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Capítulo VII- Apresentação e interpretação de dados

7.2 Hábitos Leitores e Hábitos Digitais: introspeção

É necessária uma introspeção sobre os hábitos leitores e os hábitos digitais das docentes entrevistadas para que consigamos compreender a sua postura perante a interpretação e a utilização das TIC em contexto de sala de atividades. Nas próximas linhas pretendemos debruçar-nos sobre as características pessoais de cada uma das entrevistadas tentando definir que papel, a história de vida e o percurso académico e profissional, teve para as docentes e que as moldou como um determinado tipo de leitor. Pretende-se, cumulativamente, definir o tipo de leitor e como é que o docente se revê nas interpretações que promove junto das crianças e se os seus hábitos leitores e digitais influenciam de algum modo a sua prática pedagógica.

7.2.1 Tipo de leitor

As educadoras de infância entrevistadas consideram-se leitoras ativas, críticas e criativas. Ativas, porque segundo as mesmas leem muito. Para ser mais específica, a entrevistada B refere, “Sou uma leitora ativa e leio revistas, jornais e livros para além daqueles que são do trabalho”. A este propósito a entrevistada A reporta-se

principalmente à sua procura de ações de formação contínua que a ajudem a melhorar a sua prática pedagógica.

Ao solicitar que as docentes que fazem parte desta investigação efetuassem uma introspeção sobre o que poderá ter influenciado, ao longo das suas vidas, a sua postura perante a interpretação ambas definem como principal influência a família.

A entrevistada A refere que “…os seus pais sempre lhe contaram histórias.

Desde pequena foi habituada a ouvir histórias pelos pais e por uma das avós” e isso

influenciou-a muito para que hoje ela seja uma pessoa que adora contar histórias e que, como docente, introduziu na sua rotina momentos onde isso acontece diariamente. Mas estas influências não se ficaram apenas pelo conto de histórias, tinham também um forte contributo da biblioteca que tinha em casa dos pais o que a levou a ter uma “biblioteca infantil monstruosa” na sua própria casa. A educadora regista ainda que muitos dos

livros que tem na sua sala de atividades para uso das crianças são da sua biblioteca pessoal e sublinha, “compra muitos livros para casa e para a escola… tenta sempre ver os livros que têm qualidade, bons e resistentes e imagens com cor e que as crianças gostem”.

Esta educadora reconta um episódio da sua vida familiar que a levou a crescer como pessoa e como docente com uma especial atenção para a literacia visual. Esta influência familiar ajudou-a a vincar as suas aprendizagens, que se refletiram nos conhecimentos e interesses que construiu e desenvolveu durante a sua vida, transferindo-os posteriormente para a sua prática profissional e, consequentemente influenciando a postura e os conhecimentos das crianças com quem trabalha diariamente, e inclusive para as suas próprias filhas.

“… o pai para lhe contar a história da Branca de Neve desenha-a toda na parede do quarto. O seu despertar pelo visual e pela arte teve também influência do pai e este prazer que sente pelos livros e pela arte incute nas suas filhas… passou de geração em geração.” (Entrevistada A)

No caso da entrevistada B, a família também teve um papel decisivo na definição do tipo de leitor em se tornou e na postura que mais tarde iria desenvolver perante a leitura, a escrita, a literacia e a própria interpretação dos textos com que se cruza no quotidiano.

“Em minha casa sempre se leu muito. O meu pai adora livros e lê muito… eu sempre que tinha dúvidas perguntava-lhe e ele respondia-me. A minha mãe também… trabalhava na Biblioteca Nacional e como adorava ler devorava os livros e eu também ia muitas vezes para lá e habituei-me muito a ler e a relacionar-me com os livros. Em casa sempre se leu muito e eu acabava por ir lendo…” (Entrevistada B)

A docente considera-se por isso uma leitora ativa com hábitos leitores vincados, não só nos textos que são necessários para o seu trabalho mas também para os textos que se situam mais no foro do informal e do prazer. Contudo, esta docente sublinha que as suas características pessoais também influenciam a sua postura perante a interpretação e perante os textos, nomeadamente a sua criatividade e sublinha “sou muito criativa, tenho muitas ideias para aplicar no trabalho”.

7.2.2 O uso do computador pelas docentes

No que diz respeito aos hábitos digitais, as educadoras de infância referem que são utilizadoras ativas das TIC, sendo que utilizam o computador, para tarefas administrativas, de planeamento e organização do trabalho e, em contexto educativo, como recurso diário nas atividades da sala de atividades.

As tarefas administrativas definidas pelas entrevistadas e para as quais utilizam as TIC, são a consulta de emails de trabalho, resposta a ofícios ou pedidos de colaboração, elaboração de atas, ofícios, consulta do moodle do agrupamento, avaliações periódicas, construção dos projetos curriculares de grupo e do projeto educativo do estabelecimento. O Relatório sobre o Plano Tecnológico de Educação regista “mais de 99% dos docentes utiliza a internet para consulta de mails (100%), busca de informação (96,6%) ou notícias (91,8%)”(Carneiro et al., 2010, p. 16).

A entrevistada B e a propósito da utilização do computador para cumprir com as suas tarefas administrativas afirma, “Nós temos o moodle e todas as informações são

enviadas por mail… não telefonam. Mas depois se queremos ver os mails na escola não

podemos temos de ir a casa vê-los porque não temos Internet”, o que considera como

Relativamente ao planeamento e organização do trabalho, as entrevistadas referem que têm por hábito realizar uma pesquisa mais abrangente sobre alguns temas que pretendem abordar com as crianças em sala de atividades. Esta pesquisa serve essencialmente para responder às necessidades destas docentes e recolher toda a informação disponível sobre o tema a trabalhar e assim possuir um leque alargado de informação que pode posteriormente ser trabalhado em contexto de grande grupo, numa primeira fase, para passar a um trabalho mais individualizado, o que se designa de pequeno grupo, numa segunda fase. Para sintetizar o uso que as educadoras têm com o computador e respetivos softwares construímos um quadro que mostra as atividades desenvolvidas.

Quadro 5 – Atividades com o computador desenvolvidas pelas educadoras Utilização/Software

Foro Administrativo Foro Educativo

- Consulta de email (Internet) - Consulta de moodle (Internet)

- Receção e envio de correspondência (Internet, conta de email)

- Elaboração de documentos conjuntos ao agrupamento (Word)

- Pesquisa de informações sobre os temas de trabalho (Internet; Google)

- Projeto Curricular de Turma (Word) - Partilha de informações e recursos em formato digital entre docentes do agrupamento e fora do agrupamento (Internet, conta de email)

- Visionamento e construção de histórias (PowerPoint)

As educadoras referem ambas que sempre que podem transportam consigo uma

pen própria que lhes permite ter acesso à Internet e assim, sempre que é solicitado pelas crianças ou que considerem pertinente encaminhar a pesquisa de um determinado tema que está a ser trabalhado na sala, efetuar uma pesquisa mais abrangente e atual com o recurso por exemplo a imagens reais sempre acompanhadas do grupo de crianças. Esta atitude ajuda as crianças a investir nas competências digitais, no aperfeiçoamento do manuseamento dos diferentes suportes tecnológicos e das ferramentas digitais

disponibilizadas pela utilização da Internet e ainda no contacto com o texto multimédia, e as suas múltiplas características.

Em suma as docentes entrevistadas possuem hábitos leitores com influências diretas da sua família, que foram sendo aperfeiçoadas ao longo da sua vida, condicionadas pela exigência da profissão e do seu percurso académico e definidos pelas suas características pessoais de questionamento, crítica e criatividade.

Relativamente aos hábitos digitais estes foram influenciados pela exigência de se integrarem na sociedade de informação que exige do docente uma constante atualização de conhecimentos e o desenvolvimento de skills digitais, que incluem aprendizagens de manuseamento de equipamentos e de software. Segundo as educadoras os seus percursos académicos não se caracterizaram por abundância de acesso às TIC. A entrevistada A refere que teve algum contacto com as bases da utilização e implementação das TIC e algum software específico, apenas na sua licenciatura em 1999, a reciclagem de conhecimentos que se seguiu após esta data devem-se essencialmente à sua curiosidade natural e sentimento de aperfeiçoar e aprofundar conhecimentos, que a levam a frequentar ações de formação contínua neste domínio.

A entrevistada B considera que o seu percurso académico foi relativamente fraco no que diz respeito às aprendizagens que concretizou e à utilização das TIC em contexto escolar. Reportando-se à sua história de vida refere que apenas possuía uma máquina de escrever manual que utilizava para fazer trabalhos académicos que apresentava nas disciplinas do bacharelato, sendo que os equipamentos informáticos “eram muito escassos, muito raros a gente também não tinha”. Relativamente às aprendizagens que

concretizou neste período académico no âmbito das TIC, esta afirma que “só fizemos uma história animada era com um programa que tinha uma tartaruga mas já não me lembro muito bem, foi a única coisa que aprendemos”.

Aquando da frequência da licenciatura em 2006, a educadora afirma que já possuía um computador pessoal e que a escola superior de educação que frequentou também tinha recursos suficientes para o número de alunos que os requisitavam para a realização de variadíssimas tarefas, entre elas a pesquisa documental. Contudo a entrevistada B sublinha que “passa por sermos um pouco autodidatas”, reforçando que

as formações em que participa no âmbito das TIC nem sempre têm aplicabilidade no dia-a-dia de um jardim-de-infância devido essencialmente ao deficit de recursos e

equipamentos disponíveis nos estabelecimentos educativos, ou seja ao parque informático existente neste nível de ensino.

Podemos por isso inferir com base no dito das entrevistadas que os seus hábitos digitais pouco têm a dever às aprendizagens efetuadas durante o seu percurso académico, mas que dependem essencialmente da sua vontade em aprender mais e aperfeiçoar conhecimentos de modo a responder às exigências da atualidade sempre numa tentativa de incluir o jardim-de-infância e as suas crianças em aprendizagens significativas e efetivas no âmbito das TIC.