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PRIMAVERA ARÁBE

No documento Irã X Arábia Saudita (páginas 72-75)

3 HISTÓRICO DE CONFLITOS ENVOLVENDO IRÃ E ARÁBIA SAUDITA PÓS-

3.5 PRIMAVERA ARÁBE

A Primavera Árabe ficou conhecida por uma série de movimentos em forma de protesto que começaram no Norte da África entre 2010 e 2011, nos países de predominância muçulmana e árabe, e teve maior significância no Egito e na Tunísia, se espalhando posteriormente para vários países do Oriente Médio, tais como: Iêmen, Síria, Jordânia, Omã, Líbia, Bahrain, dentre outros. Esses protestos buscavam reformas políticas, econômicas e sociais. (FRANCO, 2012; CONNOLLY, 2013)

Ademais, a ausência de um modelo de desenvolvimento capaz de gerar oportunidades de trabalho para a parcela da população mais jovem, e mais desempregada, bem como a crise social que dela adveio, foi o pano de fundo sobre o qual os levantes árabes ocorreram. (FERABOLLI, 2012). Para melhor compreensão, explicam sobre o assunto Oliveira e Marcondes (2015):

A Tunísia e o Egito sofreram uma revolução e tiveram seus governantes defenestrados. A Líbia, uma guerra civil. Em países como Argélia, Baherein, Dibuti, Iraque, Jordânia, Síria, Omã e Lêmen, protestos populares de grande monta repercutiram e ainda repercutem na mídia internacional. O Kuwait, Líbano, Mauritânia, Marrocos, Arábia Saudita, Sudão e Saara Ocidental foram menos afetados, mas nem por isso deixaram de sofrer manifestações populares clamando por liberdade, por democracia e por melhores condições de vida (OLIVEIRA E MARCONDES, 2015, p. 2-3)

Assim, os protestos que tiveram início na Tunísia levaram primeiro o ditador, al-Abidine Ben Ali, a deixar o poder depois de 20 anos no comando. Em seguida, no Egito, caiu o presidente Hosni Mubarak e, na Líbia, o resultado foi o fim do regime de Muammar Khadafi. (CONNOLLY, 2013)

Neste ponto é interessante destacar que enquanto Egito e Tunísia não sofreram intervenções externas, apesar de grande cobertura da mídia, a Líbia, muito rica em petróleo, recebeu auxilio tanto de países europeus quanto da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e dos Estados unidos, os quais interviram militarmente e ajudaram financeiramente o país. (OLIVEIRA E MARCONDES, 2015)

A Primavera Árabe também marcou o início do levante sírio, tornando o local hoje em um palco de guerra civil como será demonstrado mais à frente.

(CONNOLLY, 2013)

Na Síria, o chefe das forças de paz das Nações Unidas, Hervé Ladsous, disse em junho de 2012 que os confrontos já haviam se tornado uma Guerra Civil, pois mais de 14 mil pessoas já haviam morrido desde o início das revoltas populares, sendo a maioria civis. (OLIVEIRA E MARCONDES, 2015, p. 5-6)

Estes eventos preocuparam sobremaneira os governantes despóticos da região, fazendo-os reagir de forma a evitar que a onda revoltosa causasse perdas irreversíveis para os regimes – fosse através de repressão ou de algumas reformas.

E, apesar do cenário de descontrole, para os países que buscavam influência no Oriente foi uma oportunidade de medir forças através dos conflitos em territórios alheios.

A princípio as manifestações egípcias foram bastante positivas para o Irã, uma vez que Hosni Mubarak era um grande opositor do Estado. Assim, a possibilidade da instauração de um regime islâmico e reestabelecimento das relações diplomáticas fizeram o Líder Supremo iraniano, Aiatolá Ali Khamenei, sugerir que esses eventos seriam reflexo da Revolução Iraniana. (FRANCO, 2012)

Entretanto, para o Irã, que saiu fortalecido da invasão ao Iraque, a situação tornou-se muito perigosa a partir do momento em que ao regime de Bashar al-Assad foi ameaçado por rebeldes e pela intervenção externa. (VISENTINI E ROBERTO, 2015)

Além disso, apesar da passagem do tempo e de uma distância de quase uma década desde o retorno do discurso do “crescente xiita” através do rei da Jordânia, novamente este termo foi usado; desta vez capitaneado pela Arábia Saudita, em uma tentativa de enfraquecer oportunamente seu, cada vez mais claro, rival, o Irã. Assim:

A manipulação do antigo discurso de que o Irã seria responsável pela criação de um Crescente Xiita tem sido uma arma poderosa para desviar as atenções do problema da falta de democracia dentre as monarquias e

reforçar ainda mais os temores da comunidade internacional quanto à política externa do Irã. (FRANCO, 2012, p. 4)

Do ponto de vista iraniano, o discurso do “crescente xiita” é uma forma dos países árabes promoverem um maior isolamento do Estado na região e aumentarem a atmosfera de repressão e intolerância. Vozes dissonantes afirmavam que o país estaria aproveitando a situação para ampliar sua influência política a partir do financiamento de revoltas nos países do Golfo.

Ainda, pode-se afirmar que a retomada do discurso do Crescente Xiita no contexto da Primavera Árabe teve como objetivo também distrair a comunidade internacional dos problemas internos dos países árabes no que tange os seus regimes antidemocráticos. Para Franco (2012):

O período de turbulência provocado pela Primavera Árabe apenas contribuiu para que as relações entre Irã e Arábia Saudita experimentassem uma considerável deterioração, tendo atingido seu ápice na intervenção promovida pelo Conselho de Cooperação do Golfo no Bahrain. (FRANCO, 2012, p. 13)

Contudo, é importante notar que a verdadeira intenção de países autocráticos como Arábia Saudita, Qatar, Emirados Árabes Unidos e Bahrain era, principalmente, conter qualquer aspiração democrática por parte de suas populações. Neste âmbito, houve a reestruturação do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG), o qual esses países fazem parte junto com Omã e Kuwait, no sentido de aproximar as monarquias do Oriente Médio contra levantes populares. Isto ratificou a Arábia Saudita como importante centro de poder na região. (FRANCO, 2012)

Com a queda do líder egípcio, Kuwait e Arábia Saudita prontamente se dispuseram a investir bilhões na reconstrução do Egito – o primeiro prometeu 1 bilhão e meio de dólares de seu Fundo de Riqueza Soberana e o segundo, 4 bilhões de dólares. Isto para evitar qualquer aliança entre o país e o Irã e tentar controlar a revolução através da orientação de sua reconstituição. Neste sentido, o CCG tem se tornando mais militarizado e influente, buscando ampliar-se, conforme argumenta Ferabolli (2012):

O capital do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) – o Khaliji – tem-se expandido agressivamente por todo o Oriente Médio e Norte da África. O CCG já supera os Estados Unidos e a União Europeia em termos de IDE

[Investimento Direto Externo] no mundo árabe, respondendo por 70% do total de IDE na Síria e no Líbano e por grande parte do IDE no Iraque, além de praticamente controlar o setor bancário iraquiano. Aos países “atingidos” pela Primavera Árabe, o CCG já garantiu ajuda financeira: US$ 20 bilhões para Bahrein e Omã (BAHGAT, 2011) e investimentos na casa dos bilhões de dólares para Egito e Tunísia. Contudo, esses investimentos não devem ser entendidos dentro de uma lógica de solidariedade árabe-muçulmana. (FERABOLLI, 2012, p.103)

Soma-se a isto a luta contrarrevolucionária promovida pelo CCG. Na invasão da Líbia, por exemplo, o Qatar e os Emirados Árabes Unidos enviaram tropas, dinheiro e equipamentos, além de oferecerem legitimidade política ao ataque. (FERABOLLI, 2012)

Com efeito, os Estados monárquicos, principalmente Arábia Saudita, lutam contra situações de insegurança e incerteza, primando pela preservação do

Status quo, o que fazem através da injeção de voluptuosas quantias a seus aliados

e do discurso religioso. (FRANCO, 2012)

Isto demonstra que os países do Oriente Médio têm tomado cada vez mais as rédeas de seus próprios problemas. Assim, parece haver um novo arranjo político na região o qual não tem mais os EUA como principal parceiro estratégico, mas sim os próprios membros daquela zona em algo que alguns autores estão chamando de um futuro Consenso de Riad. (FRANCO, 2012; FERABOLLI, 2012)

Quanto às revoluções da Primavera Árabe, o que se teme, no entanto, em face das próprias características culturais desses povos, da falta de lideranças populares e do despreparo das grandes massas para tomarem em suas mãos a tarefa de transformar seu país, é que todo o processo se transforme numa mera troca de uma ditadura aberta e conhecida, por outra, imprevisível e sob o disfarce de democracia (OLIVEIRA E MARCONDES, 2015)

Tendo em vista essas e demais colocações do capítulo três, busca-se a seguir um entendimento mais aprofundado dos conflitos atuais para, portanto, ser alcançado nível de análise e, depois, a verificação do cumprimento do objetivo primeiro deste estudo.

No documento Irã X Arábia Saudita (páginas 72-75)

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