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O Currículo em Movimento – Diretrizes curriculares para os anos iniciais do

Capítulo 3 Teorias curriculares: lentes para compreensão e mudança

3.2 O Currículo prescrito para os anos iniciais do ensino fundamental do Distrito Federal e

3.2.2 O Currículo em Movimento – Diretrizes curriculares para os anos iniciais do

As atuais orientações curriculares para os anos iniciais 1º ao 5º ano do ensino fundamental de nove anos representam uma síntese das discussões de 2011/2012 realizadas com a proposta de repensar o currículo escolar de forma coletiva, finalizadas e apresentadas às instituições escolares no início do ano de 2013 como Currículo em Movimento, versão para ser estudada e validada neste mesmo ano.

Em se tratando de ensino fundamental, o novo currículo proposto pela Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal trouxe mudanças significativas, principalmente no que se refere aos processos de enturmação, com a implantação dos ciclos de aprendizagem até o 9º ano, sendo que a ampliação até o 5º ano, o 2º ciclo de aprendizagem, está prevista para ser realizada ainda no ano de 2013.

De acordo com o documento, os ciclos de aprendizagem são uma organização do espaço e tempo escolar, tendo em vista as necessidades de aprendizagem dos estudantes e

uma maior articulação teórico-metodológica entre as diferentes fases do ensino fundamental, e se justifica pela:

[...] necessidade de se pensar uma nova concepção de currículo com maior integração e articulação entre as fases do ensino fundamental - anos iniciais e anos finais –, diminuindo o abismo entre um e outro, e entre o ensino fundamental com as demais etapas e modalidades da educação básica, possibilitando uma inserção com melhor adequação pedagógica entre eles (DISTRITO FEDERAL, 2013, p. 1-2).

O documento está bem fundamento teoricamente, principalmente no que se refere ao desenvolvimento social e afetivo dos estudantes, característica que se justifica pelo próprio contexto de elaboração no qual o foco principal está na inclusão e atendimento das necessidades de aprendizagem dos estudantes e no cumprimento da obrigatoriedade do ensino fundamental.

Os componentes curriculares previstos nestas diretrizes são estes: Linguagens, que

englobam Língua Portuguesa, Arte e Educação Física – e estrutura os conteúdos considerando

os seguintes aspectos: textos e contextos: identidade, pertencimento e criação; sensibilidade estética e cultura corporal – Matemática, Ciências Humanas e Ciências da Natureza. Os conteúdos estão organizados por blocos (Bloco I – 1º, 2º e 3º ano; e Bloco II -4º

e 5º ano).13 Cada componente curricular traz uma breve fundamentação teórica que se segue

da apresentação dos conteúdos e habilidades previstas para cada ciclo/ano. Vale ressaltar que a carga horária desses diferentes componentes curriculares não é mencionada no documento.

O documento traz como eixos estruturantes da proposta pedagógica para os anos iniciais cidadania, diversidade, sustentabilidade e aprendizagens e como eixos integradores

alfabetização, letramento e ludicidade, estes em consonância com as Diretrizes Pedagógicas

do Bloco Inicial de Alfabetização. Essa integração tem como fundamento o autor, estudioso da teoria de currículo, Torres Santomé. Esse autor defende uma proposta de currículo integrado na qual o indivíduo é considerado, e sua liberdade de expressão é vista como um fator colaborador na aprendizagem. Dentro de sua proposta, as disciplinas não são desfeitas, mas envolvidas, englobando todos os níveis de ensino para a formação da consciência globalizada.

Santomé (1998) salienta que o currículo integrado permite abordar e confrontar conteúdos culturais mais relevantes ao longo do processo ensino-aprendizagem, contribui para o desenvolvimento do pensamento interdisciplinar e facilita detectar valores, ideologias e

interesses nas questões sociais e culturais, uma exigência para a formação dos indivíduos no contexto da sociedade atual.

Ressalta-se, porém, que o desenvolvimento de uma ação educativa dentro da proposta de integração curricular depende inteiramente da compreensão e capacidade pedagógica dos/as professores/as. Sendo assim, a possibilidade interdisciplinar deve vir coadunada com o preparo dos professores e equipe gestora para a realização de um trabalho coletivo que o desenvolvimento de um currículo integrado requer. Como Borges salienta (2010):

A integração curricular não se faz no vazio, a sua materialidade exigirá das instituições e das pessoas uma predisposição para “se desarmarem”, para romper com territórios do conhecimento já consagrados, legitimados e privatizados, “feudalizados”. Ela também exigirá por parte de quem elabora e vigia as políticas públicas educacionais uma postura mais dialogada e compartilhada com as instituições e as pessoas que compõem os sistemas educativos em suas diferentes esferas (p. 59; grifos da autora).

Logo, é preciso prever mais que cursos ou encontros pontuais de formação de professores. Essa proposta requer um debruçar coletivo sobre a temática curricular e o ensino, um estudo sistemático e contínuos debates e reformulações, um repensar constante da prática pedagógica. Como afirma Santomé (1998, p. 29), “[...] um corpo docente que pesquise e trabalhe em equipe é algo consubstancial a este modelo de currículo”.

Sem a criação do espaço de discussão nas instituições escolares, essa integração fica mais localizada na condição do pensado, idealizado dentro da prescrição curricular que na condição do currículo real, vivido no espaço da escola.

Sobre os perfis de entrada e saída dos alunos que se pretende formar, além do cumprimento da ampliação legal da obrigatoriedade do ensino, exigindo como idade mínima para a entrada no ensino fundamental seis anos (1º ano), o documento não trata dessa temática, apenas sugere que:

[...] a SEDF propõe um Currículo com a expectativa de que, a partir dele, possamos instituir um movimento educativo voltado à formação integral dos indivíduos, em que o ser é visto não só como portador de conhecimento para a indústria e o capital, mas como ser consciente de sua cidadania e de sua responsabilidade com sua vida e a do outro (DISTRITO FEDERAL, 2013, p. 74).

Elaborado a partir de pressupostos da teoria crítica, o Currículo em Movimento se propõe ao desenvolvimento de processos educativos emancipadores e criativos, capazes de

promover a educação integral de crianças, jovens e adultos numa perspectiva mais política e cidadã.

O documento representa uma tentativa de construção de uma proposta curricular integrada que, a longo prazo, atendidas as condições necessárias como participação efetiva de todos os atores envolvidos no processo educativo, investimento na formação docente e no trabalho pedagógico coletivo, pode representar mudanças significativas para a rede de ensino do Distrito Federal.

A proposta curricular delineia a possibilidade de um ensino voltado para a realidade social e cultural dos estudantes, dando margem a um trabalho mais significativo com as diferentes linguagens que circulam no meio social, a exemplo da linguagem audiovisual, capaz de viabilizar a interação da escola com as novas formas de participação cidadã que o meio comunicacional proporciona hoje à educação (MARTIN-BARBERO, 2000).