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7. ERP – Enterprise Resource Planning

2.2 Identidade

2.2.2 Estudos sobre identidade nas organizações

2.2.2.1 Identidade pessoal

Segundo Dubar (1996), a identidade é um processo em construção, definido pela intermediação constante das identidades assumidas e visadas, sendo a distância entre elas o espaço da construção da identidade real, em que são processadas as interações sociais, com a participação do(s) outro(s).

Embora exista em cada indivíduo um senso de individualidade, a construção do autoconceito é inseparável do outro: as experiências de socialização constituem o principal referencial para a formação das identidades.

Outro papel importante na construção da identidade é exercido pela memória, por ser a auto-representação indissociável do sentimento de continuidade temporal, sendo o passado, o presente e o futuro relevantes em prover continuidade ou consistência subjetiva. (HAVILAND et al., 1994). Csikszentmihalyi e Rochberg-Halton (1981), em uma linha próxima, afirmam que as memórias passadas, as experiências presentes e os futuros sonhos de cada pessoa estão ligados inextricavelmente aos objetos que compreendem seu entorno.

2.2.2.2 Identidade social

Na medida em que o social e o futebol são intrinsecamente associados, a compreensão da identidade social é bastante relevante para o estudo.

De acordo com Tajfel (1978), identidade social é a auto-representação do indivíduo derivada do pertencimento a um grupo social (ou grupos), fruto da interação dos mecanismos psicológicos e dos fatores sociais, um processo social em contínua evolução, construído por semelhança e oposição.

A identidade de um grupo, para Dubar (1996), repousa sobre uma representação social construída, por meio da qual, uma coletividade se conscientiza de sua unidade pela diferenciação dos outros, na medida em que a vida no grupo cria um imaginário social. A constituição da identidade social, nessa linha de análise, dá-se não apenas pela auto- representação do indivíduo em seu ambiente social (relativamente aos diversos grupos aos quais pertence), mas também em referência aos grupos de oposição, aos quais não pertence, o que ocorre em função de a definição do outro e de si próprio ser amplamente relacional e comparativa. (ASHFORTH e MAEL, 1989).

Tanto o sentimento de pertencimento como a autopercepção como membro de um grupo são bases requeridas para a identificação social, demandando esta um pensar, agir e sentir como integrante, dentro de uma lógica comum de atuação nas posições sociais ocupadas (SAINSALIEU, 1977).

Por meio do interacionismo, que consiste na premissa da atribuição por parte das pessoas de significados simbólicos a objetos, comportamentos, pessoas e outros, desenvolvida e transmitida pela interação dos membros (HOWARD, 2000), o grupo busca coesão pela constituição da imagem de uma totalidade unificada.

O objeto representa os seres humanos na definição do eu íntimo e provém de negociações com o entorno porque é fruto de escolha, vindo a se constituir extensão real dos indivíduos. Ao mesmo tempo em que individualiza, difere e personaliza o usuário ou possuidor na representação simbólica, o objeto também serve de amálgama social, ligando o indivíduo ao social a partir do reconhecimento do apreço ao objeto pelo grupo. O social legitima o valor simbólico do objeto.

Quando um indivíduo ostenta objetos ou símbolos de um grupo social com seu inerente status, declara ser membro daquele grupo (individualização grupal), em contraste com outros grupos. Então, ao mesmo tempo em que o objeto representa um elemento de um grupo (socialização em um micronível), também revela a convivência entre grupos no sistema social (socialização no sentido macro).

Csikszentmihalyi e Rochberg-Halton (1981), por sua vez, estabelecem a associação entre homens e objetos, afirmando que coisas encerram metas, tornam habilidades manifestas e dão forma à identidade de seus usuários, não sendo o homem apenas homo sapiens ou homo ludens, mas também homo faber, o fazedor e usuário de objetos. A subjetividade humana, de certa forma, é um reflexo das coisas com que interage. Nessa perspectiva, objetos também participam da construção de seus criadores e usuários.

O conceito de identidade social, de modo sucinto, articula o processo cognitivo de categorização e vinculação social, sendo a estrutura psicológica de ligação entre o indivíduo e o grupo. Uma associação entre a experiência afetiva derivada dos relacionamentos e a experiência cognitiva da descoberta de um sentido ao mundo, às coisas e às ações permeia a identidade.

2.2.2.3 Identidade organizacional

Esse é um conceito pertencente mais ao âmbito dos estudos organizacionais. As organizações existem na mente de seus membros, e a identidade organizacional é parte de sua identidade individual. Segundo Brown (1997), as necessidades e comportamentos são coletivos, e a ação dos membros da organização é influenciada por suas auto-imagens organizacionais.

Ao discutir a identidade organizacional, a identificação está presente, pois não há identidade sem identificação. Uma identificação forte com a organização aumenta a cooperação entre os membros e a competição com os não membros. (DUTTON, DUKERICH e HARQUAIL, 1994).

A representação da organização é expressa por seus membros por meio de comportamentos, comunicação e simbolismo. A idealização e a fantasia também fazem parte do processo e explicam a tendência de as pessoas se identificarem com as organizações, principalmente, quando representam uma possibilidade de conexão com seus atributos e desejos pessoais. Nesse sentido, a identificação com a organização apresenta uma associação linear e positiva com a realização de desejos. (MAEL e ASHFORTH, 1992). Entretanto, os objetivos, a missão, as práticas e os valores presentes na organização também contribuem para dar forma às identidades organizacionais, diferenciando uma da outra aos olhos dos seus integrantes. (SCOTT e LANE, 2000).

2.2.2.4 Identidade corporativa

A discussão de identidade, dentro da literatura organizacional, desenvolve-se em torno de identidade organizacional, enquanto a literatura do marketing foca em identidade corporativa (HATCH e SCHULTZ, 1997). Para Alvesson (1990), as organizações, provavelmente, assim como os indivíduos, necessitam da identidade não por ser uma característica inerente ou natural, mas pelo fato de o mercado exigir a expressão de uma.

A contribuição da identidade dá-se na atribuição de sentido à cultura e significado à organização, processo influenciado pelos membros internos, mas também por outros grupos de relacionamento da empresa.

Todas as organizações têm uma identidade corporativa. (ABRATT e SHEE, 1989; BERNSTEIN, 1984). Algumas ativamente buscam gerenciar suas identidades, enquanto outras menos, confundem suas audiências, subaproveitam seus mercados e inadvertidamente contribuem para a formação de reputações negativas. (FILL, 1995).

Markwick e Fill (1997) definem a identidade corporativa como a auto-apresentação da organização para seus vários stakeholders e os modos pelos quais se distingue das outras organizações, projetada por meio de uma variedade de insinuações e representante de como a organização gostaria de ser percebida. Insinuações podem ser regidas, combinadas, de modo que mensagens planejadas deliberadamente sejam direcionadas aos públicos visados a fim de alcançar objetivos específicos.

2.2.2.5 A identidade em tipos

Na medida em que a identidade depende do ângulo pelo qual é analisada, são estabelecidas múltiplas identidades para sua compreensão de modo mais aprofundado. Essa diferenciação é realizada por alguns autores, dentre os quais Van Riel (1995), que a faz em: 1. identidade percebida; 2. identidade projetada; 3. identidade desejada; 4. identidade aplicada.

Por sua vez, em conjunto com outros pesquisadores, Balmer e Soenen (1999) e Balmer (2001), identificaram cinco tipos de identidades em qualquer organização:

ƒ identidade real: o que a organização é;

ƒ identidade comunicada: conceitos transmitidos por meio da comunicação controlada de organização a seus públicos interno e externo;

ƒ identidade concebida: referente aos conceitos percebidos, como imagem, reputação e marca corporativas, sustentados por stakeholders relevantes;

ƒ identidade ideal: o posicionamento ótimo da organização em seu(s) mercado(s) levando em consideração suas forças e habilidades em relação ao ambiente;

ƒ identidade desejada: a identidade buscada pelo executivo-chefe e corpo gerencial. Idealmente, os cinco tipos de identidade devem estar bastante alinhados, constituindo o não alinhamento um bom indicador de necessidade de mudanças na identidade (BALMER, 2001). Uma definição mais detalhada desses cinco tipos de identidade, uma das bases do estudo proposto, é realizada a seguir (BALMER, 2001).

2.2.2.5.1 Identidade real

Refere-se aos valores sustentados pelo staff e direção da organização e como eles concretamente se manifestam, incluindo também o tipo e qualidade dos produtos ofertados pela organização, o desempenho da companhia, os comportamentos dos empregados e da organização. Dentre outros fatores, a identidade real é delineada pela natureza da propriedade da organização, o estilo de liderança da direção, a estrutura da indústria e pela estrutura organizacional formal e políticas de gestão.

2.2.2.5.2 Identidade comunicada

Conceito que inclui comunicação corporativa no âmbito da comunicação controlada, como propaganda e relações públicas. A identidade comunicada é influenciada pela

reputação da região de origem da organização, da indústria a que pertence e, no caso de organização de perfil bastante público, de seu(s) líder(es).

2.2.2.5.3 Identidade Concebida

A identidade concebida pode ser considerada um outro lado da identidade comunicada, o da comunicação não controlada, como discurso de empregados, rumores e comentários realizados sobre a organização na mídia. Este conceito foi agregado aos outros quatro como um desdobramento da definição anterior de Balmer e Soenen (1999) de identidade comunicada, que abrangia tanto a comunicação controlada como a não-controlada. Assim como a identidade comunicada, está sujeita a influências relativas às reputações.

2.2.2.5.4 Identidade ideal

Refere-se ao posicionamento ótimo que uma organização pode alcançar em seu(s) mercado(s), é conceitual e representa a situação ótima; é função do ambiente, tecnologia, competição, tendências da indústria, valores do consumidor, comportamento de compra, ambiente social. Depende também da identidade genérica da indústria na qual a organização atua.

2.2.2.5.5 Identidade desejada

Diz respeito à visão da gestão e da missão corporativa da organização. A identidade desejada encontra-se nas mentes e corações dos tomadores de decisão: aqueles que detêm posição e poder na organização. Relatórios anuais, missões corporativas e planos de negócios podem aparentar uma perfeita lógica, mas, de qualquer modo, fantasias coletivas e pessoais dos indivíduos-chave são ocultas, mas realidades poderosas.