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Desde que os homens passaram a fazer uso da razão, sempre se apre- sentou a seu entendimento uma grande quantidade de indagações, cujo eco, bem se poderia dizer, veio se repetindo no curso dos séculos sem uma resposta clara e definida.

A indagação é um movimento inconcluso da inteligência, que convi- da a completá-lo. A sabedoria logosófica vem recopilando, das próprias entranhas da história humana, todos aqueles pensamentos in- conclusos, a fim de resolvê-los com a palavra da inteligência, que bro- ta das fontes da lógica e da realidade vivente. Poderíamos afirmar que um dos que mais angústias têm causado à sensibilidade humana é o que concerne à finalidade expressa da vida. Debalde o homem tem vivido séculos e séculos e andado por todos os caminhos do mundo, pois nunca encontrou a chave que lhe revelasse verdade tão cobiçada.

Quem conheça a fundo a história das raças humanas e tenha con- seguido penetrar um tanto nas profundezas da Criação, por meio de suas múltiplas manifestações e de seus maravilhosos processos, os quais encerram inefáveis mistérios que falam de grandes e sublimes expressões do pensamento universal, haverá podido compreender, em parte, o conteúdo desse pensamento que anima a existência de tudo quanto vive, se move e vibra no espírito da Criação.

Tudo confirma e ratifica a concepção logosófica de que o Supremo Criador, alma mater, universal, que dá existência ao Universo, não pode ter dirigido só uma vez a palavra aos homens. Ele, suprema ver- dade e justiça, espelho fiel que não se embaça, no qual se reproduzem as imagens mais perfeitas de sua excelsa ideação, não poderia contrari- ar, num mínimo que fosse, os soberanos desígnios de sua Vontade. Ele, supremo equilíbrio e harmonia de tudo quanto existe, não pode-

ria transgredir, em benefício de uns poucos, ou para privilégio de al- guns eleitos, o maior entre todos os imensos conteúdos de seu próprio pensamento. Deus, a quem todas as criaturas humanas, sem exceção, devem reconhecer como suprema encarnação dos mistérios divinos e da augusta vontade ignota, falou ao homem quando, posto este no mundo, lhe despertou a razão e a consciência. Falou-lhe então, e con- tinua falando-lhe sempre, a cada instante, e sua palavra se plasma no ambiente do mundo e se cristaliza na própria vida de todos os seres humanos.

Sobre a superfície terrestre, foram criadas múltiplas espécies. O gênero humano constitui a mais elevada, a que, por ter sido dotada de virtudes superiores, faculdades e capacidades extraordinárias de que careciam e carecem as demais, deve reinar com todas as forças de seu espírito, equilibradas pela razão e pelo sentimento, compreendendo as leis de seu Criador, para que de seus ditados surjam as provas mais evidentes de sua superioridade, pela compreensão plena dos princípios instituídos por essas mesmas leis que manifestam a palavra de Deus.

O homem, cuja existência obedece - digamos - à sublime finalidade de alcançar a perfeição, como culminação dos grandes conhecimentos que deve chegar a abarcar enquanto se vão verificando nele as tran- sições e os câmbios lógicos que a evolução exige no percurso rumo a alturas tão imaculadas, só começa a vislumbrar a existência de tão ex- celsas verdades quando, em seu ser interno, se pronunciam as primei- ras inquietudes, sintomas evidentes das necessidades do espírito, que pugna por participar nos conselhos íntimos das reflexões.

Entretanto, desde que a entidade humana existe no mundo, desde as penumbras da História, quantos não desfilaram por este vale que, com alguma razão, disseram ser “de lágrimas”, como sombras viventes, ig- norados por todos, sem deixar uma pegada sequer de sua existência! Pode-se dizer que se limitaram a viver uma vida estéril, satisfazendo tão-só as exigências fisiológicas, sem a menor consciência da natureza superior que encarnavam. Foram como duendes, cuja existência nin- guém apalpa como algo real, e se acidentalmente se fizeram visíveis no mundo, ninguém deles se recorda.

São tantos os que passaram assim pelas ruas da vida que, se quiséssemos dar-lhes cifra, deveríamos pedir clemência para não morrer de vergonha.

Devemos atribuir esse fato, que abarca tantas épocas e tantos milhões de almas, a uma deficiência do autor de nossa existência? Devemos atribuir a Deus, que nos deu - e a todo o instante nos segue dando - tudo quanto necessitamos para alcançar as metas mais altas da per- feição, as conseqüências de tantos desvios do gênero humano?

Pensamos que nenhuma consciência seria capaz de tamanha in- gratidão e agravo, pois, diante de qualquer dúvida dessa natureza, se acham os grandes exemplos que a História registra: fatos que se foram consumando ao longo dos tempos, como sinais de universal inteligên- cia, e que nenhum homem poderia negar. Esses exemplos são os que evi- denciam a existência de grandes almas, que também passaram pelas ruas deste mundo, deixando, porém, marcas imperecedouras de suas vi- das fecundas, de suas nobres realizações e de seus máximos esforços por transcender a mediocridade humana e deixar provas indubitáveis de tudo quanto se pode alcançar quando o ser, com todas as forças de seu espírito, se propõe realizar uma vida pródiga em exemplos e feitos que demonstrem o valioso conteúdo da alma humana.

Suas marcas, estampadas nas páginas da História, porventura não fo- ram as que serviram e servirão de inspiração às gerações? Não temos uma diferença de extraordinária magnitude entre esses seres que preencheram a existência, na medida de suas possibilidades, com o vigor de uma vida que se fez visível e palpável a todos, e continua a sê- lo, por haverem imortalizado seus nomes na recordação dos demais, e aqueles outros que comparamos aos duendes e que, apesar de somarem incontáveis milhões, se ignora que tenham existido?

Estas reflexões que fazemos não abrem por acaso o entendimento, para facilitar a compreensão daquilo que o conceito da vida deve encerrar? Não proporcionamos à inteligência livre de preconceitos, bem como às mentes maduras, sugestões de inestimável valor para suas futuras meditações?

dades, não põe a serviço de seus melhores anelos tudo o que estiver a seu alcance, para que sua existência possa se definir numa expressão inabalável de suprema abnegação? E, ao expressar a palavra abne- gação, queremos condensar nela tudo quanto responde aos esforços e à unidade de intenções em relação a tão altos objetivos, o que implica sacrifícios e também renúncias; mas tudo há de ser feito em holocaus- to ao ideal que torna patentes as esperanças mais íntimas do pensar e do sentir; por isso, os sacrifícios não haverão de ser estéreis, mas fe- cundos, e as renúncias, longe de atormentar a alma ou extraviar a sen- sibilidade, devem ser fruto de convicções íntimas, forjadas na mente à medida que os conhecimentos evoluem para um encontro com a in- teligência superada e ativa.

De tudo o que viemos manifestando, depreende-se que as vidas que nascem e se extinguem na indiferença, que não perceberam os sinais que deveriam inquietar seus espíritos, que nem sequer acordaram para a realidade que começa onde termina a vida de ficção e de prazeres efêmeros, são, em todo o conceito, estéreis, consumidas seja na in- digência física ou espiritual, na opulência ou prazeres, na entrega aos êxitos fugazes, seja na aventura, na obstinação ou no opróbrio: almas que mergulharam na pobreza e tiveram de se ver face a face com misérias de toda índole.

A vida deve ser rica em fatos e episódios que enalteçam a dignidade humana. Fatos e episódios em que a existência, em vez de destroçar- se, se multiplique, deixando estampados neles os traços indeléveis de sua genialidade. Aqueles que lamentavelmente sempre viveram na in- diferença, sem se inquietarem com as indagações que, com tanta força de sugestão, impelem a alma a buscar o conhecimento, poderiam preencher suas vidas com tais fatos e episódios? Eles seriam sempre de um valor limitado e sem repercussão positiva para a humanidade.

Seríamos capazes de negar uma verdade tão evidente e tão ao alcance de nosso entendimento, como a que nos diz que todo ser humano gra- va sobre seus dias as páginas de sua história? Que, se o que ficou gra- vado não é tão profundo a ponto de ser percebido pelos demais, care- cerão de sentido os traços que se tenham escrito, permanecendo apa-

gados para os olhos do semelhante? Que cada passagem dessa história, para que mereça a honra de inserir-se entre as ressaltadas pela História Universal dos fatos, deve conter o espírito vivo do pen- samento e repercutir nos demais, beneficiando-os e servindo-lhes de fonte de inspiração?

A miséria moral é mais espantosa que a material. Pode-se ser rico em dinheiro e pobre em ações e episódios de transcendência para a vida. Ao contrário disso, uma vida que amplia constantemente seus recur- sos, para enriquecer a alma e dotar a inteligência de máxima lucidez, pode ser muito rica em episódios e fatos; e bem sabemos como estes são valorizados através das idades e das épocas.

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