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2.2 UM EXPERIMENTO COM PROFESSORES EM FORMAÇÃO NO ESTÁGIO À

2.2.4 Jogo do tabuleiro

O jogo do tabuleiro é de improvisação em dança, experimentado pela primeira vez durante a disciplina de Composição Coreográfica, da Pós-graduação em Dança Educação, oferecido pela Faculdade de ciências, educação, saúde, pesquisa e gestão (CENSUPEG), com sede em Joinville, mas realizada em Recife com o apoio de profissionais da dança ligados à instituição. O professor Kiran (Giordani de Souza) ministrou a disciplina de Composição Coreográfica, em 2017. Esse jogo foi trazido, anos depois, com esta pesquisa, tendo em vista a necessidade de se levar a ludicidade em forma de jogo para a sala de aula de modo a acessar a dança com os alunos com mais facilidade.

Preparação: grupo todo. Formar um retângulo colocando fitas no chão. Dentro do retângulo, colocar mais duas fitas formando um corredor na diagonal.

Foco: criar diversos movimentos nos espaços de acordo com as regras do jogo. Dentro do corredor: movimentos iguais ao da primeira pessoa que entrar no corredor. Todos só podem sair quando a primeira pessoa que iniciou o movimento

decidir sair. Lado esquerdo do corredor (entre o corredor e o lado de fora): fazer movimentos de onda e circulares. Lado direito do corredor: movimentos livres.

Figura 22 – Design do jogo do tabuleiro

Corredor

Lado esquerdo Lado direito

Fonte: autoria própria

Descrição: todos os jogadores começam do lado de fora no retângulo. Quando alguém sentir que deve começar, entra em algum dos espaços de acordo com a movimentação do espaço. O jogo termina quando sentirem que deve terminar ou enquanto houver interesse.

Instrução: é indicado que não sejam dadas muitas instruções para que os jogadores possam criar de forma espontânea, entretanto, podem-se colocar diversas músicas ou não. O coordenador do jogo pode intervir da maneira que achar necessária para estimular a criação.

Figura 23 – Turma praticando o jogo do tabuleiro

Fonte: Alberto Bandeira (2019).

Esse foi um dos jogos que mais oportunizou o encontro de relações entre essa turma, formando uma unidade nas ações. A mudança de música oportunizou a mudança de movimentos quando, por exemplo, a música era mais lenta e se observava esse tempo nas ações quase que de forma imediata. Pessoas cantaram durante o jogo também, tornando a voz um elemento de estímulo para o momento de improvisação, embora houvesse momentos de preocupação dos participantes em tentar “acertar” e fazer algo esperado (Figura 23).

Todos esses jogos foram apresentados a essa turma de estágio à docência para compartilhar a pesquisa e buscar relatos da visão do adulto em formação em dança. A partir dessa experiência com professores em formação, inserimos uma dinâmica similar para a sala de aula, buscando analisar como esses alunos iriam solucionar o problema. Alguns deles estavam muito preocupados com o movimento e muitos não conseguiam se entregar.

Com o passar dos jogos, as pessoas foram se envolvendo mais. Nesse sentido, o ápice da comunicação entre os participantes pelo movimento foi no final da aula, depois de vários jogos, quando chegou a hora de improvisar ainda jogando. A conexão entre as pessoas foi feita de forma gradual, mesmo que isso não tenha sido o objetivo e vale salientar que foi algo ocorrido no processo para avaliar aonde a turma conseguiu chegar. Os relatos a seguir mostram um pouco desse processo.

Estava muito perdido no início da aula (Participante 1).

O último jogo (o da improvisação no tabuleiro) foi o que consegui me entregar melhor (Participante 2).

Não consegui me entregar (no jogo) no início, mas depois do intervalo, sim (Participante 3).

Os movimentos que davam para interagir com o outro foram excelentes!

(Participante 4).

A brincadeira deu foco para os alunos da minha sala pela primeira vez em todo o semestre. Uma das brincadeiras era para ficar calado e (eles) conseguiram ficar em silêncio pela primeira vez durante o jogo (Docente).

Após os relatos dos participantes e da docente, era notório observar o estado deles: leves, sorridentes, alegres. Ao finalizar a aula, destacamos a importância desta pesquisa no sentido de contribuir para o exercício da profissão docente, e para que, tanto docente quanto alunos, saíssemos da aula de dança com entusiasmo.

Um dos discentes, então, questionou, de forma muito relevante: “Quando todos terminam a aula leves e sorridentes é bom? Ou é bom quando sai pensando da aula?”. Esse questionamento é uma forma de fazer refletir e agir de outras maneiras ao criar o plano de aula, por exemplo, e pensar que mesmo que a aula seja leve e feliz, há de se lembrar que arte é uma possibilidade de nos provocar reflexões e que isso precisa ser considerado ao planejar uma aula.

Contudo, refletir sobre os pontos positivos que uma aula de dança pode trazer, de forma imediata, para o aluno que vive numa realidade desfavorecida, enfrentando, muitas vezes, uma violência diária no seu contexto familiar, torna-se necessário.

Propor algo mais leve e alegre aparece como possibilidade no planejamento de aula inicialmente, entretanto, colocar a aula de dança como uma forma de pensar o seu entorno e o seu ser também se faz necessário.

Consideramos como alguns dos objetivos da aula de arte no Ensino Fundamental que os alunos sejam capazes de

[...] compreender a cidadania como participação social e política, assim como exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando, no dia-a-dia, atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo para si o mesmo respeito; posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes situações sociais, utilizando o diálogo como forma de mediar conflitos e de tomar decisões coletivas; [...] (BRASIL, 1997, p. 5).

Então, conforme recomenda o PCN Arte (BRASIL, 1997), como professora, continuo mantando o pensamento de que as dinâmicas sugeridas nos jogos podem abranger a ideia de cidadania em alguns aspectos, como a de posicionar-se de maneira crítica e de utilizar o diálogo como forma de mediar os possíveis conflitos que surgem durante os jogos, assim como tomar decisões coletivas ao escolher determinadas movimentações, por exemplo.

2.3 EXPERIMENTO COM PÓS-GRADUANDOS E DOCENTES DA DISCIPLINA