• Nenhum resultado encontrado

Lutero e a Reforma

No documento Gestação da Terra (Robson Pinheiro) - PDF (páginas 105-111)

"Quando ele abriu o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos que foram mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que deram." Apocalipse 6:9 "Importa que profetizes outra vez acerca de muitos povos, na-

ções, línguas e reis." Apocalipse 10:11

ENTRE OS ESPÍRITOS que foram chamados para reen- carnar na Terra, na longa noite de trevas espirituais, Lutero78 foi um dos mais lúcidos representantes do Alto. Sendo a reencarnação de um dos seguidores mais próximos de Jesus, foi chamado para conduzir uma réstia de luz ao seio da Igre- ja, que se afastara dos ensinamentos do Cristo.

Martinho Lutero foi um homem comprometido com a verdade. À sua época, foi o escolhido de Jesus para efetuar a grande reforma, abrindo caminho para que, mais tarde, a humanidade recebesse a obra do Consolador.

A severa disciplina a que se acostumara desde a infância pobre forjou em Lutero o caráter forte e reto, honesto e reso- luto. Fiel às suas convicções íntimas, ofereceu recursos para ser utilizado como médium dos planos mais altos e foi ins- trumento sensível nas mãos dos mentores espirituais.

Auxiliado de perto por Staupitz79 e mais tarde por Melan- chthon80, Lutero iniciou a monumental obra da Reforma,

78

Martinho Lutero (1483-1546), o maior vulto da Reforma Protestante, teve sua vida ligada aos estudos de filosofia; posteriormente, enquanto monge eremita agostiniano, aprofundou seus conhecimentos e tornou-se dos mais eminentes teólo- gos. De origem camponesa, nasceu e viveu na região hoje correspondente à Alema- nha, onde liderou o movimento que culminou na fundação da religião luterana. Embora romper definitivamente com o catolicismo não tenha sido sua intenção inicial — tal fato parece lhe ter causado certo desapontamento no fim da vida —, o Luteranismo permanece como um marco que redefiniu os rumos do Cristianismo.

79

Johann Staupitz (?-1524), supervisor eclesiástico e amigo pessoal de Lutero, exerceu grande influência no pensamento teológico do futuro reformador, além de tê-lo socorrido em seus conflitos íntimos, na época do monastério. O autor das 95 teses reconhecera repetidas vezes a gratidão a seu tutor, Staupitz.

80

Melanchthon, alcunha de Philipp Schwarzerd (1497-1560), foi importante parcei- ro de Lutero, particularmente a partir da redação da Confissão de Augsburg (1530)

retirando do claustro a letra do Evangelho e tornando de domínio público os ensinamentos da Bíblia. Corajosamente atacou a incredulidade especulativa dos escolásticos e com- bateu a filosofia dos papas de Roma.

Afixando as suas 95 teses na porta da igreja do castelo de Wittenberg, acendeu uma luz cujos efeitos se fizeram sentir nos lugares mais distantes da Terra.

A voz do reformador era ouvida em solene e ardorosa advertência contra os abusos da Igreja decaída. Ante a expo- sição clara e simples do Evangelho, feita pelo gigante da Reforma, as multidões supersticiosas ficaram melindradas em seus esforços, quando a Reforma varreu os sofismas dos representantes de Roma. Escolásticos, com seus ardis, foram obrigados a interromper seus crimes, pois seus lucros com a religião estavam perigando.

Lutero foi sustentado por espíritos esclarecidos, que o amparavam na reforma religiosa que operaria.

Foi difamado pela Igreja e perseguido em seus ideais, mas manteve firme a fé na Providência, sendo inspirado pelo Alto em sua tarefa hercúlea.

Seus ensinos, que levavam o povo a agir e pensar por conta própria, sem os insultos e pretensões do clero romano, derrubaram a coroa do Sumo Pontífice e abalaram para sem- pre o trono dos papas. A Reforma opôs-se à mais poderosa força da Terra em sua época, mas foi vitoriosa em seus pro- pósitos.

A doutrina da Reforma atraiu a atenção dos pensadores de toda a Alemanha. Multidões se deixaram banhar na fé viva que bania o formalismo religioso da época. Caíam as pretensões do romanismo e as superstições papais. Por toda parte, despertava o desejo do progresso espiritual. A fome e a sede de justiça se faziam patentes no coração do povo.

— texto chave do Luteranismo até os dias atuais. De temperamento mais pacato, menos radical e mais conciliador que o do ex-monge, Melanchthon tornou-se o principal líder do novo movimento reformista após o desencarne de seu mentor, em 1546.

Na Dieta de Worms81, Lutero teve a oportunidade de co- nhecer de perto a face de uma Igreja corrompida pelo poder, mas também de provar a sua lealdade aos ensinos do Evan- gelho do Cristo. Os chefes da Igreja secular aborreceram-se com o poder da palavra de Lutero. Os princípios defendidos por ele, na Reforma, fizeram tremer reis e soberanos e inco- modaram profundamente a tranqüilidade enganadora dos bispos e cardeais.

Os homens orgulhosos e acostumados à regalia e às ho- menagens e louvores do povo não serviram como instrumen- tos do eterno bem, na obra de despertamento espiritual. Os principais reformadores foram pessoas simples e seleciona- dos pelo sofrimento e privações.

Em todo lugar do planeta, começaram a renascer, nos ambientes humildes, os espíritos que haveriam de auxiliar a humanidade a sair das trevas morais em que se encontrava.

Enquanto em Wartburg Lutero completava a sua tradução do Novo Testamento82, os príncipes cristãos se uniam por toda a Europa e amparavam a causa da Reforma. A Dieta de Espira, em 1529, foi a resposta positiva dos nobres83 cristãos

81 Dieta de Worms. A dieta (assembléia de nobres e religiosos) realizada em abril

de 1521, na cidade de Worms, fora convocada para que Lutero se retratasse e contou com a presença do próprio Imperador Carlos V. É, todavia, em Worms que o reformador registra um dos seus trechos de maior lucidez e representatividade: "A menos que eu seja convencido pelo testemunho das Escrituras ou pela razão pura (pois não confio apenas no Papa ou nos concílios, uma vez que é público o fato de eles terem, com freqüência, incorrido em erro ou entrado em contradição), estou preso pelas Escrituras que citei e minha consciência é cativa da palavra de Deus. Eu não posso nem irei renegar nada, já que não é seguro, nem correto, ir contra a consciência. Não posso agir de outro modo".

82

É pioneira a tradução das Escrituras nos moldes em que realizou Lutero, direta- mente do original grego para a língua popular: neste caso, o alemão. Convicto de que cada um deveria ter acesso aos textos sagrados — salvo raras exceções, dispo- níveis apenas em latim —, Lutero encorajava a interpretação popular da Bíblia. O feito colaborou ainda, devido a sua maestria no trato com o idioma, para a elabora- ção de uma nova linguagem literária germânica.

83

Nobres. O movimento reformista liderado por Lutero é criticado pela história por haver sido ele o único reformador que, elaborando corpo doutrinário próprio, popularizou-se devido a aliança firmada com as elites e a nobreza das cidades- estado alemãs, e não com a burguesia nascente. Contudo, não há como negar que o Luteranismo foi o movimento reformista de maior impacto para a Igreja — tanto filosófico quanto social — e de mais ampla significação para a cristandade medie- val. Certamente há uma relação entre o apoio dos nobres e a disseminação da nova religião. A partir de 1529 os luteranos recebem a denominação, hoje de caráter

que estavam revoltados com os abusos da Igreja. Uniram-se para apoiar a Reforma, respondendo ao chamamento do Alto, que todos os esforços empreendia para libertar a hu- manidade da longa noite das trevas medievais. Espíritos esclarecidos iam e vinham entre os vários povos da Europa, realizando a obra de conscientização dos nobres, para que estes pudessem, também, dar o seu testemunho pela causa.

Quem pudesse observar com os olhos do espírito veria a falange inumerável de espíritos lúcidos que inspiravam os encarnados para facilitar a obra de reforma na Igreja. Inten- tavam quebrar as algemas que prendiam a humanidade às trevas desoladoras do papado. A falange do Espírito da Ver- dade já preparava, séculos antes, o caminho para o Consola- dor.

Entre as contendas e as batalhas efetivadas contra os princípios da Reforma, Roma sofria os golpes que abalaram a sede do seu poder, a sua doutrina. Os reformadores prosse- guiam sua tarefa, em obediência ao comando do Alto. A visão dessa obra empreendida pelos heróis da Idade Média assemelha-se a um vasto exército84 caminhando pela Terra, obedecendo ao comando do seu general.

Perante o Imperador Carlos V e seus príncipes e eleitores, foi lida a confissão de fé dos protestantes. Nessa assembléia memorável, sob a augusta proteção dos emissários invisíveis de Jesus, foram rejeitados oficialmente os abusos do poder religioso, e aquele dia, declarado como um dos mais impor- tantes na história da humanidade e do Cristianismo. Aquilo que Roma e o imperador proibiam fosse pregado ao público era agora pregado no palácio e perante os representantes das nações. As trevas começaram a ceder às claridades do Evan- gelho. A letra do Evangelho estava liberta do claustro e dos sofismas dos teólogos. A Reforma triunfara. Breve, na con-

genérico, de protestantes.

84 A metáfora do exército, escolhida pelo autor espiritual para falar dos reformado-

res, não é casual. O Espírito da Verdade, no prefácio de O Evangelho segundo o Espiritismo, assim se referia ao trabalho dos espíritos na época da Codificação (leia mais no capítulo A Doutrina Espírita}.

tagem dos séculos, viria Kardec, para libertar o espírito da letra, trazendo o sentido verdadeiro e a simplicidade dos ensinamentos do Mestre da Galiléia.

As forças das sombras se aliavam para impedir que o po- vo visse as claridades da mensagem evangélica, mas as fa- langes da luz trabalhavam para vencer o império das trevas, a força dos Dragões, que tinham interesse em manter a igno- rância entre os homens, como base de seu poder.

As forças soberanas da vida, sob a égide do Cristo, foram suscitando valorosos espíritos, que reencarnaram para au- mentar o clamor da Reforma, trazendo mais luz em outros recantos do vosso mundo.

Após lutas árduas e grandes batalhas, a liberdade religio- sa alcançou os Países Baixos. Desde as montanhas do Pie- monte às planícies da França e às praias da Holanda, a liber- dade de adorar a Deus foi sendo admitida aos poucos, prepa- rando o povo para a vinda da Doutrina Consoladora nos séculos futuros. Na Suécia, na Dinamarca e em sua colônia à época, a atual Noruega, novas luzes vieram do Alto, através de espíritos que reencarnavam com a missão de esclarecer os homens.

Enquanto nesses países o povo se abria ao entendimento de certas verdades, importantes para a sua época, na Ingla- terra, Tryndale era o instrumento do Alto para libertar os irmãos daquela terra do domínio da igreja romana. Tryndale completaria a obra de Wyclif, e, assim, a Inglaterra passaria também a usufruir da liberdade religiosa, podendo o povo adorar a Deus conforme os ditames de sua consciência. Os reformadores, como Lutero, Jan Huss, Wyclif85, Zwingli86 e

85

Wyclif. Precursor da Reforma Protestante, John Wydiffe, ou Wyclif (c. 1320- 1384), influenciou grande parte do pensamento reformista até o século XVI. Reve- renciado por muitos leitores — entre eles, Jan Huss — seus escritos, polêmicos e de caráter radical, provocaram dura perseguição por parte do alto clero, que chegou a editar a bula papal que determinava sua pri-são. Mantido em liberdade de-vido ao seu prestígio junto ao príncipe, Wyclif detinha enorme simpatia popular. Dedicou sua vida ao combate às indulgênci-as e à valorização das Escritu-ras e do papel do Cristo — se-gundo o estudioso britânico, o único chefe legítimo da Igreja.

86

Zwingli. Reformador suíço, Ulrich ou Huldreich Zwingli (1484-1531) era sacer- dote e estudioso das artes, da filosofia e do Cristianismo. Sua teologia aproximava-

tantos outros, defendiam a liberdade das consciências, ne- gando o direito e o domínio de papas e cardeais, concílios e padres, que intentavam dominar as mentes e a religião.

Várias foram as contribuições desses espíritos que reen- carnaram em meio às trevas da Idade Média, para libertar a mente do povo. Em sua época foram mal-compreendidos, mas hoje, quando estudais a história espiritual de vossa hu- manidade, não podeis esquecer dessas almas valorosas que vieram, séculos antes de Kardec, preparar os caminhos para os espíritos do Senhor, as vozes dos céus.

se daquela elaborada por Lutero no tocante à valorização das Escrituras, à ênfase na salvação pela fé e à afirmação do Cristo como o único intermediário e representante de Deus. Entretanto, devido a posicionamentos amplamente divergentes no que se referia aos sacramentos, à natureza do culto e à remissão dos pecados, houve mar- cante oposição entre o reformador alemão e Zwingli. Casara-se em segredo, toman- do público o fato somente anos mais tarde, e morreu no campo de batalha, na luta com os representantes da ortodoxia religiosa suíça.

No documento Gestação da Terra (Robson Pinheiro) - PDF (páginas 105-111)