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PROJETO UM COMPUTADOR POR ALUNO: NOVAS AÇÕES, VELHOS PROBLEMAS

3.6 O governo federal cria o Programa Um Computador por Aluno (PROUCA)

No ano de 2009, quando o governo federal finalizava o processo para compra dos 150 mil laptops para implementar a fase piloto do Projeto, esse mesmo governo criou o Programa Um Computador por Aluno (PROUCA), através da Medida Provisória n°. 472, de 15 de dezembro. Entre outros assuntos, criou o PROUCA, bem como institui um Regime Especial para a Compra de Computadores voltados para uso Educacional (RECOMPE)81. O Recompe prevê isenção de impostos, dentre eles IPI, Cofins e PIS/Pasep, incidentes sobre matérias-primas e produtos intermediários destinados à fabricação dos laptops educacionais, com vistas à redução do preço desses equipamentos.

Para o governo, com a criação do Programa, o objetivo era garantir às redes públicas de ensino a disseminação do laptop educacional, com acesso à internet, como “uma poderosa ferramenta de inclusão digital e melhoria da qualidade da educação” (MEC, 2009, p. 1). Segundo um dos coordenadores gerais do UCA, em Brasília, que nos concedeu entrevista, o governo comprou 150 mil laptops para ser piloto

demonstrativo, acompanhar as 300 escolas, ter estudos técnicos e fornecer apoio aos agentes públicos locais – governos estaduais e municipais – com isenção de impostos, dinheiro do BNDES, um plano de formação online a distância, para o prefeito, governador comprar do “seu” bolso com isenção.

Essa decisão do governo federal foi mais um encaminhamento para expansão

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do UCA, com uma mudança radical quanto aos meios para aquisição dos equipamentos. A partir desse período, esse governo já não comprava e sim incentivava essa compra pelos demais entes federados, quando reduz o preço e facilita a aquisição, ao instituir o registro de preço e disponibilizar linhas de crédito para financiamento. Essa é uma forte característica da política neoliberal, o estado passa a ser regulador e avaliador, repassando a responsabilidade da oferta e manutenção para os demais entes federados.

Como consequência dessa medida provisória, um novo processo licitatório foi realizado pelo governo federal e o preço obtido via Pregão foi registrado em ata. Com esse procedimento, denominado Registro de Preço82, estados e municípios interessados na compra desses laptops poderiam adquirí-los através desse sistema, por preços praticados com valores inferiores ao mercado. Para tanto, bastava aderir ao processo iniciado pelo FNDE. Além disso, esses entes federados teriam disponível uma linha de crédito de R$ 660 milhões do BNDES, voltada exclusivamente para a compra desses equipamentos.

No ano de 2010, essa Medida Provisória foi convertida na Lei nº 12.249, de 11 de junho, que regulamentou o PROUCA e instituiu o RECOMPE. Segundo informações disponíveis na página Convergência Digital83, com o PROUCA, no período entre 2009 e 2012, foram adquiridos 375 mil computadores por 372 municípios.

No ano de 2012, quando expirou a vigência do prazo para aquisição de laptops pelo PROUCA, o governo federal, através da Medida Provisória n.° 56384, de 03 de abril, restabeleceu o Programa e instituiu o Regime Especial de Incentivo a Computadores para Uso Educacional (REICOMP). Essa Medida foi convertida na Lei n. 12.715, de 17 de setembro de 201285. Consequentemente foi realizado um novo

http://www.uca.gov.br/institucional/noticiasMPUCA.jsp>. Acesso: 19 fev. 2014.

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Registro de Preço é uma forma simplificada de contratação, precedida de licitação nas modalidades Concorrência ou Pregão. Trata-se de “um conjunto de procedimentos para registro formal de preços relativos à prestação de serviços e aquisição de bens, para contratações futuras”. Mais informações disponíveis em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Decreto/D7892.htm>. Acesso: 10 set. 2014.

83 Matéria completa disponível em: <

http://convergenciadigital.uol.com.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=30723&sid=10#.UwS4YPldWs d>. Acesso: 19 fev. 2014.

84 Medida Provisória n.° 563, de 3 abril de 2012, texto completo disponível em: <

http://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/MPs/2012/mp563.htm>. Acesso 18 fev. 2014.

85 Lei n. 12.715 disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-

processo licitatório para Registro de Preço, cuja vigência da ata encerrou em setembro de 201486.

Há uma conjugação de esforços do governo para implantação do Programa, mesmo com todas as dificuldades principalmente orçamentárias enfrentadas pelos entes federados. Contudo, dentre outras coisas, é preciso viabilizar, conforme sinalizado pelo Coordenador Geral do UCA em Brasília, que nos concedeu a entrevista, um

monitoramento permanente e estratégico, disposto a chegar fisicamente aos lugares, para auxiliar; monitoramento no sentido de acompanhar, saber como está acontecendo, desde o quantitativo [...] ao qualitativo de saber como está funcionando, com uma periodicidade capaz de ir corrigindo os erros. Isso efetivamente não foi realizado a

contento no piloto do Projeto UCA, como também não está sendo no PROUCA.

Partimos do pressuposto que a escola tem um papel fundamental na construção de relações mais igualitárias quanto ao acesso do cidadão às tecnologias da informação e comunicação. Para isso, segundo Araujo (2013), é imprescindível

O papel e a atuação do governo central, pela simples razão de que as diferenças entre capacidades econômicas e fiscais – que determinam diferentes tipos de serviços públicos – não podem ser resolvidas pelos governos subnacionais, dadas as disparidades em termos de arrecadação e em termos de provisão de bens e serviços públicos. Daí a necessidade de certa ação normativa e redistributiva do governo central (p. 790).

Além disso, acreditamos que a isenção de impostos para redução dos custos e linha de crédito para compra de computadores não são medidas suficientes para que os municípios – que são os que menos arrecadam e os que mais têm responsabilidade com a oferta da educação básica, considerando o quantitativo de pessoas a serem atendidas – comprem esses equipamentos. O regime federativo brasileiro tem uma estrutura complexa na qual a União, os estados e municípios têm suas respectivas responsabilidades na oferta da educação pública, e essa estrutura tem sido marcada pela assimetria fiscal entre esses entes federados, o que reverbera diretamente na qualidade dos serviços públicos prestados, assim como na implementação de políticas públicas educacionais.

Para tanto, uma das possibilidades para minimizar esses efeitos é a regulamentação do regime de colaboração entre os entes federados e mudanças significativas na gestão e fiscalização da aplicação dos recursos financeiros, como sinaliza Cury (2012, p. 164), “um sistema nacional de educação articulado e cooperativo sob o federalismo”, para que seja possível a redução das desigualdades entre estados e seus respectivos municípios, e que esses possam efetivamente ter as condições orçamentárias condizentes com suas reais necessidades.

No próximo capítulo, apresentaremos a trajetória metodológica desta pesquisa, as reflexões e discussões sobre os critérios que delimitam o objeto, a definição da amostragem, a natureza da pesquisa, os métodos e instrumentos utilizados para produção de informações, como se deu a organização desses materiais, assim como os interlocutores e as perspectivas teóricas que dialogam conosco nas análises.

CAPÍTULO 4 - AS INTERFACES DA IMPLEMENTAÇÃO DO PILOTO DO

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