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Histórico e desenvolvimento do Projeto de Criação de um Tribunal

A ideia de uma justiça global ambiental foi profundamente sentida em todos os continentes, como um valor universal necessário para assegurar tanto o direito humano ao meio ambiente quanto a sustentabilidade da vida na Terra381.

No entanto, foi em Roma que a justiça ambiental internacional começou a ser analisada mais profundamente. Em 1968, o Clube de Roma, fundado por Aurelio Peccei, vigorosamente estudava e analisava a questão dos “limites ao crescimento econômico”382.

Também em Roma, quase vinte anos depois, em maio de 1986, foi realizado um Fórum Internacional sobre “Justiça e Meio Ambiente”, na Accademia Nazionale dei Lincei. Essa iniciativa foi tomada pelo Supremo Tribunal italiano e pelo recém- criado Ministério do Ambiente italiano. Durante essa conferência, foi destacada a necessidade da criação de uma agência de proteção ambiental supranacional e de

380 KALAS, Peggy Rodgers. International environmental dispute resolution and the need for access by

non-state entities. Colorado Journal of International Environmental Law and Policy, v. 12, p. 194.

381

PIRRO, Deirdre Exell. Project for an International Court of the Environment: origins and development. In: GREIBER, Thomas (Coord.). Judges and the Rule of Law: creating links - environment, human rights and poverty. Cambridge: IUCN Publications Services Unit, p. 13-20, 2006, p. 13.

145 uma Corte ambiental global, com vistas a proteger o ambiente e impor sanções àqueles que causem danos ambientais383.

Em 1988, foi criada a Fundação Internacional do Tribunal do Meio Ambiente384

– International Court of the Environment Foundation (ICEF). Presidida por Amedeo Postiglione, Juiz da Suprema Corte italiana, a ICEF foi estabelecida sob a forma de uma ONG creditada pela ONU. Em abril de 1989, mais uma vez na Accademia Nazionale dei Lincei, em Roma, foi realizada a sua primeira conferência em nível global, organizada e presidida pelo Supremo Tribunal italiano, com a participação de especialistas de 32 países. Nessa conferência, o tema da criação de um Tribunal Internacional do Meio Ambiente foi extremamente debatido entre os participantes385.

Na recomendação final da referida conferência, foi sugerida a criação de um Tribunal Internacional ad hoc, com competência para julgar todos os problemas relacionados ao meio ambiente e que fosse acessível não apenas para os Estados, mas também para a sociedade civil386.

Garantir a sustentabilidade da vida no planeta; delimitar e definir oportunidades para a economia global; fornecer uma garantia universal do direito humano ao meio ambiente; garantir a aplicabilidade do Direito Ambiental Internacional; garantir que atores estatais e não estatais participem e tenham acesso à justiça para prevenir e resolver conflitos ambientais; assegurar que a degradação do planeta seja devidamente punida; e promover a defesa do patrimônio comum, no interesse das gerações futuras. Essas são algumas justificativas usadas como argumento pela Fundação para a criação de um Tribunal Internacional do Meio Ambiente (TIMA)387.

Assim sendo, o objetivo da ICEF se concentra em criar um órgão jurídico universal, o qual possua um mecanismo avançado de solução de controvérsias apto a proporcionar uma efetiva proteção do meio ambiente, atendendo a todas as finalidades acima descritas. Para tanto, assegura que os Estados e as entidades privadas devem ter acesso às informações, assim como devem ter o direito de participar dos processos de tomada de decisões, de acordo com o Princípio 10 da

383 PIRRO, Deirdre Exell, Project for an International Court of the Environment: origins and

development, p. 14.

384 INTERNATIONAL COURT OF THE ENVIRONMENT FOUNDATION (ICEF). Site organizacional.

385

PIRRO, Deirdre Exell, op. cit., p. 14.

386 Ibidem, p. 15. 387 Ibidem.

146 Declaração do Rio388. Com o intuito de alcançar esse objetivo, a Fundação destina-

se a criar um TIMA sob a forma considerada mais apropriada pela comunidade internacional, dando acesso não só aos Estados, mas também a qualquer tipo de interessado.

No início da década de 90, logo após a Conferência de Roma, a campanha para a criação de um Tribunal Internacional do Meio Ambiente foi lançada em vários países – tratou-se, na verdade, de uma campanha plenamente planejada, considerando que a ONU havia agendado a Conferência do Rio para junho de 1992. Nesse período que antecedeu a Rio-92, a Fundação participou de diversas reuniões, conferências e simpósios, com o intuito de divulgar a ideia do estabelecimento do Tribunal, como também para conseguir o apoio de outras instituições389.

Na França, a ICEF participou da Reunião Mundial das Associações de Proteção de Direitos Humanos, ocorrida em Limoges. Durante essa reunião, que contou com a participação de juristas de 43 países, foi elaborada a Declaração de Limoges, a qual continha 12 recomendações para a Conferência do Rio 92. Em suma, essa Declaração recomendou a criação de dois novos mecanismos institucionais: uma Comissão Internacional para a Proteção do Meio Ambiente; e uma espécie de órgão internacional que fosse, ao mesmo tempo, independente e capaz de promover a justiça para o meio ambiente e o desenvolvimento.

Nos Estados Unidos, em 1990, a ICEF participou de uma conferência organizada pela Universidade Estadual da Flórida. No Japão, em 1991, participou de duas reuniões científicas em Tóquio, e, como resultado, as Associações dos Advogados Japoneses acabou apoiando o projeto. Em Portugal, no mesmo ano, fez parte de uma conferência organizada pela Universidade Católica Portuguesa. Também em 1991, participou do Preparatório da Conferência do Rio de Janeiro,

388

Princípio 10 da Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento: “A melhor maneira de tratar as questões ambientais é assegurar a participação, no nível apropriado, de todos os cidadãos interessados. No nível nacional, cada indivíduo terá acesso adequado às informações relativas ao meio ambiente de que disponham as autoridades públicas, inclusive informações acerca de materiais e atividades perigosas em suas comunidades, bem como a oportunidade de participar dos processos decisórios. Os Estados irão facilitar e estimular a conscientização e a participação popular, colocando as informações à disposição de todos. Será proporcionado o acesso efetivo a mecanismos judiciais e administrativos, inclusive no que se refere à compensação e reparação de danos”.

389 PIRRO, Deirdre Exell, Project for an International Court of the Environment: origins and

147 apresentando o Projeto de um Tribunal Internacional do Meio Ambiente, o qual foi publicado de acordo com os procedimentos da reunião390.

Em junho de 1992, uma grande delegação da ICEF participou da Conferência do Rio, como também apresentou o livro “The Global Village Without Regulations”. Nessa ocasião, a Federação dos Advogados do Japão também defendeu a ideia da criação do Tribunal391.

Logo depois, a instituição deixou de ser uma ONG e tornou-se uma Fundação, por meio de uma escritura pública executada em Roma, em 05 de maio de 1995. De lá para cá, a ICEF continua participando das principais conferências ambientais392 e não poupa esforços para dar publicidade e conseguir aliados para

implementar o seu projeto393. Em 1999, participou de uma Conferência de

Washington, na Universidade de Georgetown.

Em março de 2009, no Reino Unido, foi criada uma “Aliança para o Tribunal Internacional do Meio Ambiente”394, com o objetivo de promover e desenvolver a

aplicação da legislação ambiental internacional. Na sua essência, a campanha para estabelecer o Tribunal é baseada no reconhecimento de que as principais causas e efeitos dos problemas ambientais são de natureza internacional e, por isso, eles exigem soluções também internacionais.

A Aliança, como bem destaca em seu site na Internet, tem um ilustre antecessor. Em 1995, a Aliança para o Tribunal Penal Internacional foi estabelecida

390 PIRRO, Deirdre Exell, Project for an International Court of the Environment: origins and

development, p. 17.

391

Ibidem, loc. cit.

392

Em 1994, a Fundação levou sua ideia da criação de um Tribunal Internacional do Meio Ambiente perante a Associação de Advogados Japoneses. Em 1996, a Sexta Conferência Internacional da Fundação foi subordinada ao tema “Crise Ambiental Global: a necessidade de um Tribunal Internacional do Meio Ambiente”, e foi apoiada pelo prefeito de Roma e pelo Ministro do Ambiente. Em 1997, a Fundação levou sua a ideia perante a Universidade de Marselha, na França, e a Universidade de Valência, na Espanha. Em 2001, em Atenas, na Grécia, a Fundação participou de uma reunião promovida pela Organização Internacional Biopolítica, com o tema: “Resolver a crise ambiental: a necessidade de um Tribunal Internacional do Meio Ambiente”, juntamente com o Secretário-Geral da Corte Permanente de Arbitragem, os membros do Conselho da Europa e da Comissão Europeia, acadêmicos, deputados, diplomatas e outras personalidades eminentes. Em 2002, também participou da Convenção Rio+10, na África do Sul, entre outras conferências. (FONTE: Ibidem, p. 18-20).

393

Ibidem, p. 27.

394

Ver COALITION FOR THE ESTABLISHMENT FOR THE INTERNATIONAL COURT OF THE ENVIRONMENT. Site institucional. Plymouth, 2009. Disponível em: <http://www.environ mentcourt.com/>. Acesso em: 02 out. 2009.

148 e apenas três anos depois, em julho de 1998, a Assembleia Geral da ONU assinou o Estatuto de Roma que previa a criação do Tribunal Penal Internacional395.

Agora que já entendemos como surgiu a ideia da criação de um Tribunal