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CAPÍTULO I – APRESENTAÇÃO

1.6 HISTÓRICO DA ORGANIZAÇÃO CURRICULAR DA EJA

A legislação educacional no Brasil tem seu embrião na Constituição Imperial de 182419, mas só no ano de 1961 tem a primeira Lei que trata especificamente da

educação no país – LDB 4.024/61. Com a LDB 9.39420 de 20 de dezembro de 1996,

tem se origem às Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN’s) e a partir de 1997 os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) elaborados pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), nesses documentos têm o reconhecimento das especificidades trazidas pelo público da EJA e são tratados como elementos importantes na construção ou adequação de um currículo que os atenda. A LDB 9.394/96 traz no âmago da sua instrução a preocupação em vincular educação como um processo formativo bastante abrangente. No seu Art. 1º, ela deixa evidente essa visão, ao citar:

A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.

Nesta mesma Lei 9.394/96 a educação escolar surge como um instrumento poderoso, capaz da construção de alicerces morais e éticos sobre os quais se

19 Constituição de 1824, o Art. 179, inciso n, estabelece a instrução primária gratuita e aberta a todos os cidadãos.

20 Art. 9º. A União incumbir-se-á de: IV – estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, competências e diretrizes para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação básica comum.

apoiarão o mundo do trabalho e à prática social, no seu parágrafo § 2º ela traz, “A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social”. Seu Art. 22 reforça a importância da educação básica, no desenvolvimento do educando para o exercício da cidadania. Na seção V, seus artigos (Art. 37 e Art. 38) dedicam- se exclusivamente a EJA, apontando para as particularidades e o currículo a ser trabalhado com esses sujeitos. Nesse mesmo parecer desaparece a noção de Ensino Supletivo existente na LDB 5.692/71. Tem-se no seu Art. 38 da seção citada, a indicação direta em se trabalhar a base nacional comum do currículo, reforçando a ideia de um prosseguimento de estudo em caráter regular.

A resolução da Câmera de Educação Básica (CEB) No3 de 26 de junho de 1998, no

seu Art. 1º consolida a proposta trazida pela LDB 9.394 de vincular a educação escolar com a preparação para o exercício da cidadania e a preparação básica para o trabalho. Para tanto torna as diretrizes curriculares muito mais abrangentes do ponto de vista curricular e organizacional, doutrinando sobre princípios, fundamentos e procedimentos a serem observados nas unidades escolares dos diversos sistemas de ensino. As Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio (DCNEM) são estabelecidas nessa resolução. Quanto à base nacional comum dos currículos, no seu Art. 10, é resolvido: “A base nacional comum dos currículos do ensino médio será organizada em áreas de Conhecimento21”.

Na resolução CNE e do Conselho Nacional de Educação (CEB) No1 de 5 de julho de

2000, no seu Art. 1º ela resolve sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos a serem obrigatoriamente observadas na oferta e na estrutura dos componentes curriculares de ensino fundamental e médio. No Art. 4º estabelece que as DCNEM vigentes na Resolução CNE/CEB 3/98, serão estendidas para a modalidade de EJA no Ensino Fundamental e Médio. Quanto à oferta dessa modalidade (CNE/CEB 1/2000) - cujo modelo pedagógico próprio pode ser expresso nas propostas pedagógicas das unidades educacionais, ressalvados os pareceres CNE/CEB 11/2000, CNE/CEB 4/98, CNE/CEB 15/98 e CNE/CEB 16/99 – poderá se apropriar e contextualizar as diretrizes curriculares nacionais propondo um modelo

21 I – Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, II- Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias, III – Ciências Humanas e suas Tecnologias.

pedagógico próprio, que possa assegurar: Equidade22, Diferença23 e

Proporcionalidade24. As diretrizes curriculares nacionais conferem subsídios

importantes para a construção de uma proposta pedagógica que atenda a esse público, são vários dispositivos jurídicos que traduzem as particularidades da EJA em ações plausíveis de serem executadas pelas organizações de direito educacional.

O parecer CNE/CEB 11/2000 depõem sobre as funções da educação de jovens e adultos, que são objetos importantes para o início da construção de uma proposta pedagógica do ente escolar que possa satisfazer as necessidades de aprendizagem desses jovens e adultos. A primeira função é a reparadora, ou seja, a restauração de um direito negado não se dá apenas com a entrada dos sujeitos, jovens e adultos, ao circuito dos direitos civis, mas também, proporciona-los uma escola de qualidade, reconhecendo neste grupo social a igualdade ontológica de todo e qualquer ser humano. Não se deve confundir a noção de reparação com a de suprimento.

A Educação de Jovens e Adultos (EJA) representa uma dívida social não reparada para com os que não tiveram acesso a e nem domínio da escrita e leitura como bens sociais, na escola ou fora dela, e tenham sido a força de trabalho empregada na constituição de riquezas e na elevação de obras públicas. Ser privado deste acesso é, de fato, a perda de um instrumento imprescindível para uma presença significativa na convivência social contemporânea (PARECER 11/2000, p. 05).

A segunda função é a equalizadora, onde os diversos segmentos sociais que tiveram suas trajetórias interrompidas terão garantias, de novas oportunidades de inserção no mundo do trabalho, e permanência na escola. Tem-se na educação o mediador correto para que se alcance a cidadania plena.

22 A distribuição específica dos componentes curriculares a fim de propiciar um patamar igualitário de formação e restabelecer a igualdade de direitos e de oportunidades face ao direito à educação. 23 A identificação e o reconhecimento da alteridade própria e inseparável dos jovens e dos adultos em seu processo formativo, da valorização do mérito de cada qual e do desenvolvimento de seus conhecimentos e valores.

24 A disposição e alocação adequadas dos componentes curriculares face as necessidades da Educação de Jovens e Adultos com espaços e tempos nos quais as práticas pedagógicas assegurem aos seus estudantes identidade formativa comum aos demais participantes da escolarização básica.

A educação, como uma chave indispensável para o exercício da cidadania na sociedade contemporânea, vai se impondo cada vez mais nestes tempos de grandes mudanças e inovações nos processos produtivos. Ela possibilita ao indivíduo jovem e adulto retomar seu potencial, desenvolver suas habilidades, confirmar competências adquiridas na educação extraescolar e na própria vida, possibilitar um nível técnico e profissional mais qualificado (PARECER11/2000, p. 10).

O reconhecimento do caráter incompleto do ser humano, assim como seu potencial em se desenvolver e se adequar, é tratado na função permanente – qualificadora – que foca na produção e atualização permanentes de materiais didáticos propiciando ao público da EJA uma formação que seja atualizada, contemporânea quanto ao uso e acesso aos meios eletrônicos de comunicação (PARECER 11/2000, p.11), cuja tarefa é: “[...] propiciar a todos a atualização de conhecimentos por toda a vida”.