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4. ESTUDO DE CASOS/HOSPITAIS DA REDE SARAH KUBITSCHEK

4.3 Hospital Sarah Kubitschek Salvador

4.3.2. HUMANIZAÇÃO DO HOSPITAL SARAH – SALVADOR

O hospital Sarah Kubitschek Salvador reafirma os ideais de humanização abordados por Lelé no Sarah Brasília. No entanto, apresenta melhorias segundo alguns aspectos construtivos, o que mostra que para o arquiteto, cada hospital concebido é um experimento e a cada nova unidade, um novo projeto objetivando avanços e melhorias.

Ao entrar no Sarah Salvador, painéis também se encontram pelas paredes, dentre eles o que descreve os princípios fundamentais a qual a instituição está submetida. São eles:28

Princípio da Legitimidade: pelo respeito aos direitos humanos, às

instituições nacionais, à ordem jurídica vigente, aos fundamentos morais e espirituais da nacionalidade e das comunidades a que servem;

28

Texto retirados dos painéis dispostos na entrada do Sarah Salvador.

Figura 4.122 – Pavimento de Serviços Gerais.

Princípio da Cidadania: pela evidência de que na rede hospitalar da APS,

os serviços não são propriamente gratuitos, mas na realidade pagos com

a moeda mais justa e pessoal de um povo – os recursos do cidadão

contribuinte -, repassados pela União, merecendo, portanto, todos os usuários, igualdade de atenção, de consideração, de respeito;

Princípio da Eficiência: pelo propósito de significação e valorização do

emprego dos recursos postos à disposição da APS, de forma econômica e produtiva, com ordenação e disciplina, a fim de que sejam alcançados, incessante e inconformadamente, os mais altos padrões de eficiência;

Princípio da Competência Profissional: pelo imperativo de ampliação e

aprofundamento de conhecimentos, de aperfeiçoamento de métodos e processos, feitos através da vivência hospitalar, da pesquisa, do estudo, do debate, do intercâmbio científico;

Princípio da Ação: pela permanente atitude de assegurar o primado do

entusiasmo, da vigilância, da energia, do ânimo otimista, todas as formas, enfim, do espírito empreendedor, sobre a rotina, a inércia, o marasmo, o comodismo, a acomodação;

Princípio da Criatividade: pelo gosto da descoberta, da criatividade e da

invenção, sempre temperados pelo realismo, pela simplicidade, pela objetividade, e a serviço da eficiência;

Princípio da Renovação: pela coragem e gosto de conviver com as ideias

novas, de aceitar seus desafios, discutí-los, comprovar sua viabilidade e colocá-los a serviço da instituição;

Princípio da Liberdade de Expressão: pela compreensão da necessidade

de tudo fazer para manter e estimular a influência da informação e da liberdade de expressão dentro da instituição, temperadas pelo respeito mútuo e pela disciplina intelectual;

Princípio da Dedicação exclusiva: pela total consagração à instituição e

Princípio da Integração Institucional: pela integração e fidelidade à

instituição, de forma que, a dedicação à Casa, a coesão e o espírito de equipe sejam características identificadoras dos Recursos Humanos da Associação das Pioneiras Sociais;

Este hospital é fruto da fé no Brasil e da possibilidade do fazer. É testemunha completa de que uma instituição pública, e somente ela, pode fazer da assistência médica um exercício submetido apenas ao interesse de servir. Filho da experiência, ele é universo aberto ao experimentalismo. Aplicador da ciência, ele é parceiro da criatividade. Acessível a todos, é espaço plural da mais real das utopias: a da igualdade entre os homens. Aqui se vive para a saúde e jamais para sobreviver da doença. (ASSOCIAÇÃO DAS PIONEIRAS SOCIAIS).

Os textos acima afirmam o princípio de humanização ao qual a Rede Sarah está submetida. E o espaço arquitetônico, por sua vez, tem papel significativo na promoção da humanização do tratamento nesses hospitais. Abaixo pode-se destacar algumas características que fazem desse hospital uma instituição humanizada.

O clima da cidade de Salvador possibilita a manutenção de níveis convenientes de conforto e assepsia do ar para a maioria dos ambientes, sem que haja a necessidade de usos onerosos de ventilação mecânica. Para tanto, o arquiteto explora os recursos naturais, tais como os da irradiação solar e da brisa do mar que sopra permanentemente nas cumeadas.29

Evitou-se deliberadamente os recursos da ventilação cruzada que sempre aumentam os riscos de disseminação de infecção e optou-se por um sistema de fluxos verticais.

O hospital Sarah de Salvador apresenta, pela primeira vez, o sistema de ventilação proveniente das galerias semi – enterradas, que também funcionam como fundação e como via de redes de instalações. Nas suas extremidades são insufladas mecanicamente, abertas ao ar livre.

Esse mecanismo funciona através do recebimento de pulverização de água, onde o ar conduzido promove o rebaixamento da temperatura e da retenção de partículas de poeira em suspensão.

29

O fluxo vertical de baixo para cima é garantido por dois efeitos associados:30 1. Efeito de convecção, ou seja, o ar frio injetado na zona inferior do

ambiente, sobe gradualmente na medida em que é aquecido e, atingindo os bolsões dos sheds da cobertura, é expulso através de aberturas controladas por lâminas horizontais metálicas.

2. Efeito de sucção, ou seja, o ar dos bolsões do shed é extraído pela sucção provocada pela corrente de ar externa. A velocidade de sucção é aumentada pela insulfação de ar impulsionado pela brisa, através de pequenas aberturas dispostas na superfície do shed oposta a das aberturas das lâminas metálicas.

Para o melhor desempenho desse sistema, foram adotados pé – diretos mais elevados, sendo a altura mínima na parte superior dos sheds de 4,50m e na face inferior da viga com 3m.

30

Dados retirados de textos do CTRS Salvador.

Figura 4.123 – Esquema da ventilação através das galerias.

,

Figura 4.126 e 4.127 – Vista interna do hospital. Cobertura de sheds que favorecem no conforto dos ambientes. Vista interna da galeria.

Fonte: Arquivo Pessoal.

Figura 4.124 e 4.125 – Vista interna da galeria.

A partir das galerias, entradas de captação elevam o ar até saídas em diversos ambientes do hospital, como nas enfermarias, onde a renovação é garantida por um fluxo vertical de exaustão através da cobertura em sheds, minorando risco de contaminação hospitalar, pela ventilação cruzada.

Essas saídas de ar são feitas através de canaletas fixadas nas paredes. Sempre onde estas canaletas estão presentes, as paredes recebem coloração em tom alaranjado.

Figura 4.130 e 4.131 – Saídas de ar presentes na enfermaria.

Fonte: Arquivo Pessoal.

Figura 4.129 – Vista interna a enfermaria.

Fonte: LATORRACA, 1999.

Figura 4.128 – Esquema da ventilação nas enfermarias.

Pelas saídas de ar presentes nos ambientes dos hospitais, percebe-se a ventilação proveniente das galerias. Porém, apesar disso, por Salvador ser uma cidade situada no nordeste do Brasil, com temperatura média anual de 27°C, necessita-se do uso de ventiladores em alguns espaços.

Todos esses ventiladores são produzidos no CTRS, sendo estes fixados nas calhas presentes entre as vigas duplas.

O sistema de ventilação artificial só ocorre em lugares onde deve haver controle rigoroso de temperatura do ambiente ou qualidade do ar, como no caso do centro cirúrgico, setor de imagem e primeiro estágio. O sistema de ar condicionado constituído de uma central frigorígena, distribui água gelada para as unidades fan – coil situadas junto às galerias e próximas aos locais de consumo do pavimento

superior.

No Sarah Salvador, mais uma vez, o trabalho do artista plástico Athos Bulcão entra em conjunto com a obra arquitetônica de Lelé. Os muros coloridos de argamassa armada, que são marcas da Rede Sarah, além de painéis, quadros e até pinturas em peças de mobiliário, dão vida a esta instituição. Lelé ressalta que: “(...) ou o arquiteto cria o local para a obra de arte existir ou então é melhor que ela nem exista.”31

31

Entrevista concedida à PORTO, Cláudia Estrela, em 15 de abril de 2009, Brasília. Disponível em: http://www.docomomo.org.br/seminario%208%20pdfs/168.pdf. Acesso em: 29 de novembro de 2010.

Figura 4.132 e 4.133 – Vista das canaletas de ventilação nas paredes. Ventiladores acoplados às calhas pra otimizar o conforto dos ambientes.

Figura 4.134 e 4.135 – Muros me argamassa armada com detalhes coloridos criados por Athos Bulcão.

Fonte: Arquivo Pessoal.

Figura 4.136; 4.137; 4.138; 4.139 – Imagens com alguns trabalhos de Athos Bulcão no Sarah Salvador.

A implantação do Sarah Salvador favorece a integração dos ambientes internos com espaços verdes. Praticamente todo o hospital, com exceção dos ambientes em que necessitam de um maior cuidado com a assepsia, assim como no centro cirúrgico, possui áreas verdes associadas aos seus espaços.

Figura 4.140 e 4.141 – Imagens com alguns trabalhos de Athos Bulcão no Sarah Salvador.

Fonte: Arquivo Pessoal.

Figura 4.142; 4.143; 4.144; 4.145 – Áreas verdes nos arredores do edifício.

Indiscutivelmente, a área mais especial representada pelo verde, nos arredores da instituição, é a que os elevadores verticais, desenvolvidos pelo arquiteto, dão acesso. Esses elevadores de plano inclinado, deslocam-se sobre quatro vigas de aço patinável de maior resistência mecânica, que vencem vãos em torno de 15m e tem inclinação de 45 graus ao longo das encostas.32

É uma espécie de floresta inserida em um cenário urbano, que serve para o desfrute de pacientes, bem como alternativa de acesso ao CTRS e à guarita.

32

Disponível em http://www.revistaau.com.br/arquitetura-urbanismo/175/imprime104898.asp. Acesso: 29 de novembro de 2010.

Figura 4.148 e 4.149 – Vistas da área verde.

Fonte: Arquivo Pessoal.

Figura 4.146 e 4.147 – Imagens do elevador.

Através do seu efeito terapêutico, o verde proporciona melhoras nas condições de saúde do paciente e na prestação de serviços das equipes que trabalham no ambiente hospitalar. Além disso, proporciona um visual agradável e favorece na amenização do clima nos ambientes.

Sendo um dos ideais de projeto da arquitetura hospitalar de Lelé, a integração dos ambientes internos com o exterior está presente no Sarah Salvador.

Figura 4.150; 4.151; 4.152; 4.153; 4.154; 4.155 – Vistas da área verde. Fonte: Arquivo Pessoal.

O paciente parece estar dentro do espaço do hospital e ao mesmo tempo fora dele, devido o arquiteto evitar o enclausuramento dos espaços, diminuindo e disfarçando a monotonia que é a internação de um hospital.

Corredores, enfermarias, biblioteca, fisioterapia, hidroterapia, recepção, todos estes espaços são trabalhados de forma que o paciente tenha contato com o exterior.

As enfermarias são ladeadas por varandas externas que possibilitam o convívio social entre pacientes e acompanhantes e também a realização de algumas atividades.

Figura 4.156; 4.157; 4.158; 4.159 – Integração da Biblioteca com o exterior.

Os corredores também são contemplados com o visual externo e a integração com jardins, o que fazem com que esse vilão dos hospitais, que por vezes causam isolamento e medo nos pacientes, se torne um local de passagem mais agradável e menos agressivo.

A hidroterapia também está ligada com o espaço externo, onde se localiza a piscina descoberta.

Figura 4.160 e 4.161 – Vista das varandas das enfermarias.

Fonte: Arquivo Pessoal.

Figura 4.162 e 4.163 – Área externa integrada aos corredores do Sarah Salvador.

O suporte social no Sarah Salvador é similar ao que acontece no Sarah Brasília.

Os familiares que fazem o acompanhamento dos pacientes são treinados para que possam dar continuidade ao tratamento dos mesmos quando estes retornam às suas casas.

O auditório permite que cadeirantes e pacientes em camas – maca possam participar das apresentações culturais que ali ocorrem. Da mesma forma que acontece com o auditório do Sarah Brasília, o de Salvador também é utilizado para a realização de palestras sobre educação no trânsito.

Figura 4.164 e 4.165 – Hidroterapia.

Fonte: Arquivo Pessoal.

Figura 4.166 e 4.167 – Auditório Sarah Salvador.

Outro fator importante nessa instituição é a aproximação do paciente com a arte. Os pacientes desenvolvem pinturas em quadros que posteriormente são fixados em todas as dependências do hospital.

No Sarah Salvador foi criado um centro de criatividade para que os pacientes possam aprender e desenvolver suas atividades artísticas.

Figura 4.168; 4.169; 4.170; 4.171 – Imagens do centro de criatividade e de quadros produzidos pelos pacientes.

Outra contribuição importante do hospital de Salvador é o veículo projetado especialmente para transportar os pacientes, em suas camas – maca, pelo circuito da pista que circunda os edifícios. O veículo tem, por característica, oferecer uma visão ampliada da paisagem, por meio de grandes superfícies de vidro, tendo sido projetado para ajustar-se às guias e aos passeios, facilitando a locomoção do pacientes (PEIXOTO, 1996; LATORRACA, 1999).

A maior importância dessa experiência reside, no entanto, no desenvolvimento de pesquisas realizadas pelo Equiphos, o setor de design da Rede Sarah, que entre outros equipamentos médicos, foi responsável pelo projetos da cama – maca utilizada, primeiramente no Sarah Brasília. Lelé teve participação no desenvolvimento desses dois projetos, mas assinala que estes foram trabalhos, realizados em equipe, destacando a contribuição essencial dos designers Alex Peirano, na concepção da cama – maca, e de Cláudio Blois, no veículo (PEIXOTO, 1996; LATORRACA, 1999)

Os setores do hospital Sarah Salvador se distribuem em duas circulações principais:

A do nível 35,4m, destinada aos serviços gerais (cozinha, lavanderia, centrais de instalações, central de esterilização, almoxarifado, manutenção), sem circulação de pacientes;

Figura 4.172 e 4.173 – Troyller.

A do nível 40m, destinada aos demais setores do hospital, com exceção da escolinha de excepcionais localizada no nível 36m e tratada como um prédio independente.

O hall principal, na cota 40, distribui pacientes e visitantes por todas as dependências do hospital, no final deste, a rampa de acesso que chega no hall de nível 35,4m, que distribui funcionários pelos setores dos serviços gerais.

Para esse hospital foram previstos acessos externos independentes e específicos. São eles:

Para pacientes e acompanhantes à oficina ortopédica;

Para pacientes e acompanhantes à escolinha de excepcionais; Para pacientes em ambulância ao setor de internação e alta; Para visitantes ao centro de estudos e à residência médica; Para o pessoal aos vestiários;

Para abastecimento, limpeza e manutenção de serviços;

Para acesso de parentes à sala de preparo de cadáveres da anatomia patológica.

As circulações do hospital são importantes por diferenciarem as de uso comum e as de uso restrito a funcionários, evitando fluxos desagradáveis.

Assim observa-se que, além da experiência adquirida com a humanização dos outros hospitais da rede Sarah, o Sarah Salvador apresenta, do ponto de vista de seu zoneamento, circulação, acessibilidade, relação de ambientes como exterior e interior, conforto,soluções de projeto que revelam uma arquitetura, plenamente, sintonizada com os conceitos de humanização hospitalar.

Em Salvador, destaca-se ainda a construção do Centro de Tecnologia da Rede Sarah, na área contígua ao hospital de Salvador. Nesse centro, que possui um setor destinado à fabricação de pré – moldados e de um setor de siderurgia, Lelé

continua a realizar suas pesquisas, tornando-se não só um referencial para estudiosos dos processos de racionalização e industrialização da construção civil, mas também, de uma arquitetura de qualidade, comprometida com as questões ecológicas e humanitárias (RIBEIRO, 2004, p.183).

4.3.3 Centro de Tecnologia da Rede Sarah Kubitschek – CTRS

INTRODUÇÃO

O CTRS surge da necessidade de cumprir a meta de ampliação da Rede, estabelecidas no contrato de gestão, onde o Equiphos transforma-se em um grande centro de tecnologia, localizado em Salvador (LATORRACA, 1999, p.199).

Inicia suas atividades em instalações provisórias a partir da retomada da construção do hospital em Salvador, em 1992. A partir de 1993, começam a ser implantadas as instalações definitivas desse centro, que conta com cerca de 800m de comprimento e largura média de 100m, ao longo da encosta da colina onde se localiza o hospital. Atualmente ocupa área de aproximadamente 20.000m², onde foram montadas oficinas de metalurgia pesada, metalurgia leve, marcenaria, argamassa armada e plásticos (LATORRACA, 1999, p.199).

Ainda segundo esse autor, a construção do Sarah Salvador tornou-se, assim, o embrião de um centro tecnológico, tendo como principais objetivos:

Projetar e executar as obras destinadas à implantação da Rede, com base em princípios de industrialização, visando economia, rapidez na construção e criação de conveniente unidade construtiva entre todas as edificações da associação;

Projetar e executar, interagindo com as equipes médicas e paramédicas da associação, os equipamentos necessários ao desenvolvimento de novas técnicas de tratamentos introduzidas nos hospitais da Rede;

Executar a manutenção dos prédios, equipamentos e instalações de todas as unidades da Rede;