• Nenhum resultado encontrado

96 Projeto baseado em Sousa (2008).

(11) “I HAVE TWO BROTHER ANS ONE

SISTER”

Libras morfema de Omissão de número Lexical THREE AGE” (12) “I’M TRINTY AND Libras/ LP Seleção lexical Ortográ-

fico117

(13) “THEATRO” (teatro)118 LP Acréscimo de

letra (14) “INGHISH”

(inglês/English) LP Troca de letras Fonte: Elaboração própria.

Com relação às ocorrências de transferência interlinguística categorizadas na atividade 1 da participante 2, observamos que os aspectos aparentemente mais transferidos foram ordem das palavras, omissão de preposição e omissão de artigo.

Os excertos (1), (3), (4) e (5) foram categorizados como transferência de ordem de palavras. Em todos esses casos, a transferência pode ter sido tanto da Libras119 quanto da língua portuguesa, pois em ambas é possível utilizar a ordem determinado- determinante.120 No caso da língua inglesa, a ordem, para os contextos apresentados, seria determinante-determinado.

No exemplo (10), identificamos a omissão do artigo indefinido “a” antes de “poetry”, já que na segunda posição ele seria opcional (a

117 Conforme comentamos na fundamentação teórica deste trabalho, aqui

estamos fazendo uma adaptação ao contexto da escrita do que Ickenroth (1975 apud FAERCH;KASPER, 1983) chama de “foreignizing” na oralidade, isto é quando um item lexical é adaptado à fonologia e/ou morfologia da interlíngua.

118 No nível ortográfico, colocamos entre parêntese a palavra em LP que serviu

de base para a transferência, a fim de facilitar a compreensão do leitor.

119 De acordo com dados do Projeto Desenvolvimento Bilíngue Bimodal (CHEN

PICHER; QUADROS; LILLO-MARTIN, 2012), a ordem determinado- determinante também é a mais comum na Libras.

120 O termo determinante, nesses casos, é o adjetivo e termo determinado, o

teacher). Essa estrutura, que não utiliza artigo antes de nomes de profissões, é usada tanto em português (eu sou poetisa e professora) quanto em Libras (EU POETA PROFESSOR@). Logo, acreditamos que uma das duas línguas, ou ambas, podem ter influenciado a produção da participante em inglês.

Em (12), temos a substituição de “years old” por “age”. Acreditamos que essa seleção lexical possa ter sido baseada em português (“trinta e três anos de idade”) ou em Libras (“IDADE 33” ou “33 IDADE”), ou em ambas essas línguas. Como, em Libras, a posposição do número ao sinal é mais comum nesse contexto (cf. FELIPE, 2007), acreditamos que há mais evidências de ter sido uma transferência da língua portuguesa.

No excerto (2), temos um exemplo em que claramente percebemos que a participante transfere a estrutura da sua L2, a língua portuguesa. Em “I LIKE OF” (Eu gosto de), ela adiciona uma preposição que, em inglês, não é necessária. No excerto (6), também temos um exemplo que parece muito ter sido influência da LP: “I NOT LIKE” (Eu não gosto). Além de a ordem sujeito-advérbio-verbo ser a mais comum em língua portuguesa formal,121 em Libras, a negação está incorporada ao verbo GOSTAR, alterando-se o movimento do sinal- base (cf. FERREIRA, 2010; QUADROS-KARNOPP, 2004). Portanto, como não há lexicalização do advérbio “não” nesse caso em Libras, a probabilidade de essa estrutura ter sido transferida dessa língua é bem pequena.

Nos excertos (7), (8) e (9), a estudante omite sujeito, verbos, artigos e preposições. Analisando-se contexto geral dos enunciados, parece-nos que houve influência da Libras nessas omissões.

Fernandes (1990), um dos primeiros trabalhos em nosso país a fazer uma análise e descrição da escrita do surdo em português, cita a omissão de verbos de ligação e de conectivos em geral como uma das características dessa escrita. Fernandes (1998) e Brochado (2003) corroboram essa afirmação e também mencionam a omissão de artigos. Assim como Sousa (2008), também identificamos essas características na escrita do surdo brasileiro em inglês-L3. Portanto, a omissão de verbos de ligação e de conectivos em geral pode se dar tanto na escrita do surdo em português-L2 quanto em inglês-L3.

121 Temos casos, especialmente na oralidade e em contextos informais, em que o

advérbio de negação é colocado após o verbo (especialmente na região Nordeste do Brasil) – “Eu gosto não” – ou é repetido antes e após o verbo – “Eu não gosto não”.

Em (11), temos a omissão do morfema de número em “brother” no sintagma “TWO BROTHER”. Provavelmente essa foi uma transferência da Libras, pois, nessa língua, quando há quantificação, “a pluralidade é obtida […] pela anteposição ou posposição de sinais indicativos de números” (FERREIRA, 2010, p. 42), sem a flexão do nome ao qual o número se refere.

Os exemplos (13) e (14) ocorrem no que estamos chamando de “nível ortográfico”, ou seja, o aprendiz faz adaptações na ortografia de palavras de outras línguas, como a língua portuguesa, para adequá-las ao contexto da língua-alvo. No caso da transferência em nível ortográfico na escrita em inglês, no contexto plurilíngue inglês-L3/português- L2/Libras-L1, a possibilidade de transferência interlinguística recai sobre a língua portuguesa, já que a escrita da Libras, com o sistema Sign Writing (STUMPF, 2005), não é alfabética.

No caso do excerto (13), a estudante acrescenta a letra “h” à palavra “teatro”, da língua portuguesa. É possível que a estudante tivesse conhecimento de que, na ortografia do inglês, a sequência de letras “th” seja comum. Em (14), temos uma construção que mistura língua portuguesa e língua inglesa. A hipótese é de que a estudante conhecia a palavra “English”, mas foi influenciada pela língua portuguesa na letra inicial “i”, de “inglês”, justamente por ambas as palavras terem a sequência inicial “ng” em comum.

De acordo com Silva (2013), um dos fatores que colaboram para a similaridade ortográfica é justamente a presença de letras comuns. Para essa autora, “supõe-se que a visualização ortográfica de palavras em língua inglesa (L3) que se assemelhem a palavras em LP (L2) […] pode contribuir para que o aluno transfira palavras da LP para a LI” (SILVA, 2013, p. 103). Em nosso caso, acreditamos que não apenas palavras sejam transferidas por similaridade ortográfica, mas também parte delas, como a letra inicial em “INGHISH”.

Ainda em (14), temos a troca de “l” por “h”. É interessante perceber que essas letras são graficamente semelhantes, pelo menos em caixa baixa. Padden (1993) afirma que parte das incorreções de crianças surdas americanas envolve “substituição” de letras, geralmente baseadas nos aspectos visuais do formato das letras. Esse parece ser o caso da troca de “l” por “h” em (14), já que ambas são letras visualmente altas e compridas. Isso facilitaria a sua troca numa perspectiva visual.

Participante 3

Quadro 9 – Resumo da análise das ocorrências de transferência interlinguística (LI, A1, P3)

Nível Excerto Língua Aspecto

Sintático

(1) “[…] [I] nascy XXXX122

1993 […]” LP Omissão de sujeito

(2) “[…] nascy [in] XXXX

[in] 1993 […]” Libras Omissão de preposição (3) “[…] i [am] deaf […]” Libras Omissão de verbo (4) “family ouvint” Libras/ LP Ordem das palavras (5) “because doence d mamy

rubeola” LP Ordem das palavras

(6) “My name is XXXX […] [I] [am] 19 years, [I] [am] beatiful, inteligente, [I] [am] [a] estudant

ø

Letras Libras […]” Libras Omissão de sujeito, verbo, artigo, preposição Lexical (7) “19 years [old]” Libras/ LP Seleção lexical

Ortográfico (8) “inteligent” (inteligente) (9) “estudant” (estudante) (10) “ouvint” (ouvinte) (11) “d” (de) (12) “des” (desde)

LP letra final (ou Omissão da letras finais) (13) “nascy” (nasci)

(14) “doence” (doença) (15) “nacy” (nasci)

LP letras; troca de Omissão de letras Fonte: Elaboração própria.

A participante 3 apresenta, com relação à transferência interlinguística, na atividade 1, diversos traços possíveis de influência da língua portuguesa em seu texto, como omissão de sujeito, ordenação das palavras e adaptações ortográficas.

No excerto (1), acreditamos que, como a estudante se baseia na língua portuguesa para escrever a palavra “nascy”, aproveita para ocultar o sujeito da frase em inglês também com base na língua

portuguesa. No excerto (5), também observamos a influência da língua portuguesa na ordem das palavras do sintagma “doence d mamy”. Na Libras, é frequente a ordem inversa a essa (SOUSA, 2008),123 assim como em língua inglesa. Portanto, não é provável que a ordem utilizada fosse derivada da Libras. A presença da preposição dá indícios de que a língua portuguesa foi mesmo a fonte de transferência nesse caso.

Em (7), acreditamos que a língua portuguesa possa ter sido a fonte para a transferência lexical de “years”. Nessa língua, usa-se “tenho 19 anos” ou “tenho 19 anos de idade” para expressar a idade. Em inglês, teríamos “I am 19” ou “I am 19 years old” com essa função. A omissão de “old” nos parece, portanto, uma transferência de “19 anos” da língua portuguesa.

No nível ortográfico, observamos a omissão e a troca de letras finais das palavras em português (excertos 8 a 15). Aparentemente a participante tinha como objetivo deixar as palavras com uma “aparência” de língua inglesa, com uma terminação supostamente comum nessa língua, pelo menos do seu ponto de vista. Esse processo análogo é ao chamado de “foreignizing” em Faerch e Kasper (1983), conforme explicitamos anteriormente. Assim, a estudante acabou criando palavras em inglês com base na língua portuguesa por meio de adaptações ortográficas.

Com relação a uma possível transferência da Libras, identificamos a omissão da preposição “in” no excerto (2), bem como a omissão do verbo de ligação “am” no excerto (3), característica da Libras em enunciados do tipo “i deaf” (EU SURDO@).

Em (6), também temos a omissão de verbos de ligação, assim como sujeitos, um artigo e uma preposição. A estudante utiliza uma “linguagem telegráfica”, já que apresenta basicamente substantivos e adjetivos. Essa organização sintática pode ter sido influenciada pela Libras (“MEU NOME X-X-X-X IDADE 19 BONIT@ INTELIGENTE ESTUDAR124125 LETRAS-LIBRAS”). Nessa língua, essa organização é

123 “Esse tipo de inversão ocorre com frequência na LIBRAS: numa relação de

posse, primeiro se apresenta a entidade ‘possuidora’ e depois a entidade ‘possuída’” (SOUSA, 2008, p. 131).

124 Em Libras, “estudar” e “estudante” são realizados pelo mesmo sinal. Para

assistir ao vídeo do sinal ESTUDAR, favor consultar o site do software Identificador de Sinais do NALS/UFSC na “busca pelo português” em: http://idsinais.libras.ufsc.br/buscapt.php. Acesso em 30/06/2015. Utilizar preferencialmente o navegador Mozilla Firefox.

possível, pois: a) a cópula geralmente é omitida em Libras; b) o sujeito está subentendido na primeira frase do período — “meu nome é XXXX”; c) a Libras não lexicaliza artigos; e d) em Libras, não se lexicaliza preposição nesse contexto (“estudar em” ou “estudante de/em”).

Quanto às transferências que podem ter vindo tanto da Libras quanto da língua portuguesa, temos o caso do excerto (4). A ordem no sintagma “family ouvint” pode ter sido influenciada tanto por uma língua quanto pela outra, já que ambas utilizam o padrão latino de ordem das palavras (determinado-determinante) nesse contexto.

Participante 4

Quadro 10 – Resumo da análise das ocorrências de transferência interlinguística (LI, A1, P4)

Nível Excerto Língua Aspecto

Sintático

(1) “TEACHER PORTUGUESE

LANGUAGE” Libras/LP

Ordem das palavras (2) “PERSONS ARROGANTES” Libras/LP Ordem das palavras (3) “INTERATION SOCIAL” Libras/LP Ordem das palavras Léxico ANGLO […]”. (4) I STUDIED LETRAS LP Seleção lexical

Fonte: Elaboração própria.

Na primeira produção em inglês do participante 4, identificamos três ocorrências de transferência interlinguística em nível sintático, todas relacionadas à ordem das palavras — excertos (1) a (3) no Quadro 10. Como os três casos utilizam o padrão latino (determinado- determinante), há a possibilidade de os três terem sido influenciados pela Libras ou pela língua portuguesa ou por ambas, conforme já comentamos.

No caso do excerto (1), em que temos a presença de um elemento possuidor e um elemento possuído, o padrão determinado-determinante também é usado em inglês, especialmente no inglês mais formal, mas