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"A civilização se depurará um dia, fazendo desaparecer os males que tenha produzido ? — Sim, quando a moral estiver tão desenvolvida quanto a in- teligência. O fruto não pode vir antes da flor." Allan Kardec, em

O Livro dos Espíritos, item 791

Á MEDIDA QUE as comunidades terrícolas foram cres- cendo, as primeiras manifestações do domínio e da força, do forte sobre o mais fraco foram ficando cada vez mais acen- tuadas, conforme o clã, a tribo ou a nação.

Inicialmente era apenas o domínio tirano e despótico, e- xercido de maneira a subjugar o mais simples e pequenino, coagindo pela força bruta, em época em que a inteligência e o senso moral eram pouco desenvolvidos.

Aos poucos foram se firmando os conceitos de autorida- de, e impuseram-se o respeito e a disciplina como bases mínimas de estruturação dos governos.

Auxiliados pêlos prepostos de Jesus, que a tudo orienta- vam com vistas ao futuro da raça humana no planeta Terra, aqueles que se encontravam no poder, assim como os que eram governados, foram recebendo as inspirações do Alto e, conforme as circunstâncias e a índole de cada povo, foram aos poucos humanizando as diversas formas de governo, embora isso tenha consumido séculos e séculos de experiên-

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E importante notar como Alex Zarthú identifica e valoriza a trajetória de desen- volvimento das diversas sociedades, particularmente demonstrada nos dois capítu- los anteriores e aqui sintetizada. Todas as filosofias e religiões — manifestações do raciocínio humano que tradicionalmente estiveram de mãos dadas — procuraram, ao longo do tempo, tanto no Oriente como no Ocidente, tomar a disciplina, o respeito e a educação moral como base, cada uma a seu modo. Certamente que, relacionado a isso, há o oportunismo e o acanhado senso ético de muitos homens. Aproveitando-se da intervenção do plano espiritual em nossos sistemas de pensa- mento, utilizaram seus conhecimentos e experiências para erguer governos centra- dos no poder religioso e na dominação cultural. No Ocidente, entretanto, a etapa dos estados teocráticos foi vencida, e será, no futuro, superada no Oriente.

cias realizadas no grande laboratório das civilizações. Mas, entre as intuições do Alto e a execução no plano físico, esta- va a dificuldade do homem em captar as idéias superiores, por se encontrar no plano mais denso, causa natural de mui- tas dificuldades para as comunidades da Terra.

Inspirados em modelos de comunidades extrafísicas que se localizam no plano etérico ou astral, aos poucos os ho- mens foram absorvendo o conhecimento e tentando copiar modelos originais de comunidades e organizações do espa- ço. Nos dias atuais, continuam a receber essas idéias e intui- ções, apesar de se conservarem, ainda, distantes do ideal.

Sistemas de leis, de governos e as próprias relações hu- manas foram aos poucos sendo modificados segundo o im- pulso de emissários do Alto que inspiravam os agrupamen- tos humanos. Ora no plano das realidades imortais, ora reen- carnando, tais espíritos contribuíram para o progresso das coletividades terrestres.

A Terra, de quando em quando, foi visitada pelos gênios do pensamento universal, que aqui reencarnaram para im- pulsionar a marcha das civilizações. Sopro renovador era percebido de tempos em tempos nas diversas latitudes do planeta. Nenhuma nação, em particular, poderia com certeza dizer ser a privilegiada de Deus, por deter este ou aquele aspecto da Verdade ou do conhecimento. Todas receberam a inspiração do Alto, todos os povos tiveram uma parcela do conhecimento e todos igualmente foram abençoados com as reverberações luminosas da Verdade.

Não havendo privilégios na criação divina, podeis enten- der o investimento que o Alto fez nas diversas épocas e nos diversos lugares, tendo em vista a ascensão espiritual de povos e nações.

Embora as leis humanas48 e nacionais recebam de tempos em tempos esse sopro renovador que é enviado para o aper-

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Leis humanas – Ver, a propósito da influência dos espíritos nas legislações humanas, O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, itens 794 a 797.

feiçoamento dos governos terrícolas, é compreensível que conservem muitas inferioridades, que refletem a situação geral do homem da Terra. Vivendo em tempos de barbárie, ele não poderia compreender sistemas mais perfeitos; hoje, não comporta ainda governos mais elevados.

Mesmo recebendo as intuições renovadoras do Alto, cada nação do planeta, cada comunidade, assim como cada indi- víduo, recebe o governo e as leis mais compatíveis com o seu estado evolutivo. Se é verdade que cada povo tem o go- verno que merece, é porque os governos e as leis nacionais apenas refletem a soma das consciências, dos sentimentos do povo e da nação.

Os líderes nacionais, os déspotas ou os governantes mais conscientes são o resultado da soma dos sentimentos dos indivíduos que compõem a nação. Os regimes totalitários, a tirania de certos soberanos terrestres, o político corrupto foram forjados pela aura magnética do povo, e eles apenas refletem o estado geral ou o sentimento coletivo, como se fossem médiuns da nação que representam ou que dominam. Mudem-se as disposições íntimas da população, modifique- se interiormente o homem, e o governo e os governantes serão igualmente melhores, compatibilizando-se com a rea- lidade e a necessidade de um povo mais aperfeiçoado.

Isso posto, é lógico pensar que, para a humanidade eleger um governo ideal, há que elevar-se cada indivíduo, bem como toda a família nacional, ao merecimento de leis mais justas e governos mais bem preparados.

A base de tais realizações políticas é a política do Si. É preciso que o homem se conheça melhor e se melhore a fim de melhorar o país, o mundo. É a política da transformação íntima e do reflexo geral. Não adianta desejar governos e leis melhores se cada um não se eleva, não se modifica. Não basta realizar passeatas e protestos; é preciso modificar o indivíduo, mudar os padrões mentais, reeducar cada um a si mesmo, e então, por resultado natural, o homem conviverá com um sistema de governo mais justo. O governo é a soma

dos indivíduos que compõem um povo. Modifique-se o ho- mem, e suas leis serão mais justas.

A política49 do Cristo está expressa no sermão da monta- nha (Lc 6:17-49), princípios por ele expostos com vistas a preparar um mundo melhor. É a política interior da não- violência, da paz íntima, da serenidade da alma, do dever bem cumprido, da elevação da consciência, da mansuetude. Eis a base de um governo sadio e justo.

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Política, segundo Platão e Aristóteles, está necessariamente em relação com a ética e o regresso íntimo de cada ser humano, e não diz respeito apenas a cargos governamentais, pois "envolve, em cada cidade, todo o povo, escravos ou homens livres, mantendo-nos juntos em sua trama" (PLATÃO, apud RUSS, 1994, p. 221). A política rege, portanto, as relações sociais.

A ética, por sua vez, tem na educação moral sua origem e as condições necessárias ao seu desenvolvimento. Daí a importância de se abordar ética e moral na educa- ção, pois só assim formaremos cidadãos conscientes de suas responsabilidades sociais e políticas, que possuam um compromisso ético com a comunidade. Vários pensadores e educadores contemporâneos discorrem acerca desse tema: Rubem Alves, Fernando Savater, Leonardo Boff, Dora Incontri, André Comte-Sponville, entre outros.

No documento Gestação da Terra (Robson Pinheiro) - PDF (páginas 73-77)