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Restantes referências à guerra do Kosovo na Assembleia da República

No documento A reação portuguesa à guerra do Kosovo (páginas 69-73)

Capítulo V Debates parlamentares

5.4. Restantes referências à guerra do Kosovo na Assembleia da República

No dia 25 de Abril, foram feitas referências à guerra do Kosovo, na Assembleia da República. O deputado do PCP Lino de Carvalho contestou a agressão a que a Jugoslávia estava sujeita, assim como a violação da Carta da Organização das Nações Unidas. Afirmou que destruição não poderia ser considerada parte de uma intervenção humanitária e a que melhor forma de resolver o conflito seria uma solução diplomática, que não destruísse a soberania jugoslava, nem obrigasse a população do Kosovo migrar, como os bombardeamentos tinham feito, até então. Defendeu também a retirada das forças militares portuguesas da missão da NATO114.

Luís Marques Mendes criticou a incoerência da comunidade internacional em relação aos Direitos Humanos, visto que, se no Kosovo agiu de forma decisiva, na questão de Timor não tomava qualquer ação115.

112 Manuel ALEGRE, Política governamental. 8 de Abril de 1999. in

<http://debates.parlamento.pt/catalogo/r3/dar/01/07/04/069/1999-04-09/2540?pgs=2540- 2541&org=PLC> (Consultado entre Janeiro e Setembro de 2015).

113 António GUTERRES, Política governamental. 8 de Abril de 1999. in

<http://debates.parlamento.pt/catalogo/r3/dar/01/07/04/069/1999-04-09/2518?pgs=2518-2521,2523- 2524,2527-2533,2538-2539,2541-2542&org=PLC> (Consultado entre Janeiro e Setembro de 2015).

114 Lino de CARVALHO, Comemoração do XXV aniversário do 25 de Abril de 1974. 25 de Abril de 1999.

in <http://debates.parlamento.pt/catalogo/r3/dar/01/07/04/077/1999-04-26/2773?pgs=2773- 2774&org=PLC> (Consultado entre Janeiro e Setembro de 2015).

115 Luís Marques MENDES, Comemoração do XXV aniversário do 25 de Abril de 1974. 25 de Abril de

1999. in <http://debates.parlamento.pt/catalogo/r3/dar/01/07/04/077/1999-04-26/2776?pgs=2776- 2777&org=PLC> (Consultado entre Janeiro e Setembro de 2015).

70 No discurso final desta sessão parlamentar, o Presidente da República Jorge Sampaio, defendeu a intervenção da NATO e a participação portuguesa, que, a seu ver, defendia os Direitos Humanos. Para Sampaio, o cumprimento dos compromissos internacionais e a coerência, no que concerne ao Direitos Humanos, como o caso do Kosovo patenteava, dariam mais força a Portugal, na comunidade internacional, para defender o povo timorense116.

A 29 de Abril, o CDS-PP desaprovou a falta de informação sobre os desenvolvimentos da guerra do Kosovo por parte do governo117.

No dia 12 de Maio, Azevedo Soares (PSD) pretendeu saber se o governo iria aprovar a participação de militares portugueses numa ofensiva terrestre, que fora autorizada pelo Conselho Superior de Defesa Nacional, mas, mais uma vez, censurou a escassez de esclarecimentos do executivo118.

Acácio Barreiros lembrou a Azevedo Soares que o ministro dos Negócios Estrangeiros já havia desmentido essa possibilidade e que o governo consentiria a participação nacional no apoio humanitário119.

Depois de comentar também a escassez de informações, Octávio Teixeira do PCP apelou ao regresso dos militares portugueses e insinuou que os países envolvidos na ofensiva tinham vergonha da guerra, já só pretendendo enviar pessoal médico para o Kosovo120.

Luís Queiró também pretendeu esclarecimentos do governo sobre esta matéria e falou de incoerência, caso as notícias recentes do envolvimento português num ataque terrestre se revelassem verdadeiras121.

116 Jorge SAMPAIO, Comemoração do XXV aniversário do 25 de Abril de 1974. 25 de Abril de 1999. in

<http://debates.parlamento.pt/catalogo/r3/dar/01/07/04/077/1999-04-25/2785?pgs=2776- 2777&org=PLC&plcdf=true> (Consultado entre Janeiro e Setembro de 2015).

117 Luís QUEIRÓ, Pronúncia, acompanhamento e apreciação pela Assembleia da República da

participação de Portugal no processo de construção da União Europeia. 29 de Abril de 1999. in

<http://debates.parlamento.pt/catalogo/r3/dar/01/07/04/079/1999-04-30/2843?pgs=2843&org=PLC> (Consultado entre Janeiro e Setembro de 2015).

118 Eduardo Azevedo SOARES, Kosovo: ajuda humanitária aos refugiados albaneses. 12 de Maio de 1999.

in <http://debates.parlamento.pt/catalogo/r3/dar/01/07/04/084/1999-05-13/3006?pgs=3006- 3007&org=PLC> (Consultado entre Janeiro e Setembro de 2015).

119 Acácio BARREIROS, Kosovo: ajuda humanitária aos refugiados albaneses. 12 de Maio de 1999. in

<http://debates.parlamento.pt/catalogo/r3/dar/01/07/04/084/1999-05-13/3006?pgs=3006&org=PLC> (Consultado entre Janeiro e Setembro de 2015).

120 Octávio TEIXEIRA, Kosovo: ajuda humanitária aos refugiados albaneses. 12 de Maio de 1999. in

<http://debates.parlamento.pt/catalogo/r3/dar/01/07/04/084/1999-05-13/3007?pgs=3007&org=PLC> (Consultado entre Janeiro e Setembro de 2015).

121 Luís QUEIRÓ, Kosovo: ajuda humanitária aos refugiados albaneses. 12 de Maio de 1999. in

<http://debates.parlamento.pt/catalogo/r3/dar/01/07/04/084/1999-05-13/3007?pgs=3007- 3008&org=PLC> (Consultado entre Janeiro e Setembro de 2015).

71 A 13 de Maio, num debate sobre o novo CE da NATO, requerido pelo PCP, o ministro dos Negócios Estrangeiros Jaime Gama declarou preferir uma intervenção sancionada pelo Conselho de Segurança da ONU, mas este encontrar-se-ia bloqueado por um possível veto, apesar de terem sido aprovadas três resoluções que retratavam a região como uma ameaça à estabilidade122.

Através do deputado João Amaral, o PCP condenou a intervenção por esta ir contra o Direito Internacional, dado não ter mandato da ONU. Observou que a guerra do Kosovo e o novo CE da NATO eram inconstitucionais, tendo este último sido utilizado ainda antes da sua aprovação. João Amaral acreditava que o CE e a guerra tinham a exclusiva função de legitimar o papel da aliança na comunidade internacional e demonstravam a subserviência de Portugal e da Europa face aos EUA. Apelou ao fim da guerra, à desmilitarização da NATO e subsequente fim da organização123.

Carlos Encarnação justificou a intervenção como um dever moral e ético, embora tenha admitido que os europeus não se encontravam em posição de a efetuar sozinhos. Defendeu a NATO, ao mencionar que esta agia sem mandato da ONU, por o seu Conselho de Segurança estar bloqueado. O deputado deu exemplos de fracassos anteriores, no que toca a catástrofes humanitárias, como, por exemplo, o caso do Ruanda, que não poderiam ser repetidos. Censurou a República Federal da Jugoslávia pela sua condução de uma limpeza étnica no Kosovo e acreditava que a guerra iria enfraquece-la e obriga-la a respeitar os Direitos Humanos. Alegou que a participação portuguesa teria um bom efeito em Timor, visto que a resistência deste país apoiava os bombardeamentos. Encarnação defendeu, porém, que a participação no Kosovo tinha de ter sido sancionada pela Assembleia da República124.

Francisco Peixoto, do CDS-PP, assegurou que a NATO era o melhor garante dos valores ocidentais e que a intervenção militar contra a RFJ, além de combater o genocídio de albano-kosovares, protegeria a estabilidade da região e dos membros da aliança125.

122 Jaime GAMA, NATO: alteração do conceito estratégico. 13 de Maio de 1999. in

<http://debates.parlamento.pt/catalogo/r3/dar/01/07/04/085/1999-05-14/3054?pgs=3054-3057,3081- 3082&org=PLC> (Consultado entre Janeiro e Setembro de 2015).

123 João AMARAL, NATO: alteração do conceito estratégico. 13 de Maio de 1999. in

<http://debates.parlamento.pt/catalogo/r3/dar/01/07/04/085/1999-05-14/3058?pgs=3058- 3062&org=PLC> (Consultado entre Janeiro e Setembro de 2015).

124 Carlos ENCARNAÇÃO, NATO: alteração do conceito estratégico. 13 de Maio de 1999. in

<http://debates.parlamento.pt/catalogo/r3/dar/01/07/04/085/1999-05-14/3063?pgs=3063- 3066&org=PLC> (Consultado entre Janeiro e Setembro de 2015).

125 Francisco PEIXOTO, NATO: alteração do conceito estratégico. 13 de Maio de 1999. in

<http://debates.parlamento.pt/catalogo/r3/dar/01/07/04/085/1999-05-14/3066?pgs=3066- 3069&org=PLC> (Consultado entre Janeiro e Setembro de 2015).

72 A última alusão ao Kosovo na Assembleia da República, durante a guerra, surgiu a 19 de Maio através do PSD, que protestou, mais uma vez, contra a parca informação acerca dos desenvolvimentos da participação nacional126.

Ao observarmos os debates parlamentares, verificamos que todos os grupos parlamentares, à exceção do socialista, criticaram a falta e a demora de esclarecimentos do governo sobre evolução do envolvimento militar português no Kosovo. Denotam-se claramente dois polos de opinião: PCP e «Os Verdes», de um lado, e PS, PSD e CDS-PP, do outro. Tanto o PCP como «Os Verdes» não aceitavam completamente a existência de um genocídio e defendiam que a intervenção ia contra o Direito Internacional e que pioraria a situação da população do Kosovo, assim como acreditavam ser um ato de subserviência para com os EUA, que diminuía a influência da ONU e a possibilidade de Portugal atingir resultados na questão timorense. Por outro lado, tornou-se óbvia a afinidade política entre a CDU e Partido Socialista Sérvio de Milosevic.

Já PS, PSD e CDS-PP pretendiam satisfazer os compromissos portugueses na NATO, acreditando que um mandato da ONU não seria exequível, devido ao aparente bloqueio do Conselho de Segurança, e que todas as possibilidades negociais estariam esgotadas. Além disso, defendiam que a sua principal preocupação era a de garantir a observância dos Direitos Humanos na região, reconhecendo a participação nacional na defesa dos direitos dos albano-kosovares como um auxílio na obtenção de apoios na comunidade internacional para a frente timorense.

De destacar, por último, que só foi visível uma voz dissonante da posição oficial de algum partido, pertencente ao deputado Manuel Alegre, do Partido Socialista.

126 José Manuel Durão BARROSO, Política governamental: debate com o primeiro-ministro. 19 de Maio

de 1999. in <http://debates.parlamento.pt/catalogo/r3/dar/01/07/04/087/1999-05-20/3126?pgs=3126- 3128&org=PLC> (Consultado entre Janeiro e Setembro de 2015).

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No documento A reação portuguesa à guerra do Kosovo (páginas 69-73)