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CAPÍTULO 2 – REVISÃO DA LITERATURA

8. Assunto Não apresenta subtipo Sobre, em relação a

2.2.2 A Gramática do Design Visual

Com princípios baseados na GSF de HALLIDAY; MATTHIESSEN (2004), Kress e Van Leeuwen (2006) propuseram a Gramática do Design Visual (GVD), ou Gramática Visual, como também é conhecida. De acordo com a GVD, as imagens estáticas, assim como as orações na linguagem verbal, coordenam-se de tal maneira a ter três linhas de significado: a. significados representativos; b. significados interativos e c. significados composicionais (KRESS; VAN LEEUWEN, 2006). Essas linhas de significado correspondem às metafunções ideacional, interpessoal e textual da GSF (HALLIDAY, 1985; 1994; HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2004; 2014) respectivamente, diferindo apenas o modo semiótico descrito. As próximas subseções discorrem sobre cada significado da GVD (KRESS; VAN LEEUWEN, 2006), focalizando nas categorias utilizadas nesta pesquisa.

2.2.2.1 Os Significados Representacionais

Como o próprio nome já é capaz de sugerir, os significados representacionais da GVD (KRESS; VAN LEEUWEN, 2006) concentram-se na representação de mundo por meio de imagens. Para Kress e Van Leeuwen (2006), essa representação pode ser realizada por duas estruturas: narrativa e conceitual.

As estruturas narrativas e conceituais possuem tipos e subtipos conforme os esquemas das Figuras 3 e 4 a seguir. A análise do corpus deteve-se a identificar se as estruturas apresentadas pelos AAVPPs eram narrativas ou conceituas, não adentrando em seus tipos e subtipos. Dessa forma, discorreremos apenas sobre as características gerais dessas estruturas, não falando sobre suas especificidades.

Figura 3 – Estruturas narrativas, seus tipos e subtipos

Fonte: Souza (2015a, p. 43) baseado em Kress e van Leeuwen (2006, p.74). Estruturas Narrativas (Processos) Ação Transacional Unidirecional Bidirecional Não transacional Reação Transacional Não transacional Mental Verbal Conversão

Figura 4 – Estruturas conceituais, seus tipos e subtipos

Fonte: Souza (2015a, p. 46)

Estruturas narrativas implicam representações de acontecimentos (ações físicas) e podem ser identificadas através de vetores (linhas de direção), os quais sugerem movimentação de um ponto A para um ponto B (KRESS; VAN LEEUWEN, 2006). Esses vetores podem ser indicados por linha do olhar, braços, posicionamento corporal, ou quaisquer outros dispositivos que sugiram ação, movimento e deslocamento (KRESS; VAN LEEUWEN, 2006; NASCIMENTO; BEZERRA; HEBERLE, 2011).

As Figuras 5 e 6 a seguir exemplificam estruturas narrativas. Seus vetores foram destacados com flechas vermelhas a fim de facilitar sua visualização. Na Figura 5, há dois vetores saindo do participante do sexo masculino e indo em direção à participante do sexo feminino: um de seu olhar e outro de seu braço que segura as flores. Já na Figura 6, há um vetor saindo da participante do sexo feminino e indo em direção ao participante do sexo masculino: um chute em direção ao abdômen. Estruturas conceituais Analítica Estruturada Não estruturada Classificatória Taxonomia explícita Taxonomia Implícita Simbólica Atributiva Sugestiva

Figura 5 - Exemplo de estrutura narrativa

Fonte: https://www.dicasdemulher.com.br/7-tipos-de-flores-que-os-homens-dao-e-o- que-elas-dizem-sobre-eles/

Figura 6 – Exemplo de estrutura narrativa (2)

Fonte: http://corpoacorpo.uol.com.br/fitness/treino-sob-medida/3-golpes-de-defesa-pessoal- para-fugir-de-situacoes-de-risco/11069#

Estruturas conceituais implicam representações dos estados das coisas (KRESS; VAN LEEUWEN, 2006). Contrariamente às estruturas narrativas, as estruturas conceituais caracterizam-se pela ausência de vetores. Além disso, tais estruturas acarretam descrição e classificação dos participantes representados “em termos de suas características individuais, evidenciando sua identidade, ou de traços compartilhados com outros participantes, que nos permitem percebê-los enquanto membros de um grupo” (NASCIMENTO; BEZERRA; HEBERLE, 2011, p. 537).

As Figuras 7 e 8 a seguir exemplificam estruturas conceituais. A Figura 7 é uma estrutura conceitual que está evidenciando as características e atributos da participante representada. Por sua vez, a Figura 8 é uma estrutura conceitual que está caracterizando e classificando os diferentes tipos de célula, mostrando uma taxonomia implícita.

Figura 7 – Exemplo de estrutura conceitual

Fonte: http://www.blognotasmusicais.com.br/2013/12/com-autossuficiencia-cher-se-joga- na.html

Figura 8 – Exemplo de estrutura conceitual (2)

Assim como a linguagem verbal, a linguagem visual também é capaz de expressar Circunstâncias, porém em um número bastante reduzido quando comparada à linguagem verbal. Enquanto na GSF (HALLIDAY, 1985; 1994; HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2004; 2014) temos nove tipos, a GVD fala em apenas três, os quais parecem ocorrer mais frequentemente em estruturas narrativas comparadas às estruturas conceituais (KRESS; VAN LEEUWEN, 2006). Para Kress e Van Leeuwen (2006), as Circunstâncias podem ser de local (contextualizando a estrutura narrativa em um Cenário), meio (indicando ferramentas em um processo de ação) ou acompanhamento (sinalizando companhia: Participante X está com Participante Y).

As Figuras 9, 10 e 11 exemplificam as Circunstâncias de local, meio e acompanhamento respectivamente. Na Figura 9, há um Participante humano próximo à Golden Gate em São Francisco, Califórnia. Na Figura 10, há um Participante humano barbeando-se com um aparelho. Na figura 11, há uma Participante humana passeando com um cachorro.

Figura 9 – Exemplo Circunstância de local

Fonte: http://lucascamilio.blogspot.com.br/2015/05/lucas-camilio-na-golden-gate- bridge_21.html

Fonte: http://manualdohomemmoderno.com.br/estilo/fazer-a-barba-no-sentido-contrario- por-que-evitar

Figura 11 – Exemplo Circunstância de acompanhamento

Fonte:

http://www.ethnos.gr/diethni/arthro/dimarxos_bazei_ntentektib_na_pianoun_idioktites_skyl

on_pou_den_mazeuoun_akatharsies-63986865/

2.2.2.2 Os Significados Interativos

Os significados interativos, assim como sua metafunção correspondente (interpessoal), lidam com a interação entre os participantes (KRESS; VAN LEEUWEN, 2006). Mais precisamente, os significados interativos centram-se no nível de envolvimento entre participantes representados com o leitor e nas relações entre a linguagem visual, o produtor da imagem e seu leitor (KRESS; VAN LEEUWEN, 2006).

A Figura 12 a seguir mostra os cinco sistemas que compõem os significados interativos. Neste estudo, optou-se pela análise do Sistema de Contato e do Sistema de Distância social, os quais são explicados logo após a Figura 12. Os demais sistemas da GVD não são foco do presente estudo, por isso eles não serão comentados nem exemplificados.

Figura 12 – Significados interativos e seus sistemas

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Kress e Van Leeuwen (2006). Significados Interativos Sistema de Contato Demanda Oferta Sistema de Disrância Social Grau Próximo Grau Médio Grau Longo Sistema de Atitude Ângulo Frontal Ângulo Oblíquo Sistema de Poder Ângulo Alto Ângulo Médio Ângulo Baixo Sistema de Modalidade Saturação, Diferenciação e Modulação de cor Contextualização Representação Profundidade Iluminação Brilho

O Sistema de Contato considera a relação estabelecida entre o participante representado na imagem e o leitor por meio do olhar, podendo realizar duas “funções de imagem”: (por analogia a “funções de fala”) Demanda ou Oferta (KRESS; VAN LEEUWEN, 2006). Pode ser uma Demanda (Figura 13) quando o participante representado encara o leitor através de seu olhar. Esse tipo de interação pode ser feito com os próprios olhos ou com uma metáfora para olhos (faróis de um carro, por exemplo) (KRESS; VAN LEEUWEN, 2006). Ainda, o Contato pode ser uma Oferta (Figura 14), na qual não existe contato através do olhar entre o participante representado e o leitor (KRESS; VAN LEEUWEN, 2006), seja pela direção do olhar do participante ou pela ausência de olhos na imagem, quando se trata de participantes inanimados, por exemplo. Na Oferta, o participante representado se torna um objeto de contemplação do leitor (HARRISON, 2003).

Figura 13 – Sistema de Contato: exemplo de Demanda

Fonte: http://www.supernaturaltentation.com/2012/09/foto-em-hq-de-jared-jensen-e-misha-

Figura 14 – Sistema de Contato: exemplo de Oferta

Fonte: http://www.radiovivazen.com.br/blog/materias/origem-incenso

O sistema de Distância social refere-se ao posicionamento do leitor em relação aos participantes representados, interferindo na intimidade pretendida entre eles (KRESS; VAN LEEUWEN, 2006). Há, pois, três graus de distância: próximo, o participante é representado em close-up (apenas o rosto); médio, o participante recebe enquadramento médio (rosto e peito/parte do tronco) e longo (corpo todo) (KRESS; VAN LEEUWEN, 2006). As Figuras 15, 16 e 17 ilustram exemplos de distância, próxima, média e longa, respectivamente.

Figura 15 – Distância em Grau Próximo

Figura 16– Distância em Grau Médio

Fonte: http://www.insidethemagic.net/2015/11/disney-pixar-toy-story-4-looking-to-add- patricia-arquette/

Figura 17– Distância em Grau Longo

2.2.2.3 Os Significados Composicionais

Para “relacionar os significados representacionais e interativos” (KRESS; VAN LEEUWEN, 2006, p. 177), os significados composicionais têm a capacidade de ver a imagem como uma construção organizada servindo às intenções do produtor da imagem de alguma maneira, assim como os falantes organizam suas orações através da metafunção textual da GSF (HALLIDAY, 1985; 1994; HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2004; 2014). Os significados composicionais possuem três sistemas de análise (Figura 18). Neste estudo, optou-se pela análise do sistema de valor da informação a fim de aprofundar o estudo desenvolvido por Milani (2014), o qual também optou por tal categoria para a análise dos AAVPPs. Por não serem focos desse estudo, os demais sistemas dos Significados composicionais não serão comentados nem exemplificados.

Figura 18 – Significados composicionais e seus sistemas

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Kress e Van Leeuwen (2006).

Significados Composicionais Sistema de Valor da Informação Dado/Novo - Esquerda/Direita Ideal/Real - Topo/Base Centro/Margem Tríptico Sistema de Saliência Saliência Máxima Saliência Mínima Sistema de Molduragem Desconexão Máxima Conexão Máxima

O sistema de valor da informação preocupa-se com a organização da informação visual em termos de distribuição espacial. A configuração Dado/Novo (Figura 19) tem sua orientação à esquerda, onde temos a informação dada, isto é, a informação que é mais velha em tempo, mais familiar, aceitável ou até mesmo mais convencional/tradicional culturalmente, em contrapartida do hemisfério direito, tipicamente contendo a informação inédita, menos familiar, mais controversa, ou ainda uma exceção da regra representada à esquerda. A configuração Ideal/Real (Figura 20) geralmente combina informações verbais e visuais em textos. Essa configuração cria a atmosfera de que o que está na base é empírico, acessível, concreto e observável (real), enquanto o que está no topo é geral, abstrato e o que está para ser alcançado (ideal). A configuração Centro/Margem (Figura 21) posiciona ao centro da imagem a informação principal/destacada e as informações subordinadas e elementos dependentes ficam às margens (KRESS; VAN LEEUWEN, 2006). Kress e Van Leeuwen (2006) ainda mencionam a configuração tríptica (Figura 22), a qual acontece quando duas linhas verticais podem ser vistas em uma imagem separando três tipos de informação.

Figura 19 – Sistema de Valor da Informação: exemplo de configuração Dado/Novo. Shakira nos anos 1990 e nos anos 2000.

Figura 20 – Sistema de Valor da Informação: exemplo de configuração Ideal/Real. Representação de céu e inferno

Fonte: http://zeroradical.blogspot.com.br/2012/08/ceu-inferno-vazio.html?view=flipcard

Figura 21 – Sistema de Valor da Informação: exemplo de configuração Centro/Margem. Sarah Brightman em show

Fonte: http://pt.fanpop.com/clubs/sarah-brightman/images/19383252/title/symphony-happy- xmas-show-screencap

Figura 22– Sistema de Valor da Informação: exemplo de configuração tríptica. Antes, durante e depois do processo de sobrancelha definitiva.

As categorias da GVD (KRESS; VAN LEEUWEN, 2006) apresentadas para a análise da linguagem visual, articuladas com as categorias da GSF (HALLIDAY, 1985; 1994; HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2004; 2014), compõem a base para o estudo das relações intersemióticas dos AAVPPs.