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1.5 IDENTIFICAÇÃO E QUANTIFICAÇÃO DE ALGUNS INTERESSES PROTEGIDOS

1.5.6 HONRA

O direito à honra, previsto no art. 5º, inciso X, da CF/88, está ligado à preservação em nível social e individual dos aspectos que dizem respeito à reputação que a pessoa tem de si e perante os outros, motivo pelo qual o direito à honra pode ser transgredido de duas formas distintas: a) pode ferir a auto valoração que cada um tem de si mesmo enquanto ser humano no tocante à sua autoestima e consciência (PIZARRO, 1996, p. 493), no Brasil conhecido por injúria ou honra subjetiva, sendo o “apreço próprio, do juízo que cada um tem de si” (SILVA, 2005, p. 188); b) pode atingir a reputação que a vítima construiu perante terceiros em nível social, momento este que se verifica que o vilipêndio a esse interesse, ao prejudicar a relação do ofendido com terceiros, acaba por obstruir chances de êxito, confiança, crédito e oportunidades (PIZARRO, 1996, p. 493/494), no Brasil chamado de calúnia, quando imputar ilícito penal indevidamente à alguém, e de difamação, quando vilipendiar a boa fama da pessoa em nível social, ou seja, a sua honra objetiva, que é “o respeito, a consideração, a reputação, a fama de que gozamos no meio social” (SILVA, 2005, p. 188).

Cabe ressaltar que em se tratando de ofensa ao bem jurídico honra o nosso ordenamento jurídico admite a exceção da verdade, quando o possível transgressor demonstra a veracidade das alegações apurada pelo mínimo de diligência razoável e não necessariamente de uma verdade cabal e absoluta. Aqui, para configurar o dano moral indenizável basta transmitir como fatos verdadeiros “simples rumores, carentes de toda constatação, ou meras invenções ou insinuações insidiosas” (SANTOS, 2015, p. 300).

Além do mais, mesmo verdadeira, nem tudo que se faz tem de ser revelado, como no caso de contas da de um motel do cidadão, os insucessos escolares ou opções pessoais legítimas, pois o direito civil procura a felicidade das pessoas e nunca poderá coadunar com a maldade gratuita (CORDEIRO, 2004, p. 149). Assim, a informação não pode ser abusiva, caracterizando perseguição, como no caso de uma decoradora de festas que não realizou seu serviço a contento e tem a sua página da internet bombardeada diuturnamente de informações depreciadoras da ofendida enquanto profissional. Aliás, comete ato ilícito aquele que excede manifestamente os fins para o exercício do direito (art. 187 do CC/2002). Nessa mesma linha, denota-se ilegal o manejo de informações, mesmo verdadeiras, que invadam a intimidade e vida privada do ofendido, como

o fato dele beber todas as noites ou realizar orgias em sua casa, como explica Antônio Jeová dos Santos: “quando divulga notícia verdadeira, mas avança, de forma indevida, na intimidade, a conduta é antijurídica porque violadora de direitos da personalidade” (SANTOS, 2015, p. 300/301). Diversos critérios podem orientar uma fixação adequada de indenização compensatória para casos de violação da honra individual ou social, tais como a maior ou menor propagação da divulgação; o impacto negativo da divulgação na vida da vítima; condições pessoais da vítima; importância da reputação atingida na vida da vítima, dentre outros.

À guisa de exemplos, imagine-se a) falsa imputação de quaisquer crimes, pois, como assevera Ramon Daniel Pizarro “nadie puede ser tiltado de delincuente, asesino, violador o corrupto hasta tanto así lo que determine la justicia competente” (1996, p. 496); b) imputação falsa de fato desonroso, como o fato de o ofendido viver bêbado ou drogado; c) menosprezo à pessoa por meio de gestos, palavras ou escritos; d) publicações inverídicas, como as constantes em cadastros de restrição de crédito, que aludem a débitos inexistentes ou em valores errados; e) publicações verídicas, mas que desrespeitam os parâmetros legais, como a inscrição em cadastro de restrição de crédito sem a notificação prévia do consumidor22; f) acusar cliente de furto em loja;

g) informar que pessoa é criminosa após ser absolvida ou ter o inquérito arquivado; h) divulgação de informação inverídica como a que tal pessoa é um estuprador ou responde em ação penal pelo crime de homicídio “quando ela é o resultado de um conceito equivocado que difere da realidade. Tanto em um como em outro caso, a informação não é verdadeira” (SANTOS, 2015, p. 301); i) protesto indevido de título cambial23; j) veiculação de matéria jornalística imputando práticas

ilícitas a alguém sem o mínimo de indícios24; k) em suma, juízos valorativos quanto à integridade,

22 O Superior Tribunal de Justiça tem proferido reiteradas decisões no sentido de reconhecer o dano moral decorrente

da própria existência do ato ilícito (seja por inscrever dívida inexistente, seja por desrespeitar os requisitos legais para uma inscrição devida), como no julgamento do Recurso Especial n. 1.369.039/RS, com acórdão publicado dia 10/04/2017, no qual o Ministro Relator Ricardo Villas Bôas Cueva asseverou que “a inscrição ou manutenção indevida do nome do devedor no cadastro de inadimplentes acarreta, conforme jurisprudência reiterada deste Tribunal, o dano moral in re ipsa, ou seja, dano vinculado à própria existência do fato ilícito, cujos resultados são presumidos”.

23 Nessa linha, o Superior Tribunal de Justiça já se pronunciou, no julgamento do Recurso Especial n. 60033/MG,

Relator Ministro Ruy Rosado de Aguiar, acórdão publicado dia 27/11/1995.

24 “A emissora recorrente extrapolou os limites da liberdade de manifestação e de informação, pois induziu os

telespectadores a acreditar que o recorrido compactuava com atividade ilícita, sem o cuidado de checar ao menos um indício de plausibilidade dessa declaração” (trecho do voto do Relator Ministro Marco Aurélio Bellizze, no julgamento do Agravo Interno no Agravo no Recurso Especial n. 2016/0247299-5, com acórdão publicado dia 02/08/2017).

à seriedade e à moralidade do sujeito; a reputação familiar; a reputação profissional; a reputação cívica; a reputação política e assim por diante (CORDEIRO, 2004, p. 143).