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Guerra Civil Angolana

No documento A reação portuguesa à guerra do Kosovo (páginas 46-48)

Capítulo III Visão de outros conflitos

3.1. Guerra Civil Angolana

Primeiro, vamos analisar a Guerra Civil Angolana. Em 12 de Novembro de 1992, no reacender da guerra civil, na Assembleia da República, o PS, pela voz do deputado Manuel Alegre, afirmou que o melhor seria a intervenção pacífica da ONU, pelo menos com o mesmo volume material e humano utilizado em operações na Namíbia. Para além de uma força internacional, propôs a criação de uma comissão também internacional para verificar as responsabilidades no reativar da guerra. Para o PS, o Presidente da República e o governo português poderiam ter um papel importante na prossecução de paz, devido ao seu prestígio e às funções que exerciam, dado que eram interlocutores de conversações para a paz. O mesmo deputado alertou para o perigo que os países vizinhos representavam, especialmente a África do Sul, pelo que seria um erro uma ação militar externa contra a vontade angolana. Segundo Manuel Alegre, os Acordos de Bicesse foram um passo dado demasiado cedo e o mais importante não era encontrar os culpados, mas sim solucionar o problema49.

Nesse mesmo dia, através do deputado Octávio Teixeira, o PCP alegou que Portugal tinha “o dever político e moral” de ajudar Angola a garantir a paz. Ao contrário do PS, o Partido Comunista entendia que a maneira mais importante de atuação da comunidade internacional seria responsabilizando quem aumentou a tensão em Angola, que, para Octávio Pato, teria sido a UNITA, chefiada por Jonas Savimbi. A UNITA não teria aceitado a decisão do voto popular e quereria, através da força, chegar ao poder. O PCP denunciou as forças da UNITA como responsáveis pelo ataque ao território angolano. Assim, era essencial não culpar igualmente o MPLA por esta situação, mas somente a UNITA. Octávio Teixeira criticou os Acordos de Bicesse, por estes terem sidos concebidos com a ideia de que a UNITA ia vencer as eleições. O PCP afirmou que estava

49 Manuel ALEGRE, Angola: violação dos acordos de paz. 12 de Novembro de 1992. in

<http://debates.parlamento.pt/catalogo/r3/dar/01/06/02/013/1992-11-13/370?pgs=370-371&org=PLC> (Consultado entre Janeiro e Setembro de 2015).

47 na altura de existir um exército nacional nas mãos do governo eleito angolano, que pacificaria todo o território, sem necessidade de uma intervenção externa50.

Neste debate parlamentar, o deputado Manuel Queiró do CDS-PP asseverou que, apesar do reaparecimento da violência após os Acordos de Bicesse, continuava a acreditar na mediação portuguesa e nas suas possibilidades de sucesso. Todavia, para isso, era necessária uma unidade política nacional, mesmo que não se concordasse com todos os planos e ações. Para o CDS-PP, as razões da violação dos Acordos de Bicesse e os conflitos depois das eleições de 1992 eram fáceis de apontar. A manutenção de forças armadas fiéis aos movimentos políticos e o facto de essas forças não constituírem um exército nacional, juntamente com a contestação dos resultados das eleições, teriam criado um clima propício ao retorno da violência. Embora o CDS-PP se dirigisse mais à UNITA, que terá cometido muitos erros, assegurava que a responsabilidade do que estava a suceder não era exclusiva deste movimento. A vaga de assassinatos e de destruição de propriedades em atentados seria obra de movimentos organizados. O CDS-PP afirmava desejar que a transição democrática em Angola fosse pacífica51.

Através de André Martins, o partido «Os Verdes» afirmou que a UNITA tinha adiado o futuro da nação angolana, ao não aceitar os resultados das eleições de 1992 e a criação de um exército unificado. «Os Verdes» consideraram esta opção da UNITA indigna e traidora da vontade de paz dos angolanos. Mesmo se houvesse novo derramamento de sangue, o grupo parlamentar acreditava que Angola iria encontrar o seu caminho para a paz e a democracia, com o apoio de Portugal e das Nações Unidas, ao mesmo tempo que afastaria a África do Sul dos seus assuntos internos52.

O PSD participou neste debate parlamentar, através de Duarte Lima. Embora afirmasse que a acusação das partes não era o mais indicado, o deputado condenou a não- aceitação dos resultados eleitorais e de um exército nacional, assim como acusações de Jonas Savimbi, presidente da UNITA, dirigidas contra o governo de Portugal53. Em 8 de

50 Octávio TEIXEIRA, Angola: violação dos acordos de paz. 12 de Novembro de 1992. in

<http://debates.parlamento.pt/catalogo/r3/dar/01/06/02/013/1992-11-13/369?pgs=369&org=PLC> (Consultado entre Janeiro e Setembro de 2015).

51 Manuel QUEIRÓ, Angola: violação dos acordos de paz. 12 de Novembro de 1992. in

<http://debates.parlamento.pt/catalogo/r3/dar/01/06/02/013/1992-11-13/368?pgs=368-369&org=PLC> (Consultado entre Janeiro e Setembro de 2015).

52 André MARTINS, Angola: violação dos acordos de paz. 12 de Novembro de 1992. in

<http://debates.parlamento.pt/catalogo/r3/dar/01/06/02/013/1992-11-13/367?pgs=367-368&org=PLC> (Consultado entre Janeiro e Setembro de 2015).

53 Duarte LIMA, Angola: violação dos acordos de paz. 12 de Novembro de 1992. in

<http://debates.parlamento.pt/catalogo/r3/dar/01/06/02/013/1992-11-

48 Outubro de 1998, na Assembleia da República, o deputado Carlos Encarnação afirmou que era importante para o povo angolano a proteção e o empenho da comunidade internacional na resolução do conflito, sendo necessário cumprir os acordos que os movimentos políticos tinham assinado. O PSD declarava ser imprescindível a manutenção das instituições democráticas, tais como o Parlamento de Angola, e afirmava reprovar quaisquer ações que fizessem retornar a violência ao país54. Juntamente com o PS, o PSD aprovou uma deliberação em que se pedia ao Presidente da República e ao presidente do Parlamento angolanos que garantissem todos os direitos aos deputados da UNITA55.

No documento A reação portuguesa à guerra do Kosovo (páginas 46-48)