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Identidade quilombola e discursos escolares: falas sobre a constituição da escola quilombola

Márcia Andrea dos Santos Maria Ieda Almeida Muniz

Universidade Técnológica Federal do Paraná (marsan@utfpr.edu.br)

Neste trabalho objetivamos problematizar e compreender a constituição da Escola quilombola, em um munícipio do interior do estado do Paraná. Trata-se da Escola Maria Joana Ferreira, que tem seu funcionamento registrado desde 06 de fevereiro de 2009. A escola iniciou seus trabalhos em estrutura provisória cedida pela prefeitura, nasceu com intuito de desenvolver um projeto educacional voltado à história quilombola, ao desen- volvimento da comunidade, pautado em um discurso de resgate cultural, na valorização do negro, de sua história, de seus fazeres, de sua cultura.

Na ocasião da visita à escola entramos em contato com a coordenação para estabelecer um vínculo entre os estudantes africanos, vindos de Angola e Moçambique para participar do Programa PIFIC e os professores da escola Quilombola. Nosso intuito com esse encon- tro era mostrar aos estudantes como funcionava uma escola “negra” no Brasil e, para os professores da escola, um contato com a história contada e momentos de troca de experi- ências com os visitantes da África. Anteriormente à visita sondamos a coordenação sobre o que poderia ser abordado no encontro. A sugestão foi que os visitantes africanos ofere- cessem um curso, falando sobre a cultura e história de seus países. Os alunos do PIFIC, seis ao todo, organizaram materiais para mostrar algumas festas, danças, comidas típicas, concurso de beleza e sistema político. Antes, porém, que os alunos do PIFIC falassem aos professores quilombola, desenvolvemos uma conversa, uma mesa-redonda, para enten- dermos o funcionamento da escola, seus objetivos. Nesta roda de conversa os professores pesquisadores que organizaram o encontro, os alunos africanos e os professores da escola quilombola, discutem e refletem sobre a constituição da escola; o que é a escola quilom- bola? Quais seus objetivos? Como se dá seu funcionamento? A seguir apresentaremos algumas teorias acerca do contexto quilombola e conceitos embasadores à luz das teorias da enunciação e discurso para posterior análise dos excertos dessas interações discursivas. Paraná é o estado com o maior número de negros no Sul do Brasil, sendo que esses somam mais de 20% da população (VICENTE, 2008)1. A população negra fez parte do

processo de colonização da região, especialmente, do município onde se situa essa pes- quisa. Os primeiros negros, na época cativos, povoaram o território dos campos desse município, juntamente com os colonizadores europeus, por volta de 1859. Sua população cresceu, assim como cresceram as demais, embora as escravarias não fossem tão nume- rosas (WEIGERT, 2009).

1 . Os dados apresentados e discutidos por Vicente (2008) têm como fonte pesquisa feita pelo IBGE acerca do Mapa de Distribuição Espacial da População Negra.

As comunidades remanescentes de quilombos começaram a se organizar com o objetivo de conseguir a demarcação das terras quilombolas. Uma destas comunidades recebeu, em 2009, pesquisadores de uma universidade da região para a realização de estudos antropológicos que pudessem apresentar argumentos que comprovassem que a comunidade em questão era descendente de quilombos. Os relatórios foram entregues ao órgão competente e as terras foram demarcadas. Essa comunidade realiza eventos e festas culturais como forma de recuperar, através de cultos religiosos e comemorações, a memória de seus ancestrais. A organização da comunidade se dá especificamente pelos mais jovens, que buscam assegurar direitos e reviver as memórias dos mais antigos. O movimento tem forte empenho em afirmar a identidade “afro”, buscando atenuar visões preconceituosas e racistas. Resulta da organização e das ações dessa comunidade qui- lombola a instalação da primeira escola estadual quilombola do Paraná, que atualmente funciona com cerca de 250 alunos.

É relativamente recente o estabelecimento legal sobre o ensino de História e cultura Africanas nas escolas paranaenses, através da Lei 10.639 de janeiro de 2003, que em seu parágrafo primeiro prevê que os estabelecimentos oficiais e particulares insiram em seus currículos conteúdos pertinentes à temática afro e afro-brasileira:

O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra bra- sileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil. A Lei prevê também que o calendário escolar inclua o dia 20 de novembro como o Dia da Consciência Negra. Com o breve relato histórico e social da população negra na região, pretendi, ainda que muito sucintamente, torná-la visível aos olhos do leitor deste artigo, visto que a população negra e mestiça compõe a maioria da população do muni- cípio aqui focalizado. Essa população negra ou mestiça marca esse território: ela compôs e compõe sua história, suas lutas e revoltas, suas contradições, os dizeres e fazeres. (FO- CHZATO, 2010).

Entender como se constitui uma escola que se funda com base em uma identidade étnica e os liames de suas relações tanto com a comunidade, quanto com os professores quilombolas e não quilombolas poderá nos fazer perceber os conflitos identitários vivi- dos pelos sujeitos aqui focalizados, as relações de poder vigentes na escola, na ação peda- gógica, no discurso, na organização do sistema. Além disso, os discursos dos professores também nos fazem atentar para a função política da demarcação da fronteira cultural. Por isso, faz-se necessário compreender como o multiculturalismo em suas vertentes apare- ce imbricado neste contexto. Entendendo-se por meio das formulações de Souza Santos (2003, p. 14) que a emancipação social busca seus espaços em uma globalização alterna- tiva ou contra-hegemônica, sendo o multiculturalismo um movimento de reconhecimento das diferenças e questionamento das identidades imperiais, dos falsos universalismos e dos poderes coloniais. Uma escola quilombola surge como a voz contra hegemônica, minoritária.

Os participantes da mesa-redonda2 quando explicavam sobre o funcionamento da es-

cola disseram que além dos critérios de seleção aplicados pelo Estado, os professores da escola também passam por uma seleção da comunidade, feita pelos líderes da comuni- dade, os quais dão uma carta de anuência, para que o selecionado desenvolva seus traba- lhos em tal escola. Os professores prioritariamente devem ser quilombolas, mas como a comunidade ainda não supre toda a necessidade da escola, professores não quilombolas também atuam, mas passam por essa seleção diferenciada. Uma integrante da equipe pe- dagógica e outra da comunidade explicam quem é o professor quilombola:

IS:“ é... quilombola porque ele nasceu no quilombo” “que é o descendente ...”

V: “é descendentes...” IS: “de escravos...”

Para a professora (IS) e para a participante da comunidade (V) o termo quilombola carrega a significação do direito, do direito à terra, a significação histórica e simbólica provocada pelas agruras da escravidão. Seria necessário um poder simbólico-histórico para demarcar um território contestado, um poder antes apagado, invisibilizado.

Aos contatos tidos anteriormente à roda de conversa, no momento da sondagem sobre o interesse em receber os visitantes africanos, percebeu-se que o grupo de professores quilombolas teria interesse em aprender sobre a cultura e a história da África, foi essa a solicitação temática aos cursos que queriam e foi assim que os alunos do PIFIC Angola e Moçambique fizeram.

As raízes culturais e históricas significam aos professores quilombola o reencontro ao per- tencimento, o ser negro, à negritude, ao encantamento da raça e da cultura. É preciso recriar o ser negro em um novo contexto, o contexto escolar quilombola. Mostrar um negro multicul- tural. Seria, então, o professor quilombola marcado por diferentes traços culturais? Ao analisar nosso meio percebemos o quão estamos engendrados em um contexto globalizado, exigente de homogeneização. Um exemplo é o modelo escolar ocidental, que desde 1667, com a cria- ção da fábrica dos Gobelins3, se espalha para diferentes paragens do mundo.

Mas uma escola quilombola seria marcada por quais diferenças? Como ela se sustenta discursivamente na fala de seus sujeitos? Existe uma cultura escolar que há séculos está inculcada nos saberes e fazeres dessa instituição. Uma certa seleção do que deve ser ensi- nado e aprendido, como deve ser ensinado-aprendido, a quem deve ser ensinado.

São papeis sociais, desde cedo definidos, que a partir do momento em que se chocam com uma realidade discordante, geram grandes conflitos: questionamentos de verdades, ações, realidades, mas que ao mesmo tempo, ao discordarem, ao gerarem o questiona- mento estão se constituindo outros, diferentes, discordantes. Constituídos nos discurso que proferem nesse vir a ser quilombola, calcado no discurso da raça, da descendência, da memória histórica e da cultura. Um dos conceitos de cultura institucionalizado no Oci- dente baseia-se em critérios de valor, estéticos, morais e cognitivos, universais em áreas como a literatura, a música, a religião. Outra concepção que coexiste e divide o terreno

2 . Pedagogas e professoras da escola, professores da UTFPR, alunos do PIFIC Angola e Moçambique. 3 . A fábrica dos Gobelins, em 1667, citada por Foucault, em Vigiar e Punir, previa a organizar de um espaço escolar como conhecemos hoje. (FOUCAULT, 1987).

com a anterior é a que reconhece a pluralidade de culturas, entendidas como “totalidades complexas que se confundem com as sociedades, permitindo caracterizar modos de vida baseados em condições materiais e simbólicas”. A partir dos Estudos Culturais, na década de 80, pensa-se a cultura como “um fenômeno associado a repertórios de sentido ou de significado partilhados pelos membros de uma sociedade, mas também associado à dife- renciação e à hierarquização, no quadro de sociedades nacionais, de contextos locais ou de espaços transnacionais” (SOUZASANTOS, p.27). Assim a cultura transformou-se em um terreno de lutas e contradições por ser um campo definidor da identidade e da alteridade.

V. descendentes daquelas pessoas que aqui... é::... descobriram... e aqui formaram seu quiLOMbo...

V. nós somos quilombolas porque nós nascemos aqui... quem nasce fora do quilombo daí é descenDENte...

IS. daí é AFROquilombola...

V. de quilombola... descendente de quilombola... F. daí quem nasce aQUI...

IS. quem nasce aqui...

F. que nem no caso... nossos ancestrais que vieram de cinco famílias para cá né:... que vieram junto... que vieram antes dos:... dos desbravadores né... então::... esses vieram e se... se... localizaram nesse... nessa... região onde nós estamos... que é o bairro Lucíola...

V. e formaram aqui seu quilombo ((alguém tosse)) e daí veio sua geração... sua fa- mília... né?... e NÓS somos dessa família e naSCEmos aqui... e nós somos então consi- derados quilombolas... por exemplo meus irmãos... meus irmãos quilombolas nasceram aqui... mas eles foram embora para Curitiba e os filhos deles nasceram lá... os FIlhos deles não são quilombolas legítimos...

AL. são descendentes... F. são descendentes... IS. isso...

V. (...) são descendentes de quilombolas... porque eles não nasceram mesmo no qui- lombo...

IS. e porque a história... se você pegar a história do município de Palmas... CONta... é::... dos desbravadores que aqui chegaram... sabe... é:... os bandeirantes... mas... a histó- ria... o negro que veio na frente abrindo caMInho... né... matando os animais ferozes né... muitas vezes devorado... ou que:... morriam no caminho... aPANHANdo... como vocês sabem não preciso contar toda essa história né... não aparece na história de Palmas... não aparece... em momento nenhum... se você lê lá a história de Palmas... o descobrimento de Palmas... o desbravamento de Palmas... os negros não aparecem... só que os negros se instalaram aqui... DESde o princípio quando vieram... eles vieram na frente abrindo caminho pros bandeirantes...

V. a minha vó dizia sempre... “ah teu avô veio na frente abrindo picada na frente das bandeiras” ...quando eu era pequena eu não entendia... e disse... “o que é bandeira será?”...

IS. e::... abrindo picada:: é::...

V. e... daí que a gente:.. ((alguém tosse)) aPRENdeu né... que as bandeiras se encon- travam aqui perto... no Rio Chopim aqui... tem o marco (da bandeira) aqui no rio...

v. daí passa o Rio Bandeiras... que tem o rio que leva esse nome... e o outro Rio Cho- pim... é onde tem o marco que se encontram duas bandeiras... que descobriram Palmas aqui... os Campos de Palmas... desbravadores... ((murmúrios incompreensíveis))

Nas vozes quilombola em busca de um localizar-se historicamente em um projeto multicultural político, o estabelecer-se num lugar histórico para o quilombola, a impor- tância de seu trabalho e bravura nos desbravamentos e colonização. Silva (2002) critica, por exemplo, a vertente de multiculturalismo que denomina multiculturalismo liberal, por este celebrar a diversidade e a diferença de forma cristalizada, naturalizada, fixa. O discurso pedagógico recorrente sobre a questão da diversidade e diferença, neste aspecto, se reduz à tolerância e respeito, não problematiza e não traz à tona como são constituídas as diferentes identidades.

O ser quilombola vai além da questão da diversidade e da diferença, da tolerância e respeito, ele problematiza o lugar social e histórico hegemônico dado a si. Refaz esse lugar, reconfigura, ressignifica. Os aspectos culturais configuram-se no terreno político movidos pelas contradições geradas pela expansão desigual do capitalismo transnacional que fazem com que a cultura, seja um terreno onde ela própria, a economia e a política se realizam inseparavelmente e a cultura obtém força política. A contradição entra em choque com a lógica econômica e políticas que tem por objetivo refuncionalizá-la para a exploração ou dominação. Quando esta contradição ocorre, o termo política deve redefi- nir-se como política cultural – processo que emerge quando os atores sociais constituídos por significados e práticas diferenciadas entram em conflito. Essas práticas e significados processos culturais – “das margens” podem ser considerados como processos políticos capazes de redefinir formas de poder social (SOUZA SANTOS, 2003, p.39).

A constituição da escola quilombola marca-se pelo discurso, faz-se no discurso, argu- mentar historicamente seu valor, sua existência, seus interesses e demandas, o conflito, a dificuldade para concretizar a ideia. O tramitar das ações burocráticas, o lidar com a legislação, o registro em documentos, a política educacional favorável ao interesse da comunidade, além de saber o caminho “certo” para conseguir o objetivo. Além de falar com a pessoa certa, percorrer o caminho certo, fazia-se necessários expor o registro no papel, argumentar e justificar a necessidade de uma escola quilombola. O participante do PIFIC pergunta sobre a história da escola, como ela se constituiu. E a representante (IS) e (V) da comunidade explicam:

EM. (dona... ) tem uma questão... que:... a ideia desse projeto da escola quilombola veio da senhora... né? COmo surgiu... essa ideia... e QUANdo começou essa escola aqui?

V. é:... foi... em dois mil e cinco né Isabel?

IS. em dois mil e cinco começamos com certificados né vó... em dois mil e nove a escola inaugurou...

V. é... em dois mil e OIto... nós fomos no encontro em Curitiba... sempre nós estáva indo nos encontros da educação em Curitiba... e falamos lá com o diretor da... da diver- sidade que era o Vagner... né que era na outra... gestão do Requião... e:: nós falamos pra eles que nosso sonho aqui na comunidade era uma escola de quinta a oitava– nós disse- mos – quinta a oitava... porque tem duas escolas municipal aqui né...

V. e: as crianças... saiam da escola municipal e não continuavam estudando:... A argumentação que as crianças estudavam somente até a quarta série não é tanto pela distância a percorrer, mas em grande parte pelo preconceito racial vivenciado nas escolas do “centro”.

IS. porque tinha que ir pro centro...

V. lá pro centro... porque daqui lá CENtro... é: quatro quilômetros conforme a escola dava mais...

IS. (aqui na São Carlos)...

V. é::... eles desistiam de estuDAR... tiravam: a quarta série... e::... daí o V... falo pra nós... diz... “olhe é bem fácil esse sonho de vocês tornar realidade ((alguém tosse))... agora tem uma verba no governo pra formação de escolas quilombolas” ... né... dizendo... “então a de vocês vai ser a primeira”... de quinta a oitava por exemplo... por exemplo né.... e assim foi e ficou nessa... e daí ele falou pra nós “chegue lá em Palmas e faça um projeto porque justifica tudo porque vocês querem essa escola... tudo o que vocês estão contando pra mim... vocês cheguem lá e elaborem esse projeto e contem”... e nós chega- mos aqui com meu filho... o A... aquele que é presidente da comunidade... né... quilom- bola... e o primeiro homem presidente... que toda vida foi só mulheres:...

EM. aqui né?...

V. é::... aham... sempre é a liderança... passa de geração em geração... é... daí... man- damos esse documento pra ele em mãos... até foi a minha nora que foi em um outro encontro... né... da educação e levou em mãos já em seGUIdo... daí uns três dias... que a::... a:: mãe da IS... que levou... e::... já no prazo de um mês... mais ou menos... eles já o (núcleo) aqui de Pato Branco procurando um local já pra:... iniciar a escola de quinta à oitava pra nós... até parece uma mentira... pois no estado tudo é difícil...

EM. tudo difícil... V. é:... tudo difícil...

IS. mas foi o que eu expliquei pra eles né vó... que vocês foram diretaMENTE... V. diretamente...

IS. falar com a pessoa né:... V. diretamente com a pessoa... IS. porq/porque se é assim... V. e com pessoas interessadas né?...

IS. vai ali... vai ali... e se perde no caminho... uma pessoa que não é tão interessada não passa pra frente... né... então a gente já... a vó já...

V. a gente já foi em mãos... pessoalmente falamos... tivemos o documento em mãos... e daí aqui... estava::... esse espaço aqui era uma creche... estava desocupado... né:... porque a creche mudou lá pra baixo... emprestamos já do município:... e já começou a funcionar...é::... a::... a escola.... e:::... era início do ano e não tinha os professores... até chamar os professores... né... pra vim... eu dava aula... eu e o IL... de Pato Branco lá... que hoje ele trabalha no núcleo... ele é responsável pelos quilombolas e os indígenas...

V. Ismael... (...) e ele vinha todo dia e nós que iniciamos dando aula... IS. limpando... cozinhando

V. limpando... uma outra mulher também... ela:... vinha trabalhar daí... aqui ajudan- do nós... e assim começamos... aí fechou umas escolas aí... em uma outra cidade... eles

trouxeram todos os::...as carteiras... geladeira... material de cozinha... trouxeram pra cá... e assim nós iniciamos... e depois foi. daí não deu certo... daí veio essa que::.. está de dire- tora agora... a Ana... até agora ela está de diretora... foi... e daí veio os professores... e a diretora... e daí nós (pensávamos) um diretor pra essa escola quilombola também... daí... escolhemos um diretor lá... daí não deu certo... a comunidade queria...

EM. maravilha...

V. e assim foi que inicou a:: nossa::... nossa escola::... EM. escola... quilombola...

V. CAda vez mais ela foi crescendo... crescendo... e daí nós queria também uma... daí veio pedagoga... daí não tinha carta de anuência ainda daí... daí eles mandaram pedago- go...

Como nas perspectivas pós-coloniais os quilombolas alavancaram através dos dis- cursos como minorias, que intervieram nos discurso ideológico da modernidade o qual instituía uma certa “normalização” hegemônica, um certo modelo de escola, um certo modelo de ensino, um certo modelo de professor. Um dos objetivos mais visíveis dessa perspectiva é “revisar” críticas sobre questões de diferenças culturais, autoridade e discri- minação social e política possibilitando desvelar antagonias da modernidade.

Reconstituir o discurso da diferença cultural exige não apenas uma mudança de conteúdos e símbolos culturais; uma substituição dentro da mesma moldura tem- poral de representação nunca é adequada. Isto demanda uma revisão radical da temporalidade social na qual histórias emergentes possam ser escritas; demanda também a rearticulação do“signo” no qual se possam inscrever identidades cultu- rais. (SOUZA SANTOS, 2003)

Após o funcionamento da escola fazia-se necessário que houvesse espaço para que professores da comunidade quilombola pudessem atuar na escola, o regime de seleção, a formação específica, os moldes de seleção de uma “escola comum” não se adequavam as necessidades ideológicas do projeto de escola que se queria construir. Fazia-se necessário mais debates e estratégias de enfrentamento.

F. TInha a lista de classificação... (...) a lista de classificação... como nós erámos recém formadas...

B. e OUtra coisa que nós (gostamos) muito: os quilombolas lá em Curitiba nos en- contros... pela carta de anuência... porque eles diziam... “ah se procede com os indígenas” ...e pela carta de anuência... e nós quilombolas nas reuniões nós dizia... “nós queremos a carta de anuência também pra nossa:... pras comunidades quilombolas” ... daí tem:... no Paraná tem duas::... DUas escolas quilombolas que a de:... Adrianópolis ... e a nossa...

IS. e a carta de anuência né vó...

V. daí... a carta de anuência quando começou nós foi... IS. mas porque vó da carta de anuência...

V. nossa:... daí que deu possibilidade dos quilombolas... né... assumirem... porque quilom/os quilombolas SEMpre... é:... eles ficavam lá... toda a vida os negros... que sabe né que... nós negros nunca tivemos quase vez ficava lá pro final da fila... (...) e a carta de

anuência nem que fique... mas agora especificamente por exemplo o PSS né... que... pra...