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A política governamental e as estratégias empresariais para implementação da indústria nacional

CAPÍTULO 2 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O PROCESSO DE INFORMATIZAÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA

2.2 A política governamental e as estratégias empresariais para implementação da indústria nacional

É preciso retomar a própria história política do Brasil para que se compreenda as ações dos setores público e privado no processo de implementação da indústria nacional de informática, caracterizando o cenário econômico, educacional e social que alicerçou e provocou tomada de decisões, para que se tenha uma percepção crítica do desencadeamento de todos os fatos que culminaram nessa produção.

Comecemos do início do século XX, quando a sociedade brasileira tinha uma economia agrário-comercial e artesanal e cerca de 80% do total de sua população era analfabeta (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, 1971), situação essa pouco alterada até a década de 1920. Segundo Azevedo (2006, p. 32), “a crise que atingiu o espaço capitalista internacional ao final dos anos [1920] acentuara a importância do mercado interno, que já vinha crescendo há algum tempo, em

consequência da adoção do trabalho assalariado”. No Brasil, os capitais acumulados no setor cafeeiro passaram a ser investidos em outros setores, consubstanciando, segundo essa autora, num “movimento que assinalou a passagem do modelo agroexportador vigente desde a Colônia, para o modelo de substituição das importações” (2006, p. 32).

No campo da educação pública, a problemática educacional, segundo Azevedo (2006, p. 25), “emerge com vigor em meio à efervescência que tomava conta do país a partir da 1ª Guerra Mundial, entremeada com o movimento nacionalista e as transformações que, paulatinamente, vão se operando na sociedade”. Prenunciava-se no Brasil uma mobilização em torno desta temática motivada pela nova demanda gerada pelo início do processo de industrialização no país. Campanhas de alfabetização em massa foram iniciadas em todo o território nacional, e tinham como propósito reduzir os elevados índices de analfabetismo, acreditando que este seria o caminho para que o Brasil obtivesse sucesso no processo de industrialização.

Com a Revolução de 193029, que culminou com o golpe de estado que levou Getúlio Vargas a assumir a Presidência da República do Brasil, deu-se início à luta contra o regionalismo, tendo a indústria como força motriz do desenvolvimento do País. As transformações políticas e econômicas foram acompanhadas de alterações no cenário nacional, especificamente na região Sudeste do País, onde se concentrava o processo de industrialização que acelerou a urbanização e, consequentemente, o processo de migração da população do interior e do campo para as cidades macrorregionais. A aristocracia agrário-comercial, composta por grandes fazendeiros e comerciantes, é acrescida dos empresários industriais.

Nos dois governos Vargas (1930–1945 e 1951–1954) foram diversas as transformações, como, por exemplo, a instauração de uma nova relação com os trabalhadores urbanos a partir da aprovação das leis trabalhistas, a criação da empresa mineradora Vale do Rio Doce e a Companhia Hidroelétrica do São Francisco (CHESF). Vargas pretendia diminuir, gradativamente, a dependência do País com relação ao capital estrangeiro. Com o fim do sistema oligárquico e o esvaziamento do regionalismo, o papel do Estado foi redefinido, passando a ter uma ação mais

29 Movimento armado liderado pelos estados de Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul, que

intervencionista em todos os setores da vida social. O fortalecimento do grupo urbano industrial influenciou o nacionalismo industrializante (ANDERSON, 1989).

A doutrina nacionalista acreditava e primava pela soberania da nação acima de interesses pessoais e ameaças estrangeiras. Segundo Anderson (1989, p. 34), historicamente a “origem da concepção de nacionalismo pode situar-se na Revolução Francesa, quando a burguesia declarou que o poder político emanava do povo e da nação, contrariando a nobreza e o clero. [...] também proclamava a lealdade à pátria, substituindo a figura do rei”. A política de Vargas era baseada no fortalecimento da indústria nacional e na substituição das importações.

Juscelino Kubitschek, eleito Presidente em 1955 (1956 a 1961), também se destaca nesse processo iniciado por Vargas. Elaborou um Plano de Metas, cujo crescimento do País era vislumbrado como consequência da expansão industrial. Para tanto, priorizou o investimento em setores de transporte e energia, e a substituição de importações, tendo destaque à ascensão das indústrias automobilística e naval.

Importante destacar que, na educação, a década de 1950 e início da de 1960 são marcadas pela formação profissional para adequação às necessidades imediatas e emergentes do mundo do trabalho. Nesse período, surgiram inúmeros movimentos de educação e de cultura popular em diversos locais do país, organizados pela sociedade civil para promoção da escolarização da população (HAIDAR e TANURI, 1998).

Nesse movimento em prol do desenvolvimento científico e tecnológico e da expansão industrial, ainda na década de 1950, o governo brasileiro cria o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que se constituem, na perspectiva governista, marcos de iniciativas para a valorização da ciência e apoio ao desenvolvimento científico e tecnológico. No entanto, segundo Piragibe (1985, p. 24), “as atividades de pesquisa e desenvolvimento eram financiadas com recursos das próprias empresas, diferentemente da política praticada nos países avançados em que o financiamento pelo Estado é extremamente importante”. Não havia um esforço articulado e com metas claras para atrelar o desenvolvimento científico e tecnológico ao desenvolvimento industrial e econômico do País. Além disso, os recursos financeiros destinados ao CNPq eram parcos, como consequência de conflitos existentes entre governo federal e este Conselho, motivados por uma duplicidade de funções deste, pois

que, além de promover e estimular o desenvolvimento científico e tecnológico do País, o CNPq tinha sob sua responsabilidade as atividades inerentes ao manejo dos minérios radioativos (PIRAGIBE, 1985).

Como consequência dessas disputas, em 1956 é criada uma Comissão Nacional de Energia Nuclear. Em decorrência disso, segundo Albagli (1988, p. 117-118), “o Conselho entra numa fase crítica de esvaziamento”. No início da década de 1960 chegou-se a discutir a sua dissolução. No entanto, a Organização dos Estados Americanos (OEA) e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), especialmente esta última, impulsionada pelas resoluções da OEA – que conclamava os países latino-americanos investir em ciências e tecnologias – organizou diversas reuniões para reafirmar a necessidade de esses países desenvolverem uma política científica explícita. Segundo Velho (2010, p. 10), “existe grande concordância entre os analistas de que os organismos internacionais tiveram papel importante para a manutenção e o fortalecimento do CNPq”.

Motivada por orientações e pressões advindas da OEA e da UNESCO, o governo passou a sustentar e fomentar uma política para o desenvolvimento científico e tecnológico do país, com mais recursos financeiros, oriundos especificamente de parcerias com a UNESCO. Com o início do governo militar (1964), são fortalecidos o nacionalismo, a ciência e a tecnologia, o que motivou a elaboração de políticas voltadas para seu desenvolvimento.

É mister pontuar que os interesses no campo da informática no Brasil, no que se refere à produção interna de equipamentos, surgem nesse período – meados da década de 1960 – motivados por iniciativas da Marinha do Brasil, que objetivava implantar políticas públicas para desencadear a produção nacional de computadores, com a intenção de atender às suas demandas, haja vista, até então, depender de recursos tecnológicos externos, fato que os inquietava e desagradava, por conta da vulnerabilidade da segurança nacional.

Em 1968 foi lançado, pelo Governo do general Costa e Silva, um Programa Estratégico de Desenvolvimento (PED) com a proposta de, dentre outras coisas, fortalecer os aportes financeiros para possibilitar o desenvolvimento da Ciência e

Tecnologia (C&T) implementada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDE30) e CNPq. Nesse período, segundo Macarani (2006),

[...] o setor industrial, segundo apontavam as primeiras estimativas da época, desfrutara de uma excelente performance: sua taxa de crescimento teria se aproximado de 14%, enquanto os níveis alcançados pelo emprego industrial revelavam um quadro muito promissor tendo suplantado em todos os meses desse ano quaisquer outras marcas verificadas desde 1964 (p. 463).

Nessa perspectiva, foram criados fundos sob a administração do BNDE, para financiar a comercialização de máquinas e equipamentos produzidos no país, visando atender às demandas das empresas e dos órgãos de governo. Consequentemente, foi criado um grupo constituído por técnicos desse Banco e da Marinha do Brasil, com o objetivo de promover o planejamento, desenvolvimento e a construção de um protótipo de computador para ser empregado em operações navais. Segundo Tapia (1995), havia uma relação conflitante entre o BNDE e a Marinha do Brasil. A instituição bancária

[...] defendia a formação de uma empresa voltada para o mercado civil e a associação com os japoneses da Fujitsu e a Marinha queria a formação de uma empresa voltada para o mercado militar, e que o sócio externo fosse a empresa inglesa Ferranti, por que já era sua fornecedora (p. 21).

Esse grupo de trabalho tornou-se, por um lado, um campo de constituição de interesses e alianças e, por outro, o principal articulador e condutor da estratégia envolvida com a criação da indústria de informática no Brasil. “Todas as alianças necessários entre burocratas, militares e meio acadêmicos foram gestadas no interior do aparelho do Estado” (IKEHARA, 2000, p. 26). Diante disso ficou acordada a criação de duas empresas, uma para os militares e a outra para atender às demandas da sociedade civil.

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A Lei nº 1.628, de 20 de junho de 1952, criou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE). O início dos anos 80 foi marcado pela integração das preocupações sociais à política de desenvolvimento. A mudança se refletiu no nome do Banco, que, em 1982, passou a se chamar Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Informações disponíveis em:

<http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Institucional/O_BNDES/A_Empresa/historia.htm l>. Acesso: 14 mar. 2014.

Nessa ordem, era fortalecida uma movimentação entre as lideranças políticas, onde se discutiam e avaliavam as reais necessidades de implementar e estimularam o desenvolvimento da produção nacional de computadores, analisando como isso seria realizado. A partir de 1970, segundo Moraes (1993),

[...] o Brasil definiu-se pelo caminho da informatização da sociedade, mediante o estabelecimento de políticas públicas que permitissem a construção dessa base própria alicerçada por uma capacitação científica e tecnológica de alto nível, capaz de garantir a soberania nacional em termos de segurança e de desenvolvimento (p. 17). Em um cenário marcado por essas disputas político-econômicas, nesse período (1970), o Brasil iniciou definitivamente o processo de informatização. “É ao longo dessa década que se montam os principais órgãos de formulação da política governamental, a situação do mercado conhece modificações de vulto e a informática passa a assumir importância crescente” (TAPIA, 1995, p. 59). Era evidente a importância do desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil, não apenas para possibilitar a autonomia e soberania do País no seu processo de crescimento socioeconômico, mas como possibilidade de diversificação do setor industrial.

Assim, segundo Tapia (1995), em 1972 é criada uma Comissão para Coordenação das Atividades de Processamento Eletrônico (CAPRE), com o objetivo de tratar as questões relativas à informática no âmbito do Governo Federal. Foi o primeiro setor de Estado responsável pela elaboração de estratégias, via política pública, para inserção do País na produção nacional de equipamentos na área de informática. Logo após a sua criação, a CAPRE realizou um levantamento dos recursos humanos existentes no Brasil, visando implantar e assumir os projetos de informática. Uma pesquisa realizada pelo recém-criado Instituto Brasileiro de Informática (IBI) identificou a ausência de profissionais de nível médio e superior. É então criada outra Comissão, tendo também integrantes do MEC, para a formação de uma política para implementar um Plano Nacional de Treinamento em Computação (PNTC), que tinha, entre suas metas, a criação de cursos de graduação e pós-graduação em informática (GINDRE, 2002).

No campo político, o governo brasileiro, nesse período, sob o comando do general Emilio Garrastazú Médici (1969-1974), vivia o período do “milagre

econômico”, denominação essa em face do exponencial crescimento do País: o Produto Interno Bruto (PIB) crescia a uma taxa de quase 12% ao ano, com investimentos internos e empréstimos do exterior (VELOSO et al, 2008). O País garantiu milhões de empregos e a consolidação de uma infraestrutura urbana, com a construção de megaobras, como, por exemplo, a ponte Rio-Niterói.

A opção pela informatização da sociedade se traduziu em uma longa disputa política interna quanto à entrada de capital estrangeiro (Estados Unidos, Europa, entre outros), para consolidar a produção nacional, ou apenas restringi-lo ao capital nacional – reserva de mercado – assim como questões referentes à linha de produção, ao estabelecimento de parcerias entre mercados, à normatização dessas ações, dentre outras situações.

É importante registrar que reserva de mercado31 foi uma política governamental que impediu, legalmente, o acesso e a importação de uma determinada classe de produtos e bens de consumo com vistas a uma pretensa proteção e desenvolvimento da indústria nacional. Isso se materializou na restrição à importação de uma série de produtos – equipamentos e periféricos – do setor de informática, com vistas ao desenvolvimento tecnológico local.

A CAPRE, segundo Tapia (1995), aprovou uma recomendação

[...] de que a política de informática para o mercado de mínis, micros e periféricos, equipamentos de transmissão de dados e terminais se orientasse visando obter condições para a consolidação de um parque industrial com total domínio, controle da tecnologia e decisão no país (p. 31).

Nesse panorama, em 1974, foi criada a primeira empresa brasileira de fabricação de computadores, Computadores Brasileiros S.A (COBRA)32, que inicia, em 1976, a produção nacional de computadores. É imprescindível pontuar que a montagem de computadores no Brasil foi iniciada com a International Business Machines (IBM), nos anos 1960, comercializando produtos fabricados nos Estados Unidos. Atente-se que era uma empresa com 100% de capital estrangeiro. A concepção inicial para o desenvolvimento de uma política nacional de informática no Brasil era que as empresas

31 Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Reserva_de_mercado>. Acesso em: 18 mar. 2013. 32

deveriam ser formadas tendo em sua composição um “tripé” formado por: capital estatal, privado e estrangeiro. No entanto, o BNDE, como instituição que apoiaria com recursos financeiros a criação da nova empresa e a comunidade científica era contra a associação ao capital estrangeiro.

Assim, a CAPRE e o BNDE, para Tapia (1995, p. 30), “definiram com êxito um esquema alternativo para a estruturação da COBRA por meio da participação de bancos privados e não de empresas com experiência industrial”. A opção por bancos aconteceu motivada pela necessidade de instituir um mercado que favorecesse o desenvolvimento comercial da Empresa. Ainda segundo o autor, a COBRA “tornou-se uma empresa nacional com predomínio acionário do capital estatal” (p. 30).

Em 1977 foi então publicada a Resolução n.º 05/77, que fixava os critérios que orientariam a CAPRE na concessão de incentivos fiscais e na aprovação de pedidos de importação de peças, partes e componentes para fabricação de computadores no país, onde, como aponta Tapia (1995, p. 31), a CAPRE foi “cautelosa e evitou a menção ao termo reserva de mercado”. Os critérios eram:

a) Grau de abertura tecnológica e absorção de tecnologia, com prioridade para empresas que estivessem estruturadas de forma a recorrer à engenharia nacional para conceber e projetar seus novos produtos e técnicas de produção;

b) Índices de nacionalização com prioridade para empresas sem vínculo permanente com fornecedores no exterior;

c) Participação da empresa no mercado interno, para evitar o estabelecimento de um grau excessivo de concentração da produção;

d) Participação acionária nacional;

e) Balanço de divisas, com prioridade para as empresas que apresentassem perspectivas mais favoráveis ao país (DANTAS, 1988, p. 130).

A indústria nacional ganhou “maior impulso” a partir de 1978, quando passou a vigorar a política de reserva de mercado, que se traduziu em ações para empresas genuinamente nacionais, ou seja, cujo aporte financeiro não fosse oriundo do capital estrangeiro. A Secretaria Especial de Informática (SEI), criada em 1979, como órgão complementar da Secretaria de Segurança Nacional, atuou na ampliação da reserva de mercado para vários segmentos industriais ligados ao complexo eletrônico.

Importante pontuar que, dez anos antes (em 1967), havia sido criada a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa33), com sede em Manaus, uma autarquia vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, que administra a Zona Franca de Manaus (ZFM). A Suframa34 viabilizou a implantação dos três pólos que compõem a ZFM, comercial, industrial e agropecuário, e promoveu a interiorização do desenvolvimento por todos os estados da área de abrangência do modelo. Reunia indústrias de ponta das áreas de eletroeletrônica, veículos de duas rodas, produtos ópticos, produtos de informática e indústria química. Contudo, o processo de constituição da indústria nacional de informática, iniciada ao final da década de 1970, foi marcado pela ausência de articulação entre as diretrizes da SEI, da Suframa e as do Ministério das Comunicações (Minicom).

Os conflitos com a Suframa tiveram início quando esta aprovou projetos de várias empresas da área de informática e a SEI não concordou com a fabricação de equipamentos de processamento de dados na ZFM. Temia-se que ocorresse um processo de desnacionalização tecnológica, o que conduziria, em última análise, a uma desnacionalização da própria indústria, assim como ocorreu com as indústrias brasileiras de rádio e televisão na década de 1960, tendo como causa as facilidades de importação. Estas indústrias “tinham maiores facilidades de importação, não se sujeitando aos rígidos controles caso a caso vigentes no resto do país” (IKEHARA, 2000, p. 58).

Para Tapia (1995, p. 17), “essa falta de coerência das políticas para o complexo eletrônico produziu fortes tensões e disputas políticas, além de afetar negativamente as iniciativas da SEI”. Aponta ainda que a trajetória dessa política foi marcada, em grande parte, pelas repercussões desses fatores sobre sua base de sustentação política. Isso porque, segundo Tigre (1993, p. 58), “ao contrário de zonas francas instaladas em outros países em desenvolvimento, a ZFM é um entreposto de importação e não de exportação”.

Ainda, segundo Ikehara (2000),

33

Mais informações estão disponíveis em

<http://www.suframa.gov.br/suframa_o_que_e_suframa.cfm>. Acesso em: 18 jan. 2013.

34 Mais informações estão disponíveis em <http://www.suframa.gov.br/cidadao/autarquia_zfm.cfm>.

A desarticulação entre as políticas de informática, comunicações e eletrônica de entretenimento representam um problema para o desenvolvimento da eletrônica no Brasil. Cada setor tem uma estrutura industrial distinta, o que dificulta sua integração em conglomerados eletrônicos. Assim perde-se a oportunidade de gerar economias de escala e escopo inerentes à produção diversificada. Além disso, a experiência industrial e tecnológica acumulada por empresas de um setor raramente se transfere aos demais, atrasando assim o processo de capacitação nacional (p. 58).

Essa situação envolveu um intenso debate entre os governos federal e estadual, tendo envolvido parlamentares do Amazonas e o MCT. Em fins de 1985, chegou-se a um acordo limitando o espaço dos benefícios fiscais para empresas de informática localizadas na ZFM, com vistas a solucionar esse impasse.

A crescente demanda da sociedade, nesse período, para inserção da indústria de informática no Brasil, ocorreu muito por conta do “informacionalismo como paradigma tecnológico”, o que, segundo Castells (2001, p. 139) “substitui o industrialismo como matriz dominante das sociedades do século XXI”. Como consequência dessa substituição, houve uma intensificação da globalização da economia, o que desencadeou mudanças nos processos produtivos, na distribuição e no consumo de tecnologias digitais a partir da década de 1980. Nessa perspectiva, Torres (1995, p. 118) afirma que “em grande parte, esta globalização se dá por mudanças na economia, na informática e nas comunicações que aceleram a produtividade do trabalho, substituindo trabalho por capital e desenvolvendo novas áreas de alta produtividade”. Esse conjunto de transformações globais reverberou diretamente no cenário político e econômico brasileiro.

Em paralelo, a tecnologia utilizada nos computadores sofre alterações vultosas ao longo da metade do século XX, à medida que pesquisas e experimentos para a produção de tecnologia da informação avançaram, principalmente nos Estados Unidos. Em 1974 a Empresa Intel Corporation projeta o microprocessador35, tecnologia que permite a criação do computador pessoal ou microcomputador. Em 1976 o primeiro computador pessoal é montado – o Apple I – por Steve Jobs e Stephan Wozniak, modificando o cenário, uma vez que, até então, só eram comercializados grandes

35 Uma micropastilha de silício com vários circuitos integrados, mais a Unidade Central de

Processamento (CPU, em inglês), e milhares de transistores –Maiores informações estão disponíveis em <

computadores (mainframes), com elevado poder de processamento de dados, que eram

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