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A história bancária mundial é muito complexa e fugiria do objeto deste estudo. Mesmo assim, será feito um breve retrospecto, dentro das possibilidades, de

alguns fatos que têm representatividade na história bancária, com forte repercussão nos dias atuais.

Uma confirmação de que os primeiros banqueiros eram comerciantes que também essa função adquiriam pode ser encontrada em Chancellor (1999, p. 48): “Desde o tempo da Guerra Civil (americana)9 (1642-51), os ourives ingleses haviam assumido a função de banqueiros, concedendo empréstimos e criando um mercado paras as letras de câmbio dos comerciantes”.

Na Grã-Bretanha do século XIX, pós-revolução industrial, a demanda por recursos para alimentar as fábricas (construção de novas máquinas e seus funcionamentos) instigou o surgimento e o crescimento de novos bancos. Landes (1998, p. 248) comenta: “Só em 1833 foi autorizada a constituição, dentro deste raio, de sociedades anônimas bancárias sem emissão de títulos.”

Já a história bancária no Brasil é, também como o padrão de atendimento, bastante conturbada e própria. Segundo Carvalho, Mônaco e Garófalo(1989, p. 10), “em 12 de outubro de 1808 foi expedido alvará que criou um ‘Banco Nacional’, que veio a se constituir no primeiro Banco do Brasil, passando a ter imediatamente uma série de privilégios”.

Prosseguem esses mesmos autores (1989, p. 14) referindo-se ao período compreendido entre os anos 1838 e 1888:

“Na esfera bancária lançaram-se as bases do sistema nacional. Depois dos bancos predominantemente emissores surgiram os mais voltados para o depósito, crédito e câmbio. A iniciativa particular passou a libertar-se do domínio do Estado e surgiram os primeiros bancos estrangeiros.”

Entretanto, não era apenas o Banco do Brasil que executava operações bancárias no País. Havia grandes instituições estrangeiras que tornavam realmente desleal qualquer tipo de relação comercial entre clientes e bancos. O primeiro grande banqueiro nacional, Irineu Evangelista de Souza (Barão de Mauá), citado por Caldeira (1995, p. 267), ciente dessas diferenças e com espírito nacionalista, escreveu em 17 de maio de 1844:

“A concorrência entre bancos, senhores, tem sido a causa principal de quase todas as crises comerciais. É a porfia em que cada um luta

para fazer mais negócios, aliciar mais fregueses, por dar maiores dividendos a seus acionistas que de ordinário ocasiona a facilidade de se descontarem títulos sem as necessárias garantias; que faz baixar demasiadamente os juros; que excita empresas aleatórias; que faz desaparecer do mercado os capitais disponíveis, reais, para os substituir por capitais fictícios ou de imaginação; é a rivalidade entre os bancos que concorre poderosamente para produzir as quebras, a ruína, o desespero das famílias quando chega o dia em que esta fantasmagoria desaparece. A concorrência entre bancos prepara para os produtores ávidos e imprudentes essa elevação da fortuna, essas quedas precipitadas que dão ao trabalho e à indústria todos os delírios, todas as angústias do jogo.”

Uma fase de grandes alterações no sistema bancário brasileiro foi o período republicano, a partir de 1889. Carvalho, Mônaco e Garófalo (1989, p. 17) afirmam que “o setor bancário também sofreu mudanças bastante nítidas, com o surgimento de novos e grandes bancos e o refortalecimento do Banco do Brasil”. Na seqüência desse processo, segundo esses mesmos autores (1989, p. 18), “no início do século XX começaram a vir para o país os primeiros grandes bancos estrangeiros: The First National City Bank of New York, o Royal Bank of Canadá o e London and River Plate Bank“.

Também nessa época surgiram os primeiros bancos estaduais, com o objetivo principal de créditos comerciais e rurais. Foram eles: Banco Estadual de São Paulo e Banco Estadual do Rio Grande do Sul. O primeiro, mais tarde, transformou-se em Banespa e foi privatizado em 1998, sendo adquirido pelo espanhol Santander. O segundo, denominado Banrisul, ainda é público.

Em 1929 houve uma séria crise na Bolsa de Valores de Nova Iorque, EUA, com graves repercussões mundiais. Nessa época, vários bancos estrangeiros faliram, e isso, apesar da gravidade, não teve um impacto tão profundo no Brasil como na Europa e no próprio Estados Unidos. Tanto a crise como a solução vieram de fora, e sua repercussão doméstica foi abrandada pelo fato de que, à época, a principal fonte de renda nacional era o café, que não exigia grandes transações bancárias.

Carvalho, Mônaco e Garófalo (1989, p. 19) comentam o período: “Na crise de 1929 – a grande depressão – o reflexo sobre o sistema bancário foi menor, porque nessa época a estrutura do sistema era mais consistente e havia maior senso de liquidez e, principalmente, maior experiência empresarial no setor”.

Até a Segunda Grande Guerra, o mundo reviveu um período de relativa estabilidade, e o Brasil apresentava crescimento em sua economia. Com o advento da guerra, houve, naturalmente, uma desaceleração, principalmente na Europa, palco dos campos de batalha. Nos Estados Unidos e em países que não tiveram seus territórios invadidos pelos combatentes, a situação foi inversa: houve crescimento. Tavares e Cavalheiro (1985, p. 9) afirmam:

“O período do pós II Guerra, até meados dos anos 50, caracterizou- se por uma expansão considerável no número de bancos comerciais. A partir daí assistiu-se uma redução do número de sedes e uma elevação do número de agências.”

Desde então, até o advento do Plano Real (1994), o sistema bancário brasileiro viveu às margens de sua principal função, haja vista a especulação e a “ciranda” financeira que se criou em função da inflação. Nessa época, vários bancos foram criados, não com o propósito de intermediação, mas com o claro objetivo de auferir receitas especulativas.

O Plano Real, com a estabilidade, alterou substancialmente o mercado bancário brasileiro. Os bancos tiveram de voltar à atividade-fim e muitos deles, acostumados ao ganho fácil da especulação, não resistiram e acabaram fechando.

Casos clássicos de quebra são: Banco Nacional (1995), Econômico (1998) e Bamerindus. O primeiro foi o único adquirido por outra instituição brasileira (Unibanco). O segundo foi, num primeiro momento, comprado pelo Excel, mas, posteriormente, também foi comprado por estrangeiros (os espanhóis do BBVA). O último foi comprado pelos ingleses do HSBC.

Segundo o relatório econômico da ANDIMA(2001), o sistema financeiro brasileiro é predominantemente bancário, tendo esse segmento mais de 90% do total de ativos de todo o sistema. Além disso, é altamente concentrado: os 10 maiores bancos detêm 70% do total de ativos do setor.

Essa concentração não é uma tendência exclusivamente nacional: verifica-se em todo o mundo. Nos Estados Unidos, em 1999, os primeiro e terceiro maiores bancos se fundiram (Citybank e American Express, criando o Citicorp).

Assim, acredita-se que a tendência, ao menos até antes do atentado terrorista de 11 de setembro de 2001 em Nova Iorque, nos Estados Unidos, é de concentração do sistema.

Por fim, ressalta o relatório econômico da ANDIMA (2001) que há uma clara tendência de consolidação de um sistema bimodal, com bancos universais operando carteiras comerciais e de investimento e bancos de nicho.

Essa breve análise histórica evidenciou a constante e interminável série de mudanças que o mercado bancário mundial vive. Com a globalização e existência de um mercado financeiro mundial funcionando ininterruptamente, afirma-se que tudo que foi citado até este momento já não mais será real num curto espaço de tempo.

As mudanças estruturais observadas sempre foram seguidas (concomitantemente) de respaldos jurídicos. O tópico a seguir apresenta o arcabouço legal que atualmente define a relação comercial entre bancos e clientes.