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Gestão Roberto Góes (2009-2012): institucionalidade sem implementação

2003-2005 Articulação política

3. Porém, sem o aproveitamento adequado, por parte do poder público (do período e dos subsequentes) –

5.2.2 Gestão Roberto Góes (2009-2012): institucionalidade sem implementação

Neste tópico exporemos a entrevista com João Porfírio Freitas Cardoso (Porfírio)153,

diretor-presidente da Fumcult na gestão de Roberto Góes, uma vez que não tivemos acesso a este para entrevista. Mas, enfatizamos que o roteiro semiestruturado, pré-elaborado para essa entrevista corresponde ao modelo aplicado aos coordenadores e diretores do órgão gestor da cultura – e, não ao modelo elaborado para os prefeitos, embora ambos sejam constituídos de questões afins.

Porfírio quando assumiu a pasta de cultura, o órgão gestor da cultura ainda era uma Coordenadoria (Comcult) e, isso, após diversas trocas de gestores na pasta. Porfírio tem sua base artístico-cultural no segmento teatral. Foi presidente da Confederação Nacional de Teatro Amador/AP (CONFENATA); da Federação Amapaense de Teatro Amador FATA); foi vereador pelo município de Santana/AP e secretário de cultura deste mesmo município. É o atual (2016) presidente do Conselho Estadual de Cultura do Amapá (CONSEC/AP) no qual está pela segunda vez.

Ao perguntar a Porfírio se conhecia o SNC e o PNC, o mesmo respondeu que conhecia muito, pois “sou um dos signatários do Sistema Nacional de Cultura. Sou signatários do Plano Nacional de Cultura. [...] ajudei a confeccionar esse documento em nível de Brasil e assinei esse documento a nível de Brasil também” (CARDOSO, 2017, informação verbal).

Prosseguimos e o indagamos se já havia alguma regulamentação ou outros instrumentos do SNC implantados e, segundo o relato de CARDOSO, 2017), o Consec/AP, naquele momento, confeccionou um kit, fez plenárias, procedeu com as negociações com os prefeitos para que estes implantassem os elementos do SNC ou, pelo menos a secretaria ou fundação e o conselho de políticas culturais.

153 CARDOSO, J. Porfírio F. Entrevista/Institucional [mar. 2017]. Entrevistadora: Fátima Lucia Carrera Guedes. Macapá, 2017. 1 arquivo .mp3 (01:01’:48’’).

Quando eu cheguei lá, a minha surpresa era ainda estar na [como] coordenadoria conforme a documentação, meu passe na Fundação foi a questão documental. Lá tinha uma lei, tinha o nome Fundação, mas não tinha estatuto publicado, decretado, não tinha conta bancária. Aí eu tive que agir (CARDOSO, 2017, informação verbal).

Resultou que o município acatou a ideia e, conforme Cardoso (2017), ele enquanto responsável (coordenador) pela pasta criou o Fundo, o Conselho e a Fundação Municipal de Cultura:

O problema é que vinha a parte de regulamentação, então... [...] quando nós terminamos essa fase de regulamentação, veio o processo eleitoral, o... a de política, o pior ano que você pode politicamente. Então que aconteceu, nós estamos deixamos tudo pronto para que o outro prefeito, que é o Clécio, implantasse. Por quê? Que ele era a pessoa na Câmara de Vereadores que nos ajudava nas articulações como vereador. [...] Então, quando ele se elege em outubro, o que é que eu faço? Eu recuo com as eleições do Conselho Municipal de Cultura e recuo com eleição do Conselho Diretor da Fundação, e recuo com a eleição da Fundação Cultural. O orçamento ainda era gerido pela LDO, e pelo gabinete, no ano de implementação... foi em 2011 e 2012 (CARDOSO, 2017, informação verbal).

O entrevistado diz que o Fundo ao qual se refere já perfaz, em 2016, seis anos e com muitas reformulações e com “idas e vindas” da Câmara de Vereadores para reformulações, mas ainda não tinha entrado em vigor.

Na sequência indagamos das dificuldades sentidas para implementar a política cultural e Cardoso (2017) menciona a ausência de pessoal qualificado (técnicos, gestores e criadores) e falta de recursos e, comenta ser este um problema não só do Amapá, mas de todo o Brasil, diagnosticado e apontado em conferências e diagnósticos, inclusive pelas grandes empresas como Petrobras, Itaú Cultural e Estados como São Paulo, Rio de janeiro. Esse é um dado real corroborada por Souza et al. (2016, p. 81):

Atualmente, uma das maiores carências detectadas em pesquisas de políticas culturais brasileiras tem sido a ausência de políticas de formação de pessoal em cultura. [...] Não é por acaso que a necessidade de políticas para a formação de pessoal de cultura tem sido uma reivindicação persistente em todas as conferências de cultura realizadas recentemente no país, sejam elas de âmbito municipal, estadual e nacional.

Frente as dificuldades de formação, disse já perceber muita gente Brasil afora se qualificando e citou a necessidade de concursos públicos específicos para a área da cultura para suprir a necessidade de contar com profissionais como “um museólogo, um arqueólogo, que você possa basear um bom parecer, que tu possas ter pessoas formadas na

área de artes cênicas, plásticas, dança e várias áreas. Nós precisamos qualificar nossa mão de obra [...] o pessoal da Bahia hoje é referência nessa política” (CARDOSO, 2017, informação verbal), mas enfatizou que essas são ações de políticas de Estado e só serão conseguidas através do PNC.

Passamos às questões sobre as ações implementadas e solicitamos que nos dissesse quais delas considerou mais importantes, na sua gestão na Fundação, para a cultura do município, e porquê. Então relatou as seguintes ações: “1. Documentar legalmente a

Fumcult; 2. Garantir o recurso para a Praça CEU154 em Macapá; e 3. “Aproximamos o poder

público dos movimentos culturais.” (CARDOSO, 2017, informação verbal), mas não justificou nem uma das três.

Entretanto, ajuizemos aqui tais ações, com brevidade, pois a coleta de dados nos permite e informa sobre. A primeira ação foi um fato. Sobre a segunda vimos na coleta de dados que a obra do CEU – executada com recursos garantidos pelo Governo Federal em pactuação com diversos municípios brasileiros pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) –, em Macapá sofreu bloqueio de repasses dos recursos nessa gestão de RG por questões de inadimplência do Município, sendo retomada somente na gestão de Clécio Vieira. Portanto, consideramos que pode ter havido intenção na garantia dos recursos, mas, não houve o cumprimento da ação mencionada por Cardoso (2017).

No que tange à terceira ação “Aproximar o poder público dos movimentos culturais”, temos dados do grupo Sociedade Civil Organizada, em diversos segmentos, que contrariam a veracidade dessa afirmativa de Cardoso (2017) onde demonstram que, quando muito fazia, RG valorizava somente o esporte:

existia uma inércia por conta do governo Alberto (sic) Góes que não alcançava a importância da criação do Sistema no Município; [...] então isso ficava muito vago. Mas, tinham pessoas por trás que ainda conduziam esse ‘pacote’, a gente tem que tirar o chapéu para o Popó (Porfírio) um dos guerreiros na implantação desse Sistema Nacional de Cultura... ele que semeou, ele que cobrou do prefeito alguma coisa nesse sentido. (Entrevistado 12, 2017, informação verbal).

Não fez nada a gestão de Roberto Góes. Inexiste...foi uma página em branco (Entrevistado 13, 2017, informação verbal).

na época do Góes não lembro dele ter dado alguma atenção para a cultura. (Entrevistado 14, 2017, informação verbal).

154 “Os CEUs – Centros de Artes e Esportes Unificados – integram num mesmo espaço programas e ações culturais, práticas esportivas e de lazer, formação e qualificação para o mercado de trabalho, serviços socioassistenciais, políticas de prevenção à violência e de inclusão digital, para promover a cidadania em territórios de alta vulnerabilidade social das cidades brasileiras. Por meio da parceria entre União e municípios, estão sendo construídos 357 CEUs, com unidades já inauguradas nas cinco regiões do país.” (Praças CEUs. - Disponível em: <http://ceus.cultura.gov.br/o-programa/>.

Além destes informantes, muitos outros alegaram respostas semelhantes, daí conclui - se que a terceira ação também não se efetivou nessa gestão.

Para termos uma ideia, em perspectiva geral, das intenções dessa gestão em termos de participação social, podemos consultar os PPAs das gestões. Estes, como sabemos, são planos enviados pela gestões à Câmara Municipal em cada quadriênio e, em 2009, o encaminhamento da PMM para o quadriênio 2010-2013, informava que o referido Plano considerava propostas e sugestões advindas de um processo de participação popular a partir de audiências públicas e fóruns distritais, alegando que a sociedade civil possuía abertura e subsídios à auxiliar “os órgãos da prefeitura nos processos de identificação de demandas e seleção de políticas públicas.” (GALINDO; ABU-EL-HAJ, 2017, p. 112), incluindo no Plano, inclusive, detalhamento metodológico e de implementação.

Essa intenção de promoção da participação social foi ainda, conforme Galindo e Abu- El-Haj (2017), identificada no eixo estratégico do PPA Gestão Democrática, Inclusão Social e Cidadania e expressa em três (03) dos seus 50 programas: Programa Mobilização Social; Programa Comunidade Forte e Programa Espaço da Cidadania. Contudo, não houve a criação de instrumentos participativos de gestão e de controle social no referido PPA que estruturassem sua implementação; daí que a intenção não foi além de uma abordagem “eminentemente consultiva” (GALINDO; ABU-EL-HAJ, 2017).

Numa análise do discurso de Cardoso (2017), em vários trechos da entrevista, percebemos determinada vontade dele, enquanto partícipe atuante na cultura, em evoluir na implantação dos instrumentos do SNC, é um conhecedor do mesmo, mas não sendo ele o responsável pelo orçamento da Fumcult a dificuldade permanecia, como ele mesmo diz: “Eu tinha uma Fundação criada, mas quem liberava o orçamento era o prefeito, ele é o ordenador. [...] O presidente da Fundação de cultural só passa a ser ordenador de despesa de

2013 pra frente”. (CARDOSO, 2017, informação verbal).

Em seguida perguntamos se o entrevistado poderia traçar um panorama da política cultural no município nos últimos dez anos (2006-2016) e ele iniciou falando do que concebia como a origem da relação de proximidade do poder público com o movimento cultural, e que essa relação é antiga, relatando o episódio no qual o prefeito Papaléo (1993 - 1996) deixa a residência oficial do prefeito e entrega o prédio para ser a Casa de Cultura onde funcionaria o Conselho Municipal de Cultura (nos moldes passados), e que o equívoco do gestor referido foi não ter criado marcos regulatórios.

Em seguida menciona João Henrique como o melhor prefeito de Macapá, pois em toda iniciativa cultural ele estava presente, participando e incentivando com recursos financeiros e articulações políticas, sem distinção; e, o problema deste também foi a não criação de marcos regulatórios e ferramentas que normatizassem a política cultural do Município. Se referindo a JH disse:

ele não fazia assistencialismo. Na realidade o João Henrique ele fazia mesmo com compromisso, porque o assistencialista ele escolhe a quem fazer, o João Henrique não escolhia a quem fazer, ele fazia por compromisso, só que ele não tinha um Plano de Cultura, ele não tinha um Fundo de Cultura, ele tinha um Conselho que orientava ele pra como e o que fazer[...] De repente de ele tivesse ouvido mais o Conselho de Cultura, com certeza teria feito mais ainda. (CARDOSO, 2017, informação verbal).

Quanto à gestão a qual participou o entrevistado falou: “o Roberto foi convencido através do Conselho de Cultura Estadual a criar os aparelhos culturais, a criar o s elementos do Sistema. Aí onde foi criado o Fundo Cultural Municipal, a Fundação Cultural” (CARDOSO, 2017, informação verbal).

E, ao se referir a Clécio Vieira diz que este precisa é que “o conselho gestor dele esteja nomeado” (CARDOSO, 2017, informação verbal) pois o presidente da Fundação Cultural é para gerir o recurso, mas quem tem poder de decidir é o conselho - que tem papel de controle social – e, questiona porque CV ainda não nomeou o dele. Continuando, sugeriu que CV tenha que: proceder com a eleição e nomeação do Conselho Municipal de Cultura para definir as políticas públicas no município de Macapá; efetuar eleição e nomeação do Conselho Diretor da Fundação Municipal de Cultural; incluir na LDO (de 2018) o orçamento do 0,5% (meio por cento) conforme a Lei do Fundo Municipal de Cultura; reformular o Fundo Municipal de Cultura; criar uma comissão constituída de Conselho Municipal de Cultura, Fumcult e Câmara de Vereadores para elaborar, discutir e aprovar o Plano Municipal de Cultura na próxima Conferência Municipal de Cultura.

Pontuar algumas questões sobre esse cenário relatado por CARDOSO (2017) se faz necessário. Primeiro, de 1993 a 1996 o prefeito Papaléo Paes criou a Casas de Cultura que abrigou, em espaço físico, a UNA (primeira sede), a Liga das Escolas de Samba (LIESA), o Movimento de Meninos e Meninas de Rua e outras entidades, mas em seguida foi eleito Anibal Barcelos para prefeito, de 1997 a 2000, e este destituiu a UNA daquele espaço – e, tem-se informações extras oficiais que acabou com a Casa de Cultura.

De qualquer modo o que temos a enfatizar – sem aprofundamento teórico-conceitual sobre o caso - é que, discordando da ideia de “aproximação de Papaléo com o movimento

cultural” como relata (CARDOSO, 2017). Advogamos que o fato de dar abrigo físico a uma entidade num imóvel não configura exatamente uma relação de aproximação do poder público com determinado campo, muito menos uma política pública e, não rara as vezes, atitudes dessa natureza estão mais para ‘acomodações políticas’ que aproximação (entendida enquanto relação de compromisso em pensar e planejar algo para determinado grupo de pessoas). Segundo, em relação a JH, já tecemos nossos comentários anteriormente.

Terceiro, não tivemos o relato pessoal de RG, porém, considerando diversos fatores: a indisposição de conceder-nos entrevista, apesar da insistência por quase três meses; as próprias palavras de CARDOSO (2017), “o Roberto foi convencido através do Conselho de Cultura Estadual a criar os aparelhos culturais...” (CARDOSO, 2017, informação verbal, grifo nosso) já denotam a realidade, ou seja, não tinha planos para a cultura – e, à luz dos olhos da Sociedade Civil Organizada a qual entrevistamos, inferimos que o que prevaleceu foi a ausência quase que total dessa gestão para com o campo cultural, não fosse a implantação da Fumcult – embora tenha havido o esforço individual, quiçá pessoal, de um agente público da cultura, o diretor-presidente da Fumcult, Cardoso (2017).

Portanto, consideramos um vácuo no processo de construção e dinamismo da organização cultural e, como tal reverbera ainda hoje, constituindo um atraso no desenvolvimento da cultura e da sociedade local.

Quarto, se tratando da gestão de CV, preferimos deixar para comentá-la a seguir a partir de suas próprias ações de implementação.

Para essa gestão é o que temos de avaliação.

5.2.3 Gestão Clécio Vieira (2013-2016): institucionalização e início da implementação do