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1.5 IDENTIFICAÇÃO E QUANTIFICAÇÃO DE ALGUNS INTERESSES PROTEGIDOS

1.5.1 IGUALDADE

De inúmeras formas a violação do direito de igualdade (art. 5º, caput e inciso I, CF/88) pode gerar dano moral indenizável, visto que a CF/88 repudia qualquer forma de discriminação, estabelece o racismo como crime inafiançável, sendo intolerável qualquer conduta que denote preconceito por origem, raça, posição política, condição social, doenças, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Portanto, no bojo das práticas sociais as pessoas físicas e jurídicas têm direito de realizarem preferências, distinções, exclusões ou restrições, mas não podem estar calcadas em cor, sexo, religião, origem étnica, condição social, idade, dentre outras, desde que devidamente justificadas, como no caso da legislação que determina que a mulher deve carregar menos peso que o homem e a que estipula idade mínima para obter habilitação de motorista. Portanto, o respeito que se exige à igualdade para não ser responsabilizado é aquele que suprime e elimina, de forma radical, qualquer discriminação arbitrária entre as pessoas, ou seja, quando uma pessoa é colocada por outra em situação de inferioridade (SANTOS, 2015, p. 429/430).

Na ocasião de ter sido violado o interesse de ser tratado com igualdade, alguns parâmetros são importantes para uma justa fixação do dano moral, como se a violação expôs o ofendido de forma negativa perante outras pessoas; o nível do sofrimento; a duração da ofensa; a existência de irreversibilidade e a repercussão na vida posterior da vítima, etc.

Desta feita, fora de hipóteses adequadamente justificadas - como requisitos de idade e teste físico para determinados cargos, de idoneidade financeira para contratos, de especialidade em determinada área - tratamentos desiguais violam frontalmente valor existencial protegido pelo direito, fazendo jus a vítima à indenização por danos morais, como nos casos expostos a seguir: a) empregado demitido por ser portador de HIV; b) mulher demitida por ser bonita e atrair homens; c) estagiário não aprovado em seleção por possuir tatuagem; d) consumidor mal atendido por ser negro seja por ser expulso da loja, seja por negarem atendimento ao mesmo10; e) pessoa vestida de

forma simples ser expulsa de estabelecimento comercial; f) consumidor não ter atendimento adequado por possuir ação judicial contra a empresa; g) brincadeiras que ridicularizam a pessoa

10 Assim já decidiu o Tribunal de Justiça da Bahia, no julgamento do Recurso Inominado 6714102003, de Relatoria de

Baltazar Miranda Saraiva, com acórdão publicado dia 29/07/2005, em caso envolvendo pessoa negra que foi impedido de ingressar em estabelecimento comercial em área nobre.

por ser de uma cidade pequena do interior ou de outro país11; h) mulheres que não recebem

atendimento em locais frequentados por homens; i) proibir homossexuais como candidatos de vaga de garçom em restaurante; j) mulher grávida proibida de disputar vaga de emprego; k) criança com síndrome de down ou dentro do espectro autista ter negada a matrícula em colégio; l) casal homossexual vítima de insultos e ofensas em restaurante, metrô, cinema e qualquer outro espaço público ou privado; m) mulher grávida que tem seu cargo ou função modificada12; n) chacotas,

ofensas e humilhações em razão de o empregado ou colega de turma ser homossexual13.

Sendo assim, é lícito ter preferência por verde e não azul, por praias e não fazenda, por filmes de suspense e não de ficção científica, por pessoas com alto aproveitamento acadêmico e não por negligentes em relação às disciplinas da faculdade, por pessoas que demonstrem humildade e não por aquelas que afirmam que não gostam de receber ordens. Fora desse âmbito exclusivamente privado, sabe-se que as diferenças criadas são puramente ideológicas e calcadas em poder simbólico de uma sociedade tendente a afirmar valores de uma maioria que detém o poder.

11 Ganharam destaque dois casos julgados pelo Tribunal Superior do Trabalho que condenaram a empresa a pagar

danos morais aos trabalhadores chamados, respectivamente, de baiano preguiçoso e árabe sujo. Trata-se do julgamento dos Recursos de Revista n. 305-63.2012.5.09.0009 (Relator Ministro Cláudio Mascarenhas Brandão, acórdão publicado dia 30/05/2014) e 861-24.2011.5.04.0661 (Relator Ministro Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira, acórdão publicado dia 09/05/2014).

12 “A gravidez de uma empregada nem sempre é recebida com bons olhos pelo empregador e, no caso em concreto,

houve uma prova real de que a Reclamante teve a função alterada após a gravidez. De toda sorte, não pode passar despercebido por esta Justiça Especial que o conjunto da prova oral produzida favorece às alegações da Reclamante, inclusive quanto à rescisão indireta do contrato de trabalho. A rescisão indireta decorrente de um tratamento diferenciado que foi dispensado à Reclamante após a sua gravidez é fato objeto de prova nesses autos e autoriza a extinção do contrato, por culpa do empregador, porque é um ato discriminatório, além de ofensivo” (trecho do voto da Desembargadora Relatora Taisa Maria M. de Lima, no julgamento do Recurso Ordinário n. 00476-2008-022-03-00-7, tramitando perante o Tribunal Federal do Trabalho da 3º Região, com acórdão publicado dia 08/10/2008).

13 “Para efeito de cumprimento das cláusulas do contrato de trabalho é absolutamente irrelevante a orientação sexual

adotada pelo empregado, vez que se trata de questão estritamente relacionada à sua intimidade. In casu, restou provada a insólita conduta patronal, com a prática reiterada de ofensas de cunho homofóbico por parte de superior hierárquico, que atingiram o patrimônio moral da obreira, resultando a obrigação legal de reparar. … Independentemente da orientação sexual da autora, que só a ela diz respeito posto que adstrita à esfera da sua liberdade, privacidade ou intimidade, a prática revela retrógrada e repugnante forma de discriminação, qual seja, o preconceito quanto à orientação sexual do ser humano” (trecho do voto do Relator Desembargador do Tribunal Federal do Trabalho da 2º Região, Ricardo Artur Costa e Trigueiros, no julgamento do Recurso Ordinário 00010612020135020078, com acórdão publicado dia 15/08/2014).