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3.1 Aproximações contextuais e tentativa de conceituação do fenômeno da

3.1.1 Globalização

Entre os aludidos fenômenos, certamente a globalização toma um prisma de destaque. É como se fosse “a mãe” das demais. Em outras palavras, não erraria quem também a classificasse como genitora das outras duas (privatização e terceirização).

Nas últimas décadas do século XX, mormente a partir dos anos oitenta, o mundo assistiu a sensíveis modificações no modo de vida das pessoas. Tais mudanças, sejam geográficas, econômicas ou políticas, trouxeram o fim da bi-polarização mundial entre Estados Unidos da América e União Soviética, a criação de blocos econômicos regionais, a

massificação dos meios de comunicação, o enfraquecimento da noção de soberania estatal282, a fortaleza cada vez maior dos países ricos e a miserabilidade crescente dos países pobres.

A propósito, Beck assevera:

Lo nuevo de la era global es que se há perdido el nexo entre pobreza y riqueza, y esto es, según Bauman, a causa de la globalización que divide a la población mundial en ricos globalizados, que dominan el espacio y no tienen tiempo, y pobres localizados, que están pegados al espacio y tienen que matar su tienpo, con el que no tienen nada que hacer.283-284

Nesse cenário, é correto afirmar que o tipo clássico fundado na soberania do Estado perde espaço para uma noção de aldeia global, sem fronteiras nem limites. É assente que tais transformações são produtos de uma planificação neoliberal,285 que preconiza a livre circulação de capitais. Se, de um lado, traz ínsito o avanço tecnológico e científico286, de outro, a globalização exacerba as diferenças econômicas e sociais.287

282 A respeito, Vieira registra: “Uma das conseqüências fundamentais da globalização é a convivência

problemática entre a lógica do poder territorializado e a do poder crescentemente desterritorializado do capitalismo globalizado. Diante das novas condições de internacionalização da produção, do comércio e das finanças, tornam-se evidentes as restrições que seu funcionamento e suas forças dominantes impõem à soberania e às margens de autonomia dos Estados nacionais bem como a seu papel de agente do desenvolvimento econômico e garantidor da coesão e integração social e nacional”. VIEIRA, op. cit., 2001, p. 93.

283 Tradução livre do texto citado: “O novo da era global é que se perdeu o nexo entre a pobreza e a riqueza, e

isto é, segundo Bauman, a causa da globalização que divide a população mundial em ricos globalizados, que dominam o espaço e tem tempo, e pobres localizados, que estão presos ao espaço e tem que matar o tempo, com o qual não tem nada para fazer”.

284 BECK, Ulrich. ¿Qué es la globalización? falacias del globalismo, respuestas a la globalización. Buenos

Aires: Paidós, 2004, p. 90-91.

285 No ponto, Barbagelata destaca: “los adeptos al neoliberalismo continúan siendo, en sustancia, partidarios del

laissez faire y del achicamiento del Estado tanto en su dimensión como en sus fines. Obviamente, condenan

todas las acciones que puedan distorsionar el funcionamiento de un mercado libre, reclaman la desregulación de la economia, así como la restitución al sector privado de las empresas estatizadas y son hostiles tanto a las interferências de la legislación como las acciones colectivas”. Tradução livre: “os adeptos do neoliberalismo continuam sendo, em substância, partidários do laissez-faire e da ridicularização do Estado em sua dimensão como em seus fins. Obviamente, condenam todas as ações que possam distorcer o funcionamento de um mercado livre, reclamam a desregulação da economia, assim como a restituição ao setor privado das empresa estatizadas e são hostis tanto às interferências da legislação como às ações coletivas”. BARBAGELATA, op.

cit., p. 108.

286 Friedman destaca pontos positivos na globalização, aduzindo que quanto mais uma cultura local se globaliza,

introduzindo idéias e práticas globais em suas tradições, mais ela tem capacidade de competir e se destacar no mundo. A par disso, sustenta que a globalização permite a globalização do local, ou seja, através dos meios de comunicação, é possível levar idéias e práticas regionais para o conhecimento do mundo todo, com ganho geral para todos. De outra sorte, o autor em tela põe em relevo as facilidades da comunicação e de trânsito no mundo, trazidas pela globalização, que não conhece fronteiras, tornando o “mundo plano”. FRIEDMAN, Thomas L. O 1mundo é plano: uma breve história do século XX. Tradução de Cristiana Serra, Sergio Duarte e Bruno Casotti. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007, p.366-380.

287 Nessa esteira, são as tocantes palavras de Bauman: “O desejo dos famintos de ir para onde a comida é

abundante é o que naturalmente se esperaria de seres humanos racionais; deixar que ajam de acordo com esse desejo é também o que parece correto e moral à consciência. É por sua inegável racionalidade e correção ética que o mundo racional e eticamente consciente se sente tão desanimado ante a perspectiva da migração em massa dos pobres e famintos; é tão difícil negar aos pobres e famintos, sem se sentir, culpado, o direito de

No dizer de Vieira,

[...] as novas forças que operam na atual ordem mundial, dominada pela economia capitalista de cunho neo-liberal, reduzem os espaços do Estado-Nação, obrigando à reformulação de seus projetos nacionais. As nações buscam proteger-se formando blocos geopolíticos e celebrando acordos sob o controle de organizações internacionais, como FMI, OMC (ex-GATT), BIRD, ONU etc. Ao mesmo tempo, surgem novos centros de poder que agem em todos os níveis, do local ao global, estabelecendo normas e leis nacionais que podem contrariar os interesses públicos da sociedade civil.288

É preciso considerar que a globalização, antes de um fenômeno, constitui-se um processo que apresenta, segundo o autor acima citado, entre outras menos importantes, as seguintes nuanças: (a) econômica, (b) política, (c) social, (d) ambiental e (e) cultural.

Do ponto de vista econômico, a formação de blocos regionais fez surgir também empresas transnacionais (também chamadas multinacionais), que dominam a produção, o comércio e as finanças internacionais. As diretrizes econômicas são ditadas, assim, pelo mercado financeiro que, volátil, submete as nações às incertezas de seus humores.

As empresas não têm mais nacionalidade. Esta foi derrubada e as empresas transpuseram os limites territoriais dos Estados. À internacionalização seguiu-se a mundialização ou globalização. Os Estados passam a depender diretamente da conjuntura mundial ou daquela de seus grandes parceiros. É óbvio que há uns poucos independentes e a grande massa dos países dependentes, que recebem dos primeiros a receita de seu comportamento. E este deverá pautar-se pela conduta e pelas exigências dos primeiros.289

Com o advento da circulação eletrônica de valores, num âmbito cambial sem a devida regulamentação, é cada vez maior a evasão de divisas e a “lavagem” de dinheiro obtido por meios ilícitos, o que fomenta um crescente tráfico internacional de substâncias entorpecentes e de armas.

Já pelo lado político, os mecanismos sociais aplicados até então para o Estado-Nação não servem mais para entender aos fenômenos e às conjecturas transnacionais. Aprofunda-se,

ir onde há abundância de comida; e é virtualmente impossível propor argumentos racionais convincentes provando que a migração seria para eles uma decisão irracional. O desafio é realmente espantoso: negar aos outros o mesmíssimo direito à liberdade de movimento que se elogia como a máxima realização do mundo globalizante e a garantia de sua crescente prosperidade [...] As imagens de desumanidade que dominam as terras onde vivem possíveis migrantes vêm, portanto, a calhar. Elas reforçam a determinação que não dispõe de argumentos éticos e racionais a apóia-la. Ajudam os habitantes locais a permanecerem locais, ao mesmo tempo que permite aos globais viajar com a consciência limpa”. BAUMAN, Zygmunt. Globalização: as conseqüências humanas. Tradução de Marcus Penchel. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999, p. 84.

288 VIEIRA, Liszt. Cidadania e globalização. Rio de Janeiro: Record, 1998, p. 72.

289 FONSECA, João Bosco Leopoldino da. Globalização e direito do trabalho. Revista do Tribunal Superior do

nesse sentido, a dificuldade dos Estados de programar políticas independentes de desenvolvimento, focadas nas realidades locais.

A respeito disso, colhe-se a lição de Pilati:

A sociedade estatal, costurada com fronteiras – mas de centro e periferia; baseada numa democracia representativa formal – mas de abissais diferenças sociais; voltada à acumulação a qualquer custo – mas às custas do planeta e da sobrevivência da espécie – essa sociedade diabética, que tudo adoça com dinheiro e minimiza com insulinas estatais paliativas – está chegando ao seu próprio limite de esgotamento. É um modelo que está sendo atropelado por aquilo que se conhece por globalização: uma nova lex mercatoria, que não conhece limites jurídicos, desconhece fronteiras, promete liberdade e desenvolvimento, mas acelera o processo de concentração de renda, com empobrecimento e desigualdade.290

Na mesma linha, Vieira sustenta:

Dado que a prática e a ideologia da globalização conseguiram, em grande medida, restaurar a separação da economia do domínio político, os governos defrontam com uma capacidade de regulação e de controle bastante diminuída, restringindo-se ao papel reduzido de administradores do ajuste da economia no plano nacional, com o objetivo de ganhar competitividade no mercado global e assegurar o clima de confiabilidade capaz de atrair investidores.291

O aspecto social, à sua vez, também recebeu mudanças; e para pior. A inovação financeira acabou por perpetuar uma síndrome de exclusão social violenta. A mídia de massa, operadora da manutenção do estado reinante, transmite à população a teoria da inexorabilidade do discurso globalizante, incutindo a crença de que a mesma é necessária e irreversível. É o discurso da manipulação social. Além disso, a ausência do Estado – enfraquecido – na promoção de políticas públicas essenciais, faz com que as pessoas de classes sociais baixas vivam marginalizadas em subúrbios que não têm um mínimo de habitabilidade.292

Vem vertida precisamente nesse sentido a lição de Freitas Jr.:

290 PILATI, José Isaac. Por uma nova agora perante o desafio da globalização. Revista jurídica, n. 19, jan./jun.,

Blumenau: Edifurb, 2006, p. 10-11.

291 VIEIRA, op. cit., 2001, p. 94.

292 A respeito, Stiglitz assevera: “A globalização hoje não está dando certo para muito dos pobres do mundo. Não

está dando certo para grande parte do meio ambiente. Não está dando certo para a estabilidade da economia global. A transição do comunismo para uma economia de mercado foi tão mal administrada que, por exceção da China, do Vietnã e de alguns países da Europa Oriental, a pobreza aumentou enquanto a renda diminuiu”. STIGLITZ, op. cit., p. 263.

Por conseqüência da globalização, bem como das mudanças dela decorrentes no plano da divisão internacional do trabalho, da superação da indústria fordista- taylorista, bem como da transnacionalização do capital, está hoje em questão a própria capacidade do Estado-Nação de estabelecer políticas sociais e trabalhistas sem atentar para o que se verifica na arena da competitividade econômica em escala planetária. Em conseqüência, discute-se sob que condições é possível vaticinar a sobrevida dos direitos sociais em sua acepção protecionista e promocional.293 Fica claro, assim, um grande paradoxo, posto que a integração regional – vista, alhures, como um reflexo econômico da globalização – pressupõe a cessão de certa parcela da soberania. Quanto maior for o grau de desenvolvimento dessa integração, menor será o de soberania e, nessa esteira, tanto menores passam a ser as possibilidades de se formular e de se implantar políticas públicas e sociais internas.

No prisma ambiental, mais uma vez a voracidade financeira (capitalista) dá margem à destruição impensada dos recursos naturais, principalmente daqueles não-renováveis. A presença cada vez maior de desequilíbrios ecológicos, as modificações climáticas importantes, como o aquecimento global, por exemplo, e a destruição, em larga escala da camada de ozônio, atestam o panorama de degradação implantado para dar vazão à proeminência de lucros e de desenvolvimento mais expressivos.

Sobre essa temática, Pilati assevera:

O paradigma que professamos – sob a civilização – é, realmente, de extrema arrogância e brutalidade com a natureza e quaisquer outros modelos que não seja esse, de apropriação, de lucro e de acumulação. Sua base é um antropocentrismo intolerante que desqualifica a priori todos os demais seres – reputados simples meios ou coisas – objetos inferiores, à disposição do rei da criação. O paradoxo desse fundamentalismo econômico, é que a desqualificação é do próprio homem, que se avilta na pobreza, em mazelas sociais e risco de extinção como espécie, pelo esgotamento acelerado do planeta.294

Reis e Trindade, por seu turno, ao analisarem a degradação ambiental e humana, decorrentes das atividades de extração de carvão para empresas siderúrgicas, afirmam:

Some-se a ilegalidade trabalhista a ambiental, haja vista que as carvoarias extraem a matéria-prima de florestas nativas, normalmente sem autorização legal, pois o Código Florestal limita a quantidade de florestas que podem ser derrubadas (artigo 15 e seguintes da Lei n. 4.771/65), e se as siderúrgicas fossem seguir esses limites não conseguiriam atender à demanda pelo ferro-gusa.295

293 FREITAS JR., Antônio Rodrigues de. Direitos sociais e direitos humanos numa economia globalizada.

Revista de Direito do Trabalho. São Paulo, n. 104, p. 34-50, out./dez. 2001, p. 39.

294 PILATI, op. cit., p. 11.

295 REIS, José Pedro dos; TRINDADE, Raquel Pinto. Degradação ambiental e humana: o trabalho escravo nas

carvoarias. In: VELLOSO, Gabriel; FAVA, Marcos Neves (Coord.). Trabalho escravo contemporâneo: o desafio de superar a negação. São Paulo: LTr, 2006, p. 98-99.

No âmbito cultural, verifica-se uma padronização do mundo ao molde americano de vida, com reflexos importantes na cultura local.

Nessa linha, Coelho arremata:

Em suma, a globalização pode ser definida como um poderoso processo de estandardização da cultura a nível mundial. Só que isso ocorre segundo os padrões e critérios de quem detêm a maior parcela de poder na sociedade pelo domínio da informação, da ciência e da tecnologia; e um tal poder hoje transcende a nação e o Estado, projetando-se como poder mundial, não somente militar e econômico, mas científico, cultural e ideológico. Ou seja, o poder está como nunca jamais se vislumbrou nas mãos de quem domina o saber, que hoje se identifica com o crescente domínio da tecnologia e da informação. E o resultado desse processo, o fruto mais evidente e provavelmente mais nefasto da globalização é, como igualmente jamais se anteviu, a unidimensionalização do ser humano, traduzida na conformização com padrões heterônomos que tratam de amoldar não somente seu comportamento exterior, como também sua alma interior, sua cultura e seu sentimento.296

Na esteira dos reflexos acima apontados, também o Direito do Trabalho recebe as influências do discurso neoliberal e globalizante. Arnaud, no ponto, adverte: “[...] a globalização ameaça recolocar em questão, de uma forma bastante radical, a regulação jurídica do tipo clássico”.297 E essa revisão que a globalização impõe como imperativo categórico atende, exatamente, pelo nome de flexibilização.

Nesse viés – o dos reflexos da globalização neoliberal sobre os direitos sociais –, o ideário neoliberal difunde um “discurso de crise” do Direito do Trabalho, que culmina com a conclusão de que o intervencionismo estatal de proteção do trabalhador atrapalha a nova onda econômica, suprimindo o investimento e, por isso, causando a derrocada do emprego.298

Entretanto, urge considerar que a alegada crise do intervencionismo social, arraigada pelo discurso neoliberal globalizante, decorre muito mais da ausência de controle, pelo Estado, da circulação de bens e valores, do que propriamente do entrave que as normas de proteção ao emprego e ao trabalhador causariam.

Aliás, essa retórica de crise, a par de pretender minar as forças do intervencionismo social, inverte a sua lógica, manipulando as instituições do Estado no sentido de perpetuar uma situação social que permita o avanço das políticas neoliberais de crescimento do capital.

296 COELHO, Luiz Fernando. Saudade do futuro. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2001, p. 20.

297 ARNAUD, André-Jean. O Direito entre modernidade e globalização: lições de filosofia do direito e do

estado. Tradução de Patrice Charles Wuillaume. Rio de Janeiro: Renovar, 1999, p. 18.

298 Em se pretendendo aprofundar o tema que envolve o “direito do trabalho de crise”, consulte-se Genro.

GENRO, Tarso. Calor e humanismo para o direito do trabalho. Revista do Tribunal Superior do Trabalho. Brasília, vol. 65, n. 1, p. 254-259, out./dez. 1999, p. 254-259.

Nesse sentido, Silva299, citando Héctor Figueroa, assevera: “O modelo neoliberal se serve da intervenção estatal para obter resultados econômicos que não são possíveis de alcançar mediante o mercado livre”. Por tais razões é que se explica, por exemplo, em determinando momento da economia, a manutenção dos baixos índices inflacionários às custas da prática de taxas de juros exorbitantes, mediante um modelo macroeconômico que favorece exatamente quem não precisaria ser favorecido, deixando os ricos mais ricos e os pobres cada vez mais miseráveis.

Com esse cenário amplo de reflexos – e explicadas, justamente, por tais repercussões neoliberais – é que surgem alterações legislativas que, a pretexto de aumentarem a oferta de emprego e, por conseqüência, a melhor distribuição de renda e de bens, usurpam direitos e garantias laborais conquistadas ao longo da história da humanidade.300

No dizer de Uriarte,

[…] este programa de destrucción metódica de lo colectivo apunta al objetivo de provocar la total individualización de las relaciones de trabajo. Llevado a su máxima expresión, el proyecto neoliberal crearía, entre trabajador y empleador, una relación individual y desregulada, sin sindicato, sin negociación colectiva, sin derecho de huelga, sin legislación especial, sin inspección del Trabajo y sin Justicia especializada.301-302

De fato, o apontamento do mestre uruguaio acerca da finalidade da flexibilidade direciona para um norte em que se bifurcam, somados, a teoria neoliberal e o avanço tecnológico, tendo como resultado a flexibilização, com vistas ao fim da relação de emprego. Na espécie, a recente “reforma do Poder Judiciário”, operada por meio da emenda à Constituição n. 45/04, ao ampliar a competência da Justiça do Trabalho para as “relações de trabalho”, já contempla um estágio desse ocaso.303

299 SILVA, op. cit., 1998, p. 61.

300 A propósito, Arnaud pondera: “O medo que a globalização faz pairar sobre o mundo dos trabalhadores não é

destituído de fundamento. Os efeitos prejudiciais são consideráveis. A deslocalização dos empregos menos especializados em direção a zonas do planeta onde os custos salariais são mais reduzidos já contribui para agravar de maneira significativa o índice de desemprego. E não é garantido que a intensificação da formação e preparação dos jovens, que o aumento das competências técnicas dos operários e dos empregados, e que a política de reorientação dos recursos humanos em direção a empregos menos ameaçados, possam constituir remédios estruturais”. ARNAUD, op. cit., introdução.

301 Esse programa de destruição metódica da coisa coletiva aponta ao objetivo de causar a individualização total

das relações de trabalho. Levado à expressão máxima, o projeto neoliberal criaria, entre o trabalhador e o empregador, uma relação individual e desregulada, sem sindicato, sem negociação coletiva, sem direito de greve, sem legislação especial, sem inspeção do Trabalho e sem Justiça especializada. (tradução livre).

302 URIARTE, Oscar Ermida. Globalización y relaciones laborales. Revista Pistas, Buenos Aires, n. 3, p. 1-11,

fev. 2001, p. 03.

303 Muitos outros exemplos poderiam ser citados a respeito de demonstrar o processo – há muito em curso – da

flexibilização. Seria o caso da crescente contratualização do Direito do Trabalho, ou, ainda, das várias formas de redução do salário fundadas no pagamento mediante rendimento (participação nos lucros). Vide, adiante, vários casos de flexibilização no Direito do Trabalho brasileiro, item 3.3 desta pesquisa.

O que neste estudo procura-se demonstrar vai, entretanto, de encontro aos anseios flexibilizatórios, uma vez que a falaciosa tese consubstanciada no afastamento do Estado da proteção das relações sociais mitiga, principalmente, o princípio da proteção, esteio máximo do direito laboral, já visto no capítulo anterior.