• Nenhum resultado encontrado

2 CONSERVAÇÃO, GEODIVERSIDADE, GEOCONSERVAÇÃO E PATRIMÔNIO

2.1 Geoparque

A Chapada do Araripe possui nove geossítios (Figura 5), que conferem uma diversidade de paisagens e, consequentemente, de fauna e de flora. Sua cultura local, conhecida também como um centro da cultura popular nordestina Cearense, manifesta cantos, crenças e tradições únicas da região do Vale do Cariri. Existe também um forte encanto pelo calor humano que cativa as pessoas com a reciprocidade do carinho e acolhimento que os cidadãos Carirenses proporcionam ao visitante da região.

FIGURA 5 - Chapada do Araripe e geosítios

Fonte : Extraído de Nascimento; Ruchkys e Mantesso-Neto, 2008, p. 46

Os interesses pela região do Araripe, conhecida como Vale Cariri, aguça a curiosidade dos visitantes de todo o Brasil, incluindo pesquisadores. Isso decorre por diversos aspectos, um deles é pela forte presença cultural tradicional típica do interior do nordeste e pela transformação social e econômica que a localidade oferece, além dos recursos naturais existentes na localidade.

A cidade mais populosa da região do Araripe é Juazeiro do Norte. Segundo o ultimo censo, a cidade possui população estimada em 274.207 habitantes para o ano de 2019 (IBGE, 2019). O Percentual das receitas oriundas de fontes externas chega a 75,6% (IBGE, 2015), podendo demonstrar a forte dependência da cidade com o turismo. Segundo Brule (2011), durante os meses de setembro a novembro a população de juazeiro pode chegar a duplicar devido ao forte turismo religioso ocasionado pelos romeiros de diversas partes do Brasil, principalmente do Estado de Alagoas, indo visitar a estátua do Padre Cícero e diversas igrejas da localidade.

Esse deslocamento pode construir um ambiente bastante abundoso e amistoso, propício para reflexões e questionamentos devido a interferência na vida das pessoas. De certa forma, as pessoas são comovidas pelas tradições, costumes locais, belezas naturais, religiosidades e pelas possibilidades de trabalho.

O Geoparque do Araripe (Figura 6) está localizado na porção sul do estado do Ceará e entre os municípios de Juazeiro do Norte, Barbalha, Crato, Missão Velha, Santana do Cariri e Nova Olinda, sua área é de 3.796 km² que corresponde uma boa parte da Bacia Sedimentar do Araripe (VILAS-BOAS et al., 2012). Na figura 6, verificamos pela linha vermelha a delimitação do Geoparque do Araripe, sendo situado sobre uma parcela da Bacia do Araripe.

Figura 6 - Mapa da localização do Geoparque do Araripe delimitado com

linhamento em vermelho. Indicando os geossítios como pontos de interesse: 1)Colina do Horto; 2)Cachoeira de Missão velha; 3)Floresta Petrificada do Cariri; 4)Batateira; 5)Pedra Cariri; 6)Parques dos Pterossauros; 7) Riacho do Meio; 8) Ponte de pedra; 9)Pontal de Santa Cruz

Fonte : <http://geoparkararipe.urca.br/wp-content/uploads/2019/11/LIVRO- GEOPARK-ARARIPE-compactado.pdf> Acessado em 02 de julho de 2020

Entendemos que a localidade do Geoparque do Araripe como parte integrante da Bacia do Araripe é relevância para a compreensão da história geológica do Nordeste Brasileiro, localizada entre os Estados do Piauí, Pernambuco, Ceará e Paraíba (CHAGAS, 2006; VOLTANI, 2011). Reconhecida internacionalmente por sua importância paleontológica e histórica, os primeiros estudos na região foram feitos no

século XIX, ainda durante o período imperial. Um extenso patrimônio paleontológico foi encontrado no local desde então, incluindo diversos grupos animais e vegetais. Essa grande diversificação deu-se pelas características ambientais favoráveis à manutenção da vida, bem como dos ciclos de deposição da Bacia, contribuindo para um registro fóssil excepcional e de forte valor científico (CARVALHO & SANTOS, 2005). A diversidade de formações geológicas foi um dos fatores que levou a UNESCO a reconhecer o Geoparque Araripe como primeiro e único integrante da Global Geopark Network - GGN), no Brasil, seja por seu valor histórico cultural e imaterial e ou pelos fatores da sua Geodiversidade que torna esse ambiente tão rico e exclusivo do mundo.

A Bacia do Araripe abriga um farto registro paleontológico, tanto de espécies de animais quanto de vegetais, tornando imprescindível a preservação da Bacia e do registro paleontológico da região. Como estratégia de preservação, foi desenvolvido pela Universidade Regional do Cariri (URCA) o Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, abrigando uma extensa variedade de fósseis. Dentre eles estão diversas espécies de animais e vegetais, incluindo gigantescos troncos petrificados, consolidando como importante forma de resguardo dos principais registros fossilíferos do período do Cretáceo.

Dada a relevância paleontológica do G.A, a preocupação em proteger o patrimônio fóssil da região surge na década de 1970 devido à intensificação do comércio ilegal de fósseis (CARVALHO & SANTOS, 2005). Por iniciativa da Universidade Regional de Cariri , surgiu a ideia de criação do Geoparque Araripe.

De acordo com o site oficial do Geoparque3:

O Museu de Paleontologia da URCA foi fundado em 1985 e em 1991 ele foi doado para a Universidade Regional do Cariri, como parte de suas atividades voltadas a extensão. Com o objetivo de impulsionar trabalhos nas áreas de pesquisas voltadas para a paleontologia e divulgação da ciência, o museu oferece cursos, treinamentos, encontros, palestras, além de possuir um acervo bibliográfico específico, videoteca e recursos áudio visual.

3

Após o inventário geológico e a articulação de parcerias para a realização de infraestrutura e de propostas de desenvolvimento sustentável junto à população, enviou-se o dossiê de candidatura à UNESCO em 2005, culminando no reconhecimento oficial do Geoparque em 2006 (OLIVEIRA, 2014).

Para Chagas (2006), o G.A também tem uma influência sobre a economia da localidade, pois esta caracteriza-se como uma barreira orográfica, que em conjunto com o reservatório de água formados pelos arenitos na porção superior influencia diretamente no clima da região. Por meio disso ocorre o abastecimento das fontes das bordas do G.A e principalmente aquelas voltadas para o vale do Cariri, tornando-o importante para o desenvolvimento populacional e agrícola do sul do Ceará.

Atualmente, o Geoparque conta com uma rede de parceiros que buscam aproximar a população das propostas de conservação do patrimônio geológico e paleontológico. Várias ações têm sido realizadas junto a crianças e jovens, desde atividades artísticas até projetos sobre recursos naturais realizados em parceria com as escolas e o Geoparque. Para Oliveira (2014) realizar essa articulação com a comunidade é um desafio constante, sendo que diversos projetos de articulação do território vêm sendo propostos. Nessa linha, nosso estudo apresenta uma proposta de aproximação do parque com a comunidade por meio de um diálogo entre passado e presente, utilizando o registro fóssil das angiospermas como forma de buscar a ligação afetiva da população com o conhecimento originado na região.

Entendemos que esses fatores valorizam a prática do Geoturismo ao passo que promove o desenvolvimento econômico da região, priorizando as atividades turísticas para os visitantes oriundos de outras regiões do país e do mundo, bem como, a promoção de atividades de labor para a população local. Nesse sentido, assumimos que deva ocorrer a valorização do Geoparque para a comunidade em seu entorno, não só como atração turística mas ressaltando a importância dos seus asp ectos culturais e educacionais.