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Entre os tipos psicológicos que a Logosofia descobre, ao enfocar sua observação sobre os que povoam a sociedade humana, acha-se o que vamos apresentar neste estudo. Nós o escolhemos, nesta opor- tunidade, pelos curiosos e não menos interessantes aspectos que con- figuram seu quadro mental, pois julgamos que tal estudo não deixará de constituir uma valiosa contribuição para os cultores da investigação logosófica. Trata-se do ser que comumente é tomado por excêntrico.

Na realidade, é um descentrado, pelo fato de que jamais ajustou sua conduta aos ditames da sensatez e da razão. Mimado na infância e tolera- do em excesso na adolescência, sofre prematuramente os tormentos de sua própria exaltação, em conseqüência do descontrole, dos abusos da paixão e dos deleites do mundo quimérico.

Esses seres, dominados por ilusões e aspirações irrealizáveis, ávidos de esperanças sobrenaturais, pretendem divorciar-se do mundo prático e real para mergulhar na divagação teórica e arbitrária. A sede do fenomêni- co lhes atrofia o gosto, impossibilitando-os de poder apreciar as virtudes do poderoso licor que a reflexão faz beber. Já não foram eles vistos, por acaso, indo em busca de tantos ambientes quantos possam existir, onde vivem um tempo aceitando de bom grado o engano de serem elevados a posições honoríficas que botariam no chinelo os mais conspícuos perso- nagens da nossa história? Infladas assim as ambições, sempre vivendo completamente à margem de toda realidade, é muito comum vê-los in- cluir os demais no rol de seus vassalos imaginários.

Muitas vezes se surpreendem, e se incomodam, e vociferam, se não encontram o semelhante disposto a servi-los, e até dirigem injúrias e calúnias a quem não reverencie suas palavras e não creia cegamente nelas. O grave aparece, precisamente, quando tais palavras exprimem coisas inventadas com o propósito de “aliviar” o bolso alheio e usar, em proveito próprio, o centavo que pertence aos demais.

Esses entes humanos são incapazes de realizar qualquer coisa por si mesmos. Déspotas e egoístas por excelência, se alguma vez galgam postos na hierarquia só pensam em usar o máximo de rigor com os que se achem eventualmente abaixo deles. Sempre atuam no terreno da ficção, o que lhes facilita sobremaneira a tarefa de fingir, dramati- zando tudo. Se num momento são vistos narrando episódios dantescos, nos quais simulam ser vítimas desventuradas, logo em seguida já se podem mostrar cheios de soberba, contando grandezas, enquanto desfrutam o vão prazer de se acharem por um instante, fugazmente, imaginariamente, acima dos que os escutam.

Na verdade, é interessante observar nesse tipo de seres as mudanças repentinas de pose, nas quais mostram, para o próprio infortúnio, a volu- bilidade de seu espírito e a incapacidade de serem dignos depositários da confiança que qualquer semelhante lhes pudesse dispensar.

Do exame de sua conduta diária, de seus movimentos aqui e acolá, anunciando projetos de coisas que jamais haverão de realizar, e da vida desordenada que levam, podem-se deduzir conclusões inequívo- cas sobre suas inclinações psicogênitas.

O curioso neste caso é que tais seres costumam ter uma aparente lu- cidez mental. Por essa causa, até são tidos como pessoas inteligentes e educadas, pois suas características psicológicas são ignoradas, já que ninguém se preocupa em fazer estas observações, e é assim que os de- mais chegam a ser surpreendidos, uma e mais vezes, por sua astúcia.

Realmente, é uma pena que, em vez de utilizarem sua engenhosidade para corrigir tais deficiências, tendências, etc., o que fazem é malgastá- la em mil trivialidades, mesmo que não pensem dessa forma; e depois aparecem na qualidade de aproveitadores, ou seja, aproveitam-se da boa-fé dos demais e fazem com que eles acreditem em seus achados imaginários, a fim de lhes vender seus “inventos” e receber como adian- tamento somas que logo dissipam. Em nossas observações, temos ca- sos catalogados dessa espécie de “batedores de carteira” de técnica muito apurada, cujos ascendentes familiares foram, e alguns continu- am sendo, consumados artistas no terreno da trapaça. E dizemos artis-

tas porque sempre burlaram com bastante habilidade os códigos penais.

A inclinação psicogênita - ou seja, a tendência hereditária - manifes- ta-se naqueles filhos que foram educados pelos pais no ambiente da ficção e do engano, havendo aqueles, porém, que sentem repúdio por esses pais. Temos o registro de vários desses casos, cujo processo foi acompanhado com o mais vivo interesse, já que formam o arsenal dos elementos que entram em nossa investigação. Não seria nada im- provável que, na devida oportunidade, déssemos a conhecer um desses estudos, por conterem motivos sumamente interessantes.

No caso que apresentamos, é evidente que a anomalia mental do tipo em estudo - chamada correntemente de “mania” - manifesta-se com diversos traços, predominando em mais de um deles a característica do palhaço que, no afã de parecer dramático, inverte o papel e penetra no gênero dos cômicos grotescos, ou seja, dos vulgares polichinelos.

O ensinamento logosófico, que com tanto vigor tende a corrigir es- sas inclinações anormais, enquanto registra o estudo correspondente a cada caso, determina que, se não for por meio do esforço dirigido para uma efetiva superação, esses seres não modificam suas tendências, e podem constituir um perigo para quantos sejam por eles surpreendi- dos em sua boa-fé.