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Investigar as propriedades plásticas e físicas de objetos que intensifiquem os processos de transferência cognitiva decorrentes da noção de affordance Este tópico pressupõe o

tecnologicamente mediada

D ESIGN G LOBAL : O DESIGN É TUDO

3. Investigar as propriedades plásticas e físicas de objetos que intensifiquem os processos de transferência cognitiva decorrentes da noção de affordance Este tópico pressupõe o

cruzamento da linguagem visual e da psicologia cognitiva com o tema dos TUIs.» (Vairinhos, 2008)

Esta síntese é particularmente relevante, já que estabelece pontes importantes linhas entre a HCI e a ideia de investigação em Design que se preconiza. No terceiro ponto acrescentaríamos o cruzamento da linguagem visual (design) e da fenomenologia com a questão das interfaces tangíveis.

Os NUI e a abolição da interface gráfica

Por último, o paradigma dos “interfaces naturais” (NUI11 – Natural User Inter-

faces) apresentam um nova tipologia de interfaces em que o interface não existe; o

computador torna-se invisível. Foi abolido. Neste contexto, passa a ser o corpo e o gesto, ou outras formas de comunicar com o sistema-mundo, o derradeiro interface com os conteúdos-da-ação, isto é com o mundo. E, vice-versa, o mundo-da-ação, torna-se o der- radeiro interface do sistema com o corpo. É a partir daqui que podemos falar em aboli- ção da interface e, possivelmente, num novo género de (i)mediação. Mas as coisas não são tão simples; tecnicamente tudo está preparado para acontecer, mas muita investi- gação teórica e prática sobre este tema na óptica do Design irá ser necessária.

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De acordo com a definição do NUIGroup http://nuigroup.com «Natural User Interface (NUI) is an emerging concept in Human/Computer Interaction that refers to a interface that is effectively invisible, or becomes invisible to its user with successive learned interactions. § The word natural is used because most computer interfaces use artificial control devices whose operation has to be learned. A NUI relies on a user being able to carry out relatively natural motions, movements or gestures that they quickly discover control the computer application or manipulate the digital content. (NUIGroup http://nuigroup.com)

como o que nos importa é, em primeiro lugar, a relação imediada entre a pessoa e o que, intrinsecamente, o que a traz à ação ou o que lhe dá sentido para agir perante os respetivos conteúdos-da-ação, torna-se evidente que todo o entre que se coloca em excesso afastando a pessoa dos conteúdos-da-ação, o ser do seu mundo, e retarda a ação eficiente será supérfluo.

A interface simbólica tem sido, para as experiências intermediadas, ou seja, interativas, não poucas vezes um “mal necessário”; um “mal” que define os modos, melhores ou piores, para a pessoa aceder ou acionar o mundo que observa, busca ou deseja. Na realidade, grande parte do esforço meritório do Design de Interação tem sido, como vimos, na redução do hiato cognitivo e motor da interface, esse mal necessário, atalhando-a, simplificando-a, através de estudo de convenções, no sentido de tornar o objecto numa artificialidade mais natural ou próxima do humano.

Entretanto, hoje em dia, perante a inexoravelmente complexa evolução da indústria digital, temos em mãos os instrumentos técnicos para realizar um sonho que alguns visionaram no início da era digital: o desaparecimento ou abolição das interfaces tradicionais. Nessa nova estrutura de possibilidades é necessário uma nova forma de conceber a interação, de conseguir conhecer a pessoa e projetar para esta, e esquecer o conceito tradicional de “utilizador”. O eu, perante um artefacto ou uma tecnologia parti- cular só se observa “utilizador” quando pensa, à posteriori, sobre uma dada ação e não na própria ação. Ou, então, quando se vê como cobaia num laboratório de Usabilidade. O eu, por exemplo, quando “utiliza” um carro, ou se abstrai da condução e pensa em algo diferente da condução, ou encara-se ou encarna-se na própria ação, isto é, encarna- se viajante ou, condutor, tornando, dessa forma, o carro como extensão do seu corpo- no-mundo; um mundo necessariamente dependente da tecnologia automóvel (que implica não apenas os carros, mas também as estradas, bem como as “formas” que as cidades tomaram por sua causa). O que parece ser claro é que, o ente que designamos utilizador, não se pensa “utilizador” por utilizar um carro, ou um sistema como um multibanco. E quando isso acontece não será bom sinal. Será porque não funciona, já que não somos capazes de nos abstrair da interface para a ação volitiva. Quando algo

não funciona e nos obriga a ler um manual de instruções que nos identifica: “utilizador”. Idealmente, o ser quando está na ação em si, tenderá a sentir-se sintonizado com o devir da ação, isto é, com o que verdadeiramente é na ação concreta ou se torna através da ação. Mesmo a finalidade da ação eficiente não é utilizar, mas acionar ou ir de encontro a algo através do uso, algo que não existe no mundo exterior mas apenas no mundo do ser. A finalidade da ação propriamente dita é obter esse algo que está para além da consciência do uso, mas que é intrínseco à imanência do ser, tanto à sua volição como à sua consciência anterior à ideia de uso.

4.5.1. Fluxo e (i)mediação; transparência ou abolição da interface e meio

Como observamos atrás, o conceito de fluxo de Csikszentmihalyi qualifica a experiência humana partindo da pessoa e reporta-nos, no contexto da experiência, a um complexo de propriedades que são subjetivas mas que poderemos, sem rodeios, clas- sificar como positivas para o eu. O fluxo representa uma experiência na qual os senti- mentos de prazer e desfrute no contexto experiência prevalecem sem prejuízo da eficiên- cia e eficácia. O desfrute de uma dada atividade pode existir mesmo quando a experiên- cia implicada seja composta por elementos que sejam associados à representação da dor ou tristeza (como na literatura ou no cinema).

O estado de fluxo implica o desfrute dos conteúdos-da-ação; desfrute aumentado

na e pela ação e simultaneamente uma ação aumentada no e pelo desfrutar de si própria,

o que significa simultaneamente uma ação aumentada no e prazer para o próprio ser que

dela decorre. Assim sendo, uma experiência autotélica de fluxo é, com efeito, um estado

virtuoso de auto-sinergia que se constitui para o ser-no-mundo. Isto, apesar do eu paradoxalmente se ausentar da ação-da-consciência e se sentir uma distorção da per- cepção do tempo, ou seja uma temporalidade própria, concreta da experiência. Acresce que, longe de se tratar de uma instância abstracta, o fluxo é, pelo contrário, um senti- mento real e bem concreto mas que apenas se pode conhecer “por dentro”, tratando-se, por tal, de um fenómeno essencialmente subjetivo.

A (i)mediação implica a ausência de latência perceptível na temporalidade da ação, que caso exista pode ser capaz de interromper o estado de fluxo. Da mesma forma, a (i)mediação implica o fluxo com os conteúdos-da-ação suportados pela técnica que, por sua vez, suporta a ação humana, assim como a anulação de qualquer distância e latência, física ou simbólica – qualquer percepção de mediação técnica, ou do mediador,

1. transparência – quando se refere a à abstração da interface a partir da perícia que