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Capítulo V Debates parlamentares

5.1. Primeiro debate

Neste primeiro debate, só se encontraram presentes os partidos políticos com assento parlamentar. O governo não se fez representar. O primeiro a intervir foi o deputado do PSD Ferreira do Amaral, que, para além de criticar o governo pela falta de informação prestada em relação à participação portuguesa no conflito, relembrou a todos os militares que se preparavam para entrar no esforço de guerra da NATO que todo o povo português os apoiava e admirava80.

Seguidamente, foi o deputado do PCP João Amaral quem tomou a palavra, repudiando os ataques perpetrados pela NATO, na Jugoslávia. Como os bombardeamentos não tinham mandato do Conselho de Segurança da ONU, foram considerados, pelo PCP, como acontecimentos à revelia do Direito Internacional. Por esta razão e por a NATO estar a exercer um papel que deveria ser da ONU, estes ataques iriam desprestigiar e diminuir a posição desta última e também da OSCE. João Amaral teceu duras críticas à NATO e, em especial, aos Estados Unidos da América, denunciando a sua hipocrisia, pois não tinham intervindo em países como o Afeganistão e a Arábia Saudita para combater violações dos Direitos Humanos. No entanto, apoiaram movimentos separatistas, sendo cúmplices de ações terroristas, num claro atentado à soberania da República Federal da Jugoslávia. Afirmando também que os albano- kosovares boicotaram os acordos ao pressionar para a sua alteração, relembrou que os jugoslavos subscreveram os acordos. A intervenção militar no Kosovo só serviria para estabelecer a NATO como garante dos interesses norte-americanos81.

80 Joaquim Ferreira do AMARAL, Envolvimento de militares portugueses na intervenção militar da NATO

na Jugoslávia. 24 de Março de 1999. in <http://debates.parlamento.pt/catalogo/r3/dar/01/07/04/063/1999- 03-25/2322?pgs=2322&org=PLC> (Consultado entre Janeiro e Setembro de 2015).

81 João AMARAL, Envolvimento de militares portugueses na intervenção militar da NATO na Jugoslávia.

24 de Março de 1999. in <http://debates.parlamento.pt/catalogo/r3/dar/01/07/04/063/1999-03- 25/2322?pgs=2322-2323&org=PLC> (Consultado entre Janeiro e Setembro de 2015).

60 Para João Amaral e para o PCP, a guerra só iria gerar mais guerra, visto que o exército jugoslavo não se ia render facilmente, pelo que a solução para o conflito teria de ser atingida através de meios pacíficos, sem nunca colocar em causa a soberania jugoslava82.

O deputado Eduardo Pereira do PS reafirmou a confiança que o seu grupo parlamentar tinha no governo para gerir e liderar esta questão. Tal como Ferreira do Amaral, dirigiu-se aos militares portugueses, assegurando-lhes que a confiança depositada neles era total. Eduardo Pereira assegurou que as missões na Bósnia e no Kosovo não eram diferentes e que, aliás, pertenceriam à mesma operação de paz, dado cada uma poder influenciar a outra. O deputado socialista deixou claro que Portugal não aceitou participar em todas as eventualidades militares e somente anuiu em participar em algumas missões83, nomeadamente, operações de reconhecimento e patrulhamento aéreo, sem envolvimento direto nos bombardeamentos84.

O deputado centrista Luís Queiró manifestou o seu apoio aos militares portugueses que faziam parte da máquina de guerra da NATO. Na visão do CDS-PP, não seria possível continuar a tentar resolver o conflito pela via diplomática e pacífica, visto que todos os esforços nesse sentido já tinham sido efetuados sem sucesso. A culpa deste falhanço residiria na intransigência sérvia. Os albano-kosovares teriam demonstrado a sua vontade em assinar os acordos de Rambouillet. Concordando que as forças armadas faziam parte de um conjunto de instrumentos diplomáticos e serviam para demonstrar a seriedade da sua posição e as consequências da falta de um acordo, o CDS-PP aceitava a intervenção da aliança atlântica. Porém, a operação da NATO não poderia perder de vista o objetivo fulcral: a obtenção da paz. Logo, teria que trazer a paz à região, assim como obrigar quem não a desejasse, que, para os centristas, eram os sérvios, a permiti-la. A preferência do partido era que a guerra do Kosovo fosse breve. Invocou também os compromissos internacionais de Portugal, nomeadamente com a ONU e a NATO85.

82 João AMARAL, Envolvimento de militares portugueses na intervenção militar da NATO na Jugoslávia.

24 de Março de 1999. in <http://debates.parlamento.pt/catalogo/r3/dar/01/07/04/063/1999-03- 25/2322?pgs=2322-2323&org=PLC> (Consultado entre Janeiro e Setembro de 2015).

83 Eduardo PEREIRA, Envolvimento de militares portugueses na intervenção militar da NATO na

Jugoslávia. 24 de Março de 1999. in <http://debates.parlamento.pt/catalogo/r3/dar/01/07/04/063/1999-03- 25/2323?pgs=2323&org=PLC> (Consultado entre Janeiro e Setembro de 2015).

84 Miguel Silva MACHADO, “II - Crónicas militares nacionais”. Revista Militar. (Maio) 1999. Lisboa. pp.

1039-1041.

85 Luís QUEIRÓ, Envolvimento de militares portugueses na intervenção militar da NATO na Jugoslávia.

24 de Março de 1999. in <http://debates.parlamento.pt/catalogo/r3/dar/01/07/04/063/1999-03- 25/2323?pgs=2323&org=PLC> (Consultado entre Janeiro e Setembro de 2015).

61 O Partido Ecologista «Os Verdes» discordava completamente da intervenção da NATO. Para a deputada Isabel Castro, ninguém tinha o direito de decidir sobre a vida ou a morte dos outros. A intervenção ia atingir a população da República Federal da Jugoslávia, e, sobretudo, os que não eram responsáveis pelo conflito, como as crianças. Denunciou, ainda, a atitude belicista por parte dos membros da NATO e de Portugal, os quais não tinham feito todos os esforços diplomáticos possíveis, antes de partir para a guerra. Isabel Castro afirmou que o Direito Internacional estava a ser desprezado com estas ações da aliança86.

O deputado Manuel Alegre do PS fez, a seguir, uma intervenção de cariz pessoal, avisando que esta não representava o seu grupo parlamentar. Declarou estar solidário com os militares portugueses em missão no Kosovo, mas interrogou-se sobre as consequências de uma guerra numa região que já havia tido um papel preponderante nas duas guerras mundiais do século. Manuel Alegre pediu também que as questões sobre a participação de militares portugueses nas mais variadas missões fossem discutidas na Assembleia da República87.

Eduardo Azevedo Soares, deputado do PSD e presidente da Comissão de Negócios Estrangeiros, Comunidades Portuguesas e Cooperação, terminou o debate. Este informou que a questão da participação portuguesa na guerra do Kosovo já tinha sido discutida nesta comissão, tendo a maioria dos deputados presentes apoiado a decisão do governo. Disse também ter a certeza de que o grupo parlamentar do PSD concordava com a participação portuguesa, de forma clara88.

No documento A reação portuguesa à guerra do Kosovo (páginas 59-61)