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PROJETO UM COMPUTADOR POR ALUNO: NOVAS AÇÕES, VELHOS PROBLEMAS

3.5 O piloto do Projeto, problemas reincidentes

celeridade a esses processos, visando evitar atrasos na implementação de políticas e eventuais prejuízos financeiro ao Estado.

3.5 O piloto do Projeto, problemas reincidentes

Após dois anos de reuniões, em 2009, o GTUCA apresentou o documento intitulado “Formação Brasil: projeto, planejamento das ações, cursos”76, onde, dentre outras questões de ordem organizacional, definiram os três principais eixos a ser considerados na fase piloto do Projeto: infra-estrutura de hardware e software, capacitação de professores e gestores para uso educacional do laptop, e avaliação contínua e acompanhamento das escolas (Brasil, 2009). Também enfatizou a necessidade de integração dos entes federados, União, Estados, Municípios, em um processo de corresponsabilidade para implementação do Projeto.

As definições referentes a hardware e software ficaram sob responsabilidade do grupo técnico, formado principalmente por centros de pesquisas, conforme pontuamos no primeiro tópico deste capítulo. Quanto à formação dos professores e gestores das escolas, o programa de formação teria suas ações planejadas para um período de dois anos (MEC/SEED, 2009, p.2). Ainda segundo esse documento, a “duração desta fase é estabelecida em função do conhecimento que já se têm de que mudanças e inovações na escola são processos longos, complexos e que necessitam de acompanhamento continuado” (Ibid).

Para estruturar e realizar essa formação, foram chamadas à participação as Instituições de Ensino Superior (IES), as secretarias de educação estaduais e municipais, os NTE e NTM, “professores, gestores e alunos monitores das escolas, em uma rede de cooperação/colaboração” (MEC/SEED, 2009, p. 2). Segundo o documento, o objetivo era “criar uma rede de apoio às comunidades escolares na implementação do projeto UCA, de forma inovadora e sustentável” (p. 3). Para operacionalização desse processo, a ideia inicial era envolver os seguintes grupos:

76 Documento Formação Brasil disponível em:

<http://www.virtual.ufc.br/cursouca/modulo_apresentacao/topico_03/processo_formativo/formacao_brasi l.pdf > Acesso: 20 out. 2013.

 Grupo de Trabalho de Assessores Pedagógicos do Projeto Um Computador por Aluno – GTUCA, constituído por 10 docentes representantes de Instituições de Ensino Superior - IES, denominadas neste Projeto de IES-Globais;

 Grupo de Formação e Acompanhamento, constituído por 6 consultores especialistas da área e um representante do SEED/MEC;

 Equipes de Formação e Pesquisa, compostas de professores/pesquisadores das IES Globais para atuarem junto às IES-Locais;

 Equipes de Formação destinadas a atuarem junto às escolas piloto. Tais equipes serão compostas por professores de IES-Locais, representantes das SE e multiplicadores dos NTE/NTM;

 Professores e gestores das escolas beneficiárias UCA;  Alunos-monitores. (MEC/SEED, 2009, p. 8)

A seguir, apresentamos um organograma que representa essa estrutura da formação.

Fonte: SEED/MEC (2009, p. 9).

Abaixo, um quadro onde estão especificados os diversos grupos que fizeram parte da estrutura operacional do projeto de formação.

Quadro 6 – Composição dos diferentes grupos de formação

Fonte: SEED/MEC (2009, p. 13)

Para implementação dessa formação, a orientação do GTUCA era utilizar, dentre outros ambientes e recursos,

os conteúdos e capacitações dos programas da SEED/MEC: Proinfo Integrado, Portal do Professor, TV Escola, Banco Internacional de Objetos Educacionais, Portal Domínio Público, além dos desenvolvidos por IES, secretarias estaduais e municipais de educação. Utilizar o ambiente virtual de aprendizagem e-Proinfo como espaço de trabalho e trocas entre os participantes dos projetos e entre as equipes formadoras das universidades e NTE/NTM (MEC/SEED, 2009, p. 7).

Competia às universidades, denominadas IES-Globais, representadas pelos assessores pedagógicos que integravam o GTUCA, constituir um grupo aglutinador de formação junto com as universidades de sua área de abrangência, denominada IES Local, para contextualizar a proposta de formação dos docentes, participar e apoiar a formação dos profissionais de órgãos regionais de ensino, os NTE/NTM, e assessorar as escolas. Além disso, as universidades deviam formar “equipes de pesquisa para apoio, acompanhamento e avaliação das ações relativas ao Projeto nas escolas, nas áreas técnica, pedagógica e de gestão” (SEED/MEC, 2009). Como exemplo dessa estrutura organizacional, apresentamos a composição da formação no Estado da Bahia: a IES Global foi a UFRJ e a Local a UFBA. A UFBA, tendo o GEC responsável sobre essa ação, sob a coordenação de primeiro, o Prof. Nelson Pretto e, depois da Profa. Maria Helena Bonilla, em parceria com os docentes formadores do NTM do município de Salvador e NTE dos municípios de Feira de Santana, Itabuna, Paulo Afonso, Salvador e o IAT, atuaram na formação e acompanhamento das escolas participantes do Projeto

nesse Estado.

Cada IES/Global esteve responsável, em média, por até quatro IES/Local, como podemos verificar no quadro abaixo.

Quadro 7 – Coordenação das Ações nos Estados

IES/GLOBAL COORDENADOR ESTADOS IES/

Local RESPONSÁVEL IES/LOCAL SEDUC NTE NTM UNDIME USP Roseli Lopes

São Paulo USP Irene Karaguilla Ficheman

Mato Grosso do Sul UFGD Shirley Takeco Gobara Amapá UNIFAP Elda Gomes Araújo

UNICAMP

José Armando Valente

Pará UFPA Otacílio Amaral Filho Rondônia UNIR Ângela Aparecida de

Souto Silva

Acre UFAC Salete Chalub Bandeira

UFRGS

Léa Fagundes

Rio Grande do Sul UFRGS Léa Fagundes Santa Catarina UFSC Edla Ramos Paraná UNILA Alexandre Direne Amazonas UFAM José Francisco Magalhães

PUC/MG

Simão Pedro Marinho

Roraima UFRR Geysa Alves Pimentel Minas Gerais UFMG Simão Pedro Marinho Distrito Federal UNB Lucio Teles

UFRJ

Maria Helena Cautiero

Rio de Janeiro UFRJ Maria Helena Cautiero Espírito Santo UFES Daísa Teixeira Bahia UFBA Nelson De Luca Pretto;

Maria Helena Bonilla

PUC/SP

Maria Elizabeth Almeida

Mato Grosso UFMT Heliete Martins Cartilho Moreno

Alagoas UFAL Deise Juliana Francisco Goiás UFG Gilson Barreto

Tocantins UFT Marilene Ferreira Borges

UFC

Mauro Pequeno

Ceará UFCE Mauro Pequeno

Rio Grande do Norte

UFRN Apuena Vieira Gomes Piauí UFPI Gildázio Guedes Maranhão UFMA Othon Bastos Filho

UFPE Paulo Cysneiros Pernambuco UFPE Paulo Cysneiros Paraíba UFPB Claudio Fernando André

UFS Divanizia Souza Sergipe UFS Divanizia Souza

Fonte: SEED/MEC, 201077

Para escolha das escolas participantes dessa fase piloto, segundo informações do site oficial do Projeto78, essas escolas foram selecionadas mediante critérios acordados com o Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Educação (Consed), a

77 UCA em números, quadro disponível em: <http://www.uca.gov.br/institucional/downloads/UCA-

apresentacao-ClaudioAndre.pdf >. Acesso: 12 jul. 2014.

78 Os critérios para escolha das escolas estão disponíveis em:

União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), SEED/MEC e a Presidência da República. Estas escolas deveriam ser instituições públicas das redes estadual e municipal, selecionadas mediante os seguintes critérios:

1. Número de alunos e professores – cada escola deveria ter em torno de 500 alunos e professores, para a adoção do paradigma 1-a-1, evitando problemas de equidade dentro da escola;

2. Estrutura da escola – as escolas devem ter obrigatoriamente energia elétrica para o carregamento dos laptops e armários para guardar os equipamentos;

3. Localização das escolas – pelo menos uma das escolas deve estar localizada na capital do estado e uma na zona rural. Além disso, as escolas devem estar preferencialmente próximas a Núcleos de Tecnologias Educacionais (NTE) - estruturas implantadas pelo ProInfo – ou similares, instituições de ensino superiores públicas ou escolas técnicas federais;

4. Assinatura do Termo de Adesão – a secretarias de educação estaduais ou municipais das escolas selecionadas deverão aderir ao projeto enviando um ofício ao MEC com a assinatura do Termo de Adesão, manifestando responsabilidade e compromisso com o Projeto;

5. Anuência do corpo docente – a secretaria de educação estadual ou municipal deverá enviar um ofício ao MEC, em que o diretor da escola aprova a participação da escola no projeto com a anuência do corpo docente.

Assim, para participar dessa fase, foram selecionadas 301 escolas públicas, tendo contemplado municípios de todos os estados brasileiros, conforme podemos verificar no quadro abaixo. O governo federal definiu as atribuições de cada um que compunha a estrutura operacional e funcional, em articulação, também, com as universidades, os NTE/NTM e as escolas. Essas atribuições estão relacionadas no Termo de Cooperação Técnica (ANEXO I), celebrado entre MEC, Estados e municípios participantes do Projeto. Dentre elas, citamos o item 8, “responsabilidades dos agentes envolvidos”:

Todos os níveis de governo precisam se apoiar mutuamente para o alcance dos resultados esperados no Projeto UCA como co-

responsáveis pela definição, implantação, acompanhamento e sustentação das políticas educacionais. Serão responsabilidades do governo federal: Criar mecanismos que garantam a manutenção e a reposição preferencialmente pela indústria nacional; Prover infra- estrutura de conectividade de rede sem fio e banda larga para as escolas participantes do Projeto. Serão responsabilidades das secretarias estaduais e municipais da educação: Garantir às escolas os meios e recursos necessários para a formação dos profissionais da educação envolvidos no Projeto e para as adequações de infra- estrutura necessárias (espaços para armazenamento), adequações físicas (rede elétrica adequada), conexão a Internet, dispositivos de segurança, previsão para manutenção dos equipamentos (hardware) após garantia, compra de insumos, dentre outros; Assegurar a manutenção técnica e o apoio pedagógico aos professores envolvidos no Projeto (p. 22-24).

Quadro 8 – UCA em números

Estados Municípios Escolas Professores Alunos

Lote 1 10 61 85 1.924 30.231 Lote 2 11 72 101 2.162 38.774 Lote 3 17 104 115 2.791 46.768 Total 237 301 6.877 115.773 UCA Total 6 6 49 815 14.809 Fonte: SEED/MEC, 201079

Contudo, nesse piloto do Projeto, ocorreram os mesmos problemas enfrentados no pré-piloto, mesmo com relatórios de avaliação entregues ao MEC e socializados via página do Ministério na internet, relatórios esses que indicavam os problemas, apontando, inclusive, possíveis soluções. Esses problemas também foram enfrentados no UCA TOTAL80, conforme identificamos nos dados apresentados no relatório da pesquisa coordenada por Lena Lavinas (IE-UFRJ). Dentre as questões pontuadas na referida pesquisa, destacamos

A falta de comunicação entre a coordenação geral e os executores em nível local, notadamente a partir de janeiro de 2011, por ocasião da

79 UCA em números, quadro disponível em: http://www.uca.gov.br/institucional/downloads/UCA-

apresentacao-ClaudioAndre.pdf . Acesso: 12 jul. 2014

80

UCA-Total, informações quanto à implementação e abrangência disponível em: <http://www.uca.gov.br/institucional/projeto.jsp>. Acesso em: 11 jan. 2013.

mudança do executivo federal, gerou descontinuidade e ineficiências que poderiam ter sido evitadas, já que era previsível a ocorrência de mudanças no plano da gestão central do projeto (AVALIAÇÃO DE IMPACTO DO PROJETO UCA-TOTAL, 2011, p. 12).

Nessa vertente, o documento da Câmara dos Deputados Federal (2008), apontou, dentre outras coisas, que a implementação do paradigma 1-a-1 em escala universal (ou qualquer estratégia de universalização das TIC nas escolas) passa, necessariamente, pela adesão e participação dos entes federativos no processo, incluindo aí o financiamento das ações necessárias para implementação de projetos e programas. Quanto às questões financeiras indagamos: quem vai financiar o quê? quanto (recursos financeiros) cada unidade da federação dispõe para tal?; qual a origem desses recursos, é próprio ou provém de financiamentos? Aqui, mais uma vez, retornamos à discussão sobre a importância da regulamentação do regime de colaboração entre entes federados. Para Ball (2001, p. 102), “a maior parte das políticas são frágeis, produto de acordos, algo que pode ou não funcionar”. Historicamente temos dados suficientes que nos permitem afirmar que esses acordos firmados via termo de adesão não se materializam, sendo esse fato um dos elementos que desencadeia os pífios resultados apresentados pelos projetos e programas, assim como a descontinuidade das suas ações.

São problemas reincidentes a cada novo projeto ou programa para inserção de tecnologias digitais nas escolas, principalmente de ordem infraestrutural, que não são desconhecidos daqueles que implantam essas políticas, visto que vêm sendo apontadas por diversas pesquisas ao longo das últimas duas décadas (CYSNEIROS 1998/2003; KENSKI, 2000; MENDES 2008, entre outras).

Além disso, no ano de 2011, com a mudança de governo, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a presidenta Dilma Rousseff, como já é esperado, a cada transição desta natureza, há substituição de ministros, assessores e secretários. Nesse cenário, a equipe que estava à frente do Projeto UCA foi transferida para o Ministério das Comunicações; com isso, suas ações ficaram apenas sob a coordenação da SEED/MEC. Como consequência dessas mudanças na troca de governo, ainda no ano de 2011, a SEED foi extinta, os projetos até então sob a sua coordenação migraram para a Secretaria de Educação Básica (SEB), como o Projeto UCA, ou para a Secretaria de Ensino Superior, como os cursos de Educação a Distância (EaD).

governo, assim como as universidades, ficaram sem saber a quem ou a qual setor do governo federal se reportar para discutir as questões inerentes ao piloto do Projeto em andamento, fato cujas consequências traduziram-se numa sensação de abandono e dúvidas quanto à continuidade ou não das suas ações. Essa tem sido uma característica da organização política do Estado brasileiro: cada pessoa/grupo que assume ministérios e ou secretarias tem sua concepção política, interesses particulares e de grupo e, como consequência, implanta projetos e programas seguindo suas orientações, o que muitas vezes provoca a descontinuidade de suas ações.

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