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as relações de trabalho, bem como a saúde dos trabalhadores. Claro que devemos considerar que estes processos podem ocorrer em menor escala na rede municipal devido à peculiaridade da Resolução Municipal a respeito das avaliações externas, conforme veremos a seguir. Todavia, é importante destacar o percentil de professores que já apontam pela sua inadequação (29,03%) e, além disso, os 6,45% dos respondentes que consideram mais do que "inadequada", ou melhor, "excessiva".

A Resolução Municipal fixa os princípios da avaliação da aprendizagem e das condições da oferta do ensino na rede municipal e estabelece em seu art. 5º A avaliação da

aprendizagem do aluno será contínua e cumulativa, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos, feita mediante verificação de aprendizagem e do desenvolvimento de competências. Através deste artigo, poderíamos dizer que a avaliação

adotada pela rede municipal se aproxima da pedagogia das competências. E ainda, de acordo com o art. 18º da referida Resolução traz, os resultados da avaliação da aprendizagem e do

desenvolvimento do aluno, a partir do quarto ano do Ensino Fundamental, serão expressos por meio de uma escala de zero a dez inteiros, indicando a avaliação global do aluno.

Sugerindo assim, avaliação por desempenho. Segundo Saviani (2008), a pedagogia das competências tem o objetivo de dotar os indivíduos de comportamentos flexíveis para que estes se ajustem às condições de uma sociedade em que, nem ao menos as necessidades de sobrevivência estão mais garantidas. O objetivo maior é ajustar o perfil dos indivíduos ao tipo de sociedade decorrente da reorganização do processo produtivo, maximizar a eficiência e tornar os sujeitos mais produtivos. A pedagogia das competências alinha-se, portanto, ao neotecnicismo, em que o controle desloca-se do processo para os resultados e, é através da avaliação dos resultados que se buscará garantir a eficiência e a produtividade. Avaliam-se as escolas, os alunos, os professores e a partir dos resultados condiciona-se a distribuição de verbas e recursos conforme critérios de eficiência e produtividade. A pedagogia das competências se alinha ao gerencialismo e à quantofrênia (doença da medida, designa-se uma patologia em definir fenômenos sociais e humanos em índices e termos matemáticos, de caráter funcionalista e objetivista). (GAULEJAC, 2007). Com base em Alves (2009, p.123- 124), podemos considerar que o “tempo de vida” dos professores, deste modo, tende a ser consumido pelo “tempo de mercado”. Em outras palavras, há uma “disseminação das implicações laborais de cariz mercantil” que invade toda e qualquer forma de reprodução e sobrevivência do ser social, do trabalhador assalariado estável ao proletário (ALVES, 2009, p.123-125). E, neste sentido, o conjunto dos trabalhadores é atingido ou influenciado negativamente, pela condição de proletariedade e de mercantilização do trabalho.

A grande questão é que, muitas vezes, a avaliação por desempenhos torna-se desconectada da realidade do trabalho. Isto é bastante comum na fala dos professores quando se referem às avaliações externas. Na referida Resolução, o art. 24º traz A aprendizagem do

aluno da rede municipal de ensino poderá ser avaliada por instrumentos de avaliação externa, de caráter essencialmente diagnóstico, sendo vedada a utilização de seus resultados para a classificação das escolas, punição ou premiação dos trabalhadores da educação; e

art. 25º traz Os instrumentos de avaliação de aprendizagem da Secretaria Municipal da

Educação deverão se articular com aqueles elaborados em âmbito estadual e federal, evitando-se a aplicação de diferentes instrumentos para um mesmo fim.

De qualquer maneira, segundo Dejours (2008), uma das grandes dificuldades que concernem a avaliação é que o trabalho efetivo não é quantificável diretamente. Temos acesso ao conhecimento do trabalho, mas não podemos deixar de considerar a subjetividade dos trabalhadores. Para ele, é através da palavra que conseguimos ter acesso ao sentido do trabalho e à subjetividade do trabalhador. Não dá para ver, é preciso dizer sobre o trabalho. Não estamos negando a importância da avaliação, pelo contrário, estamos destacando, assim como os 29% dos professores, que ela é necessária; porém, parece enfrentar dificuldades práticas, o que pode justificar que outros 29% dos professores a considerem inadequada.

Outro ponto importante para destacarmos se refere às consequências da avaliação e gestão à saúde do trabalhador. Entre os diferentes métodos avaliativos, a avaliação individual por desempenho é a mais nociva.Se as avaliações são da escola, dos alunos, isto não quer dizer que não se produza, na prática social real, conflitos entre docentes representados como produtivos e improdutivos, de forma análoga, guardadas as especificidades, ao que ocorre com professores universitários (SILVA, 2013).De acordo com DEJOURS (2008),

a avaliação individualizada gera condutas de concorrência generalizada entre trabalhadores que chegam até à deslealdade. O resultado mais tangível desses novos métodos de avaliação é a desestruturação da solidariedade, da lealdade, da confiança e do prazer de conviver no trabalho (DEJOURS, 2008, p.80).

Essas formas de avaliação e gestão, intensamente presentes na rede estadual de ensino por meio das políticas de bonificação atrelada aos resultados do SARESP/IDEB, e provavelmente em menor escala na rede municipal da presente pesquisa, como a própria Resolução Municipal traz no seguinte trecho do art. 24º: "sendo vedada a utilização de seus

educação", caminham para dissolver a solidariedade do grupo, transformando cada um em

concorrente dos demais. Muitas vezes a avaliação acaba por comparar e, até mesmo punir, ao invés de contribuir para com os grupos de trabalho. Os professores da referida pesquisa afirmam que os resultados das avaliações externas não interferem inteiramente no seu modo de trabalhar e no grupo de trabalho, pois na rede municipal, estas avaliações têm caráter diagnóstico e os resultados não são divulgados para classificar as escolas. Mas, também revelam que, nos meses que antecedem a aplicação destas avaliações, a maioria dos professores e a gestão mostram-se preocupados em treinar seus alunos para uma execução mais assertiva destas provas. Há, talvez, uma certa incoerência nesses discursos que poderemos tratar mais adequadamente na análise das entrevistas. É importante destacar que as avaliações, especificamente as avaliações externas, nos moldes como são engendradas, desenvolvidas por meio de mecanismos de pressão e cobranças, corroboram como meio de controle do trabalho do professor a nível pessoal e organizacional, revelando seu traço empresarial num modelo de gestão gerencialista (PIOLLI; SILVA; HELOANI, 2015).

Desta maneira, queremos deixar claro, assim como aponta Dejours (2008), que a avaliação é necessária. O que estamos tentando elucidar aqui são suas dificuldades e entraves e que nos moldes em que ela é feita têm frequentemente causado efeitos penosos sobre a saúde dos trabalhadores.

Perguntamos também como os professores avaliavam a unidade escolar segundo condições de trabalho, estrutura física, ambiente de trabalho e gestão escolar. A seguir, apresentamos um gráfico que sistematiza todos estes itens juntos para melhor visualização.

Fonte: Organizado pela autora, a partir da análise dos dados do questionário.

Como podemos visualizar, todos os itens (condições de trabalho, estrutura física, ambiente de trabalho e gestão escolar) foram avaliados como "bom" por mais de 55% dos respondentes. Além destes indicadores, outro dado que nos salta aos olhos é a avaliação dos respondentes quanto à gestão escolar, considerada como "ótima" para 34,48% deles. Estes itens, avaliados positivamente, representam bons indicadores que nos levam a pensar que podem se constituírem como possíveis justificativas sobre a permanência dos professores nesta escola e também para a possibilidade de encontrar vivências de prazer no trabalho.

Em contrapartida, não podemos deixar de considerar a parcela de respondentes que avaliaram como "regular" três dos itens avaliados, a saber: 24,13% referente à estrutura física, 17,24% referente ao ambiente de trabalho e 13,79% referente às condições de trabalho. Quando comparados ao item "bom", estes percentis parecem baixos, porém, são também importantes. Destacamos o percentil assinalado como "regular" referente à estrutura física, dado este previamente apontado no item "Caracterização da escola pesquisada". Mais uma vez consideramos que, estes indicadores poderão ser mais bem compreendidos em sua diversidade no aprofundamento das análises das entrevistas.

Na pesquisa do INEP (FLEURI, 2015), a TALIS (OECD, 2014) explicita, sob sua ótica, que o grau de satisfação profissional dos professores está relacionado a sentimentos de valorização profissional 0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00% 70,00%

Ótimo Bom Regular Ruim Não respondeu