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Figura 1 – Alunas e ex-alunas do Grupo de Dança Popular Marista de Natal em celebração aos 15 anos do Grupo.

Fonte: Foto do acervo pessoal da pesquisadora (2009).

As primeiras experiências corporais vieram como aluna do professor Artur Garcez no Colégio Marista de Natal, nos anos de 2008 a 2011, sendo esse último ano já como ex-aluna. Atualmente, o professor passou a ser colega de profissão, em virtude da formação da pesquisadora em Licenciatura em Dança pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, sendo da terceira turma desse curso ainda recente.

Pensar em histórias durante esse percurso no Grupo de Dança Popular é lembrar de uma parte muito importante da adolescência e de momentos únicos como artista da dança (Figura 1).

Para compartilhar esses momentos, vale destacar a decisão, aos 14 anos de idade, de não fazer mais aulas de balé e encerrar qualquer possibilidade de ser uma bailarina clássica. Como uma adolescente em busca da identidade, não havia identificação com as aulas padrões desse tipo de dança (mas nem havia a perspectiva que voltaria a praticar o clássico anos depois e passaria a ressignificar esse pensamento). Naquele momento, a chance foi dada às aulas de atuação e a fazer teatro na escola. Nessa época, o relacionamento interpessoal ocorria com pouquíssimas pessoas na sala de aula e o estômago “saltava pela boca” quando era

preciso apresentar algum trabalho na frente de outras pessoas. Por esse motivo, a ideia era a de que fazer parte do grupo de teatro da escola ajudaria com a timidez, embora sentisse a falta de dançar novamente.

Como já dito, ao escutar uma música no banheiro da escola, enquanto lavava as mãos, veio o primeiro contato com o Grupo de Dança Popular. Com essa dança, foi possível realizar sonhos, como viajar para o Festival de Dança de Joinville representando o estado do Rio Grande do Norte (RN) e o Colégio Marista de Natal com a coreografia “Na batida do ganzá”, de Artur Garcez. Citamos Joinville por ser a cidade conhecida como a “cidade das flores”, uma cidade muito fria, especialmente no mês do festival, que ocorre tradicionalmente em julho. Por saber do clima, nossos ensaios eram cada vez mais intensos em Natal, “cidade do Sol”, mas não se imaginava como seria grande essa diferença climática (Figura 2). Com o deslocamento, o frio passou a interferir na nossa resistência e respiração e, algumas vezes, causava falta de ar dançando “Na batida do ganzá”, então, era grande a preocupação em relação ao êxito da coreografia nesse período.

Figura 2 – Grupo de Dança Popular em Joinville no hotel antes de sair para as apresentações do dia

Fonte: Foto do acervo pessoal da pesquisadora (2008).

Apesar dos medos e inseguranças, Artur nunca deixou de acreditar na equipe.

Pelo contrário, ele nos mostrava força, segurança, fé e positividade. Era realista também: dizia que tínhamos chances de ganhar, porque havíamos passado na

seleção, mas isso não queria dizer que as chances eram muito grandes, seria necessário trabalho e dedicação. Ele falava: “A chance de vocês ganharem é de 1%

porque vocês estão aqui”. Essas palavras seguem reverberando até hoje, não de forma negativa, pelo contrário, antes de achar que não é possível conseguir algo, consideramos a porcentagem que há de aquilo acontecer, mesmo que seja “somente”

1%, ainda há a chance para realizar algo que parece ser impossível. Esse pensamento foi essencial para as trajetórias seguintes.

Participar dessas seleções era uma mistura de sentimentos bons de se sentir.

Ao mesmo tempo que havia a seriedade do momento, Artur sempre deixava clara a frase para nós antes de toda apresentação: “divirtam-se, brinquem e sorriam!”. Essas palavras podem parecer simples, mas faziam a diferença na hora de performar e de deixar a nossa marca onde dançávamos. Dançar nesse grupo era uma sensação de alegria e prazer presentes em praticamente todas as apresentações. Até hoje, tem sua contribuição para o jeito de dançar, o sorriso no rosto e a ideia de brincar no palco, seja qual for o tipo de dança. Quando a apresentação precisa ser mais séria e sem sorrisos, é preciso um preparo, pois, involuntariamente, o sorriso já vem.

Pouco tempo depois do Festival de Joinville, fomos selecionados como um dos grupos para participar de um evento mundial na Suíça e não cabíamos em si de felicidade. O evento seria em dois anos e já poderíamos nos organizar para essa viagem. As Figuras 3 e 4 mostram o nosso tour europeu.

Figura 3 – Grupo de Dança Popular com demais delegações do Brasil apresentando na Noite Brasileira, na Suíça

Fonte: Foto do acervo pessoal da pesquisadora (2011).

Figura 4 – Grupo de Dança Popular apresentando a coreografia “Suíte Gonzagão”, na Suíça

Fonte: Foto do acervo pessoal da pesquisadora (2011).

Em julho de 2011, realizamos esse sonho. Além de dançar na Suíça, fomos até a França conhecer a estrutura mais antiga do nosso querido Colégio Marista, para conhecer a história onde tudo começou e também visitamos Portugal. Em uma das anotações sobre essa viagem, há a seguinte mensagem de quando era mais jovem:

A viagem me trouxe muita coisa boa como as novas experiências em dança na parte dos figurinos e maquiagens, aumentou a minha criatividade quanto ao uso de objetos (em cena) e a minha fluência na língua inglesa. Todos esses (15) dias foram fundamentais para que o grupo se unisse mais e se conhecesse. Além disso, a inspiração de fazer alguns projetos na área de dança veio em minha mente para realizar um banner na CIENTEC. (22 de julho de 2011, escrita do meu primeiro diário de bordo sobre minhas experiências em dança).

Após voltar da viagem, a pesquisadora deste estudo se reuniu com a professora Dra. Larissa Marques, docente do curso de Licenciatura em Dança, para apresentar um banner na CIENTEC, evento de Ciência, Tecnologia e Cultura da UFRN, em 2011, com o título: “A dança possibilitando o intercâmbio cultural” (Figura 5).

Figura 5 – Modelo do banner apresentado no evento da CIENTEC

Fonte: Foto do acervo pessoal da pesquisadora. Ano 2011.

Assim que chegamos de viagem da Suíça, participamos de uma seleção para escolher o melhor grupo de ginástica/dança do Rio Grande do Norte. Fizemos a mesma coreografia do nosso tour europeu e fomos selecionados como o melhor grupo entre os que competiam. Em 2011, como ex-aluna, era momento de deixar o grupo e descobrir novos caminhos no mundo da dança na universidade.

Figura 6 – Professor Artur Garcez e esta pesquisadora na premiação de melhor grupo de ginástica

Fonte: Foto do acervo pessoal da pesquisadora. Ano 2011.

A Figura 6 mostra a última apresentação oficial como bailarina do grupo. Em outras ocasiões, tiveram apresentações como convidada de Artur, assim como ocorreu com outros bailarinos. Durante a graduação em dança, a convite de Artur, houve oportunidades de realizar aquecimentos com o grupo e de dar aulas para treinar. Por não achar que estivesse pronta, esta pesquisadora nunca deu uma aula no grupo de dança como discente do curso.

Entretanto, anos mais tarde, em 2018, já formada e com dois anos de experiência como professora concursada do município de Parnamirim, em mais um convite de Artur, foi momento de dar uma aula de uma hora para professores de disciplinas do Marista como parte da programação de boas-vindas no início daquele ano (Figura 7). Esse foi um dos maiores desafios até aquele momento, por nunca haver criado uma coreografia inteira em menos de uma hora com mais de 20 pessoas!

Para tanto, o professor Artur sempre esteve no apoio, mesmo que não tenha precisado intervir, mas passou a segurança necessária e transmitiu sua confiança.

Figura 7 – Registro da aula para os professores do Colégio Marista como parte da programação de boas-vindas

Fonte: Foto do acervo pessoal da pesquisadora. Ano 2018.

Toda essa experiência de passar por um grupo como o de Dança Popular do Marista, proporcionada por um professor, deixou influência na profissional. Tanto é que o objetivo deste estudo, de analisar a inserção da dança-jogo na sala de aula, também parte dessa influência fundamental, não para que os alunos se tornem bailarinos ou professores de dança, mas para que tenham experiências positivas em suas existências, como corpos desse mundo, com base na dança.