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CAPÍTULO II – A EXPRESSÃO FACIAL DA EMOÇÃO

2.3. O reconhecimento emocional

2.3.2. Variáveis moderadoras

2.3.2.2. Idade

O envelhecimento acarreta implicações para o indivíduo de natureza social, cognitiva, biológica e fisiológica. Estas podem ser consequências de experiências passadas, apreendidas e geridas ao nível interno, de forma distinta por cada indivíduo. Naturalmente, tal terá um reflexo causal na vivência de novas experiências. Desta feita, a capacidade de percepção, reconhecimento e expressão emocional, estão sujeitas a um

continuum evolutivo. Ora, é aceite de forma consensual pela sociedade e asseverado

pela ciência, que o envelhecimento tem implicações nas mais diversas funções e capacidades (e.g., memória, actividade de aprendizagem), dado que ocorre um declínio neuropsicofisiológico do indivíduo (e.g., menor destreza e resistência física; perda de memória a longo e/ou curto prazo). Todavia, também são reconhecidos ao envelhecimento maiores-valias, nomeadamente ao nível emocional intrapessoal. Alguns estudos demonstram que o envelhecimento é pautado por experiências emocionais mais positivas, quando comparado com as mesmas experiências na juventude, e por um incremento no controlo e regulação emocional. Para confirmar estes achados, Carstensen e colegas (2011), elaboraram um estudo longitudinal de 10 (dez) anos, onde analisaram a percepção de bem-estar emocional dos participantes quando confrontados com 19 emoções. De forma mais frequente, os participantes adultos referiam a maiores níveis de vivência de emoções positivas, por contraponto à menor frequência de experiência de emoções negativas. Verificou-se que os participantes mais velhos descreviam uma maior estabilidade emocional quando comparados com os participantes mais novos. A emoção revelou-se um factor determinante na capacidade de memória e atenção, pelo que os participantes assinalaram maior capacidade de recordarem e/ou fixarem informação emocional do que a informação não-emocional. Nikittin e Freund

(2010) denominaram estas conclusões como o fenómeno Efeito Positivo, considerando o facto dos indivíduos mais velhos, quando confrontados com 2 faces, optarem pela expressão facial positiva, evitando a manifestação de emoção negativas. No que concerne aos participante mais jovens, verificou-se o oposto, revelando uma tendência para memorizar mais rapidamente a expressão e a informação emocional negativa. Depois de analisado o fenómeno Efeito Positivo, conclui-se que este tem implicações no processamento da informação autobiográfica, no desenvolvimento e aplicação do léxico, de imagens e ao nível da manifestação facial. Na meta-análise de Murphy e Isaacowitz (2008), os fenómenos positivos demonstraram influenciar indiferenciadamente, jovens e adultos, não se tendo verificado diferenças significativas quanto à sua influência nas diferentes faixas etárias. Porém, quanto às preferências de memória, Leigland, Schulz & Janowsky (2004), concluíram que os indivíduos mais jovens tendem a memorizar preferencialmente emoções negativas, porquanto que os indivíduos mais velhos, optam por memorizar as emoções positivas

No geral, a evidência empírica demonstra que o envelhecimento melhora o bem- estar emocional, sendo que tal acontece sobretudo porque1) os indivíduos mais velhos vivem mais frequentemente as emoções positivas, em detrimento das negativas, 2) nestes indivíduos as emoções positivas são experienciadas com maior estabilidade e, 3) a população mais velha tende a memorizar e a focar mais na informação emocionalmente positiva, do que a população mais jovem.

Segundo a teoria da selectividade socio-emocional de Carstensen (1992), o envelhecimento implica um maior investimento em situações de valor superior que se traduz em estratégias de adaptação da própria estabilidade emocional e evitamento de conflitos (Coelho-Moreira & Savage, 2013). De acordo com esta autora, o incremento da capacidade de controlo emocional, poderá ser, igualmente, a explicação para as alterações estruturais do funcionamento cerebral, sobretudo as que se verificaram no funcionamento e actividade da amígdala (Carstensen, 1992; Morris et al., 1998).

A idade é um factor que também influencia a percepção da emoção, sobretudo porque implica a perda de capacidades nesse domínio. Sobre a percepção da emoção, a autora Borod e colegas aplicaram (1993) uma bateria de teste, denominada como New

York Emotion Battery, a 117 (cento e dezassete) indivíduos. Esta escala propunha-se a

analisar: 1) modos de processamento da emoção, designadamente, percepção, expressão e experiência, 2) meios de comunicação da emoção, designadamente ao níveis da face, da prosódia e do léxico e, por último, 3) emoções discretas, a saber: a tristeza, cólera, aversão, medo, surpresa desagradável, surpresa agradável, alegria e interesse. Os investigadores verificaram que, pese embora, ocorram alterações na percepção de determinadas emoções, a percepção de outras, mantêm-se inalterada face à influência do envelhecimento. Uma das hipóteses explicativas, refere o impacto das alterações da actividade neurofisiológica associados ao envelhecimento. De facto, com o envelhecimento, a percepção tanto das emoções discretas e/ou expressões subtis como das microexpressões é afectada. A percepção de determinadas emoções, nomeadamente, as que são processadas em determinadas áreas cerebrais que são mais afectadas pelo envelhecimento, sofre alterações. Por exemplo, a percepção da cólera, medo está associada à actividade do cortex préfrontal e do lóbulo temporal que, por seu turno, são áreas do cérebro que mais padecem da influência do envelhecimento.

Não obstante estes achados científicos, alguns autores questionam a influência do envelhecimento nestas alterações de reconhecimento e percepção emocional. Levantam a dúvida, uma vez que a hipótese neurofisiológica não refere todas as emoções (apenas algumas), se as alterações não estarão dependentes das redes emocionais discretas dissociadas ou, se estas discrepâncias são da responsabilidade da capacidade visual do indivíduo. De facto, com o envelhecimento, os indivíduos tendem a sobrestimar a informação visualmente recolhida. Desta, sabendo que a “qualidade” da informação emocional recolhida depende se foi observada na UF ou LF, é normal que se percepcione mais facilmente a cólera, o medo e a tristeza, que se manifestam sobretudo na UF e, a aversão e a alegria na LF.

Releva quanto à relação entre a expressão e a idade, os achados científicos de Baptista & Freitas-Magalhães (2009a) segundo os quais, as pessoas mais velhas tendem a ser mais reservadas na expressão emocional, menos responsivos ao estímulo emocional e exprimem mais frequentemente emoções negativas. Todavia, Freitas- Magalhães e colegas defendem que expressão da emoção permanece intacta, mesmo após o envelhecimento, pelo que as discrepâncias que surgem poderão dever-se à metodologia de análise da influência de variáveis. Por exemplo, a análise de frequência e/ou intensidade, ser feita com recurso a fotografias ou vídeos. Em boa verdade, não foram assinaladas pelos autores, diferenças significativas na frequência ou rigor da expressão emocional, quanto à influência do factor idade. Em contraposição, Malatesta e colegas (1987), afirmaram que quanto mais velhas, mais expressivas a pessoas se tornam. Já Magai e colegas (2006), asseveraram não existir diferenças de idade, na duração da exibição da emoção, apesar dos participante mais jovens revelarem uma maior tendência para manifestações exuberantes de vergonha, desprezo e alegria e os mais velhos, maior duração na manifestação no franzimento dos músculos da testa, quando se mostravam confusos, concentrados ou em reflexão. Borod e um conjunto de investigadores (2004) analisaram um conjunto de pessoas com idades compreendidas entre os 18 (dezoito) e os 81(oitenta e um) anos, aos quais foi pedido que recriassem em pose, as expressões de alegria, prazer, surpresa, tristeza e aversão. Nos participantes mais velhos foi possível verificar menor rigor e precisão na reprodução das emoções e, as suas faces neutras eram frequentemente confundidas com emoções e classificadas como intensas. Já Hess e seus colegas (2012), confirmaram que as rugas tinham impacto no reconhecimento de emoções pelos jovens, sendo que estes revelaram maior dificuldade em identificar e percepcionar emoções nas faces mais envelhecidas. Os participantes mais jovens reportaram que percepcionaram emoções nas faces neutras dos mais velhos, percepcionando com frequência a expressão de medo e cólera e, por último, consideraram estas faces como menos sociáveis. Todavia não se registaram diferenças significativas quanto às referências à intensidade manifestada.

Em suma, quanto à experiência emocional, os resultados indicam que: a) as pessoas mais velhas reportam mais frequentemente experiências positivas e menos

frequentemente experiências negativas, b) demonstram maior estabilidade emocional e, c) maior capacidade de recordar e focar em informação positiva, quando comparado com a população mais jovem. No que concerne à percepção, verificou-se que a) a percepção de emoções como cólera, tristeza e medo, parecem sofrer alterações com a idade e, b) a percepção de emoções como a aversão e a alegria, parecem ser imunes à influência da idade. Por último, quanto à expressão, propriamente dita, a) as pessoas mais velhas são menos rigorosas na produção de expressões faciais da emoção e, b) as suas expressões são percepcionadas frequentemente como negativas.