reunidas todas as condições para existir, levou-me à necessidade de gerar ações nas quais, em última instância, podemos incluir a presente tese, que visa um abordagem teórico-prática no sentido de contrariar esta tendência, contribuindo para que, no futuro breve, esta condição se possa alterar. Nasceu assim a necessidade do de- senvolvimento de um quadro teórico que permitisse, por um lado, clarificar a relação do Design com os diferentes atores potenciais do projeto, criando simultaneamente uma abordagem conceptual comum e, por outro, desenvolver um pensamento e prática de abertura transdisciplinar do Design que reflita as mudanças conceptuais impostas pelo desenvolvimento das tecnologias que envolvem a questão da interação, representação e comunicação. Se esta proposta teórica se mostrar efetiva, em breve talvez possamos assis- tir a uma revolução na forma como o Design se encara e é encarado pelos parceiros e res- tantes partes interessadas. Esta é uma das principais missões do projeto Noema.

A visão transdisciplinar é deliberadamente aberta na medida em que ela ultrapassa o domínio das ciências exactas pelo seu diálogo e a sua reconciliação não somente com as ciências humanas mas também com a arte, a literatura, a poesia e a experiência interior.

OMANIFESTO DA TRANSDISCIPLINARIDADE,1996

Uma versão puramente ergonómica ou funcional da relação entre seres humanos e computadores daria má conta daquilo que nela está em jogo. Não são apenas o conforto e o desempenho cognitivo que se encontram em causa. O desejo e a subjectividade podem estar profundamente implicados nos produtos técnicos.

PIERRE LÉVY,As Tecnologias da Inteligência: O Futuro do Pensamento na Era Informática

Com a aceitação moderna da imanência o humano caracteriza-se, fundamentalmente, pela sua capacidade constituinte. (...) Numa certa versão da modernidade, que se pretende racional, os «deuses», os «minotauros» ou as «sereias», eram simples espelhismos da imaginação ou produtos poéticos que, quanto muito, têm uma justificação estética. Mas enquanto produto da capacidade

constituinte, mesmo sendo «imagens», não deixam de ter efeitos, e bem potentes. É sempre menos o real que muda do que as imagens em que é dado a ver.

Transdisciplinaridade

Começamos por identificar o conceito de Design que representa o ponto de inicial desta reflexão. Desde finais de 1999 tive o privilégio de participar na evolução da Licen- ciatura em Design da Universidade de Aveiro (UA), assim como na discussão da sua adaptação aos três ciclos dos estudos em Design que se adaptaram segundo as exigências do modelo do Tratado de Bolonha. Desde logo é necessário enfatizar que o conceito de Design defendido e praticado em Aveiro tem-se distinguido de outros entendimentos, enquanto método e praxis de abordagem, ao considerar na teoria e prática pedagógica tratar-se de uma atividade holística e não somente como um domínio técnico de produtos especializados. Dessa forma, em contraste com uma tendencial dispersão de especifica- ções e especializações do Design, assumiu-se na UA uma estratégia contrária, fundada numa ideia de Design que tentaremos de seguida sintetizar.

Francisco Providência, conjuntamente com Carlos Aguiar, João Branco e Vasco Branco um dos “pais fundadores” do curso de Design em Aveiro, sintetiza num dos pontos do seu manifesto Laconicdesign a seguinte definição da disciplina:

«Atende-se à definição de que Design é o desenho de artefactos de interface cultural. O design distingue-se assim de outros projectos como os da arte ou os da engenharia; trabalhando em parceria com outros técnicos, o design reserva para si a especificidade não especializada, de produzir a síntese entre os diferentes interlocutores, traduzindo-a em formas.» (Providência, 2001a)

Este entendimento de Design, do qual partimos para a nossa investigação, transforma o seu objeto de intervenção em virtualmente todos os artefactos, sistemas e dispositivos que se relacionam com as pessoas. Talvez por tal possibilidade de abran- gência de atuação desta ideia de Design, tal conceito esteja associado semanticamente associado à noção já em voga de «Design Global». Com efeito, esse termo colou-se como um rótulo a esta noção de Design, que se estruturou como modelo conceptual para a reforma da Licenciatura em Design de Aveiro, levada a cabo em 2003.

Esta reforma elaborada por Carlos Aguiar e Francisco Providência resultou na unificação das licenciaturas em Design de Comunicação e Design Industrial numa única

licenciatura em Design. Sobre a separação entre essas disciplinas, Providência argumenta, assumindo não existir distinção significativa entre o Design de Comunicação e o de objetos dado «que todo o design industrial é antes de mais de comunicação, condição sem a qual o produto não resistirá à indiferença do mercado.» (Providência, 2001a)

Acresce a este um outro argumento de ordem prática: o pressuposto de que um designer “generalista” (na prática, capaz de operar conceptual e pragmaticamente o 2D e o 3D) estaria melhor adaptado ao mercado da disciplina como ao tecido empresarial português, maioritariamente constituído por pequenas e médias empresas – que dificil- mente suportariam financeiramente a presença de mais do que um designer profissional especialista nos seus quadros. Assim sendo, um perfil generalista poderia permitir optimizar a implementação do Design no interior e estrutura do processo industrial e de gestão do design nas empresas, incluindo as micro e médias empresas. Neste quadro, o curso de Design da UA tornou-se pioneiro ao propor conceptual e disciplinarmente a disciplina do Design fora do domínio de uma especialidade específica, como tradicional- mente ocorrera, designadamente em Portugal.

3.1.1. O que significa ‘Design’?

De acordo com Krippendorff a etimologia da palavra Design remonta ao latim ‘de’+ ‘signare’ que significa «marcar, diferenciar e dar significado ao associar a um uso, a

um utilizador ou a um dono». (Krippendorff, 2006, p. xv) Design possui também a

mesma origem de «signo» (sign) e de «designar» (designate).

«A língua inglesa do século XVI enfatizou a propriedade propositiva do design e porque muitas vezes design envolve desenhar, ou “marcar para o exterior”, o século XVII aproximou o design da arte. Com base nesses significados originais, pode dizer-se: design é dar sentido às coisas.»vii (Krippendorff, 2006, p. xv)

Fátima Pombo e Francisco Providência sintetizam da seguinte forma a origem do conceito de Design, aproximando-o conceptualmente aos conceitos de desenho e de

desígnio:

«Atendendo à etimologia latina, desenho e desígnio são termos com uma origem comum. “Designatio” é a designação representada pelo desenho como plano, como forma ou como figura. A origem comum “Designiu” ganhou o significado de “desenho” (designatio) como representação gráfica, que pode ser projeto e o significado de “desígnio” (designium) que remete para um ato volitivo. Em português, ao contrário da tradição anglo-saxónica, em que “design” e “drawing” se reportam a manifestações

normalmente reservada aos objetos e práticas da disciplina, usualmente conferindo ao objecto ou à ação que caracteriza um estatuto de objecto estético, mas também utilitário e pragmático (caso contrário entraria na categoria da Arte). Por sua vez, no corrente uso anglo-saxónico do termo e apesar do ênfase implícito no significado ao próprio desenho de uma forma ou de um objecto, a afectação à dimensão estética pode estar implícita, mas não necessariamente. Assim, é utilizado por vezes de forma aparentemente indiscriminada, tanto pela Arquitetura como pela Engenharia; de uma forma ou de outra, ambas projetam as formas (design) de artefactos e espaços para as pessoas. Por sua vez, a palavra portuguesa desenhar, no sentido de dar forma a uma representação,

objecto ou pensamento, tem um âmbito semelhante a ‘design’ na língua inglesa. Curiosa

compensação: a palavra portuguesa desenho é mais abrangente que a homóloga «drawing», que se refere, sobretudo, ao desenho de representação, ao debuxo ou ao esboço. Assim, se em português podemos dizer «desenho de um circuito integrado», em inglês, diríamos «design of a chip».