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Após a consagração, pelo Tratado de Versalhes, dos princípios universais do Direito do Trabalho, a maioria dos Estados Democráticos de Direito passaram a contemplar em suas Constituições os direitos fundamentais sociais, intervindo nas relações entre o capital e o trabalho, estabelecendo normas de proteção e de salvaguarda da dignidade pessoal do trabalhador.

A Segunda Guerra Mundial, momento macabro da história humana, trouxe síncopes constitucionais, vale dizer, paralisou e, em alguns casos, retrocedeu na implantação dos direitos sociais fundamentais.

Todavia, ao seu término, num movimento contrário aos seus efeitos nefastos, passou- se a cristalizar o chamado “Estado do bem estar social”, assegurando e promovendo os direitos sociais, através da forte atividade estatal intervencionista.

A respeito disso, Leal assevera:

Parece que é a partir da Primeira Guerra Mundial, e depois da Segunda Guerra também, que esta tendência de o Estado participar mais ativamente do cotidiano de sua comunidade toma corpo, adotando uma política mais intervencionista para ordenar recursos e procedimentos econômicos voltados à sobrevivência civil, no sentido tanto da distribuição dos alimentos e do controle da distribuição de mão-de- obra, como da produção de determinados produtos estratégicos à economia nacional e aos interesses da guerra.255

Nessa senda, Hespanha aponta o Direito do Trabalho como exemplo da atividade intervencionista do Estado na proteção dos direitos sociais, estabelecendo garantias de proteção da classe oprimida em face da classe dominante:

255 LEAL, Rogério Gesta. Perspectivas hermenêuticas dos direitos humanos e fundamentais no Brasil. Porto

O direito e o Estado – esses ‘resumos’ da luta de classes, como lhe chamara K. Marx – seriam também caracterizados por essa natureza contraditória da sociedade. Embora globalmente dominados pelos poderes socialmente estabelecidos e funcionalizados aos seus interesses, não deixariam de refletir o carácter ‘incompleto’ das relações de dominação e os compromissos a que os grupos dominantes tinham, por isso, sido obrigados. Exemplo disto seriam aqueles ramos do direito em que os movimentos progressistas tinham conseguido impor normas de protecção dos grupos mais fracos. Era o caso, nomeadamente, do direito do trabalho e das garantias que ele tinha fixado a favor dos trabalhadores (horário de trabalho, descanso semanal, direito à associação sindical e à greve, etc.), fruto das lutas operárias, desde os finais do século XIX. Mas era também o caso das garantias e liberdades individuais, bem como das garantias jurídicas dos mais desprotegidos (crianças, mulheres, pobres, doentes, diminuídos, inquilinos, etc.) fixadas na legislação do Estado-Providência (welfare State, Wohlfahrtstaat), a partir dos anos 30. Todos estes casos davam exemplo dos compromissos existentes no seio do direito, impostos pela ousadia e combatividade dos grupos dominados, e contraditórios com os interesses das classes dominantes.256

Ainda no período pós-Segunda Guerra Mundial, destaca-se a Declaração dos Direitos do Homem, de 1948,257 e a encíclica Mater et Magistra.258

Nesse estado de coisas, tudo andava razoavelmente bem. O modelo jurídico-político funcionava. O homem e a sociedade ocupavam o centro do sistema. Todavia, o poder econômico mostrou-se insatisfeito, já que o modelo então vigente, segundo a sua ótica, não era mais “lucrativo” (ou tão lucrativo).

Nessa linha, Leal expõe:

Esta nova formatação dada ao Estado Moderno, enquanto Social de Direito, vem ao encontro de várias conquistas sociais e políticas dos movimentos sociais e da capacidade de organização e mobilização dos indivíduos e suas representações oficiais ou informais, apresentando-se mesmo como um avanço em face do Estado Liberal de Direito. Porém, a tentativa de atender a tamanha responsabilidade não foi cumprida pelo Estado, eis que, romanticamente, acreditou que seria possível compatibilizar dois projetos sociais, econômicos e políticos: o capitalismo como forma de produção e a implementação do bem-estar social.259

Essa ausência de resultados mais significativos derivou da saturação dos mercados internos causada pela grande oferta de produtos, excesso esse originado da prosperidade das fábricas e do comércio. Equivale a dizer que, nesse cenário de grande oferta e de pequena procura, a margem de lucro acabava reduzida. Paralelamente, os direitos sociais reconhecidos

256 HESPANHA, op. cit., p. 322.

257 A respeito da Declaração Universal dos Direitos do Homem, vide a abordagem desenvolvida no tópico 1.2 do

primeiro capítulo desta pesquisa, intitulado “A dimensão jurídica da dignidade da pessoa humana”.

258 A Encíclica Mater et Magistra, mãe e mestra, foi escrita pelo Papa João XXIII em 1961 e versa sobre a

evolução da questão social, à época, à luz da doutrina cristã. In: As Encíclicas Sociais de João XXIII, 1º volume. Rio de Janeiro: Olympio, 1963.

implicavam em custos para a empresa, aumentando-lhe a carga fiscal e parafiscal.

A partir de então, modificações passaram a ocorrer no processo de trabalho dentro das fábricas, refere-se aqui aos métodos de produção em massa, representados pelos modelos “taylorista” e “fordista”. Acerca desse ponto, Busnello esclarece:

Na base da produção em massa há uma relação entre processo de trabalho e acumulação de capital assentada sobre uma base diferente, ‘moderna’. As transformações introduzidas no processo de trabalho por meio do processo histórico de sua racionalização vão repercutir também sobre as modalidades de acumulação de capital. Por outras palavras, a nova organização do trabalho engendrada pelo taylorismo e pelo fordismo vai renovar totalmente o mecanismo da grande produção de mais-valia.260

Tais modelos consistiam, em suma, na máxima racionalização do trabalho, a fim de que se atingisse o máximo de produtividade. Isso, com efeito, reclamou uma nova estruturação salarial, capaz de manter o poder aquisitivo dos empregados (aumentando o custo para a empresa), o que, por sua vez, fazia girar a economia. Só assim seria possível a perpetuação de um alto nível de consumo, fomentador do sistema.

O acréscimo acerca do desiderato desse momento histórico é fornecido por Souza:

[...] com a crise do petróleo, em 1973, que culminou com a alta da inflação e a estagnação do crescimento econômico, o mundo vivenciou uma grande recessão. Era necessário implementar mudanças, propagando-se com vigor o discurso de que o Estado encontrava-se inflado e deficitário, sendo urgente a sua diminuição. Buscava-se um Estado mínimo e, sob o argumento de déficit estatal e da contenção inflacionária, o terreno encontrava-se fértil para o receituário neoliberal.261

Na mesma linha, Delgado assevera:

Uma conjugação de fatores verificou-se nessa época. De um lado, uma crise econômica iniciada alguns anos antes, ente 1973/1974 (a chamada crise do

petróleo), que não encontrou resposta eficaz e rápida por parte das forças políticas

então dirigentes. A crise abalava a higidez do sistema econômico, acentuando a concorrência interempresarial e as taxas de desocupação no mercado de trabalho. A par disso, agravava o déficit fiscal do Estado, colocando em questão seu papel de provedor de políticas sociais intensas e generalizantes.262

O capital, de fato, precisava de uma saída, uma ideologia que justificasse suas ações, para reverter o quadro que lhe era adverso. Surgiu aí o resgate do liberalismo que vigia na

260 BUSNELLO, Ronaldo. Processo de produção e regulação social. Ijuí: Unijuí, 2005, p. 306.

261 SOUZA, Daniela Lustoza Marques de. A precarização das relações de trabalho e a desestabilização dos

vínculos sociais. Revista Trabalhista – direito e processo – Anamatra e Forense. Vol. VII. Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 83.

Revolução Industrial, ao qual se denominou “neoliberalismo”, vale dizer, o liberalismo com uma nova roupagem.

A esse respeito, são oportunas as palavras de Vecchi:

O pensamento neoliberal conquistou, então, espaço político em 1979 na Inglaterra, com o governo Thacher (Friedrich Hayek), e em 1980 nos Estados Unidos, com o governo Regan (Milton Friedman), postulando e implementando a defesa intransigente da limitação do poder estatal. Pregava-se, então, que, quanto mais livre fossem o investimento e a atividade da empresa, maiores seriam o crescimento e a prosperidade para todos. Dever-se-ia, portanto, dar um basta à intromissão do Estado na Economia, devendo caber ao mercado a regulamentação econômica. Logo, o mercado seria a melhor forma de se atingir o desenvolvimento econômico e social.263

Com efeito, o liberalismo clássico, na sua faceta econômica, pregava que os homens nasciam iguais em direitos e oportunidades, devendo buscar, por si próprios, sua realização pessoal. No campo jurídico, preconizava a não intervenção do Estado, a liberdade contratual e a força normativa do contrato – o princípio da autonomia da vontade, nessa medida, sempre foi corolário.

Corroborando com essa visão, Hayek critica a forte intervenção do Estado na Economia, aduzindo que o planejamento econômico retira a liberdade privada e, de certo modo, a responsabilidade do indivíduo por suas opções. Eis as palavras do próprio autor:

Afirma-se muitas vezes que a liberdade política nada significa sem a liberdade econômica. Isso em parte é verdade, porém num sentido quase oposto ao usado pelos defensores da planificação. A liberdade econômica que constitui o requisito prévio de qualquer outra liberdade não pode ser a qual que nos libera dos cuidados econômicos, segundo nos prometem os socialistas, e que só se pode obter eximindo o individuo ao mesmo da necessidade e do poder de escolha: deve ser a liberdade de ação econômica que, junto com o direito de escolher, também acarreta inevitavelmente os riscos e as responsabilidades inerentes a esse direito.264

Todavia, o citado autor desconsidera que a liberdade de mercado, sem intervenção do Estado, não funciona em sociedades nas quais se opera forte desequilíbrio social, pois as partes não são materialmente iguais e nem possuem a mesma capacidade econômica, uma vez que não discutem as suas questões contratuais e econômicas em pé de igualdade.265

263 VECCHI, op. cit., 2007, p. 44.

264 HAYEK, Friedrich Auguste. O caminho da servidão. Tradução e revisão de Anna Maria Capovilla, José Ítalo

Stelle e Liande de Morais Ribeiro. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura: Instituto Liberal, 1987, p. 107.

265 A esse respeito, Joseph e. Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia em 2001, assevera: “A austeridade fiscal, a

privatização e a liberalização do mercado foram os três pilares das recomendações do Consenso de Waschington durante a década de 1980 e 1990. As políticas desse Consenso foram elaboradas com o intuito

De fato, sob esse ideário (liberalismo econômico) vários abusos foram cometidos, principalmente no campo das relações entre o capital e o trabalho, visto que, sob a égide da liberdade de contratar, o empregado era explorado pelo empregador, com baixos salários e com extensas jornadas de labor, como se viu linhas atrás.

Ora, o “neoliberalismo” nada mais representa do que a reativação do liberalismo clássico econômico, todavia com diretivas mais agressivas, na medida em que, pelo viés econômico, pretende suprimir ou relativizar direitos trabalhistas fundamentais, constitucionalmente assegurados. Isso em nome de uma alegada maior competitividade e eficiência no mercado internacional, com aumento da margem dos lucros e, conseqüentemente, do poder de influência no mundo.266

Nessa linha, é lição de Safranski:

El neoliberalismo usa la referencia a la globalización como argumento para deshacerse de las obligaciones sociales del capital, y así especula con el razonamiento de que, como los estados compiten por los puestos de trabajo, hay que atraer la inversión con medidas que eliminen los llamados impedimentos para dicha inversión, entendiendo por tales los aspectos ecológicos, sindicales, sociales e impositivos. El globalismo neoliberal es una ideologia legitimante del movimiento sin trabas del capital en su búsqueda de condiciones favorables a la rentabilidad.267- 268

de atender aos verdadeiros problemas da América Latina e faziam bastante sentido na época”. Todavia, o citado autor, que foi também integrante do Banco Mundial, afirma que tais diretrizes traçadas pelo Consenso não deram certo, posto que “os resultados alcançados ficavam aquém dos pretendidos. A austeridade fiscal, quando levada longe de mais e nas circunstâncias erradas, pode causar recessão, e as altas taxas de juros podem cercear novos empreendimentos comerciais. O Fundo Monetário Internacional buscava a privatização e a liberalização de maneira contundente, e o fazia a uma velocidade e de tal forma que, via de regra, impunha custos muito altos a países que não estavam suficientemente bem estruturados para suporta-los”. STIGLITZ, Joseph E. A globalização e seus malefícios: a promessa não cumprida de benefícios globais. Tradução de Bazán Tecnologia e lingüística. São Paulo: Futura, 2002, p. 86-87.

266 Agostinho Ramalho Marques Neto, professor de filosofia jurídica e política, em palestra denominada

“Neoliberalismo e direito do Trabalho”, proferida no 12º Congresso Nacional de Magistrados do Trabalho, realizado em maio de 2004, em Campos do Jordão/SP, ratificou que o neoliberalismo se consubstanciaria no liberalismo clássico investido de nova roupagem. Alertou, todavia, que a novidade que o destaca repousa na supressão de direitos. Sustentou, assim, ser o Estado do bem estar social o verdadeiro alvo do neoliberalismo, haja vista as barreiras que o mesmo cria ao capital. CONGRESSO NACIONAL DE MAGISTRADOS DO TRABALHO. XII, 2004, Campos do Jordão (SP). Neoliberalismo e direito do trabalho. Campos do Jordão, 2004, Agostinho Ramalho Marques Neto.

267 Tradução livre do texto citado: “O neoliberalismo usa a referência da globalização como argumento para

desfazer-se das obrigações sociais do capital, e assim especula com o raciocínio de que, como os estados competem por postos de trabalho, há que atrair investimentos com medidas que eliminem os chamados impedimentos para ditos investimentos, entendendo por tais os aspectos ecológicos, sindicais, sociais e impositivos. O globalismo neoliberal é uma ideologia legitimadora do movimento sem travas do capital na sua busca de condições favoráveis de rentabilidade”.

268 SAFRANSKI, Rüdiger. ¿Cuánta globalización podemos soportar? Buenos Aires: Tusquets Editores, 2005, p.

Tem-se assinalado como marco histórico representativo da vitória, ou da afirmação definitiva do neoliberalismo, a queda do muro de Berlim269. Tal evento teria posto fim à dicotomia socialismo-capitalismo, abrindo as comportas para a expansão incondicional do capital para todos os cantos do planeta.270

Com efeito, foi o que ocorreu a partir de então. Empresas nacionais tornaram-se multinacionais. O capitalismo, antes produtivo, tornou-se especulativo e exacerbou-se. As empresas passaram a ser anônimas, com capital flutuante; a economia internacionalizou-se.271

Nessa linha, Delgado assevera: “A ideologia neoliberal provocou, outrossim, a reestruturação do sistema capitalista, mediante o predomínio da circulação do capital produtivo, conectado ao fenômeno da ‘globalização’ ou ‘mundialização do capital’”.272

As transformações tecnológicas, por sua vez, foram determinantes como instrumentos do neoliberalismo. As comunicações instantâneas e em massa, facilitadas pela informática, deram mais poder ao capital. Alimentada por uma mídia manipuladora, formou-se uma sociedade de consumo, em que o “ter” passou a significar mais do que o “ser”.

Nesse iter, o Estado passou a render-se ao poder do capital. Basta se ter em mente o fato de que, para instalar um empreendimento, o capital internacional estabelece (para não dizer exige) ao Estado determinadas condições, tais como: vantagens tributárias (entenda-se renúncia fiscal), linhas de crédito a juros subsidiados, relativização de direitos trabalhistas, frouxidão das exigências de proteção ao meio ambiente, entre outras.273

269 A propósito, Friedman assevera: “A queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989, liberou forças que

acabariam libertando todos os povos dominados pelo Império Soviético – mas, na realidade, fez muito mais do que isso: inclinou a balança do poder mundial para o lado dos defensores da governança democrática, consensual, voltada para o livre mercado, em detrimento dos adeptos do governo autoritário, com economias de planejamento centralizado. A Guerra Fria foi um embate entre dois sistemas econômicos – capitalismo e comunismo. Com a queda do Muro, sobrou apenas um sistema, pelo qual todos, de alguma forma, tiveram de se orientar”. FRIEDMAN, Thomas L. O mundo é plano: uma breve história do Século XXI. Tradução de Cristiana Serra, Sergio Duarre e Bruno Casotti. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007, p. 67.

270 No dizer de Vizentini, “o colapso do Campo Soviético e o fim da Guerra Fria aprofundaram ainda mais

tendências no início dos anos 90. A ausência de um inimigo externo permitiu o aprofundamento da globalização, o triunfalismo do discurso neoliberal e o refluxo das forças politicamente de esquerda. Parte dela desertou, outros procuraram adaptar-se aos valores liberais, enquanto o restante ficava extremamente isolado”. VIZENTINI, Paulo G. Fagundes. A globalização e os impasses do neoliberalismo. In: CARRION, Raul K. M.; VIZENTINI, Paulo G. Fagundes (Org.). Globalização, neoliberalismo, privatizações: quem decide este jogo? 2. ed. Porto Alegre: Universidade/UFRGS, 1998, p. 46.

271 CAMINO, op. cit., 2003, p. 38-39.

272 DELGADO, Gabriela Neves. Terceirização: paradoxo do direito do trabalho contemporâneo. São Paulo: Ltr,

2003, p. 55.

273 Nessa linha são as considerações de Bauman: “Um governo dedicado ao bem-estar de seus cidadãos tem

Como assinala Vecchi:

Foram estabelecidas medidas (políticas) a serem seguidas, como a privatização de estatais, a diminuição do espaço público e ocupação de espaço pelos entes privados; a desregulamentação/flexibilização dos direitos sociais trabalhistas e previdenciários; o estímulo à livre-negociação entre patrões e empregados, mas com sérias limitações ao direito de greve e ao poder de negociação sindical; a adoção de medidas que facilitassem a livre circulação do capital especulativo estrangeiro; a quebra dos monopólios estatais e das barreiras alfandegárias e a desregulamentação da economia, que passou a ser regida somente pela lei de mercado.274

Enfim, nessa realidade é que foi forjada a idéia de flexibilidade e com ela o Direito do Trabalho entrou em profunda crise275, posto que, segundo a ideologia neoliberal, as normas trabalhistas são duras e inflexíveis, aumentando o custo da produção, razão pela qual devem ser flexibilizadas ou relativizadas, como forma de baratear a mão-de-obra e de viabilizar a competitividade das empresas no mercado local e global.276

A propósito, Delgado assevera:

arranha-céus para seus escritórios em vez de ficar em quartos de hotel alugados por dia. E isso pode ser feito ou tentado (para usar o jargão comum à política da era do livre comércio) ‘criando melhores condições para a livre empresa’, o que significa ajustar o jogo político às regras da ‘livre empresa’ – isto é, usando todo o poder regulador à disposição do governo a serviço da desregulação, do desmantelamento e destruição das leis e estatutos ‘restritivos às empresas’, de modo a dar credibilidade e poder de persuasão à promessa do governo de que seus poderes reguladores não serão utilizados para restringir as liberdades do capital; evitando qualquer movimento que possa dar a impressão de que o território politicamente administrado pelo governo é pouco hospitaleiro como os usos, expectativas e todas as realizações futuras do capital que pensa e age globalmente, ou menos hospitaleiro que as terras administradas pelos vizinhos mais próximos. Na prática isso significa baixos impostos, menos regras e, acima de tudo um ‘mercado de trabalho flexível’. Em termos muito gerais, significa uma população dócil, incapaz ou não desejosa de oferecer resistência organizada a qualquer decisão que o capital venha a tomar. Paradoxalmente, os governos podem ter a esperança de manter o capital em seu lugar apenas se o convencerem de que ele está livre para ir embora – com ou sem aviso prévio”. BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Tradução de Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001, p. 172-173.

274 VECCHI, op. cit., 2007, p. 45.

275 Segundo Bobbio, Matteucci e Pasquino “Chama-se Crise a um momento de ruptura no funcionamento de um

sistema, a uma mudança qualitativa em sentido positivo ou em sentido negativo, a uma virada de improviso, algumas vezes até violenta e não prevista no módulo normal segundo o qual se desenvolvem as interações dentro do sistema em exame”. BOBBIO; MATTEUCCI; PASQUINO, op. cit., 2007, p. 303.

276 A respeito, novamente Vecchi: “A flexibilização das relações trabalhistas, conforme já explicitado, é uma das

receitas neoliberais. Pretensamente, afirma que a diminuição da proteção trabalhista visa aumentar o investimento, o emprego e a competitividade das empresas. Com isso, propõe uma profunda ‘individualização’ das relações de trabalho, até o limite do politicamente possível, pregando a não intervenção estatal nas relações individuais do trabalho, ou seja, postulando um afrouxamento das proteção estatal. Com isso, as relações individuais de trabalho voltam a se aproximar das relações civis, como um retorno ao período anterior ao nascimento do direito do trabalho. Já as relações coletivas (travadas entre sindicatos de empregados e sindicato de empregadores ou empresas) devem ser limitadas pelo Estado para impedir ‘práticas monopolistas’ que impedem o livre-jogo da oferta e da procura. Como percebemos, aumenta-se o poder das empresas e diminui-se ao máximo possível a proteção dos trabalhadores, flexibilizando-se o trabalho e protegendo o capital”. Idem, 2007, p. 51.

De fato, o ramo juslaboralista afirmou-se no período anterior como o mais clássico e abrangente instrumento de políticas sociais surgido no capitalismo, produzindo inquestionável intervenção normativa na economia, em favor, regra geral, de