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GUERRA DO GOLFO

No documento Irã X Arábia Saudita (páginas 62-66)

3 HISTÓRICO DE CONFLITOS ENVOLVENDO IRÃ E ARÁBIA SAUDITA PÓS-

3.3 GUERRA DO GOLFO

Conforme visto, durante todo o período que esteve em guerra contra o Irã, o Iraque teve apoio tanto das potências mundiais, quanto de vários países no Oriente Médio receosos com a revolução xiita. O país recebeu neste tempo enormes quantias em dinheiro e modernos armamentos viabilizados principalmente pela URSS e vários países ocidentais. Em 1990, sua conta somava 90 bilhões de dólares e seu maior débito era para com a monarquia do Kuwait a qual devia suntuosos 10 bilhões de dólares; fato preocupante para um país destruído da guerra e sem recursos. (OLIC, 1991; BERTONHA, 1996)

Dada à situação e somados a isso fatores como desejo de Hussein em se tornar o líder árabe do cenário internacional, suas pretensões anexionistas na região e a necessidade do dirigente iraquiano em evitar uma crise política interna e manter os baatistas no poder dentro de seu país depois de uma “não vitória” contra o Irã, fez-se a próxima vítima: o Kuwait.

Em dois de agosto de 1990, contrariando as expectativas da maioria dos analistas internacionais, Sadam Hussein – militar iraquiano que, há quase duas décadas, governava o Iraque com mão de ferro – invadiu o Kuwait, dando inicio a uma grave crise na região do Golfo Pérsico. (OLIC, 1991, p.48)

Com esta ação o país de Sadam poderia resolver seus problemas imediatos “obtendo o perdão da dívida externa” com seu maior credor, reabastecendo seus cofres com os dólares do Estado vizinho e ainda melhorando sua posição estratégica com o aumento das reservas petrolíferas. (BERTONHA, 1996)

Internacionalmente, as principais justificativas para o ditador invadir o vizinho foram: ampliar a saída marítima, uma vez que a sua única saída, Chatt al Arab, além de compartilhada com o Irã, em decorrência da última contenda estava praticamente inavegável devido aos destroços resultantes do conflito; a alegação de que as fronteiras do mundo árabe foram definidas por europeus no início do século XX e não eram “naturais” – no caso, o Kuwait deveria ser parte de uma colônia iraniana; e a acusação de que o país ao sul da fronteira extraia petróleo (poços em Raumailá-sul) na divisa entre os dois países e “absorvia” as reservas que estavam do lado iraquiano. (OLIC, 1991)

Ademais o governante achou que não encontraria grande oposição mundial, pois era aliado de quase todos os países ocidentais e árabes, detinha grande poder bélico e as relações EUA e Kuwait não eram as melhores. (BERTONHA, 1996)

Entretanto as pretensões do Iraque foram logradas internacionalmente, uma vez que seus pretensos aliados diminuíram o apoio ao país com o fim do conflito com o Irã e, assim, condenaram veementemente a ação do líder iraquiano e moveram-se no sentido a reaver o “equilíbrio” da região asiática. Os EUA, como de costume, tomaram para si a responsabilidade de defender a região.

Embora o discurso usual para a mídia tenha sido a defesa da liberdade de um povo contra um tirano ditador, a pesquisa mostra que isto não procede e que, na verdade, a preocupação americana era conter uma possível ascensão do Iraque localmente e manter os preços do ouro negro. “Com a invasão do Kuwait, o barril do petróleo que em meados de 1990 custava menos de 20 dólares, passou em poucas semanas para aproximadamente 40 dólares”. (OLIC, 1991, p. 51)

No mais, segundo Bertonha (1996, p. 121):

“(...) tudo leva a crer que foram preocupações de ordem econômica e estratégica que levaram à intervenção. Washington não podia permitir que alguém como Hussein controlasse – tanto de forma direta como indiretamente, via intimidação dos emirados do Golfo – parte tão expressiva das reservas mundiais de petróleo; que o equilíbrio estratégico regional

fosse alterado (...) – e nem que fosse aberto o precedente de uma nação pequena desafiar impunimente a ordem internacional. Por tudo isso os Estados se voltaram contra Bagdá. ”

Isto posto, foram deslocadas tropas, a principio americanas, fortemente equipadas para o Golfo e foi montada uma barreira militar principalmente ao sul da Arábia Saudita, próxima das fronteiras com Iraque e Kuwait, para impedir o avanço das tropas iraquianas e para pressionar o governo beligerante. No inicio de 1991, com a chegada de exércitos diversos, mais de vinte países mantiveram soldados de coalisão prontos para confronto.

Enquanto isto, a nível diplomático, americanos e aliados conduziram um embargo econômico total ao Iraque (ninguém vendia ou comprava mercadora alguma do país).

Como a retirada iraquiana estava tardando a acontecer, em novembro de 1990, o Conselho de Segurança da ONU determinou prazo para que o Iraque deixasse o território do Kuwait: 15 de janeiro de 1991. Tal resolução permitia o uso de todos os meios necessários para que esta fosse cumprida. (BERTONHA, 1996)

Em sua defesa, Sadam Hussein tentou transformar a crise em uma luta do Oriente versus o Ocidente, chegando a chamar os muçulmanos para o Jihad (Guerra Santa) sob alegações de que os ocidentais estavam maculando o solo sagrado do Islã – isto considerando que tropas americanas estavam alocadas principalmente nas cidades sagradas Meca e Medina na Arábia Saudita. Ademais, ele tentou chamar a atenção do povo árabe a seu favor, declarando que se fosse atacado, seus primeiros mísseis iriam para Israel. (OLIC, 1991)

O Iraque, então, recusou-se a cooperar com as tentativas diplomáticas de solução do problema até o dia do prazo final definido pela ONU, o que causou uma ofensiva com intenso bombardeio sobre o território ocupado no Kuwait e sobre o Iraque, conforme explicado por Bertonha (2006):

Os EUA e Aliados fizeram cerca de 100 mil ataques aéreos e despejaram cerca de 1 milhão de toneladas de bombas sobre o Iraque. Esse enorme volume de fogo foi dirigido contra alvos militares e estratégicos do Iraque: tropas, usinas de armas químicas e nucleares, alvos econômicos, etc. Com estes ataques, os EUA tencionavam forçar a retirada iraquiana e também cumprir o objetivo (...) de eliminar as fontes de poder militar de Sadam Hussein. (BERTONHA, 1996, p. 124)

Para Hussein, desistir da guerra seria suicídio político, então a estratégia passou a ser resistir, em vez de vencer, aguardando uma ebulição das massas árabes contra os ocidentais e uma crise com o aumento do preço do petróleo que forçaria os aliados ocidentais buscarem um acordo. Isto não aconteceu. (BERTONHA, 1996)

Foi mais de um mês de ataques incessantes e quase exclusivamente aéreos com pouca resistência oferecida. O contra-ataque veio em forma de mísseis contra Israel e contra Arábia Saudita. E, em 23 de fevereiro, forças de coalisão terrestre dos aliados entraram nas terras tomadas no Kuwait e chegaram até o sul do Iraque. Só não foram até Bagdá por medo dos efeitos políticos.

Por fim, em 28 de fevereiro, os rádios na capital iraquiana anunciaram a retirada de tropas do Kuwait e o acatamento das resoluções da ONU.

Este conflito se mostrou importante para o Oriente Médio porque tornou o local mais seguro para Israel, uma vez que uma potência militar perigosa foi bastante enfraquecida; mudou a balança de poder na região agora que o Iraque levaria mais tempo para se recuperar, mas também fez com que os EUA se tornassem mais influentes naquela zona.

Quanto ao cenário de pós guerra-fria, como diz Olic (1991):

A crise do Golfo mostrou que parte das alianças tradicionais criadas durante o período da Guerra Fria começava a desmoronar. Por exemplo, os EUA receberam o apoio da Síria, até então inimiga ferrenha da política norte- americana no Oriente Médio. O Irã, antigo inimigo do Iraque, mostrou-se reticente em tomar atitudes que pudessem prejudicar seu ex-adversário. Israel ficou, até certo ponto, à margem do assunto, por se tratar, originalmente, de uma crise entre países árabes. A OLP tomou atitudes francamente pró-Iraque. A URSS, que nas últimas décadas estivera do lado do Iraque, passou a apoiar, de forma discreta, as ações norte-americanas. (OLIC, 1991, p. 51-52)

Ademais, para o Irã o resultado terminou por ser positivo. Ironicamente, o Ocidente, que lutou por quase dez anos para enfraquecer o poder do Estado e dos integralistas islâmicos, terminou por fortalecer e provocar o crescimento do Estado através da Guerra contra o antigo aliado, o Iraque. (BERTONHA, 1996)

No documento Irã X Arábia Saudita (páginas 62-66)

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