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Capítulo 1 A constituição da pesquisa: do caminho projetado ao caminho percorrido

1.6 Procedimentos e instrumentos para o levantamento das informações

1.6.4 O Grupo de Visionamento

Para Coutinho (2008), grupo de visionamento é uma metodologia que permite uma aproximação, uma pesquisa sobre a linguagem cinematográfica. É um momento de aprendizagem que se realiza na companhia de outros que permitem impregnar-se por suas imagens e sons e funciona da seguinte forma:

[...] vemos o filme e conversamos sobre ele ou sobre qualquer coisa que sugira, ou, ainda, sobre qualquer assunto que suceder a projeção. Sem nenhum direcionamento. Nesses grupos, procuramos sentir, observar. Nem sempre é possível algum tipo de registro, tanto das falas como das expressões, dos incômodos e até a impossibilidade de ver. Todo filme, qualquer filme, é para quem o assiste, resultado de uma possibilidade humana de lembrar e de imaginar, de se rever no filme (Id., ibid., p. 235).

Ao propor o grupo de visionamento com as crianças, a intenção foi dar-lhes oportunidade de expressar e ampliar sua visão e percepção de mundo por meio do diálogo, da conversa mantida a partir da projeção de filmes. De acordo com Corsaro (2011), as crianças têm ideias sobre as coisas; ao serem ouvidas contribuem sobremaneira para esclarecer como pensam e como se apropriam da realidade na qual estão inseridas.

Entretanto, sabe-se que, em situações de pesquisa que envolve crianças como informantes, existe um desequilíbrio de poder entre pesquisador e pesquisado devido à diferença de idade e status entre esses sujeitos. Para diminuir tais disparidades, estudos realizados pela sociologia da infância enfatizam a importância de trazer a criança para o lugar de sujeito ativo da pesquisa e propõem uma reflexão, além de comprovações empíricas, de como um redesenho de metodologia permite que elas possam, em suas falas e ações, trazer maiores contribuições do que fariam em uma situação passiva (CORSARO, 2011). Assim, a organização do grupo de visionamento representou uma tentativa de redesenhar as metodologias comumente utilizadas nas pesquisas qualitativas com o intuito de colocar as crianças no centro da análise.

A definição da turma para realização do grupo de visionamento foi feita durante o processo de observação, por sugestão da coordenação pedagógica: uma turma de 3º ano, integração inversa, turno vespertino, constituída por 23 estudantes entre oito e nove anos de idade. Após esclarecimento com a professora sobre o objetivo do trabalho a ser realizado, foi possível estabelecer o contato com as crianças. Este se deu diretamente na sala de aula, com a apresentação da pesquisadora e da pesquisa. No primeiro encontro, foi entregue a autorização

que deveria ser preenchida e assinada pelos pais e/ou responsáveis. As crianças demonstraram interesse imediato pelas atividades, levantaram questões sobre a pesquisa e foram bastante solícitas com o estudo.

Durante os encontros, além da exibição dos filmes, houve conversa sobre os programas de TV preferidos do grupo, os filmes, as motivações, as aprendizagens proporcionadas, as representações e ideias que possuem sobre a linguagem audiovisual. Durante todo o processo, buscou-se construir um contexto o mais natural possível para que a conversa pudesse fluir e produzir os resultados desejados.

As reuniões foram realizadas uma vez por semana, na sexta-feira9, nos meses de

julho e agosto, somando um total de seis encontros, sendo que, em um deles, não foi possível exibir um filme porque faltou luz na escola. Além do registro escrito no diário de bordo, as atividades foram registradas em áudio, vídeo e fotografias.

As atividades do grupo de visionamento se deram em torno da seguinte proposta: exibição do filme e conversa sobre os temas que surgiriam a partir da narrativa fílmica e outros que emergiriam na discussão.

A escolha dos filmes para projeção pautou-se nos seguintes critérios: ser filme comercial, que, de acordo com Almeida (2004), são uma produção da cultura; ter qualidade e indicação adequada para a idade das crianças. Os filmes exibidos foram estes: Kiriku e a Feiticeira (Michel Ocelot, 2004), Kirikou – os Animais Selvagens (Michel Ocelot e Benédict Galup, 2005), Coraline e o mundo secreto (Henry Selick, 2009), Robôs (Chris Wedge e Carlos Saldanha, 2005) e Noiva Cadáver (Tim Burton e Mike Jonhson, 2005).

Inicialmente as crianças se mostraram tímidas e receosas em participar da conversa, revelando que estão pouco acostumadas a falar livremente, a expressar suas ideias, suas impressões. Já no segundo encontro, estavam mais participativas e a conversa fluiu; nem mesmo a presença do gravador e a filmagem representaram fator de inibição, demonstrando que estão bem familiarizados com os aparatos midiáticos.

De um modo geral, a partir dessa estratégia, percebeu-se o fascínio que a linguagem audiovisual exerce nas crianças e o quanto estão familiarizadas com ela. Em seus depoimentos, demonstram que assistir a filmes, ver programas de televisão faz parte da rotina de cada uma. Talvez o inédito seja conversar sobre a leitura que fazem do que veem diariamente. Uma prática que deveria fazer parte do cotidiano da escola. Conforme pontua Buckingham (2007), mais que deixar as crianças isoladas em seus encontros com o mundo

adulto das mídias contemporâneas, cabe à educação ampliar sua participação ativa e informada nessa cultura. Dessa forma, o filme na sala de aula deve dar oportunidade para que os estudantes tenham uma visão de mundo ampliada, enriquecida pelas experiências que o cinema pode proporcionar e ajudá-los a entender a sociedade em que vivem.

Quadro 2 – Síntese da Pesquisa

QUESTÃO

As linguagens audiovisuais, a exemplo do cinema, são tratadas nas escolas como recursos para ilustração de conteúdo ou como simples entretenimento, sem a devida mediação e/ou reflexão crítica.

OBJETIVO

Identificar e avaliar estratégias curriculares que considerem as demandas trazidas para a educação nessa nova configuração de mundo que incorpora em seu contexto linguagens audiovisuais como estruturantes das formas de comunicação e de produção de conhecimento e cultura.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Refletir teoricamente sobre o potencial de uso das linguagens audiovisuais como espaço de construção de conhecimentos.

Identificar e analisar as indicações de uso das linguagens audiovisuais, especificamente cinema, no currículo dos anos iniciais do ensino fundamental no Distrito Federal.

Identificar e analisar como a linguagem audiovisual é utilizada na escola.

Repensar o currículo escolar, considerando as demandas trazidas para a formação de professores e para a escola nesse novo contexto comunicacional e cultural

MARCO TEÓRICO

Linguagem audiovisual e educação

Currículo escolar Linguagem audiovisual e prática pedagógica

METODOLOGIA

Predominantemente qualitativa Estratégia metodológica – estudo de caso

INSTRUMENTOS PARA LEVANTAMENTO DAS INFORMAÇÕES

Análise documental Entrevista

Semiestruturada Observação participante visionamento Grupo de

ANÁLISE INTERPRETATIVA E COMPREENSIVA DOS DADOS E INFORMAÇÕES RELATÓRIO DE PESQUISA

CAPÍTULO 2 LINGUAGEM AUDIOVISUAL E EDUCAÇÃO: POSSIBILIDADES,